A intolerância com o noticiário

Por Cabezon

O contrapeso da intolerância que cresceu após a eleição é a polarização automática. Se Hitler ressuscitar, invadir a Polônia e a Miriam Leitão for contra, tem gente que vai dizer que não é bem assim, que a invasão era necessária, e que todo esse discurso de preservar fronteiras é mais uma manobra da máquina de propaganda financista-neoliberal-kameliana-satanás-americanóide…

Nesse caso do Abílio o pessoal já está brigando com os fatos. A mídia inteira demorou muito para se posicionar; aí sim cabe a crítica, pois falta massa cinzenta especializada aos veículos. O Governo teve mais de uma semana para explicar porque cargas d’água haveria de meter-se nesse rolo, e saiu-se com as hilariantes teses do “é o BNDES, mas não se trata de dinheiro público” e “aumento das exportações”. Não é o suficiente para escrever um cheque de alguns bilhões.

VamoVamos lembrar que o Grupo Pão de Açúcar, que inclui as Casas Bahia e o Extra, é um dos maiores – se não o maior – anunciante do país. Acho Miriam e Sardenberg limitadíssimos do ponto de vista técnico; até quando concordo com o resultado final, fico um decepcionado com os argumentos infantis. Mas e se eles fossem a favor da operação? Ouviríamos do mesmo jeito a gritaria do “ahá, taí a conspiração! fizeram as pazes com a Dilma para acomodarem seus interesses empresariais!”.

BNDES começou mal, mas não tinha que enfiar-se nesse negócio e recuou corretamente. Não se trata de defender a “grande invasão estrangeira” causadora de todos os males. Quem acompanha o Abílio há muito tempo sabe que é um empresário de muito sucesso, um dos nomes principais do capitalismo brasileiro, mas a enorme dificuldade de dividir poder sempre foi o diabinho a recomendar-lhe algumas traquinagens. Pode ter lhe custado uma saída com menos homenagens do que se poderia esperar. 

A mágoa com a baixaria política gerou uma obsessão em enxergar manipulação do noticiário esportivo à previsão do tempo, o que leva as pessoas a ignorar os fatos. O negócio envolvia muito dinheiro? Sem dúvida, mas talvez a história do homem fosse a verdadeira notícia a ser discutida. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador