As novas configurações eleitorais: entre políticos tradicionais e influencers, por Monalisa Torres e Alexandre Landim

A novidade desta campanha em Fortaleza, que tem mostrado ser o fiel da balança, é a participação de youtubers, influencers e humoristas.

As novas configurações eleitorais: entre políticos tradicionais e influencers

por Monalisa Torres e Alexandre Landim

A eleição para a Prefeitura de Fortaleza se tornou tema nacional pelo enfrentamento entre PT e PL, reeditando o embate Lula versus Bolsonaro, de 2022. Inclusive, esse é o mantra das peças e discursos que Evandro Leitão (PT) direciona contra o seu adversário, André Fernandes (PL): “o fortalezense não pode eleger o candidato de Bolsonaro”.

Ainda que o eleitor da capital cearense tenha depositado 802 mil votos para Lula e 530 mil para Bolsonaro no primeiro turno de 2022, os candidatos a prefeito do PT e do PL receberam no primeiro turno de 2024, respectivamente, 480.174 e 562.305 votos, indicando que a conjuntura local possui especificidades próprias a serem consideradas.

Apoios ilustres

Na busca por ampliar votos ou, ao menos, estancar o crescimento do adversário, além das batidas e arriscadas campanhas negativas, houve o acionamento de última hora de políticos tradicionais, a saber: os ex-prefeitos Luizianne Lins (PT) pela esquerda e Roberto Cláudio (PDT) pela direita.

Questionada por sua ausência na campanha de Leitão, a “Lôra”, se limitou a uma breve aparição em um evento realizado na Praça do Ferreira (11/10), onde foi ovacionada pelo público, na presença de Lula, Elmano de Freitas e Camilo Santana (PT).

A cobrança por um maior engajamento de Luizianne se justificaria por sua capacidade de ativar a militância, além da penetração na periferia, onde André Fernandes mostra uma surpreendente adesão. Lideranças consideram que o legado de Luizianne e o seu capital político são decisivos em uma campanha, até agora, empatada tecnicamente, de acordo com os dados da Quaest do último dia 23.

Na mesma semana, outro “cabo eleitoral” importante da esquerda foi convocado. O prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), esteve em um ato no bairro Benfica. A vinda de Campos pretendeu  dar o “frescor” da juventude à campanha de Leitão, frente ao apelo do jovem Fernandes, de 26 anos.

Porém, a surpresa do segundo turno foi a adesão do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) ao candidato do PL. Mesmo com a neutralidade do PDT estadual, o movimento de Cláudio gerou constrangimentos e declarações pessoais de adesão a Evandro do deputado federal André Figueiredo e do presidente da legenda Carlos Lupi.

Comemorado pelo QG de Fernandes, Cláudio gravou publicidade, participou de eventos e concedeu entrevistas. Ciro Gomes (PDT) também engrossou o coro antipetista nas redes sociais e Sarto (PDT), derrotado no primeiro turno, exonerou funcionários comissionados que apoiam Leitão.

Diante desse quadro, é importante questionarmos sobre o impacto real do apoio de políticos tradicionais a essas candidaturas. Contrariando a imprensa especializada e alguns analistas, entendemos que o apoio de políticos ilustres fornece um “piso de eleitores”, sobretudo em início de campanha e para candidatos desconhecidos. Porém, superestimar esse fato é desconsiderar a nova dinâmica que emerge destas eleições municipais.

Para além de declarações – que possuem importância simbólica -, o ganho com os apoios de políticos tradicionais, nos chama a atenção a estratégia de Cid Gomes (PSB) em favor de Leitão: convocar lideranças eleitas nas cidades do interior para “ações de corpo a corpo”, na capital. Ao que tudo indica, o “face to face”, usado com sucesso em 2012, e agora copiado até por Camilo Santana, surte mais efeito do que declarações em redes sociais ou discursos em eventos.

A nova dinâmica eleitoral

A novidade desta campanha, que tem mostrado ser o fiel da balança, é a participação de youtubers, influencers e humoristas. Os cearenses Moisés Loureiro e Leo Suricate, e até o carioca de projeção nacional, Felipe Neto, convocaram seus seguidores a votar contra Fernandes. A estratégia busca suprir a ineficiência da comunicação do campo progressista nas redes sociais e fazer frente ao exército de seguidores de Fernandes. Ele mesmo construiu a sua trajetória como Youtuber e possui mais de 2 milhões de inscritos no Instagram, diante de apenas 138 mil de Leitão. Já no TikTok, plataforma em que bate recordes de visualizações, são 1,2 milhão de inscritos, contra 13 mil de Leitão.

Assim, estas eleições marcarão a entrada de influenciadores digitais na disputa competitiva por cargos do executivo. Os fenômenos Pablo Marçal, em São Paulo, e André Fernandes, em Fortaleza, antes restritos às eleições proporcionais, mostram que suas habilidades de comunicação direta, sem intermediários, com milhares de seguidores, para vender produtos também conquistam votos fiéis. No entanto, a direita é mais habilidosa que a esquerda no uso dessas tecnologias. Resta ao campo progressista – com exceção de João Campos, no Recife, com quase 3 milhões de seguidores no Instagram – contar com a ajuda de aliados de fora do campo político para a tarefa. Recurso válido, mas igualmente frágil, diante da necessidade crescente dos eleitores se conectarem com seus candidatos, sem intermediários.

Monalisa Torres é professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPGPP/UECE), analista política e, pesquisadora vinculada ao LEPEM (UFC) e ao OPN (UECE).

Alexandre Landim é professor de sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e autor da tese de doutorado “O Deus das urnas” (contato: [email protected]).

Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).

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