Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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Lula, Cavalo de Troia, por Ion de Andrade

Lula, Cavalo de Troia, por Ion de Andrade

Assistimos perplexos, indignados e tristes a uma prisão de Lula ambientada numa revoltante “normalidade” autoritária. Deveria ele ter resistido? Deveria ter buscado o exílio?

As pesquisas eleitorais, recém-publicadas dão conta de que Lula continua na dianteira, folgado, ganhando no primeiro turno e revelam também o outro lado da medalha dessa sua estratégia pessoal de entregar-se pacificamente à “justiça”. Parecia, e foi inaceitável para muitos, dar-se como um “presente” à Polícia Federal… Mas, o que só Lula via naquele momento tenebroso é que se entregava como um presente de grego.

Na Folha do domingo 15 de abril o jornalista Josias de Sousa, possivelmente conhecedor das pesquisas eleitorais com riqueza de detalhes, ofereceu a chave de leitura: estava “preocupado” com a perda de votos do PT para outras candidaturas e aconselhava a Lula que apontasse, o quanto antes, para quem o sucederia…

Josias de Souza é um desses jornalistas que devem ser lidos para se pensar o oposto, por ele, a quem agradeço, enxerguei algo que até aqui não tinha visto com clareza: Moro deu a Lula um palanque invencível.

Essa campanha que se anunciava melancólica será preenchida de um entusiasmo completamente imprevisível.

A verdade é que o nosso povo terá uma oportunidade única de politização numa campanha em que o candidato que representa as maiorias está submetido precisamente às agruras de um cotidiano que o povo conhece bem: a prisão, a arrogância, a injustiça, a crueldade e o desprezo dos poderosos.

Ora, a campanha eleitoral dará clareza, através do programa a ser apresentado pela candidatura Lula, de que a razão da sua prisão é o horror dos poderosos à democracia, ao bem-estar social, ao desenvolvimento nacional e à emancipação do nosso povo, valores e ideias que estarão contidos no programa.

A prisão de Lula é o seu melhor cartão de visitas num país de iniquidades, violência e injustiças. É a prova mais radical de identidade completa com o povo.

Preso Lula deixa de ser um “candidato”. Na verdade, simbolicamente, a prisão faz dele antecipadamente o Eleito desse pleito (ou não estaria preso), o governante legítimo, e já referendado pelo povo, a quem as forças tenebrosas e espúrias tentam impedir, prendendo-o, que governe. O Eleito está preso.

Talvez a justiça federal de Curitiba comece a entender por que é que não se pode prender uma ideia. E não terá sido por falta de aviso. 

Na lenda milenar os gregos, em sinal de “rendição”, deixaram na praia de Troia um vistoso cavalo de madeira.

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

16 Comentários

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  1. oportunidade de politização

    Desde que as esquerdas mantenham viva a ideia do Eleito. Sem o povo ouvir a voz do Lula, a vida volta para o cotidiano, enquanto ele fica isolado na cela. A politização tem que ter a direção das esquerdas e para isso elas não podem se esfacelar pela falácia eleitoral deste ano. Têm que se unir e mobilizar. Do lado de cá não temos mais nada, só a mobilização e as ruas. 

    [Lula devia ter deixado vídeos gravados – ‘se você está vendo esse vídeo é porque fui preso e quero dizer…”. Devia ter deixado uma série de vídeos para serem veiculados até sua soltura]. 

    1. História líquida
      Eu também pensei isso e outras coisas. Mas a História está tão líquida que Lula pode até ter acertado em não gravar nada nem pedir asilo nem resistir etc. E se o Congresso resolver não aceitar a 3° denúncia contra temer? Pela vacância de 2 anos teremos eleições indiretas em 90 dias? Ou diretas? Há controvérsias. Maia, Eunício e Carminha estão de olho no cargo. E se a caserna pressionar para adiar as eleições caso a Weber deixe a paúra de lado e permita o HC? E se Lula for eliminado fisicamente? E por aí vai…

  2. Penso que o Lula não deveria

    Penso que o Lula não deveria ter se entregado. Deveria ter ido para o confronto e OBRIGADO esta PORCARIA de STF e sua COVARDE e BANDIDA presidanta a mostrar claramente de que lado está.

    Depois que o STFede se manifestasse contra ele e a presunção de inocência, poderia se entregar. Entretanto teria mostrado claramente para o mundo todo a quantas anda o Brasil, suas “instituições” e sua “democracia”

    POr isto, sou a favor de manter o Lula candidato até o fim.

    Tem um canalha no STFede, conhecido como fucks, que jura que o Lula não será candidato.

    É um canalha cheio de “coisas obscuras” no seu trajeto.

    A mídia livre ou blogs jornalísticos deveriam mostrar para a população o caráter do indivíduo.

    Ah, foi o PT que indicou o bandido. Fucks you.

  3. Nenhuma surpresa

    O golpe preventivo da prisao de Lula so iria reforçar ainda mais sua candidatura. Nao divulgar o substituto também é uma estratégia, o poupando da metralhadora da midia (como já fizeram com Haddad e Wagner). Lula candidato, mesmo preso, com um poste de vice e renunciando no dia anterior a eleição (o que manteria seu nome e foto nas telas das urnas) é suficiente para eleger o poste mesmo com Lula preso e ao mesmo tempo afastar a afronta de cassação pós-eleição.

    O grande problema é o congresso. Em vários estados o PT se alinha com golpistas e as coligações tendem a eleger mais golpistas e menos candidatos do PT.

  4. Cartas de Pasárgada: Sobre guerras e cavalos.

    Também não resisti, e assim como o Manoel, não fiquei dando Bandeira, e corri para meu (auto) exílio em Pasárgada, porque aqui, sou amigo do Rei (flerto com a Rainha) e ainda tomo banho com as moças do sabonete Araxá.

    Ontem à noite, passou no cinema de Pasárgada, que por coincidência tambéms e chama Cine Paradiso, um filme ótimo com Brad Pitt.

    Fomos eu e uma das moças do sabonete. As outras duas estavam cansadas.

    Fury é o nome do filme.

    Já tinha visto “ene” vezes, mas sempre busco alguma intenção escondida pelo diretor, ainda que ele mesmo a desconheça.

    O filme em si traz a narrativa clássica dos bons filmes do gênero (guerra), ou seja:

    – Romper com a pobre dicotomia entre bons e maus (trazida pelo constante diálogo-conflito-coadjuvante entre o sargento Coiller (Pitt) e seu comandado Bilble (bília), que busca um sentido religioso moral para justificar o que fazem (matar gente);

    – O conflito entre o novo e o velho, o “mestre” e o “aprendiz” (vivido entre o sargento e o datilógrafo que não queria sentar-se em um Sherman);

    – Mas a principal delas, no meu entender, que mostra os personagens chegando ao ápice da compreensão de ONDE estão (GUERRA) e que não há ali (GUERRA) sentido algum senão o básico (matar o outro e tentar salvar a si e quem está ao seu lado). 

    Geralmente  essa narrativa é filmada pelos diretores com a morte dos principais personagens, incluindo o mestre, para poupar o “novo”. Um tipo de sebastianização dramática, que nos filmes (e talvez até na vida) dá resultado.

    Aqui de Pasárgada o filme me lembra o Brasil.

    Principalmente quando o sargento Coiller diz: “Os princípios são pacíficos, mas a História é violenta”.

    Olha, raramente uma frase se encaixa tanto a uma situação real(?) como essa.

    Lendo o texto (bom texto) do Ion de Andrade eu tive a impressão de estar ao lado do sargento (Pitt) Coiller.

    A História é sim violenta, mas a compreensão de sua violência vai além da percepção física ou do derramamento de sangue (coisa que apavora muita gente boa aqui, embora pretos e pobres sangrem e morram há anos, pelo menos 60 mil deles por ano).

    A principal força da História é sua violência intrínseca, ou seja sua natureza impositiva a tudo e a todos. Não se negocia com a História.

    Ela nos permite, quando em vez, buscarmos sua compreensão pretérita para a sua construção diferente no futuro, o que nem sempre acontece, nem como o imaginamos que seria, e pior, às vezes esse futuro parece a ressignificação do passado.

    O problema é que nos faltam dados exatos para analisar os fatos, então, especulamos.

    Se a bomba do Riocentro não explodisse como verdade história, esse ato de violência estaria preso em uma cadeia de especulações até hoje, provavelmente, com todos os desdobramentos trazidos pela “incerteza”.

    Se Sérgio Macaco não se recusasse a cumprir as ordens de Bournier, talvez estivéssemos contando outra História, certamente estaríamos.

    Assim como ninguém sabe o que se deu na chamada “transição pacífica e democrática” em 1985, nem sabemos o que foi realmente negociado na preparação e promulgação da CRFB/88.

    Em suma: Não sabemos o que levou Lula a decidir cumprir TODOS os ritos processuais que culminaram com a sua prisão.

    Não se pode exigir clarividência a ele ou a seus advogados, mas boa parte de nós, os palpitólogos, sabíamos que o desfecho não seria muito diferente, e claro, um gênio como Lula, cercado de bons advogados e conhecedores do caminhar do lawfare, também presumiam tal desfecho.

    O texto do Ion me parece um rendição a teleologia.

    Explico:

    Como Lula está preso, e isso é um fato, vamos buscar uma justificativa histórica que explique o resultado já sabido por mim (nós).

    Depois de cumprida essa tarefa, vamos tentar criar um discurso que transforme essa derrota humilhante em algo bom.

    Eis aí a tese de que Lula preso transforma-se em mito, mais ou menos como o “vazamento” do Chico Pinheiro (para “vazamentos” e estudos semilógicos, ler http://cinegnose.blogspot.com.br/2018/04/vazamento-de-audio-de-chico-pinheiro.html).

    Irresistível não comparar a situação de Lula com a de Nelson Mandela, embora sejam absurdamente diferentes, cada uma em seu contexto histórico e individualizadas pela trajetória de cada um deles.

    Mandela antes de ser preso não foi presidente, e desde o começo já revelava sua condição de outsider, de resistente de um sistema que só existia para justificar a opressão de seu povo.

    Mandela foi preso denunciando esse sistema, e mais, articulando a resistência armada a ele, por entender (corretamente) que não havia como mediar tais conflitos (análise que concordo, humildemente).

    Lula, ao contrário, foi preso por acreditar nele (no sistema), até o fim, mesmo que considere seu infortúnio pessoal uma excepcional injustoça motivada pela partidarização da justiça (lawfare), Lula ao se deixar processar e ao cumprir a ordem de prisão, revela que mesmo injustiçado e violentado, deve-se buscar a defesa DENTRO do sistema, e não enfrentando-o.

    Essa é a mensagem de Lula ao seu eleitorado.

    Sua fala de que está melhor que 90% da população não é mero truque de marketing. É a revelação de sua crença de que sua prisão lhe confere esse status de “sair da vida para entrar na História”, ainda que não precisasse matar-se para isso.

    Essa é a sua contribuição para manter a fé do eleitorado (uma massa de milhões de pessoas) acreditando que estamos passando por um “defeito” da Democracia, que poderá ser restaurada tão logo haja eleições “livres”, ainda que ele esteja preso, porque seu capital de influência é gigante e permanece intocado.

    É a mensagem desse texto (bom texto por sinal). 

    O texto, como dissemos antes, parece adequado por uma estranha circunstância (a teleologia):

    Para simplificar, com Lula preso, só nos resta acreditar que sua prisão nos trará algo de bom.

    Será?

    É um tipo de Vargas que não se suicidou e melhor, difere de Vargas por sua origem de classe, o que o torna muito mais autêntico!

    Avaliemos a prisão (ou atos extremos de outros lideres), como Mandela e Vargas.

    Mandela ficou décadas preso, até que a força do movimento histórico que representava, com dramática ameaça ao establishment do apartheid (não só o sulafricano, mas principalmente o mundial, não esqueçam), fosse corroído pelo confinamento da liderança, que de líder passou a mito, e aí sim, serviu a domesticação da intensa luta de classes que simbolizava, para então transformar-se em símbolo de “união nacional”.

    Tal união possibilitou afastar (anos depois, quando o sistema implodiu) a cobrança devida pelos brancos aos negros violentados por séculos, manteve as estruturas de desigualdade, e por fim, diluiu a força política renovadora do CNA em intrigas e disputas palacianas.

    A prisão do mito possibilitou que seu “resgate” fosse pago em uma “transição negociada”.

    Mais ou menos como muita gente ttem imaginado no caso Lula.

    Vargas foi mais dramático, e embora conseguisse adiar um pouco o andamento do golpe conservador (mais conservador que ele), manteve o povaréu chorando seu cadáver, ao invés de mobilizá-los para algum tipo de luta anti-estamento.

    Em Vargas, o luto sufocou a luta.

    Não, não, não senhores e senhoras. 

    Aqui de Pasárgada sabemos:

    Há uma guerra aí no Brasil, e mitificação ou idealizações de mitos não ajudam.

    Como os soldados do sargento Coiller, desde o mais ingênuo (o Norman), passando pelos mais violentos e cínicos (o Gordo e o Brady, não à toa essse úlitmo é o bom ator que fez a série O Justiceiro) até o religiosíssimo e moralmente correto Bíblia, é preciso saber que o que nos resta é resistir, MATAR o inimigo, ainda que nosso fim está próximo, porque essa é a natureza da GUERRA:

    MATAR O INIMIGO, seguir matando, matando até que você VENÇA.

    E para matar o inimigo é preciso identificá-lo:

    Na II Guerra eram os alemães, embora até alguns momentos de confraternização (política) fossem possíveis, dentro da precariedade da guerra, ou até em alguns atos de estranha manifestação de humanidade!

    O filme mostra isso em duas passagens: Quando Norman se enamora da mocinha alemã bonita (e culta como ele, como se ambos fosse “deslocados” daquele ambiente selvagem) que será morta logo depois por um bombardeio, provavelmente alemão, e logo no início quando o sargento Coiller ataca um inimigo a cavalo, apenas para deixar o animal seguir solto.

    Ou seja: É possível ser humano (demonstrando compaixão pelo animal), mas nunca pelo inimigo (que vale menos que o animal).

    E no Brasil?

    Quem é o inimigo? Sabemos ao menos quem são?

    Essa é a chave!

    Guerreamos uma guerra sem sebar que estamos nela, e sem saber quem é nosso inimigo! E Lula é nosso general!

    E já que estamos falando de decisões e momentos cruciais, vamos fazer uma comparação chula:

    Os que imaginam que entregando Lula teremos um mito que “nos preserva do conflito” e que pode, com a força desse mito nos redimir, fica a dica:

    Sim, Churchill e Roosevelt, e talvez até Stálin imaginaram uma forma de “perder” menos, buscando acalmar a “fera” alemã.

    Chamberlain foi até as últimas ações para “se entregar” antes de lutar.

    Resta saber que entrou para a História e em quais condições.

    Eu preferiria, se tivesse a sorte de ter nascido inglês (e não nesse miserável paizeco vizinho de Pasárgada), sabendo de tudo que sei hoje (olha a teleologia aí, de novo), ser liderado por Churchill, ao invés de Chamberlain.

    E vocês?

    Lula bem que poderia ser um Cavalo de Troia, mas está OCO.E as elites sabem disso, por isso o trouxeram para dentro (da cadeia).

    1. Filme Intessante

      Acho que tenho que ver este filme um monte de vezes, mais do que você o viu, para entender este enredo !

      Os tempos estão mudando ( se em  Pasárgada tiver Apocalipse) e o pessoal anda cansado de guerrear o o ” custo- benefício” onde todos são preparados para matar ( estudam para ter bons empregos e ganharem bem e comprarem armas para sobrevivência ). Só aprendem a guerrear e não viver.

      Aí entra o MITO – os ferrados e religiosos estão de saco-cheio de enterrarem cadáveres; o copo de meio-cheio está transbordando, e água-vida não é para ser desperdiçada e sim para saciar a sede e regar árvores que um dia darão sombra. Para TODOS !

      1. A árvore da vida.

        Esse é o filme que está passando aqui hoje, em Pasárgada.

        Novamente Brad (Pitt) em ótima companhia de Sean Penn.

        Terence Malick é craque nesses filmes de planos longos, de questões quase espirituais (ver o outro dele, The Thin Red Line ou Além da Linha Vermelha, com Sean Penn, Travolta e Nick Nolte, e Cousack).

        Para os desavisados, A Árvore da Vida parece um pouco chato.

        Eu gosto, acaba por me relaxar.

        O filme aparenta tratar de conflitos existenciais dos personagens, advindos da estranha personalidade de um pai e traumas familiares insuperados.

        Nada disso.

        No fim, trata da inevitabilidade de nossas escolhas, ou da inexistência de escolhas a qual estamos confinados como meros resultados das escolhas de outros.

        Seja no campo de batalha, seja na sombra de uma árvore (da vida).

        Não caro MRE, a água, qualquer que seja seu ciclo ela nunca se desperdiça, porque ela se recicla, ainda que esparramada ao solo (porque desce ao lençol freático), ou jogada no rio de volta pr’o mar ou evaporada para o céu azul.

        Água mata a sede, mas em quantidade acaba por afogar.

        Não à toa você resiste alguns dias sem água, mas nunca mais de dois minutos submerso.

        Veja Fury de novo, você vai gostar.

         

         

  5. Bom dia, Lula

    Uma boa hora para o presidente soltar a tal prometida Carta ao Povo Brasileiro; não confundir com aquela outra.

    Dois pontos positivos precipitados pelo golpe dos canalhas das quadrilhas e organizações criminosas sem fronteiras:

    . A consciência da Luta de Classes nunca foi tão clara aos brasileiros.

    . A oportunidade que a história trouxe para que o Partido dos Trabalhadores retome as suas origens, a sua alma, a miltância.

    1. Bom Dia, Serjão.

      Serjão, sem ironia alguma, sem nenhuma forma de crítica, eu gostaria que você me apontasse onde está a tal consciência da população sobre a luta de classes, ou melhor dizendo, em que manifestação ou gesto isso se configura?

      Olha, pode parecer estranho, mas o que eu tenho visto e observador é que há um monte de sinais aparentemente contraditórios (na verdade parecem, mas não são, e isso faz parte do plano deles, impor essa falsa percepção).

      Explico:

      – A intervenção militar, apesar de tida e havida como pirotecnia eleitoral e uma amostra dos tempos (mais duros) que virão, segue sua saga de apoio omisso, desde as elites (óbvio, são os patrocinadores), desde as classes médias e chegando ao “consumidor final”, o pobre da favela, que nem sabe mais que tipo de violência ele prefere:

      A dos traficantes, a dos milicianos, os traficantes-milicianos, a da polícia, a da polícia e FFAA, ou dos policiais-arregados-traficantes-milicianos, já que todos agem parecidos e se parecem, de fato.

      – Apesar de esmagador apoio ao Lula, esse apoio não reverte, nem é representado em nenhuma forma de protesto, sequer parecida com a primavera de 2013 (via FIESP, NSA, CIA e robôs do feicebuquistão).

      – Não há nenhum estudo (nosso pelo menos, nenhum) para determinar como seguiria o ânimo do eleitorado para o Congresso, ou seja, ainda que Lula fosse candidato, e se eleito fosse, não sabemos se haverá repetição da conformação de nosso estranho jogo eleitoral chamado sistema de coalizão, onde elegemos um presidente com uma agenda, e um congresso inimigo dela!

      Bem, eu pergunto também, que PT é esse de origem (de raiz) que você reivindica?

      Olha, eu fiz parte dele por 30 anos, e me recordo que o principal traço da nossa militância era a fé pequeno burguesa na implantação de um regime MORAL na política.

      Não à toa nosso eleitorado estava restrito nas camadas médias urbanas, pois só extrapolamos esse teto (30%, lembra?) justamente com a Carta aos Brasileiros, dizendo a todos que não éramos o bicho-papão socialista, e sim um tipo de reformismo um tiquinho de nada mais ousado.

      Mas tudo dentro da LRF, dos juros, com Palocci como fiador.

      Só assim, domesticados, é que o povão nos aceitou e as elites permitiram!

      Nosso ídolo, dentre tantos, era um promotor de Brasília, que de tão sumido me sumiu o nome da memória, acho que é Fransciso, ou Luis Francisco, com os mesmos traços dos torquemadas que hoje nos perseguem.

      Um dos momentos principais de nossa militância foi no Fora Collor, hoje sabemos, um dos laboratórios do então incipiente Lawfare.

      Só Brizola chiou, e espancamos (metaforicamente) Brizola.

      Não, Serjão, essa “origem” não nos interessa muito mais.

      Esse passadismo é inútil.

      Que brote uma militância aguerrida com outrora, mas sem a religiosiodade infantil de classe média de antes!

       

      Um abraço, Serjão, e claro, Bom dia Lula.

      1. Consciência de classe está em votar no candidato da classe

        trabalhadora mesmo após toda essa descontrução jurídico-midiática. Só consciência de classe explica isso.

        A intelectualidade de esquerda precisa entender que o povo quer decidir no voto. A maioria silenciosa luta demais pela subsistência no dia a dia, uns nem tem dinheiro sobrando para pegar um ônibus e ir até os locais de protesto, e quem não está engajado em movimentos sociais e é vulnerável tem medo de serem presos se aderirem a protestos, deixando a família sem condições de sobrevivência.

        Mas o povo quer protestar e se manifestar contra o golpe dos ricos e por um governo dos pobres nas urnas. Temos que ser humildes ir onde o povo está, em seu estágio de conscientização atual, para não só eleger presidente mas para eleger mais gente progressista no legislativo.

        Quanto tivermos um governo popular de novo, com Congresso mais progressista, devemos exigir reformas em direção à mais democracia direta, com o povo decidindo no voto plebiscitário as grandes questões que o afetam e as transformações da realidade.

        1. Consciência de classe?

          Olha, nem eu acredito que a percepção de classe pelos trabalhadores seja algo tão coeso, bem como na atual conjuntura, a manifestação dessa consciência não se apresenta, ainda que possa parecer assim pelo capital eleitoral de Lula.

          Não vou entrar em detalhes para destrinchar o aspecto de seu recall e de suas proezas, e principalmente, na ausência de um candidato de direita com “pegada”.

          Vou resumir:

          Confundir o capital eleitoral de Lula com consciência de classe é a pior explicação para essas intenções de voto.

          A vitimização excessiva da população trabalhadora também não ajuda. As carências econômicas não justificam a inércia política, ou pelo menos, não é só isso que os torna uma silenciosa maioria.

          É só olhar a 25 de março ou outro centro comercial em dia de Black Friday ou qualquer outra liquidação.

          E as marchas do orgulho evangélico? 2 ou 3 milhões de desfavorecidos ensandecidos aleluia-salve-salve pelas ruas.

          Visitas do Papa? Outros tantos milhões se deslocando até a zona oeste do Rio. Lama, espremidos, esgotados, mas felizes.

           

          São escolhas, meu caro, escolhas.

          Estão a espera do mito para os redimirem de seus pecados!

          Lula cordeiro de deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós!

           

           

           

          1. Não é a que você gostaria mas é consciência de classe

            Primeiro lugar eu não disse que percepção de classe pelos trabalhadores seja algo tão coeso. Pelo contrário acho difuso. Mas no caso do capital político de Lula é. Por que outra razão seria? Voto religioso? Fanatismo como diz a Isto É?

            Pelo que eu converso, os pobres que votam em Lula é porque entendem que ele fez bom governo para os pobres. Dilma, que não é carismática, foi reeleita com o voto dos pobres.

            Comparar consumo com manifestação política é despropósito. Quem vai à 25 de março é porque está precisando de comprar alguma coisa, e aproveita preços baixos e liquidação. E como eu disse, o cara não tem medo de ser preso por ir comprar. Manifestação religiosa também o cidadão não tem esse medo de sair machucado, ser preso, ou perder o emprego se a cara dele aparecer no jornal. Claro que a consciência religiosa é maior do que a política, que está centrada no voto nas eleições.

            Não estou vitimizando excessivamente a classe trabalhadora. Ela deve ser mais politizada. Mas se não é, quem está errando? São os movimentos sociais e os partidos de massa. Não adianta reclamar do povo, querer trocar de povo. Precisa ser humilde de ir onde ele está. Por isso que eu disse que um novo governo de esquerda precisa deixar o povo decidir por democracia direta para se politizar mais além do voto representativo.

             

          2. Meu caro,

            A chave do que você disse está na palavra NECESSIDADE.

            Ou seja, como você concordou, as pessoas escolhem se mover pelo aquilo que acham necessário, e óbvio, manifestação política não entra na primeira fila das demandas.

            Sobre o medo de ser preso, acho que você está exagerando um pouco, porque o pobre favelado, via de regra, convive com o Estado-coerção e violento o tempo todo, desde o medo de ser preso sem motivo, até de ser morto, dado estatístico que se eleva se for favelado e negro.

            Nem vou entrar nos outros medos, como da violência urbana ao se deslocar para os centros populares de consumo e o medo de ser estigmatizado pela sua fé religiosa, que também é real.

            Talvez esses medos sejam mais reais que o medo de se manifestar publicamente.

            Então, se o eleitorado de Lula o prefere por algum nível de consciência política, sua imobilidade em relação ao resto é ainda pior.

            Não se trata de trocar de povo, mas por outro lado, não podemos achar que toda a responsabilidade por sua mobilização é nossa e ou dos movimentos sociais, sob risco de cairmos no vanguardismo ou no messianismo.

            Corresnpondendo a humildade que você menciona, então é preciso antes saber que o POVO ESCOLHE FICAR PARADO, e deseja apenas um líder para tratar suas feridas, essa é nossa história desde 1500, e não há como negar.

            E se o povo ESCOLHE, ainda que por filtros precários, temos que DAR AO POVO A RESPONSABILIDADE PELOS RESULTADOS DE SUAS ESCOLHAS.

            Esse mesmo “povo” escolhe o sexismo, a homofobia, enfim, todas as manifestações de conservadorismo e violência (“bandido bom é bandido morto, por exemplo), porque isso traz algum ganho e zonas de conforto, ainda que reconheçamos que esse mesmo “povo” é a principal vítima desse estado de violência.

             

  6. Lula e a ideia de mito!

    Mitos são ideias.

    Não são pessoas.

    Não são históricas e estão acima dos conflitos e das classes.

    Por isso prenderam Lula: 

    Para transformá-lo em um mito.

    Logo, até Chico Pinheiro pode se apropria de Lula-mito, ou qualquer um, já que o mito não é de uma classe específica, nem serve com representação dela, mas é de TODAS as classes.

    Perdemos outro round da guerra ideológica.

    E seguimos comemorando.

    Não tarda, a globo fará uma homenagem-reportagem ao mito.

     

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