Brasil, Japão e o diálogo com o Irã

Para aqueles que torcem contra e acham que já acabou, mais um exemplo do exercício cotidiano da diplomacia “fracassada” do Novo Brasil. Quando antes na história?

Da Folha.com

Brasil e Japão querem “janela de diálogo” aberta com o Irã

Da EFE, em Tóquio

O ministro de Relações Exteriores Celso Amorim e seu colega japonês, Katsuya Okada, conversaram nesta sexta-feira sobre a possibilidade de manter aberta “uma janela de diálogo” com o Irã, informaram fontes oficiais japonesas.

Amorim e Okada conversaram durante meia hora por telefone, e, segundo o governo japonês, abordaram a necessidade de que os países aumentem o diálogo em diversos temas.

Os ministros falaram sobre o conflito nuclear com o Irã e a resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada mês passado, que estabelece um regime de sanções mais duro contra Teerã por sua recusa a deter seu programa nuclear.

A resolução, proposta pelos Estados Unidos e que contou com o voto contrário do Brasil, estabelece novas restrições às operações dos bancos iranianos e endurece o embargo de armas ao Irã, entre outras medidas.

Okada comentou a necessidade de manter uma janela aberta ao diálogo com o Irã, enquanto Amorim disse que o Brasil tentará fazer com que o governo de Mahmoud Ahmadinejad adote uma “postura flexível”.

Brasil e Turquia fizeram em 17 de maio um acordo com o Irã para a troca de urânio pouco enriquecido por combustível nuclear, na busca um terreno propício para retomar o diálogo, que foi amparado com ceticismo pelos EUA e outros países.

Por Tomás Rosa Bueno

Até nisso a Folha consegue não ser exatamente verdadeira. A nota oficial do ministério de relações exteriores do Japão diz, textualmente (em inglês, tradução e ênfases minhas):

[início da citação]
Conversa telefônica entre os chanceleres do Japão e do Brasil

15 de julho de 2010
Japonês

O sr. Katsuya Okada, Ministro de Negócios Estrangeiros do Japão, teve uma conversa telefônica com o sr. Celso Amorim, Ministro de Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, por cerca de trinta minutos a partir das 09h15 do dia 15 de julho (quinta-feira), a respeito da sua recondução ao ministério de Assuntos Estrangeiros, entre outras questões. A síntese da conversa é a seguinte:

O Ministro Okada iniciou a conversa com algumas palavras sobre a sua recondução ao ministério e o ministro Amorim congratulou-se com o Ministro Okada por essa recondução. O Ministro Okada disse também que os dois países têm estado em estreita colaboração como membro do grupo G4 de nações pela reforma do Conselho de Segurança da ONU e declarou que o Japão gostaria de constinuar consultando o Brasil sobre este assunto. Em resposta, o Ministro Amorim declarou que o Brasil gostaria de continuar a sua estreita coordenação com o Japão.Sobre a questão nuclear iraniana, o Ministro Okada declarou que é necessário implementar com firmeza a Resolução 1929 do Conselho de Segurança da ONU, além de manter aberta a janela de diálogo com o Irã. O Ministro Amorim respondeu que o Brasil solicitaria ao Irã que adote uma postura flexível.Além disto, o Ministro Okada enfatizou o papel do Brasil e de outros países democráticos emergentes, e declarou que ele gostaria de reforçar o diálogo com esses países. Em resposta, o Ministro Amorim declarou que o Brasil também gostaria de aumentar o diálogo com o Japão em várias ocasiões.
[fim da citação]

O Itamaraty, pelo menos na sua página oficial, ainda não se manifestou a respeito.

O ministro Okada, recentemente reconduzido ao cargo pelo novo primeiro-ministro, ligou para o ministro Amorim para dizer que tudo continua como dantes no quartel d’Abrantes e que o Japão continua candidato a um cargo no CS da ONU e que vamos colaborar estreitamente como sempre e blablablá. E disse que espera que o Brasil ajude a implementar as sanções contra as quais votou. E o ministro Amorim prometeu que vai pedir que o Irã seja (ainda mais) “flexível”.

Numa frase com “implementar com firmeza a Resolução 1929”, o adendo pró-forma a respeito de “janela de diálogo” chega a ser ofensivo. 

Luis Nassif

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