O drama dos bipolares sem tratamento

Folha de S.Paulo – Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento – 23/03/2011

Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento

Transtorno já atinge 2,4% da população mundial, indica mapeamento feito em 11 países, Brasil incluído

Problema mental é mais incapacitante que doença de Alzheimer e câncer, alertam os autores do trabalho

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

A pesquisa avaliou mais de 60 mil pessoas em 11 países como Brasil, EUA e China, das quais 2,4% apresentavam o transtorno. O resultado foi publicado no “Archives of General Psychiatry”.

Os pesquisadores escolheram amostras aleatórias em suas regiões e fizeram entrevistas com base em critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico.

O transtorno bipolar é caracterizado por oscilações de humor entre euforia (ou mania) e depressão. Pode causar irritabilidade, agressividade e ideias suicidas.

BRASIL

Apesar da gravidade dos sintomas, só 42,7% das pessoas diagnosticadas no mapeamento estavam sendo tratadas por um especialista. No grupo de países que incluía o Brasil, esse índice era ainda menor: 33,9%.

“A pessoa não tem acesso ao sistema de saúde, ou acha que os sintomas são resultado do uso de drogas”, diz a psiquiatra Laura Helena de Andrade, coordenadora de epidemiologia do Instituto de Psiquiatria da USP e responsável pela coleta de dados na Grande São Paulo.

Segundo ela, é comum um bipolar receber diagnóstico de depressão, porque a manifestação de euforia pode ser mais leve. “E é muito mais comum a pessoa só ir buscar tratar a depressão, porque ela incomoda mais.

Mas, se o médico ministrar antidepressivos, pode desencadear episódios de mania, com aumento da irritabilidade”, diz.

Segundo o estudo, esse transtorno é mais incapacitante do que cada um dos tipos de câncer, e mais até que Alzheimer. Bipolares sofrem por mais anos com os prejuízos do transtorno, em comparação aos outros doentes.

O dado foi extraído de um relatório da OMS segundo o qual a bipolaridade representa 0,9% das doenças incapacitantes, logo à frente do Alzheimer, com 0,8%.

“A pessoa já começa a ter problemas na adolescência ou no começo da vida adulta e, ao longo do tempo, vai perdendo habilidades como capacidade de raciocínio, memória e concentração”, diz o psiquiatra Ricardo Moreno, que coordena o programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria.

O psiquiatra Eduardo Tischer, da Unifesp, acrescenta: “A doença é crônica, e leva meses para que o paciente consiga se restabelecer. Enquanto isso, ele sofre prejuízos no trabalho e suas relações familiares pioram”.

O não tratamento só piora os sintomas. “A pessoa tem mais chances de recorrer a drogas, álcool e de cometer suicídio”, afirma Tischer.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. TAB
    Caros amigos, o problema do TAB não se limita apenas ao portador de tal transtorno, mas a todos que convivem com o mesmo. Meu filho foi diagnosticado por uma psicóloga e mais dois psiquiatras, é um caso bastante sério, foi medicado com haloperidol e atualmente faz tratamento com Depakote , mas a agressividade é absurda, mesmo com terapia, crises violentas são constantes, estamos, todos os envolvidos tentando ajustar o tratamento. Ele tem 13 anos, mas bastante forte, chega a ser perigoso para ele e para terceiros. Confesso que minhas forças se extinguem a cada dia, até a mãe evita ficar muito com ele que mora comigo e com a miha mãe que me dá uma força, mas também se encontra esgotada física e psicologicamente. Então, digo com muita propriedade aos que acreditam que terão uma vida “normal” , isso é impossível, bipolaridade não tem cura e tem épocas drásticas , insuportáveis, que sinceramente beira a desistência. Mas temos de ter em mente que se trata de um grave transtorno mental, e sem supervisão as chaces do portador resistir na sociedade são minimas, infelizmente. O que me faz prosseguir é saber que não é o meu filho que me agride, mas sim um “curto circuito” que o faz tomar tais atitudes. Devemos protege-los pois são facilmente confundidos com indivíduos briguentes e maldosos por quem não os conhece e sequer sabe do problema. Vou tentando tratamentos para amenizar as crises e controlar o transtorno.

    1. TAB

      engano seu meu amigo, tenho o diagóstico e tenho uma vida completamente normal.

      uma coisa que reparei no seu comentário é que seu filho tem 13 anos, ou seja está no inicio da sua adolescencia e isso pode acarrentar problemas mais graves, como crises constantes.

      mas creio que tudo é passageiro com o passar do tempo ele irá amadurecer mais e terá mais controle sobre si

       

  2. Desde 1993 sofro com crises, mas era tratado como depressivo, só agora em 2007 fui diagnosticado como bipolar.Nao tenho crises de agressividade extrema, mas na fase de mania me sinto extremamente disposto, sem necessidade de dormir e gasto o que não tenho e acabo me endividando, o que precede a fase depressiva, onde nao tenho disposição pra nada, me isolo, não tenho sentimentos e fico frio com esposa, filhos, ou seja, simplesmente fico irreconhecível, o que me causa muita culpa e a sensação que nunca vou sair desse ciclo. Essa doença comprometeu meu primeiro casamento e está prejudicando de. uma forma preocupante meu segundo…. isso tudo é muito triste e olha que minha bipolaridade não é a pior, imagino as pessoas que tem a mais grave. Deus tenha misericórdia de nós.PS : o tratamento que faço e a base de. litio e pra piorar o posto de saude não tem nais fornecido, o que me causa maior ansiedade, pois estou sem trabalhar e com muitas dificuldades financeiras.

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