O PMDB a caminho do desembarque, por Helena Chagas

Do Fato Online

Corra, Dilma, corra!
 
Festa de Marta foi mais um aviso à navegante. O PMDB manda dizer à presidente que está a caminho do desembarque, com todos os desdobramentos previsíveis. A sorte de Dilma é que o recado ainda não foi assinado por todos
 
Helena Chagas
 
O PMDB de hoje nada tem a ver com aquele partido de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves que liderou a transição na volta à democracia, exceto por uma característica: a capacidade de seus diversos grupos de conviver nas diferenças e, em certos momentos, juntar os contrários para virar o quadro político de ponta-cabeça. Assim foi com Tancredo e Ulysses, que travavam sua disputa interna, mas se uniram a uma dissidência governista para fazer (num colégio eleitoral) o primeiro presidente civil após 20 anos de ditadura. Não esperavam, é certo, a trapaça do destino que levou Tancredo e colocou José Sarney em seu lugar. Mas o PMDB chegou ao poder.

A concorrida festa paulistana de filiação da senadora Marta Suplicy, no sábado (26), levou alguns peemedebistas da velha guarda a indagar se um desses raros momentos de convergência no partido não estará a caminho. Guardadas as proporções – nas atuais circunstâncias, não se trata de derrubar a ditadura, mas uma presidente constitucionalmente eleita contra quem não há qualquer acusação criminal – , sentiram no ar indícios de que os caciques do PMDB nunca avaliaram tão a sério a possibilidade de desembarque.

Quem esteve lá observa que a cerimônia de filiação de Marta foi bem além de Marta. O objetivo aparente era receber a ex-ministra de Lula e de Dilma que chutou as canelas do PT e, espantosamente, entrou no PMDB afirmando estar cansada da corrupção de seu partido. Mas o evento acabou como demonstração de força e unidade em torno de Michel Temer, sucessor constitucional da presidente da República.

Nada acontece por acaso nesses atos partidários, e a intenção ficou clara no script. Ocupando interinamente a presidência na viagem de Dilma Rousseff à ONU, Temer fez discurso comedido. Não quer passar a ideia de que está traindo ou conspirando. Presidencialmente, porém, ficou no centro do palco, cercado pelas homenagens das principais lideranças do partido, de governadores a ministros, passando pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.

Todos compareceram, independentemente de suas divergências. Estava lá, inclusive, aquele que é hoje a última esperança do Planalto de recompor a base na Câmara e evitar o impeachment, o jovem líder Leonardo Picciani.

Que teve sua presença notada pela nova cristã peemedebista, aplaudidíssima quando disse que Temer “vai reunificar o país” – dois dias depois do programa do PMDB na TV que bateu na mesma tecla. Reunificação, por sinal, que foi objeto de enorme polêmica quando mencionada pelo vice em entrevista há algumas semanas. O Planalto achou que Temer estava se oferecendo para o papel reunificador e essa teria sido a gota d’água para o afastamento da presidente e seu vice. Não se sabe bem o que aconteceu, mas o que era gafe virou lema do PMDB. E agora Michel veste a camisa de reunificador.

Renan discursou. Cunha discursou. Moreira Franco discursou. E ninguém defendeu o apoio ao governo. A militância gritava “Um, dois, três, quatro, cinco, mil. Marta em São Paulo e Michel no Brasil…”.

Sem dúvida, foi um aviso à navegante Dilma. Na leitura geral, o PMDB está querendo dizer à presidente que pode estar a caminho do desembarque, com todos os desdobramentos previsíveis. A sorte de Dilma é que o recado ainda não foi assinado por todos.

É que, no particular, alguns peemedebistas ainda mandam avisos diversos à presidente. Por exemplo, o de Picciani, que está se achando a última coca-cola do deserto nesses tempos de derretimento da base parlamentar, é: “Dilma, corra”. Corra para dar ao PMDB da Câmara as duas pastas prometidas na semana passada, e não só (?) a da Saúde. Quer também o ministério resultante da fusão de Portos com Aviação Civil.

Os deputados deixam claro que esse será o único jeito de garantir os votos a favor dos vetos que vão ser apreciados já na manhã desta quarta e contra os pedidos deimpeachment que Cunha vai jogar na pauta a partir desta semana. Quem mandou prometer?

O recado de Picciani, porém, choca-se com outros. Por exemplo, o de Michel Temer – que jamais o verbalizará, mas tem meios de mandar dizer – , que não aceita sair desmoralizado dessa reforma, o que acontecerá se perder as pastas de amigos como Eliseu Padilha, da Aviação Aérea.

Renan, outro que terceiriza os recados, avisa à navegante que também não aceita perder o que tem. Cunha, já na oposição, não manda recado, não liga, não aparece. Mas aperta o cerco pautando o impeachment a cada nova acusação que recebe na Lava-Jato. No fim de semana, teve mais uma, o que indica que chegará tinindo nesta segunda (28) à Câmara.

A salvação de Dilma ainda está nos diferentes conteúdos dessas mensagens e na chance de negociar separadamente com os grupos do PMDB. Mas o tempo se esgota. O bom senso mandaria que a presidente fizesse as malas e retornasse imediatamente ao Brasil para resolver as coisas e enfrentar a pauta infernal da semana.   

Tudo para evitar, mais à frente, receber uma mensagem unificada dos caciques do PMDB, essa sim final e fatal, mandando dizer que já era.

 

Redação

12 Comentários

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  1. em duas fases

    primeiro, troca todos os ministros e depois a presidente eleita.

    que lástima de presidente.

    por causa dela, a esquerda ganhou mas não levou, isto é, segurou o poder com a esquerda e governou com a direita.

    … e não entende o malogro.

  2. Na hora em que a justiça,

    Na hora em que a justiça, finalmente, começar a fazer o que tem que ser feito, um monte de PMDBistas começará a sair de fininho um para cada lado tentando tirar o seu da reta. “Quando o jeito é se virar / Cada um trata de si / Irmão desconhece irmão…”

  3. Como é triste!

    Uma Presidenta honesta e trabalhadora, sendo cercada por chantagistas e muitos, sabidamente corruptos!   Marta foge da corrupção se aliando a Cunha e seus discípulos???  Parem o mundo, pois quero descer! 

  4. Não se esqueçam que a

    Não se esqueçam que a avaliação do Congresso pela população é pior do que a da Presidenta

    Dificilmente vão ter apoio popular e quando falo popular não falo de coxinhas…

    TODOS os segmentos socias irão pra rua defender o mandato da Dilma, não porque gostem dela, mas porque são contra os oportunistas do PMDB e o Temer não foi eleito, quem foi foi a Dilma e pra defesa do regime democrático que custou tanto ao pais…

     

    Esses senhores vão acabar provocando um novo junho/2013 mais violento e sem controle…

     

  5. Materia babaca. Texto cheio

    Materia babaca. Texto cheio de suposições. Esse pessoal da fofoca não se emenda…

    Porque o GGN posta essas inutilidades?

    A gente entra aqui para ter sossêgo e recebe gasolina na cara.

  6. A primeira vez foi azar,

    A primeira vez foi azar, sorte, destino, sei lá.  Chegou Sarney no lugar de Tancredo. A segunda vez, prestem atenção, peemedebistas, velhos, médios e neo peemedebistas, é farsa. Longe, muito longe  de ser um reunificação do país,   desta vez, é golpe na veia!

  7. Dio Mio

    Quando será que o Cunha será defenestrado da presidência da Câmara ? Será que o Janot ou Teori ainda não possuem provas suficientes? Ou estarão aguardando o trabalho final, ou até mesmo ordens superiores ?

  8. Por certo voce leu isso no Estadão

     

    “O PMDB de hoje nada tem a ver com aquele partido de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves que liderou a transição na volta à democracia “

    Cara, isso não passou de um dos muitos golpes dos procrastinadores que mandam nesse país.

     

    Salvação de Dilma de que ? 

     

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