Fake Militarism, a maior e mais duradoura obra do capitão amalucado, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em caso de golpe, o mito será rapidamente descartado por militares como ocorreu no caso de Castelo Branco.

Divulgação O Boticário

Fake Militarism, a maior e mais duradoura obra do capitão amalucado

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Aqui mesmo no GGN tenho feito como que um inventário dos efeitos das Fake News, fenômeno que produziu tanto a Fake Law quanto a Fake Jutice, Fake Politics e a Fake Diplomacy.

https://jornalggn.com.br/direitos/fake-fake-fake-fake/ e https://nucleolucianolepera.com.br/index.php/2020/12/09/a-nova-politica-externa-brasileira-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/

Mas antes de entrar no assunto devo pedir desculpas ao leitor. Ao listar os pilares do bolsonarismo https://jornalggn.com.br/artigos/os-13-pilares-do-bolsonarismo-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/ esqueci de mencionar um: o Fake Militarism.

A crise entre o Senado e os comandantes das Forças Armadas me parece um exemplo típico desse fenômeno.

O presidente da CPI da Covid mandou prender um coronel suspeito de participar do esquema de corrupção no SUS. Irritados, os comandantes das Forças Armadas emitiram uma nota. A imprensa, a sociedade e o parlamento reagiram imediatamente. A reação enérgica parece ser justificada, mas o principal me parece ter sido ignorado.

Em primeiro lugar, é preciso notar uma evolução. Os militares prometeram processar aqueles que ofenderam a corporação. No passado o “processamento” dos adversários da Ditadura Militar era feito na Casa da Morte e nos porões de instalações militares.

Em segundo, não me parece que exista condição para um golpe de estado. Os golpistas perderam o “timing”.

Em 1964, as Forças Armadas deram um golpe de estado que foi amplamente apoiado pela população brasileira. Acomodados no poder, os militares começaram a roubar dinheiro público e a usar a corrupção para garantir a governabilidade e a perpetuação do regime.

Ao que tudo indica, após o início da pandemia em 2020 os militares nomeados por Bolsonaro começaram a organizar um esquema de corrupção. Apanhados com o dinheiro de vacina nas cuecas, os generais ameaçam dar um golpe de estado. Esse novo golpe, entretanto, não poderá ocorrer em nome do “combate à corrupção” como ocorreu em 1964. Pior, ele obviamente não será apoiado pela imprensa que faz a cobertura da corrupção no SUS doa a quem doer.

Dizem que as instituições têm memória. Mas ao que parece, as Forças Armadas esqueceram a lição que deram a si mesmas em 1964. E agora os generais, almirantes e brigadeiros estão com um problema: se derem um golpe de estado, o novo regime será ilegítimo aos olhos da população e da imprensa; se não derem alguns oficiais serão presos por terem roubado o SUS, comprometendo a imagem pública das corporações militares.

O Exército, a Marinha e a Aeronáutica só podem sair da enrascada em que se enfiaram cortando na própria carne. Isso não me parece provável. Uma longa deterioração da credibilidade das Forças Armadas é um cenário mais provável do que o golpe militar temido por alguns setores da sociedade brasileira. Isso deve ser objeto de comemoração.

Bolsonaro é um gênio mais terrível que Karl Marx, Lenin, Gramsci e Scooby-Doo. Além de perder o “timing” para dar o bote, ele criou uma situação que impedirá as Forças Armadas de voltar a interferir politicamente nos destinos do país por um bom tempo. Ele era o homem errado no lugar errado no momento errado. Uma escolha obviamente errada dos generais que desprezaram outro fato importante da história militar: Bolsonaro havia sido expulso do Exército e seu desejo de vingança da corporação ficou soterrado profundamente em sua personalidade.

A vingança do capitão não é nem desejada nem consciente. Ela é um subproduto da incapacidade do Exército de reconhecer o bom senso daqueles que expulsaram de suas fileiras um capitão ambicioso, mentiroso, covarde e amalucado. A falta de memória do Exército fez o Brasil mergulhar no Fake Militarism, cuja principal característica é o “comandante em chefe” e seus generais subalternos ficarem batendo o pé, xingando, fazendo ameaças e escrevendo notas de repúdio para amedrontar a plateia incauta. Obviamente isso não está funcionando.

Limite institucional da decadência produzida pelas Fake News, o Fake Militarism é um sinal da impotência generalizada dos comandantes das Forças Armadas. Eles não podem fazer nada e sabem disso. Nós sabemos que eles não podem fazer nada, mas fazemos de conta que estamos aterrorizados.

E la nave va? Não. Creio que ultrapassamos o fenômeno da sociedade histriônica criticada pelo cineastra. Durante a ditadura, o Brasil era um hospício geral. Agora ele é um “ship of fools” sem destino, comandado por um Napoleão de Hospício cercado por um bando de ladrões e fanfarrões fardados.

Antes do fim, uma trilha sonora adequada. Lenta, melancólica e em inglês como deve ser.

Pelo sim ou pelo não, me parece adequado fazer uma última previsão. No dia em que os comandantes das Forças Armadas colocarem os tanques na rua para criar o novo regime militar vai começar a contagem regressiva para o assassinato de Jair Bolsonaro.

E já que estamos falando de melancolia, nunca é demais lembrar que os militares estavam organizando o desvio de dinheiro do SUS enquanto o presidente comandava o maior genocídio de toda história brasileira (530 mil mortos e a pilha de cadáveres continua aumentando). Não se enganem: o genocídio pandêmico é um crime muito mais grave do que a prevaricação de Bolsonaro e do que a corrupção dos militares que invadiram e saquearam o Ministério da Saúde.

Em caso de golpe, o mito será rapidamente descartado por militares como ocorreu no caso de Castelo Branco. O marechal era muito honesto e cuidadoso para o gosto de alguns de seus subalternos. Bolsonaro é temerário e corrompido demais para o paladar de seus verdadeiros superiores hierárquicos.

Uma última observação. A irritação dos comendantes militares porque o presidente da CPI fez referência à banda podre das Forças Armadas é simplesmente risível. Todo mundo sabe que o Brasil não é uma potência militar e que os soldados, marinheiros e aviadores brasileiros têm à sua disposição equipamentos podres de ferrugem.

Se quiserem comprar equipamentos novinhos em folha os comandantes das Forças Desarmadas terão que parar de usar sua fatia do orçamento para comprar caviar, picanha e espumantes e para pagar aposentadorias gordas e pensões imorais para as filhas solteiras dos oficiais falecidos. Nada mais.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. Seu Fábio,
    Depois da ordem que o Felipe Neto deu ao chefe da Aeronáutica só faltava mais uma frase para um final de semana feliz.
    Não falta mais, o sr. a disse:
    “Bolsonaro é um gênio mais terrível que Karl Marx, Lenin, Gramsci e Scooby-Doo.”

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