Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Ok, Lula pisou na bola! Mas, por que não seria armação?, por Armando Coelho Neto

Quem não dá crédito a nada que parte da opinião cristalizada pela grande mídia, especialista em destruir reputações, vive desconfiado.

Bruce Kekulê

Ok, Lula pisou na bola! Mas, por que não seria armação?

por Armando Rodrigues Coelho Neto

No último dia 22 a Polícia Federal desencadeou uma operação para frustrar um suposto plano do Primeiro Comando da Capital (PCC), que teria por objetivo promover ataques contra servidores públicos e autoridades, por meio de homicídios, sequestros, extorsão. Entre os possíveis alvos estaria um hoje “picareta sem toga”, que no passado prendeu Lula sem provas em troca de cargo, dinheiro e prestígio.

Quem não dá crédito a nada que parte da opinião cristalizada pela grande mídia, especialista em destruir reputações, vive desconfiado. Fique o leitor com Lula e Dilma, entre outros, para que não seja necessário recontar casos como da Escola de Base e ou repisar as escandalosas operações da Farsa Jato, com pessoas sendo presas quando acompanhando parentes em hospitais ou arrastadas em macas.

O que havia por trás dessas operações midiáticas? Por vezes um depoimento insólito, gênero “Maria Louca” do Caso Celso Daniel, que vivia lendo histórias de jornais e se apresentando para prestar depoimentos fantasiosos, com a complacência do Ministério Público, que dava a ela um crédito que nenhum policial rastaquera de plantão daria. Mas, tinha o selo de uma testemunha, um promotor…

Quando do dito “Mensalão”, não importava que a pessoa tivesse uma capivara gigante, nem que fosse um ladrão, traficante foragido, nem se desse um depoimento bombástico e no dia seguinte fugisse do país. O importante era que de alguma forma incriminasse Lula, Dilma, PT. Essa fala é inspirada numa afirmação mais civilizada do jornalista Ricardo Kotcho, ao criticar então o papel da mídia. Nada mudou!

Não há um depoimento? Serve a interpretação de um “araponga” sobre uma escuta telefônica, autorizada ou não. Se houver um pedaço de papel encontrado pela Polícia Federal sujeito a subjetividades na leitura também serve. Mas, bom mesmo é a assinatura de uma juíza “Control C Control V” (copia e cola). Pode melhorar se o juiz vestir preto, tiver um discurso moralista que esconda o cafajeste real que é.

O Brasil assistiu no passado uma farsa contra a presidenta Dilma Rousseff, com toda aparência de legalidade, e teve até o selo de legitimidade conferido pelo Supremo Tribunal Federal, mesmo que em cadeia nacional de televisão tenha sido dito tratar-se de um grande acordo nacional com Supremo e tudo, mais o Exército (olha ele de novo!) monitorando o Movimento dos Trabalhadores sem Terra.

Neste espaço, por mais de uma vez, o golpe de 2016 foi tratado como “Golpe da maconha intrujada” – prática de maus policiais que por desacordo comercial com bandidos inserem produtos ilícitos nas posses ou casa de alguém. Ou, por não conseguirem provas contra a pessoa, forjam flagrantes, e uma vez apresentada à autoridade ganha ares de legalidade, sem que se questione o vício de origem.

Se políticos, delegados, procuradores da República, juízes e mídia se uniram para promover um golpe, por que bandidos não o fariam? Se autoridades se uniram para consumar duas grandes farsas políticas, por que bandidos do PCC também não o fariam? Por que não poderiam construir uma operação “colar colou”, que no fundo produzisse os efeitos secundários desejados e não os aparentes propósitos finais?

Permita o leitor mais que licença poética! Licença ao delírio! Confiança absoluta numa Polícia Federal, cujos recém-formados gritavam “mito” no encerramento do curso de formação? Ou dos mais antigos que atuaram como capitães do mato da Farsa Jato? No silêncio do Ministério Público Federal quanto à atuação mafiosa de membros que se locupletavam do cargo para galgar postos políticos?

Se autoridades podem se unir para promover uma farsa, bandidos também podem. A “simpatia” do PCC pelo Partido dos Trabalhadores está demonstrada nos ataques promovidos no Rio Grande do Norte, do mesmo modo no corpo mole dos policiais cearenses contra um governo do Partido dos Trabalhadores. Quem ajudou a municiar o PCC com o descontrole de armas está mais próximo dele, não?

Confiar em juíza “copia-cola”? É de se presumir com indiscutível sinceridade que há pessoas honestas na operação contra o PCC, sobretudo o incansável procurador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco). Mas, o que impediria o PCC de criar toda essa situação, para ocultar o “roubo” das joias e outros escândalos relacionados ao ex-capitão?

No mais, quem é o ex-pilantra de toga na fila do pão, para ser alvo do PCC? Assinou uma portariazinha? Mentira! Foi no desgoverno Temer! Fato: o picareta estava apagadinho e em descrédito. Para um grupo fascista que inventou uma facada, construiu diálogos falsos entre bandidos para incriminar Lula durante a campanha eleitoral, seria difícil criar o codinome “Tokyo” ou Pinóquio para um ex-juiz?

“Ah, mas até alugaram casa, coisa e tal”. E daí? Para quem inventou um golpe de estado, uma Farsa Jato, esse suposto “itercriminis” é fichinha. Claro, autoridades não poderiam ignorar os diálogos, teriam de agir, estivessem os bandidos blefando ou não, criando suportes fáticos e ou urdindo verossimilhança para as ameaças com as quais o Gaeco convive há tempo, em especial um insuspeito promotor.

Um pitaqueiro oficioso no GGN pode desconfiar de tudo e tornar público. Lula pisou na bola, mas tem a licença poética de sua dor para expressar sua desconfiança. Foi ele quem passou 580 dias preso sem provas, numa grande armação entre autoridades, que deixou desempregar e morrer brasileiros, quebrar empresas, enriquecer os mais ricos e mergulhar o país numa onda fascista.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

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