Bolsonaro foge dos fatos sobre o desmatamento da Amazônia

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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Bolsonaro omite os fatos completos: Lula reduziu o desmatamento em 67% e Bolsonaro aumentou em 73%

Desmatamento na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Rondônia – Foto: Christian Braga/Greenpeace

Acusado de ser o governo que mais desmatou a Amazônia brasileira, Jair Bolsonaro usa uma resposta-chave para escapar à pecha mundial atrelada ao seu nome, divulgando um recorte dos dados oficiais, de forma que parece ser um saldo positivo do seu trato ao meio ambiente. A resposta recorrente de Bolsonaro não é, em si, Fake News, por trazer um trecho de um dado oficial, mas oculta a informação completa sobre a sua gestão ambiental.

Confira a checagem do GGN:

O que Bolsonaro diz: “De 2003 a 2006, foi desmatado [no governo do PT] mais do que o dobro do que no meu governo (2019-2022).”

Os fatos: Em números absolutos, a informação não está errada, mas distorce os fatos completos, já que oculta as políticas de proteção e a recuperação da floresta amazônica que começaram a mostrar resultados nos anos seguintes do governo Lula. No final do governo, Lula reduziu o desmatamento em 67% e Bolsonaro aumentou em 73%.

Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010, foi a maior redução do desmatamento na Amazônia registrado nas últimas décadas, com um total de 67% de recuperação da floresta.

Lula assumiu o poder com 21,6 mil quilômetros de área desmatada na Amazônia, saldo deixado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Nos dois primeiros anos, essa cifra continuou subindo, até chegar em 27,7 mil quilômetros. A partir de então, as políticas do novo governo começaram a surtir efeito, e já no ano seguinte, em 2005, se observou a maior queda no desmatamento em toda história, mais de 8 mil quilômetros recuperados, para que a área desmatada fosse de 19 mil quilômetros quadrados.

Especialistas costumam atribuir a redução do desmatamento a partir de 2005 aos resultados do PPCDam (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), lançado em 2004 pela então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e que se baseava em três eixos principais: ordenamento fundiário e territorial, monitoramento e controle, fomento às atividades produtivas e sustentáveis.

As cifras continuaram em queda. No final do governo de Lula, em 2010, a área desmatada era de 7 mil quilômetros quadrados, três vezes menor que o recebido da gestão anterior. Essa tendência se manteve durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, até chegar ao mínimo histórico de 4,5 mil quilômetros quadrados de desmatamento em 2012.

A partir de 2016 – ou seja, depois do golpe de Estado -, passou-se a observar um aumento paulatino do desmatamento durante o período de Michel Temer, que se acelerou no governo seguinte, de Jair Bolsonaro: havia 7,5 mil quilômetros quadrados de desmatamento em 2018, e três anos depois a cifra é de 13,2 mil quilômetros quadrados. Ainda faltam os dados de 2022 para completar o estrago total realizado pelo atual governo, mas o observado até agora já significa um aumento de 73%.

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