Nós autorizamos, acabou porra… E daí Conan?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Os bolsonaristas que foram às ruas no sábado são uma minoria dentro da minoria eleitoral. Eles não têm direito de autorizar Bolsonaro a fazer nada.

Nós autorizamos, acabou porra… E daí Conan?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Na década de 1980, existia no PT de Osasco SP um grupinho de extrema esquerda chamado Libelu (Liberdade e Luta). A principal característica dele era o autoritarismo. 

Funcionava mais ou menos assim… Quando se reuniam, os membros da Libelu diziam que aquela era uma plenária do PT. Portanto, as decisões tomadas por eles eram decisões do partido e as outras tendências partidárias estavam obrigadas a seguir as deliberações da corrente minoritária. Se a maioria do PT se reunisse e a Libelu percebesse que ficaria isolada, ela se retirava e denunciava o resultado da reunião dizendo que não cumpriria a deliberação porque não havia participado do processo decisório. 

Em 2018 o Brasil tinha 147 milhões de eleitores. Bolsonaro foi eleito no segundo turno com 57 milhões de votos, pouco mais de ⅓  do colégio eleitoral. Uma parcela dos eleitores dele votaria em Lula em 2018 e certamente pretende votar no ex-presidente petista em 2022. Nos últimos 2 anos o bolsonarismo foi desidratado, restando apenas o núcleo duro de seguidores dispostos a levar adiante o projeto de destruição do mercado interno e da economia nacional.   

Os bolsonaristas que foram às ruas no sábado são uma minoria dentro da minoria eleitoral. Eles não têm direito de autorizar Bolsonaro a fazer nada. Mas ele precisa desesperadamente crer (e fazer seus seguidores fanáticos acreditarem) que foi autorizado a fazer tudo o que quiser quando bem entender à revelia do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e da Constituição Cidadã.

Bolsonaro começará a semana agindo como se tivesse sido autorizado a dar golpe de estado pela “maioria” que o transformou num personagem tão invencível quanto Conan, o bárbaro. Mas a realidade é cruel e condenou o mito a ser um clone do mago Thoth-Amon, vilão cujo poder absoluto só existe numa sala de espelhos. Assim que suas imagens começam a ser despedaçadas ele sangra e é derrotado.

Bolsonaro não tem apoiadores importantes no exterior. O apoio interno dele enfraqueceu. As Forças Armadas já rejeitaram mais de uma vez a possibilidade de golpe de estado. 

E daí? Bolsonaro-Conan-Thoth-Amon é um ilusionista. Portanto, ele tenta se arrancar do atoleiro puxando o próprio cabelo. As manifestações de sábado demonstram que  o ímpeto golpista de Bolsonaro tem crescido à medida que o governo dele perde legitimidade.

A verdade, porém, é que o bolsonarismo acabou. O que restou é apenas um simulacro de extrema direita com características semelhantes à antiga Libelu. Certa feita, durante uma greve geral nos anos 1980, essa tendência petista reuniu uma dezena de militantes de madrugada e decidiu invadir os quartéis de Osasco para começar a revolução. O resto é história… Os quartéis não foram invadidos, pois entre a decisão da Libelu e sua execução havia um abismo preenchido pela realidade.

Um punhado de lunáticos autorizou Bolsonaro a dar um golpe de estado? E daí? O desfecho da encenação é previsível. O mito não fará nada, porque ele não está realmente em condições de transformar um governo fraco e diplomaticamente isolado numa ditadura forte apoiada interna e externamente. 

Bolsonaro quer ser ditador, mas não tem apoio das Forças Armadas e não está em condições de coagir os militares a romper a legalidade. Ele odeia a liberdade de imprensa e gostaria de mandar prender, torturar e matar seus adversários. O problema é que o presidente do Brasil não  comanda um Estado semelhante àquele que existia na década de 1970.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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