Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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Não há pena suficiente para punir Jair pelos crimes durante a pandemia, por Fernando Castilho

Bolsonaro é o responsável por centenas de milhares de mortes, direta ou indiretamente, por omissão quando não tomou as medidas necessárias

Imagem: reprodução da Internet

Não há pena suficiente para punir Jair pelos crimes durante a pandemia

por Fernando Castilho

O papo tem que ser reto.

O hacker Walter Delgatti Neto causou furor na última sessão da CPMI dos atos golpistas ao acusar de maneira ousada o ex-presidente Jair Bolsonaro de contratá-lo para tentar fraudar as urnas eletrônicas ou, no mínimo, levantar elementos que pudessem colocar em dúvida a inviolabilidade. Além disso, afirmou que foi instado pelo capitão a assumir a autoria de um grampo plantado no gabinete de Alexandre de Moraes, ministro do STF e presidente do TSE com o fim de expor possíveis falas comprometedoras para desacreditá-lo perante a população.

Os parlamentares da extrema-direita tentaram desqualificá-lo ao levantar sua ficha criminal, como fez o senador Sergio Moro, mas o que conseguiram foi apenas criar elementos para responsabilizar um presidente que jamais deveria ter contratado um criminoso para cometer crimes por ele. Como um chefão que contrata um pistoleiro para dar fim a um adversário ou inimigo. Deram tiro no próprio pé.

Afirmaram também que as acusações de Delgatti carecem de provas. Mas sobre isso, o jurista Lenio Streck, usando uma analogia, deu uma verdadeira aula em entrevista.

Imagine que uma pessoa entra toda molhada em uma sala afirmando que determinado homem teria jogado um balde de água nela.

Essa pessoa poderia estar fazendo uma acusação falsa, porém, o fato é que ela está realmente molhada. Poderiam dizer que ela mesma se molhou ou que se jogou numa piscina, mas não seria obrigação dela apresentar provas, mas sim, a quem couber fazer a investigação.

É o caso das acusações de Delgatti. O fato é que ele esteve realmente com Carla Zambelli que a levou a conversar com o ex-presidente, como este mesmo confirmou.

Se Jair Bolsonaro realmente o contratou para fraudar as urnas e o encaminhou ao Ministério da Defesa para que ele pudesse começar a agir, não é ele que tem que provar. É a Polícia Federal que tem o poder de investigar câmeras, testemunhas, etc.

Embora, aparentemente não tenham sido ainda encontrados registros de suas cinco idas ao ministério, talvez porque tenham apagado o conteúdo das câmeras e também de sua identificação, ou talvez, como afirma o hacker, tenha sempre entrado pela porta dos fundos, é certo que o hacker descreveu muito bem as salas onde esteve, com certa riqueza de detalhes impossíveis de serem conhecidos por ele sem que estivesse realmente presente.

O que temos então é um torno de bancada sendo cada vez mais apertado em Bolsonaro e não vai demorar muito para que ele seja, enfim, indiciado.

O que não podemos nunca esquecer, porém, são seus crimes cometidos durante a pandemia da Covid-19, comprovados pela CPI e ignorados solenemente pelo PGR, Augusto Aras.

Bolsonaro é o responsável por centenas de milhares de mortes, direta ou indiretamente pelo vírus, seja por omissão quando se recusou a tomar as medidas necessárias para contê-lo, ignorando as recomendações da comunidade cientifica e da OMS, seja por ação, quando protelou a compra de vacinas por um mês. Embora o ato de imitar pessoas morrendo por asfixia não possa ser enquadrado como crime hediondo, é certo que esse ato foi de uma crueldade e imoralidade jamais vistas partindo de um presidente da República.

O ex-presidente TEM que pagar por esse que é o maior de todos os crimes cometidos por ele, mas teremos que aguardar a posse do novo procurador-geral para que este desarquive o relatório da CPI e o envie para o STF.

Porém, nenhuma pena, dada a gravidade, conseguirá ser proporcional ao crime cometido.

Nem prisão perpétua ou execução seriam suficientes.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

2 Comentários

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  1. Concordo, mas é necessário lembrar que o capitão genocida não agiu sozinho.
    Apesar de centenas de requerimentos fundamentados, Arthur Lira se recusou a iniciar um só processo de Impedimento contra Bolsonaro.
    Augusto Aras pediu o arquivamento da denúncia de genocídio que eu fiz contra Bolsonaro em janeiro de 2021. O Ministro Marco Aurélio de Mello determinou o arquivamento dessa denúncia acolhendo o pedido de Augusto Aras. Eu recorri, mas o processo está mofando no STF e foi distribuído ao Ministro doentiamente evangélico após a aposentadoria de Marco Aurélio de Mello.
    O sistema de justiça inteirinho funcionou de maneira enviezada, flexibilizando o direito à vida de maneira a possibilitar ao capitão continuar causando mortes. Ele é responsável, sem dúvida. Mas tem muito mais gente que afundou na barbárie por medo, por complacência ou por um certo desprezo pelas vidas das pessoas comuns. O mal banal sobre o qual dissertou Hannah Arendt se reproduziu no Brasil de maneira extremamente tranquila. Enquanto Bolsonaro seguia causando mortes, o PGR e os Ministros do STF seguiram recebendo seus salários nababescos, comendo petiscos às custas do erário público e peidando em suas cadeiras estofadas. E para completar o show de horrores, não podemos esquecer um dado importante: nas Forças Armadas do Brasil não existe um só oficial militar suficientemente ético. Todos seguiram cumprindo as ordens dele, por mais absurdas que elas fossem (e alguns lucraram desonestamente fazendo isso).

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