O lulismo e a esquerda tradicional

A esquerda tradicional teve poucos intelectuais de peso, e seu programa era uma cópia dos documentos do movimento comunista internacional. Esse já estava desmoralizado na década de 80. Com a falência do socialismo real, ficaram sem nenhuma proposta. É nesse período que ascende o PT, liderado pela figura histórica do Lula (escrevo isso sem alçá-lo à posição de semi-deus). É claro, que sem a grande orientação, muitos militantes da esquerda tradicional tentaram forjar Lula, uma vez ele procedendo da classe trabalhadora e tendo liderado a greve historicamente crucial, para um novo cavalheiro da esperança, ainda por cima se livrando de se responsabilizar do fracasso do movimento comunista internacional, mas mantendo o discurso comunista tradicional da luta de classes. Lembro-me muito bem que vários candidatos no então novo PT adornaram seus santinhos de campanha com as cores e símbolos do Solidariedade!

Só que não contaram com a astúcia do metalúrgico. Esse “animal político” (ele é para a política o que Pelé foi para o futebol) foi e sempre será dirigido por sua mera e riquíssima intuição política e por sua própria história: de conhecer mais do que qualquer radical de esquerda, a situação e as aspirações do povo, de saber negociar duramente com a odiada elite, com vistas a melhorar concretamente as miseráveis condições de vida dos companheiros de luta e pobreza. Ele sempre teve um espírito altamente pragmático e construiu o PT (pelo menos seu núcleo dirigente) à luz desse pragmatismo. A esqueda tradicional que se lixe; se ela quiser ficar no PT, o reforçando, tudo bem. se não quiser, vá buscar outras bóias de salvação!

Alguns podem dizer que o Lula repete a estratégia (e possivelmente os erros) da social-democracia reformista européia. Pode até ser, mas existem alguns elementos fundamentais que estão fora dessa social-democracia que já se vendeu ao grande capital e ao imperialismo e que não tem mais vontade de inovar e reformar no velho continente europeu (nem nos Estados Unidos). Na América Latina, o reformismo vigoroso (ins vão acusá-lo de “populismo”) é uma força política real, e nova pois luta pela afirmação do continente e tenta colocar em causa as relações internacionais de força.  Além disso, não depende dos protagonistas da esquerda européia. Igualmente, o compromisso com a paz e a compreensão do papel do Estado em construir um capitalismo mais autônomo e menos brucutu são elementos que os destinguem do reformismo europeu, muito voltado para o bem-estar dos seus próprios trabalhadores, e não do mundo inteiro. Tanto é que o reformismo eurupeu nunca ousou e quis se descartar das aventuras militares e imperialistas da classe dominante.

Lula pôde ir até onde suas convicções, sua intuição e seu horizonte cultural, enriquecido com experiência pessoal e política, lhe permitiram. Hoje, ele estabelece uma proposta não escrita de paradigma realmente novo, que poucos ainda conseguiram entender em sua totalidade. O problema é que nossa intelectualidade, amante ou crítica dos Bordeaux, é incapaz de desenvolver um pensamento autônomo, uma estratégia mais articulada, reunindo as lições e as experiencias desse riquissimo período em que Lula tomou as rédeas não apenas da esquerda, mas também da nação e do continente. Ficamos ainda a dever as respostas às seguintes perguntas:

– Em que medida podemos dizer que a experiencia Lula permite a construção de um novo paradigma de progresso histórico?

– Quais elementos estratégicos e valores fundamentais podem-se ler dessa esperiência? Quais conceitos precisariam ser construídos?

– Quais prioridades de desenvolvimento teórico e de estratégias políticas emergiriam dessa reflexão sobre a era Lula?

Assumir essa tarefa seria o dever de casa dessa intelectualidade para com a riquissima obra fática do nosso metalúrgico, nosso verdadeiro professor de vida e de política!

Luis Nassif

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