Guru indiano, Acharya Prashant fala sobre eleições brasileiras, por Marcos Villas-Bôas

“A humanidade precisa de comida, de uma sociedade segura, de serviço de saúde, de não opressão, de não misoginia etc. Mas, isso é o bastante? (…) Como a esquerda e o centro não têm sido capaz de compreender isso, surgem os oportunistas de direita.”


Foto: Divulgação

Entrevista com Acharya Prashant: Que tipo de pessoa é seu candidato?

Por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Acharya Prashant nasceu em 7 de março de 1978 em Agra, na Índia, a cidade onde fica o Taj Mahal. Ele é hoje, no seu país, um dos pensadores, gurus, professores e palestrantes mais requisitados.

Acharya tem sido responsável por ajudar no despertar da consciência de muitas pessoas não somente na Índia, como também em outros país para os quais é convidado.

Em visita à Ásia, tive a oportunidade de conversar com ele sobre a falta de espiritualidade e de consciência nos debates políticos, o que impede a política e seus atores de entregarem à população as suas mais profundas necessidades. 

Marcos Villas-Bôas: Os brasileiros estarão decidindo quem será o seu novo presidente no domingo. O cenário político do país está repleto de ódio, raiva, agressões, acusações e mentiras. Qual a sua visão sobre essa tendência conflituosa e agressiva na política, com crescimento da extrema direita? 

Acharya Prashant: Essa é uma tendência proeminente em muitas partes do mundo, como nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia Ocidental e na Índia. Nós temos que ir buscar as razões por trás desse surto. 

Os políticos prometem muito, mas eles não estão considerando o ser humano em sua totalidade. 

A humanidade precisa de comida, de uma sociedade segura, de serviço de saúde, de não opressão, de não misoginia etc.; mas, isso é o bastante? O lado material não é suficiente e, mesmo assim, muitos não têm nem as condições materiais básicas para viver. 

Nós temos que entender como os seres humanos são preenchidos no seu âmago. Como a esquerda e o centro não têm sido capaz de compreender isso, surgem os oportunistas de direita. 

MVB: Então, o que as pessoas realmente precisam e por que eles acreditam que direitistas teriam a capacidade de lhes dar isso agora?

AP: Os políticos de esquerda e de centro falharam quando eles decidiram apenas dar o pão e algumas mínimas condições materiais às pessoas. 

Como elas não se sentem preenchidas, terminam procurando mudança. Os humanos apenas buscam mudanças radicais quando estão numa situação muito ruim. Como é o caso, os direitistas estão ascendendo em todos os cantos do mundo, mas as pessoas, ainda que não percebam, querem algo além do material e tais direitistas não são capazes de lhes dar isso. 

O povo está buscando paz interior. Eles procuram por Deus, mas a esquerda e o centro o negam. Como eles não encontram o que precisam, ficam com raiva e aí surge espaço para discursos primitivos de medo e ódio. 

MVB: Por que você acha que os políticos não procuram um modo mais consciente e espiritualizado de agir?

AP: Depois da Renascença, igrejas e governos separaram-se e nasceu uma tendência de que não falar mais de espiritualidade na política seria o correto. No entanto, se havia erros nas religiões no passado, e alguns são cometidos até hoje, não significa que isso tenha que ser sempre assim. 

Alguns avanços foram alcançados pela humanidade nos últimos séculos: o mundo está mais educado e informado do que antes, a maioria das pessoas tem mais coisas hoje, há a internet, porém elas continuam buscando algo a mais. 

Os políticos não têm uma concepção profunda de Deus e preferem, em regra, não falar no tema. Boas condições de vida e oportunidades são importantes, mas não são suficientes. Muitas pessoas estão vivendo melhor, mas elas continuam infelizes. 

Ao ser dada a oportunidade à esquerda e ao centro, e ao não ser bem aproveitada, a direita toma a situação com o objetivo de atingir seus próprios desejos de poder, mas eles não são capazes de dar às pessoas o que os demais não deram antes. O pior é que eles podem causar muitos danos com suas ideias e ações em poucos anos. Vejamos o caso de Hitler. 

Nem entremos na questão do pouco interesse de direitistas por questões ambientais e o risco de uma catástrofe. Nós podemos não ser capazes de chegar lá se eles começarem primeiro uma guerra nuclear.

MVB: Quando você menciona “Deus”, alguns brasileiros vão dizer que nós já somos repletos de igrejas interferindo na política e de políticos falando sobre Deus enquanto eles são geralmente os mais retrógrados e os primeiros a não seguirem os ensinamentos de amor e fraternidade dos mestres nos quais as suas religiões se baseiam. O que você responderia a essa provocação? 

AP: “Deus” é uma palavra convencional e conceitual. Quando a utilizo, refiro-me simplesmente a uma mente em paz. A vida está cheia de ódio, raiva, ignorância etc.; mas, você não tem Deus se nutre esses sentimentos. Então, Deus é paz. 

Deus tem estado sumido dos discursos dos intelectuais. A humanidade tem focado em racionalidade e intelectualidade nos últimos séculos, o que trouxe alguns benefícios, mas também tem causado grande vazio nas pessoas. 

Como muitos fogem de Deus, abrem espaço para que Ele caia em mãos erradas. Ao buscar preenchimento interior, paz, as pessoas vão à igreja ou templo mais próximo que encontram, mas muitos deles estão cheios de radicais e de líderes corruptos. 

Os intelectuais estão com medo dos assuntos religiosos e místicos, então a área onde está parte central da solução para a felicidade humana termina comandada por quem tem menos condições de ajudar as pessoas. 

MVB: Como podemos atingir a paz?

AP: A paz está no centro do seu coração. Não é algo que se atinja. Nós temos que olhar para dentro e encontrar o que nos tira a paz. A própria mente sabota a paz. 

Diversas pessoas têm atingido muito devido à sua intelectualidade, mas elas não estão em paz. Assim, continuam buscando mais e mais. Quanto mais você deseja, mais sente-se vazio. Isso torna-se um ciclo eterno de desejar e ter expectativas frustradas ou, quando elas são preenchidas, novas expectativas surgem. 

As pessoas estão sentindo falta de meditação e de amor. Como não conseguem obter isso, cada vez mais haverá conflitos. Elas estão sentindo falta de dissolução do ego, mas criam agressividade e outras reações para esconderem isso. 

MVB: Quais características formam um bom líder como o presidente de um país?

AP: As pessoas devem buscar que tipo de pessoa ele é. A política consiste em relações e em políticas públicas. Os políticos relacionam-se com outros políticos e com o seu povo. 

Se é ambicioso e agressivo, ele trará isso para o seu trabalho e se tornará perigoso para o seu país e para o mundo. 

O meu candidato mostra paz, amor, humildade, ou ele está apegado a suas ambições e apenas tem boas relações com aqueles com quem ele concorda? 

MVB: Deixe, por gentileza, uma mensagem aos brasileiros sobre como votar com a consciência. 

AP: Reagir não dá nada a ninguém. Criticismo não é o modo de resolver os problemas. Se você sair para votar como alguém ferido, não acertará no voto. Você não atingirá o resultado se escolher o meio errado.

Não vote por medo, raiva ou separação. Busque argumentos de paz, amor e entendimento. Esses são os argumentos que definem um bom líder e um bom presidente. 

 

Redação

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