Classe média tradicional: reflexões a partir de um fato do cotidiano, por Alexandre Tambelli

Classe média tradicional: reflexões a partir de um fato do cotidiano

por Alexandre Tambelli

Nos anos 90 um fato cotidiano me marcou. Fui com jovens de classe média tradicional (minha classe social) jogar bola em um clube de campo.

Para chegar ao clube precisamos passar por bairro periférico, onde a característica é a ocupação de morros com moradias simplórias visíveis do plano da estrada.

De repente olhando para o lado esquerdo da estrada um desses jovens avista um galpão simplório no alto do morro com a seguinte placa escrita:

– Aluga-se para casamentos e festas.

No mesmo momento da leitura da placa deram-se duas situações com o jovem:

– começou a gargalhar com escárnio.

E de imediato saiu este comentário (+ ou – assim):

– Que escroto! Festa de casamento nesse lugar. (começou a gargalhada coletiva).

Imaginemos juntos a quantidade de preconceitos produzidos do pós-comentário.

Neste universo de classe média tradicional (claro que existem outros padrões de comportamento dentro da classe média tradicional, porém, este do fato relatado é majoritário e a base do texto e reflexões) há certa característica: olhar o mundo a partir da TV e revistas semanais, das novelas, do que diz os telejornais e da reprodução/ desejo de padrões de comportamento dos ricos na TV expostos. O mundo exterior e o comportamento não se produzem da vivência nos espaços geográficos e realidades sociais diferentes, existentes entre as classes sociais do Brasil.

Um indivíduo da classe média tradicional não tem o costume de visitar e de se misturar no cotidiano, além das relações de trabalho com os brasileiros da periferia, dos bairros proletários nem a periferia conhece; brasileiros “periféricos” que representam mais 70% da população.

Vivenciamos certa realidade que se fecha em cinco eixos: família, amigos, trabalho, lazer e viagens e não se olha coletivamente a realidade, e sim, dentro de um universo restrito a esse espaço de relações sociais, e geograficamente situados em bairros de classe média e médio-alta tradicionais e de serviços, ajuntado de um lazer que engloba barzinho, restaurante, shopping, cinema, teatro, shows, praia e viagem para hotéis-fazenda, parques aquáticos e os tradicionais pontos turísticos estrangeiros: Miami, Disney, Nova Iorque, Las Vegas, Paris, Cancun e não muitos mais.

O choque com o diverso não produziu/produz naqueles jovens uma crítica social, mas uma representação de um pensar coletivo e fechado em seu mundo particular que não vê no galpão de casamento simplório as contradições da sociedade de classes, apenas, talvez, enxergue que o mundo “outro” não lhe pertence.

Então, não podendo ser meu modo de vida, minha crença de como é ser feliz responsável por sua existência (do mundo “outro”), centrado estou e convicto de possuir uma diferenciação econômica e social meritória, fruto de uma vitória particular no esforço do trabalho e na herança familiar.

Eu me sinto superior por causa disto, eu me sinto com mais classe, glamour e direitos e sem culpas e obrigações coletivas vivo.

De tão fechado e estetizado meu mundo particular via TV e programas como o da Angélica, da Ana Maria Braga, do Dória, do Roberto Justus, do Luciano Huck e da Fátima Bernardes e revistas semanais como a Veja, Claudia, Caras, etc. e seus castelos fechados é inconcebível uma festa de casamento naquele galpão em cima do morro, porque não poderia ser um casamento, afinal ali não se pode fazer uma festa de casamento, não é feliz quem casa/comemora ali.

Um preconceito coletivizado, compartilhado.

Nenhuma reflexão da herança escravocrata que criou o quadro social brasileiro de apartheid, de profunda desigualdade entre as classes pode sair dessa realidade social irreflexiva.

Fechados em um mundo que não se mistura com o “outro”, o diferente: o indivíduo de classe média tradicional, quase sempre, não tem a curiosidade de saber nem como é o cotidiano, o bairro, a vida/ realidade social do empregado (a) de sua casa: o jardineiro, a diarista, a mensalista, a cozinheira, etc.

Vivemos e nem percebemos o mundo real e suas contradições. Estamos presos na rotina do trabalho, que para nós pode escravizar até, porque o importante é que do trabalho diferenciado, fruto de um capital científico-cultural burguês acumulado, herança familiar e nascido dela e que permite o ingresso às boas universidades, alcançamos postos de trabalho de melhor remuneração, como nos diz, sempre com proficiência, o Professor Jessé de Souza, o que nos diferencia socialmente e nos torna um personagem a parte, não se podendo ilusoriamente ser colocado como partícipes da classe trabalhadora convencional.

Nosso mundo é outro. O que nos permite movimentar nossas fantasias de diferenciação cotidianas para uma simples manifestação contrária a inauguração de uma estação de metrô na porta de nossas casas, porque a inauguração geraria uma forma mais fácil dos pobres invadirem o “nosso bairro”.

Será que nós sabemos que esses trabalhadores que nos fornecem serviços braçais acordam, na maioria das vezes, 3,4, 5 horas da manhã, deixam o café e o almoço prontos para os filhos e saem de madrugada de casa, pegam algumas conduções como um CPTM já lotado e mais ônibus/metrô para chegar nas nossas casas, levando até 3 horas de suas casas até a nossa casa?

É importante pensar.

Este mesmo mundo que considera inconcebível uma festa de casamento em um galpão simplório em cima de um morro na periferia se enxerga mais próximo das 70 mil famílias ricas deste país e sonha em viver dentro dos padrões de vida dessa Elite nacional, este o espelho da classe média tradicional, que soma por volta de 25% de nossa população, mesmo que a distância social para os pobres seja muito menor que para os ricos, talvez uma casa própria na praia e um apartamento com o dobro do M².

Classe média tradicional que não teria condições de pagar um hospital particular como o Einstein ou o Sírio Libanês para pais aposentados, se estes já não mais podem manter o padrão de vida de antes da aposentadoria.

Classe média tradicional que pode ver sem culpas e/ou percepção a relação familiar se deteriorar, ver a relação de sociabilidade com os filhos e cônjuge ser quase inexistentes pelo acumulo de trabalho, nesta incessante luta por diferenciação social e por conquistas de bens materiais, símbolos de vitória e status.

O pensamento individual e o não choque daqueles jovens com a apresentação de uma realidade adversa dos pobres numa passagem por esses lugares, nascendo, sim, uma gargalhada e um preconceito imediato mostra porque as panelas se silenciam com o Governo Temer, afinal, na lógica imaginária da classe média tradicional, derrubamos os sem classe, os desclassificados, os sem glamour, os sem luxo e colocamos de volta ao Poder aqueles que têm classe, que são gente diferenciada e Elite ou que Governam na lógica meritocrática e do individualismo.

Os “outros”, os defenestrados do Poder, são do povo e cafonas, bebem pinga num balcão de bar, fazem churrasco em cima do telhado (na laje), fazem festa de casamento em um galpão de tijolo de barro num morro de uma periferia violenta qualquer. São “Outros” que, no imaginário desta coletividade da classe média e médio-alta tradicionais, se identificam com Lula e os petistas, portanto, não me representam, não fazem parte da minha classe social, não merecem meu voto.

Terminando.

Sempre lembrando que em muito se pareceu o comportamento de boa parte dos ascendidos sociais da Era Petista. Uma reprodução do modo de vestir, dos costumes e da busca por diferenciação, mesmo que sem conseguir sair dos bairros mais periféricos, via coisas materiais (carro, roupa de marca, TV à cabo, perfume importado, I-Phone, planos de saúde, etc.) como faz a classe média tradicional. Este fato gerou uma concorrência maior de vivências sociais misturadas (profissões/ postos de trabalho e universidade) e geográficas (lugares – cinema, aeroportos, restaurantes, praias, Miami, etc.) entre a classe média tradicional e a classe C do Lula, o que nos pode dar uma pista do porque a classe média e médio-alta tradicionais se manifestaram com tanto ódio em favor do Impeachment da Presidenta Dilma.

Afinal, com a Era Petista a diferenciação social e as exclusividades de certos espaços geográficos (lugares) estavam sendo perdidas. Os pobres aproximaram-se socialmente/ economicamente até e invadiram espaços sociais e geográficos (lugares), antes, ocupados por mérito, e não por “bolsas”, “cotas” pela classe média tradicional.

Já os ascendidos sociais da classe C, ao contrário, se calaram no processo do Impeachment da Presidenta Dilma, estes, talvez, não se viam mais como pobres nem ligados ao PT e ao Lula sem, também, se verem representados nos que foram para a Avenida Paulista em protesto pró-impeachment. Sabemos bem que não foram bem-vindos aos espaços sociais e geográficos (lugares) cridos exclusivos da classe média tradicional para cima.

Redação

38 Comentários

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  1. Bem observado.
    Um típico nóia

    Bem observado.

    Um típico nóia de classe média sonha ser um estrangeiro nos EUA ou na Europa. Frustrado em virtude de não conseguir realizar seu sonho, ele vive o pesadelo de ser um estrangeiro dentro do Brasil para não se misturar com o povão.

    Certa feita ouvi de um típico representante desta classe.

    – Mas… você não tem vergonha de ser advogado de opérários?

    A resposta foi na cascuda.

    – Não. Além disso, nunca tomei calote dos meus clientes. Mas já tomei calote de nóias de classe média que não misturam com operários.

    Falando francamente, os nóias de classe média me fazem rir. Eles são completamente malucos e nem precisam se entupir de cocaína para ‘viajar na maionese’.

     

    1. Vou contar um causo no Fórum trabalhista da Barra Funda.

      Um dia estava na fila de uma das varas para devolver um Processo Trabalhista. 

      De repente começa uma conversa entre um Delegado e advogados a espera de serem atendidos.

      O Delegado tinha uma processo que era réu aberto por um Jardineiro. O Jardineiro ia 3 vezes por semana na casa do Delegado e fazia o serviço de jardinagem e regava plantas, essas coisas. 3 dias já pode dar vínculo empregatício, certo Fábio.

      O Jardineiro foi por vários anos na casa do Delegado 3 vezes por semana e recebia um dinheiro para tanto e mais nada. 

      Ai resolveu abrir um Processo contra o Delegado.

      Na fila o Delegado todo senhor de si dizia: – eu não constitui Advogado vou me defender por conta própria. Ele é só um Jardineiro. E de pronto, advogados presentes na conversa disseram: – você precisa de imediato constituir um Advogado,

      Sabe, Fábio, o sujeito é tão centrado em si e num mundo fechado que acredita que por ser um homem simples e ser um Jardineiro não correria problema com ele, não poderia perder a ação, não estava fazendo nada de errado porque ajudava o Jardineiro, pensava que o Jardineiro seria incompetente de escolher um bom Advogado e que não tinha problema algum a mão-de-obra que contratava sem seguir nenhuma Legislação. 

      Pode explicar um pouco mais essa realidade de ódio ao PT, que é o ódio ao diverso, ao pobre e a ideia de que sabe tudo das coisas e que não precisa de ajuda nem precisa de ninguém (nem do Estado) para viver. Tudo cai do Céu. 

      Abraço,

      Alexandre!

  2. Sem menosprezar os

    Sem menosprezar os comentários estapafúrdios dos meninos da classe média tradicional acredito que pouco tem a ver com a depreciação do espaço em si.

    Hoje,esta classe média,com toda certeza,vive em locais muito piores em termos de espaço do que o “povo da periferia”.

    Essa gente foi adestrada para sentir-se  diferente,sentir-se acima dos demais mas,não foi “adestrada” para fazer nenhuma avalação diferente daquela que lhe é imposta.

    Sentem-se ótimos vivendo em apartamentos de luxuosos 50m2 sem sequer tecerem qualquer crítica a este espaço.

    A felicidade dessa gente depende,necessariamente,da infelicidade e do menosprezo dos outros.

    Ridículos.

    Se tivessem a menor percepção do espaço,sequer iriam jogar bola passando pela “periferia”,teriam um campo para jogar perto de suas casas,assim como todos os serviços básicos  de comércio que fazem um cidade asssim ser chamada.

    Sorte dos “periféricos” que não precisam carimbar o braço para entrar em uma balada,que podem fazer sua festa de casamento em lugares simples onde o essencial não é o local ,mas sim as pessoas,que fazem o seu delicioso churrasco na laje,longe do confinamento dos condomínios e com a vizinhança sempre bem-vinda.

    Seja como for,não podemos negar,nossa classe dominante (diferente de elite) conseguiu,através dos tempos,manter sua hegemonia na formação da cultura deste país,mantendo cada item que lhe cabia na Casa Grande,deixando a vassalagem a sempre esperança de alcançar um degraú que,como mmostra a história,desta forma,nunca chegou e nunca chegará.

    Faz bem a classe “periférica” em não se misturar com essa gente.

    Hoje,se existe alguma ação cultural no país,esta ação provém deles. Se existe alguma resistência contra sermos vassalos do capital internacional e do país golpista do norte,essa resistência vem deles.

    Enfim,que sorte que essa gente  não gostou do que viu.

    1. Excelente Vladimir.

      O olhar da classe média tradicional, penso eu, é o olhar de um mundo de preconceitos diários contra certas coisas que não se pode considerar idênticas ou mais “evoluídas”. 

      Um caso real do mundo em que vivo. 

      Uma pessoa de classe média alta casou numa praia chique e nem todos os familiares e amigos puderam ir porque os vestidos de casamento para a festa giravam em torno de 20 mil reais/ 30 mil reais e ficariam deslocados na festa O casamento não era um casamento era um contrato. Era uma reunião de negócios. Era a apresentação entre homens de negócios para futuros negócios. 

      Quantos casamentos negócios em que o sujeito contrai uma dívida monstro só para fazer seu casamento melhor que o do amigo não vemos.

      Outro caso real.

      Hoje se casa na Igreja X e não Y porque é necessário mostrar que se está casando numa Igreja que os ricos casam. Este é outro fato real de pouco tempo atrás, que aconteceu no mundo em que vivo. 

      Abraço,

      Alexandre!

  3. A tendencial proletarização da classe média

    A classe média está se proletarizando rapidamente. Isso é uma lei inexorável da sociedade burguesa.

    Isso é bom ou ruim?

    A classe média serve para amortecer os choques entre a classe baixa e a classe alta. Desse ponto de vista, a sua proletarização é bem-vinda, além do que, ao se proletarizar, os elementos da classe que se proletarizaram devem ficar e lutar ao lado dos trabalhadores ou definharem.

     

    Tambelli, seu texto me fez lembrar de Chico Buarque:

    “Gente Humilde

    Tem certos dias em que eu penso em minha gente
    E sinto assim todo o meu peito se apertar
    Porque parece que acontece de repente
    Como um desejo de eu viver sem me notar

    Igual a como quando eu passo no subúrbio
    Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
    E aí me dá uma inveja dessa gente
    Que vai em frente sem nem ter com quem contar

    São casas simples com cadeiras na calçada
    E na fachada escrito em cima que é um lar
    Pela varanda, flores tristes e baldias
    Como a alegria que não tem onde encostar

    E aí me dá uma tristeza no meu peito
    Feito um despeito de eu não ter como lutar
    E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
    É gente humilde, que vontade de chorar”

    1. Vou colocar o comentário de uma amigo meu no Facebook.

      Esse meu amigo mora na periferia.Veja que sabedoria. 

      Sabe meu caro amigo, na época em que nos conhecemos tive o prazer de pela primeira vez ter um celular, algo irrisório para muitos mas que pra mim era algo valioso afinal o comprei a vista!
      Eu morava em um lugar relativamente lindo perto de onde resido hoje.
      Mas…
      Mesmo morando em um lugar julgado por muitos como feio e outros adjetivos mais felizmente ou infelizmente aqui me sinto mais seguro do que andando pelos bairros mais nobres.
      Acredite: posso deixar meu carro aberto a noite toda na minha garagem que pela manhã ele estará intacto.
      Minha esposa pode andar tranquilamente por aqui que ela não escutará qualquer gracejo direcionado a ela seja ele o mais simples que for (que linda! Por exemplo).
      Repito: felizmente ou infelizmente são mundos opostos, a classe mais baixa querendo subir, ou ao menos querendo mostrar que está subindo e a classe ditaaos alta com um baita medo dessa ascenção!
      E se estou errado em meus pensamentos me perdoe caro amigo mas assim como aqueles jovens riram sarcasticamente do “salão de festas” eu gargalho da vida de completo ilusão que grande parte deles vivem.
      Ja visitei barracos erguidos em cima de um córrego que fedia 24 horas por dia, como também já visitei um apartamento num dos prédios mais caros da região da Paulista.
      E se me permite gostaria de relatar as duas experiências.
      No barraco eu vi uma família que apesar de toda sorte de desgraças (filho com problema de paralisia gravíssimo, pai e mãe desempregados, esgoto que parecia correr dentro do próprio barraco) eles eram felizes e unidos.
      Já no tal apartamento, que por sinal seu dono é um grande empresário vi um senhor com olhos marejados de lágrimas me dizer que daria toda a sua fortuna por um sorriso verdadeiro, por uma família que o amasse não pelo que ele poderia lhe dar mas sim pelo que ele era.
      Seu filho mais novo havia em certa feita colocado uma faca no pescoço dele dizendo que caso ele não desse um cheque em branco pra ele comprar uma Ferrari ele mataria o próprio pai… :/
      Não digo que é, mas ironizo dizendo que talvez um desses jovens seja o tal “menino” da Ferrari, que pra terminar essa situação ao ver a negativa de seu pai em não dar a tal Ferrari quebrou uma Cherokee blindada do pai com um taco de beisebol.
      Hoje mais do que nunca entendo que existem mundos dentro de mundos.
      São mundos opostos que se chocam em determinadas situações.
      O sol que brilha nos jardins é o mesmo que brilha no extremo norte, sul, leste ou oeste das periferias.
      Já as oportunidades, essas infelizmente não são e jamais serão as mesmas.
      Grande abraço guerreiro.

  4. É uma questão complexa. Não

    É uma questão complexa. Não podemos vitimizar o cidadão que ascendeu à classe C graças ao ex-presidente Lula e lhe virou a cara. Há um componente atávico de ingratidão que não pode ser deixado de lado sem deixarmos de considerar a ausência de traços culturais enraizados que valorizem a cultura da periferia. Infelizmente, muitos querem imitar os ricos e com isso acabam acentuando os preconceitos que já existem na elite. Em São Paulo, foi o caso de bairros boêmios, como a Vila Madalena, que se viram invadidos repentinamente por hordas de adolescentes da perfieria, que posuiam dinheiro, mas não sabiam se comportar conforme os hábitos da região. Isso, a meu ver, reflete um traço de baixa auto-estima, que é o de valorizar o outro e desprezar a si e seu entorno. Ao tentarem imitar os poderosos, viram-se enfraquecidos em seus bases e humilhados nos redutos burgueses. Como disse, é uma questão complexa.

    1. A classe média não quer descer nem quer que os de baixo subam

      Roberto Romaro disse:
      2012-09-27 16:51:57

      Para entender São Paulo é necessário entender a classe média paulistana, formadora de opinião. A classe média é um malabarista andando em uma corda bamba a 30 metros de altura, não tem como subir e se cair o tombo será grande. O que malabarista espera é que as coisas permaneçam exatamente como estão, pois qualquer pequena mudança, pode balançar a corda. Nessas condições, não há porque estranhar que o paulistano seja conservador, São Paulo tem a classe média mais numerosa do país. Enquanto houver esse abismo entre a classe média e os pobres, o simples fato de olhar para baixo continuará a provocar vertigem.

      Danuza Leão

  5. É uma questão complexa. Não

    É uma questão complexa. Não podemos vitimizar o cidadão que ascendeu à classe C graças ao ex-presidente Lula e lhe virou a cara. Há um componente atávico de ingratidão que não pode ser deixado de lado sem deixarmos de considerar a ausência de traços culturais enraizados que valorizem a cultura da periferia. Infelizmente, muitos querem imitar os ricos e com isso acabam acentuando os preconceitos que já existem na elite. Em São Paulo, foi o caso de bairros boêmios, como a Vila Madalena, que se viram invadidos repentinamente por hordas de adolescentes da perfieria, que posuiam dinheiro, mas não sabiam se comportar conforme os hábitos da região. Isso, a meu ver, reflete um traço de baixa auto-estima, que é o de valorizar o outro e desprezar a si e seu entorno. Ao tentarem imitar os poderosos, viram-se enfraquecidos em seus bases e humilhados nos redutos burgueses. Como disse, é uma questão complexa.

    1. Com certeza que não, Paulo.

      A classe C e mesmo brasileiros das classes D e E têm padrões de comportamento normais a todos os que vivem dentro de um Sistema Capitalista, com sua mídia oligopólica produzindo em série padrões de comportamento. 

      Quando a classe C foi sendo gestada ela foi apenas reproduzindo o modelo de vida que somos educados a ter. Não tem nada de errado em consumir, em melhorar de vida. A questão é como fazer as pessoas terem consciência dos mecanismos que permitiram a ascensão social via consumo, penso eu.

      De imediato querer isto foi impossível. A contra propaganda é imensa. O sonho de se comportar como a atriz da novela é real. 

      O cidadão da classe C respondeu ao que estava posto, e sejamos justos, quem somos nós para criticar a pessoa que pela primeira vez compra seu carro, que faz uma viagem de avião para o exterior e que compra um celular bacana. 

      Certamente, em um tempo civilizacional melhor poderemos ter uma capacidade de conscientizar a população de que um determinado padrão de consumo pode nos destruir enquanto civilização, certo?

      A questão do meio ambiente, dos recursos naturais findáveis não podem ser esquecidas. Porém, no Brasil ainda estávamos com o PT em um primeiro estágio de inserção social, a compra de bens materais para parcelas inteiras de brasileiros e um pequeno desgarramento dos pobres da classe C. 

      Uma coisa. Quando se crê que padrões de comportamento não batem uns com os outros precisamos lembrar que tudo é ponto de vista. E saber que muito do povão estava em um processo de aprendizado e de vivências novas.

      Eu lembro de uma viagem em 2013 para Foz do Iguaçu. Fiquei em um hotel de 3 para 4 estrelas e o povão via CVC ia no mesmo hotel que este turista aqui e homens de negócios. No café da manhã o povão pegava um monte de coisas de uma vez e levava para a mesa, talvez, crente que iam tirar as coisas da mesa. Claro que foi um aprendizado. Você não precisa pegar tudo de uma vez e nem deixar sobrar coisas na mesa, certo?

      O que o Golpe interrompe é a chance de outras pessoas passarem pela experiência de viagens legais, de ir de avião visitar os parentes, de ir a um bom restaurante, essas coisas que nós, enquanto classe média tradicional, temos a chance, mesmo que só nas férias façamos uma viagem legal.

      Abraço,

      Alexandre!

      1. Bravo

        Estávamos no meio do caminho, no bom caminho.

        A mesquinharia aliada à bandidagem fez abortar o sonho de um Brasil fraterno.

        Vejo uma possibilidade, na minha opinião a única realmente possível e viável:

        Quando milhões estiverem juntos e filiados ao Partido dos Trabalhadores essa história muda e retomamos com mais vontade e certeza o bom caminho.

    2. Complexa ou difícil?

      Creio que essa questão, levantada com precisão pelo caro Alexandre, é mais difícil do que complexa. Complexa é a questão cujo número de variáveis é muito grande. Complexo se opõe a simples. Difícil é o que exige muito esforço e se opõe a fácil.

      Essa questão me parece é difícil porque para elaborá-la temos que abrir mão de modo de pensar que é base, é constitucional de nossas personalidades. Não há perda sem dor, não há dor fácil.

      Não quero com isso apontar o dedo para ninguém. Creio ser importante a gente conhecer os nossos limites. Saber fazer auto-crítica com seriedade, serenidade e bondade para consigo mesmo, sem auto-flagelo mas sem auto-piedade. Fazê-la simplesmente. Se não for assim a gente acaba desperdiçando a oportunidade de aprender, a lição se perde.

  6. A análise de experiências do

    A análise de experiências do cotidiano, tal como a do texto, são importantes para entender a origem dos preconceitos de classe. A origem na classe média, de boa parte da esquerda também explica a NÃO IDENTIFICAÇÃO da ala progressista com os excluídos. Francamente, não somos uma nação, nem mesmo um povo. Qualquer tribo africana exibe mais identificação cultural e ação coletiva. A herança escravocrata e a crueldade dos métodos de controle social oligárquicos explicam quase tudo. 

    1. Agora eu lembrei do Carnavalesco Joãozinho Trinta

      Essa discussão me lembrou do Joãosinho Trinta, o qual, certa vez, afirmou:

      “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”.

  7. E a escolha da ilustração não

    E a escolha da ilustração não poderia ter sido mais adequada. Será que a gente se vê nessa propaganda comercial-ideológica produzida em laboratórios de marquetim de país estrangeiro ao nosso?

  8. Alexandre

    Sempre estou a pensar em exatamente tudo o que vc colocou em seu artigo. E de acordo com 99% dos comentaristas brilhantes, que fazem com que o Blog seja o meu preferido. E este meu modo de pensar , faz com que seja taxada de Comunista, por amigos e familiares . São pessoas que nem sabem o significado de comunismo, mas consideram os comunistas seres inferiores , pq é isto que sempre nos foi mostrado, assim como todos os Sul e Centro americanos. Até muitos brasileiros tb se acham superiores a eles e ficam “putos” em saber que no governo do Presidente Lula, empréstimos e ajuda lhes foram destinados .

    Jamais passa em suas cabeças o significado do MERCOSUL e de outros compromissos com países da África, mas aceitam, sem discutir, tudo o que vêm dos “Irmãos do Norte”. São eles portadores da única Bíblia aceita entre nossa infeliz elite (incluindo 90% dos políticos atuais, comprados e mantidos pelo Eduardo Cunha e Cia, sendo em sua grande maioria seguidores e colegas do Sr. Caiado.

    Acho que até me afastei do enfoque principal do seu artigo. Desculpe-me. Um abraço e parabéns.

     

    1. Lenita!

      Tudo está interligado.

      O cotidiano fechado nos produz. Vivemos repetindo o que nos é ensinado e não há chance de outra opinião, certo?

      A classe média tradicional é um pedaço de mundo que sempre se desgarrou dos pobres e foi necessária ao domínio dos ricos.

      Como diz o Professor Jessé de Souza ela vive nessa simbiose com a Elite econômica, sendo a classe média tradicional a detentora do capital cultural e científico e tem, ainda, a função, parte dela, de capatazes. 

      Quando o PT produz um processo de ascensão social e criou mecanismos dos pobres chegarem ao nível universitário, certamente, houve um desespero, o medo da perda de espaço e de identidade social. 

      Se o classe C chega ao mercado de trabalho qualificado é um a mais a concorrer com por uma vaga e se aumenta a concorrência, se diminui a chance do já clássico boca a boca, o QI – que era a maneira mais eficaz de se conseguir adentrar ao mercado de trabalho melhor remunerado e especializado. 

      Se afincar nesses personagens da política é se ver no espelho. É se identificar no comportamento, na vestimenta, na fala, na perspectiva do espelho: de a quem me espelhar para me sentir no caminho certo. 

      E quando o PT faz um embaralhamento social a classe média tradicional pirou, eu não mais fico no meio da pirâmide: posso cair, posso não mais ser o mediano, aquele que não é pobre, mas pode ser o possível rico, porque, quase exclusivamente, ele tem a força do conhecimento e um pedaço de Capital para investir na possibilidade de subida ao topo da pirâmide.

      Quando se vem com projetos de universidades públicas novas, novos campus, cotas, programas educacionais o mundo sai do lugar, a linha média vira um gráfico instável. 

      São tantas coisas mudando que as pessoas piraram. Passaram de um voto contrário ao voto por ódio, por medo, por desespero. 

      Cria-se então a loucura de viverem mais seguros tendo poucos direitos exclusivos do que compartilhar muitos direitos. É o que vivenciamos no agora. 

      Eu não vou para Miami mas sou eu quem pode garantir o emprego que aparecer e sou eu que vou ao Guarujá. 

      É uma troca, meio sem lógica, mas aceita.

      Quando não se deixa enxergar/ não se quer estudar/aceitar quem nos dá oportunidades, quando se aceita apenas pequenas exclusividades vivenciamos um pensar pequeno (crido grande) e foi assim que o caos nasceu, infelizmente. 

      Abraço, 

      Alexandre!

  9. contenda de classes

    Enquanto não existir povo o Brasil continua na periferia das economias no mundo.

    Parece destino. O povo brasileiro não sai da encruzilhada ancestral, desde sua formação como Pais. Tudo foi tentado desde a proclamação da republica politicamente falando. De um lado ao outro do espectro politico todos tiveram sua chance de mostrar a que veio e nada foi mudado para o povo. A região continua campeã na exclusão social e na desiquilibrada distribuição de renda. O equivoco principal de todos que tentaram foi o desprezo pelo individuo como cidadão, prevalecendo as vaidades os interesses mesquinhos a ganancia diante da cornucópia que se mostrava o potencial do Brasil diante da gana insaciável de quem estava no poder.

    Sempre ouvi dizer que Deus é brasileiro e parece que alguns acreditaram que o mana cai do céu e seria abundante e interminável. Por isto que até hoje o brasil é principalmente forte na exportação de commodities.

    Jamais houve uma politica factível que priorizasse a produção de bens de valor agregado. A indústria somente conseguiu até hoje voos curtos de galinha o brasil ainda depende das commodities agrícolas e só isto. É triste e desanimador.

    A construção de Brasilia foi um dos equívocos mais explícitos desta realidade triste de como o povo foi tratado, em vez de se construir um bunker para políticos se reunirem tratando do próprio interesse, seria mais racional investir na infraestrutura que até hoje fica a dever.

    Sempre planejou-se construir a casa começando pelo telhado, e infelizmente acabaram matando a galinha dos ovos de ouro.

    Em qualquer Nação prospera o mercado interno é o motor da economia estável, como esperar uma economia estável no Brasil se não existe povo?

    O que vigora no mundo em economia é o capitalismo. O capitalismo selvagem característica do brasileiro chegou ao fim. O que importa são os resultados que permitam ao povo inserir-se no mercado de consumo, aquela estória de prometer as benesses para o futuro não tem mais qualquer repercussão na alma dos povos. O que importa é o aqui e agora. O governo que permita o mínimo de estabilidade econômica que favoreça o consumo garante seu lugar no Poder.

    A principal dificuldade do Brasil é a necessidade de desmontar todo arcabouço populista e implantar novas condições estruturais que permitam segurança jurídica para as empresas que traga estabilidade econômica que favoreça as pequenas empresas crescerem de forma sustentável. Um novo ciclo virtuoso de crescimento. Um novo mundo.

    O tamanho do estado brasileiro, com números excessivos de ministérios e autarquias, segundo especialistas, resulta na necessidade de manter uma alta carga tributária, sem retorno efetivo para a população, e na crescente burocracia, que limita o desenvolvimento.

    Por conta do tamanho do estado brasileiro e sem preocupação em reduzir isso, o custo está sendo pago pela população.

    A administração pública é a fonte da burocracia, palavra cuja origem é o modelo de organização administrativa fundada na hierarquia e que funciona segundo regras, mas que no Brasil virou um adjetivo de algo errado, gerador de entraves para o desenvolvimento. “A grande crítica ao modelo da burocracia é a de que ele não se coaduna com a rapidez e a flexibilidade necessárias, nos dias atuais, para a tomada das decisões e respectiva execução.

    E como uma administração “gigantesca” – comparado aos Estados Unidos que conta por volta de 17 o que seriam ministérios – é a melhor “vitamina” para a burocracia, “porque cria etapas intransponíveis para todas as ações, estende a tramitação de projetos e processos, exige licenças e autorizações, inventa taxas e indenizações, estimula atritos e controvérsias, explora vaidades e mesquinharias”, impede a conclusão de qualquer ação administrativa, mesmo determinada pela presidência da República.

    Com menos alimento para a ganancia, o fisiologismo e a corrupção não existe motivo para um congresso tão grande e dispendicioso como o que temos.

    1. Os EUA são prósperos não é porque o estado é pequeno

      Os Estados Unidos são prósperos não porque lá os Ministérios existam apenas 17 ministérios, mas porque pilham as riquezas de muitos países militarmente débeis.

      1. Como assim “o estado é

        Como assim “o estado é pequeno”? Os serviços estatais de atenção à sua população são parcos, precários, isso é verdade, principalmente se levarmos em consideração ser sua economia das maiores do mundo.

        Mas já viu o custo de sua estrutura terrorista, que promove o terror no mundo inteiro, diz que faz guerra mas faz mesmo é ataques unilaterais? E não basta se ater à despesas oficiais, registradas. Há que se incluir, para saber o volume do estado dos EUA, o suborno a governantes e empresários dos países alvo, o fornecimento de armas e munição a outros grupos terroristas sem o status de “país” e o custo de agentes seus mesmo residentes e infiltrados em outros países. Isso sem falar em despesas com financiamento de filmes como “Independence Day”, “O dia depois de depois de amanhã” etc.

        A máquina estatal estadunidense é inchadíssima, extremamente onerosa a seus contribuintes. Estes é que só recebem migalha…

  10. Silêncio da classe C

    Alexandre, a classe C não tinha a menor ideia do que estava em jogo e o que iria perder em caso da deposição de Dilma. Não podemos esquecer que muitos creditam a ascenção social à providência divina. Há que se pesar, também, o forte bombardeio dos meios de comunicação, FB, grupos de whatsapp, etc. Se a classe média, que se julga “informada”, caiu no canto da sereia, imagina a classe C?

    1. J.M.

      Concordo com tudo o que você falou.

      Imaginemos que a classe C assiste a mesma programação da classe média tradicional excetuando, talvez, a Globonews que trocam por Datena & Cia. 

      Abraço,

      Alexandre!

  11. – Mas o que é “classe média tradicional” ?

    Há diversidade de classes médias,extratos,com seus gostos,opções,sugestões politicas.So se considerarmos de modo bruto e grosseiro um bloco monolítico de classe média da média da média.Talvez a q estupidamente a dita filósofa discursou q odeia a classe média (adorando aplausos q logo percebeu q aquela platéia-rebanho iria dar,e,afinal,ela tem o carimbo de simpatizante de esquerda,assim fica isenta de qualquer crítica,e objeto de eternos aplausos cegos,por um fã-clube,isso é comum,muuuito comum).Não houve maiores manifestações pq não há aquela polarização mais significativa,tipo o que foi realimentado,o “Mal” versus “o Bem”,o “Puro, incoorruptível” vs. “Os Outros, Os Corruptos desde sempre”.

    1. Talvez se vc ler um pouquinho

      Talvez se vc ler um pouquinho mais vai acabar sabendo o que é ”classe média”. Procure , para começar , pesquisas e pesquisas, elas existem e  dão um bom panorama do que o autor do texto fala. Porém não esqueça de que é necessário aliar a leitura das pesquisas com análises delas, senão se fica no vazio de números que não dizem nada.

    2. Nickname!

      Eu disse majoritariamente, claro que existem diferentes classes médias. A majoritária descrevi no texto. Lembrando das pesquisas do Professor Jessé de Souza ele elenca 4, se a memória está boa se classifica + ou – assim:

      1) A com tendências fascista. Extrema-Direita e que enveredará para Bolsonaro. 

      2) A conservadora mas não fascista.

      3) A classe média Oslo, que acha lindo tudo como é na Europa e tem preocupações ambientais e de uma cidade mais amigável e melhor de se viver, porém, não ligada nas questões meramente sociais e não entendedora plena do que podemos chamar de Sistema Capitalista. Ela não é conservadora e nem podemos chamá-la de esquerda.

      4) A classe média de esquerda, intelectualidade progressista. 

      Vou colocar um dado estatístico. 

      Na minha seção eleitoral votaram cerca de 300 pessoas em 2014. 

      Dilma teve 24 votos.

      No segundo turno no Brasil tivémos 51% de votos para Dilma e 49% para o Aécio. 

      Na minha seção eleitoral deu o seguinte resultado 83,7% de votos para o Aécio e 13,3% de votos para a Dilma.

      Onde eu vivo o anti-petismo é arraigado na população. 

      Eu falo desse universo de pessoas. Da parcela da classe média tradicional que representa mais de 70% do brasileiros desse estrato social. 

      Existe uma parcela progressista que deve ser menor que 10%. 

      E só. 

      Abraço,

      Alexandre!

      1. Alexandre, gostei!O GGN vale a pena por participantes como você

        não sei se com teus botões tu não levantaste uma hipótese de minha motivação na minha postagem: a de cutucar o senso comum do que seja e do que não seja classe média (o próprio Governo Dilma propagandeava que não sei quantas pessoas, milhões, ascendaram à classe média (ou a uma das classes médias) numa simplificação em que incorre gente como a filósofa (a do plágio no doutorado na França, não sei se você se lembra: foi Guilherme Merquior que percebeu e a Folha reproduziu, claro que o orientador dela defendeu, não faria diferente, foram muito próximos . Merquior, intelectual de livre trânsito na ditadura civil-militar e com ensaio na New Left Review – coisa incompreensível pros maniqueismos). Mas tem uma questão que é complicada, a de consciência de classe (até hoje, e começou com o húngaro de classe e consciência de classe, isso é pensado e repensado – e não são pesquisas que andam por aí afora que nos responderiam, o buraco é mais embaixo). Em suma, quis levantar uma bola, e só pude a partir do teu texto. – Sabe de uma coisa ? (jure que não diz pra ninguém): eu preferi tua resposta a mim do que o próprio post. Sabe por quê? Porque, sem quereres, pode levar a ligeiras apreciações ligeiras e a arrogantes orientações típicas de… classe  média, essa que afugenta quem não é de centro-esquerda, ou de esquerda (eu me considero de esquerda, mas isso é super secundário eu me achar ou não: um dos fatores da antiesquerda e do antipovo está inconsciente, como todo preconceito o é, e temos uma amostra de arrogância das piores, travestida de uma quase sutileza ou chega-pra-lá, aqui embaixo, uma moça me auxiliando  😉    )

  12. O artigo nao é ruim, mas pode
    O artigo nao é ruim, mas pode melhorar. Definir com mais precisao a classe media tradicional. Dar exemplos concretos. E principalmente, abordar a questao desde um ponto de vista menos moral e mais estrutural. O comportamemto da classe media tradicional nao é exclusivo da classe media tradicional. É preciso articula-lo com tracos do comportamento humano, e mais especificamemte das sociedades modernas e coloniais perifericas. Explicar atraves de conceitos que definem tendencias de comportamento e de estruturacao social.

    Em todo caso, parabens pela reflexao.

    Saudacoes

  13. Mais um dos colóquios sem

    Mais um dos colóquios sem sustentação de Tambelli tão comuns por aqui.

    A partir de um exemplo anedótico – o escárnio do garoto de classe média ”tradicional” (!)- o autor flutua entre o nada esclarecedor e o limiar das contradições da moral médio classista. 

    O médio classista se pressupõe moralmente superior ao lumpenproletariado. O depoimento de Tambelli demonstra isso ao julgar o ato de deboche do colega, tendo como foco as classes subalternas, algo que não deveria ser censurado sob perspectivas sociológicas.

    Afinal, certamente a classe média possui sua escala de valoração subjetiva burguesa, guiada por paradigmas sociais que não são notados por sua classe social.

    O que mais poderia explicar um médio-classista com pedigree vislumbrar sob o prisma da ética o julgamento da prática discursiva – recurso tão caro às democracias consolidadas – sobre um fato objetivo (a pobreza do lugar que desencadeia os problemas visíveis) repercutida por um bando de guris em fase de iconoclastia juvenil, onde se sabe que o protocolo de percepção de alteridade sofre um déficit a níveis alarmantes?

    Não há o que explicar, pois Tambelli é fruto do tempo, o zeitgeist da esquerda anti-esquerdista ”tradiconal”, o substrato de sofríveis agremiações polítcas como PSOL, desconectadas da realpolitik esquerdista única a render frutos políticos e sociais no Brasil.

    Para Tambelli, é inconcebível o PT emitir nota desculpando-se por um eventual episódio onde uma jornalista (pessoa física) teria sido ”agredida” por militantes do partido. Neste universo anti-esquerda ”tradicional”, Mírian Leitão não merece, a despeito de que pensa ou para quem trabalha, um gesto formal de civilidade de uma instituição política.

    Daí não ser difícil entender porque a superioridade médio-classista ”tradicional” aflora no último parágrafo do texto. Ali temos o ethos  na sua mais pura essência – a classe média ”não tradicional” é inferior éticamente, moralmente por não aderir ao ideal de personificação de políticas de estado, na pessoa do presidente Lula. Ou em miúdos:  a ralé ”classe C” não é digna de confiança, pois não reconhece o que o estadista Lula fez por elas, algo que nós, despretensiosamente sabemos.

    O que é contraditório, pois se está julgando pelo lado negativo da ”moral burguesa”, algo de pouco interesse na moral da classe média, muito mais dada a julgamentos positivos –  o própiro exemplo dos garotos alientados é um caso. O não fazer, a ”omissão” atribuída pela classe média para aqueles que deveriam ser seus ”pares” ou ”aliados” é muito mais destacada ética e moralmente do que aqueles julgamentos sobre a elite que saíram pelas ruas centrais de cidades pedindo impeachment de Dilma há não muito tempo atrás.

     

     

     

     

    1. Claudionor!

      Valeu por comentar e expor suas opiniões.

      4 coisas para dizer.

      1 – Este fato ocorreu quando eu tinha + ou – 25 anos, Coloquemos que a pessoa que falei estava no último ano da faculdade, é jovem ou já é adulto para você?

      2- De onde vem a ideia de que eu possa ser ligado a uma esquerda Psolista, talvez, algo parecido, como você colocou. 

      3 – Eu não disse que a Gleisi e o PT não poderiam se desculpar com a Miriam Leitão, apenas que poderiam averiguar melhor os fatos antes da nota, e assim, se evitaria o uso “político” da história do avião pela mídia e pela própria Jornalista. Uma simples averiguação, no episódio possível, e se daria uma nota precisa de primeira.

      Fiz um texto à época baseado na minha visão de como a mídia utiliza o fato relatado inverídico pela Jornalista e quais as finalidades.

      4 – Eu não fiz nenhuma crítica a calsse C, pensei apenas que possa ser uma justificativa do silêncio diante do impeachment o estar situado em um espaço entre a classe média tradicional e as classes D. E. E ficar a classe C meio deslocada no processo de formulação do Golpe.

      A busca por ascensão social e por consumo bem sabemos não é exclusividade de classe social nenhuma e nem da direita ou da esquerda e todos buscamos. Podem ser diferenciadas as buscas, mas todos buscamos, eu busco, você busca, todos buscam. 

      Abraço,

      Alexandre!

       

       

    2. Comentei abaixo e vou repostar aqui.

      A classe C e mesmo brasileiros das classes D e E têm padrões de comportamento normais a todos os que vivem dentro de um Sistema Capitalista, com sua mídia oligopólica produzindo em série padrões de comportamento. 

      Quando a classe C foi sendo gestada ela foi apenas reproduzindo o modelo de vida que somos educados a ter. Não tem nada de errado em consumir, em melhorar de vida. A questão é como fazer as pessoas terem consciência dos mecanismos que permitiram a ascensão social via consumo, penso eu.

      De imediato querer isto foi impossível. A contra propaganda é imensa. O sonho de se comportar como a atriz da novela é real. 

      O cidadão da classe C respondeu ao que estava posto, e sejamos justos, quem somos nós para criticar a pessoa que pela primeira vez compra seu carro, que faz uma viagem de avião para o exterior e que compra um celular bacana. 

      Certamente, em um tempo civilizacional melhor poderemos ter uma capacidade de conscientizar a população de que um determinado padrão de consumo pode nos destruir enquanto civilização, certo?

      A questão do meio ambiente, dos recursos naturais findáveis não podem ser esquecidas. Porém, no Brasil ainda estávamos com o PT em um primeiro estágio de inserção social, a compra de bens materais para parcelas inteiras de brasileiros e um pequeno desgarramento dos pobres da classe C. 

      Uma coisa. Quando se crê que padrões de comportamento não batem uns com os outros precisamos lembrar que tudo é ponto de vista. E saber que muito do povão estava em um processo de aprendizado e de vivências novas.

      Eu lembro de uma viagem em 2013 para Foz do Iguaçu. Fiquei em um hotel de 3 para 4 estrelas e o povão via CVC ia no mesmo hotel que este turista aqui e homens de negócios. No café da manhã o povão pegava um monte de coisas de uma vez e levava para a mesa, talvez, crente que iam tirar as coisas da mesa maior. Claro que foi um aprendizado. Você não precisa pegar tudo de uma vez e nem deixar sobrar coisas na mesa, certo?

      O que o Golpe interrompe é a chance de outras pessoas passarem pela experiência de viagens legais, de ir de avião visitar os parentes, de ir a um bom restaurante, essas coisas que nós, enquanto classe média tradicional, temos a chance, mesmo que só nas férias façamos uma viagem legal.

    3. Mais um que caiu no conto do vigário da Miriam Leitão

      Então a Miriam Leitão foi agredida?

      Zentem, isso num póde acuntecer. O PT tem que pedir desculpas à Miriam Leitão.

      Meu zovo

  14. cada um, cada qual

    se algum comentarista de post-título (isto é, que fica em destaque) ou algum colunista postar um artigo (também tem a seção de vídeo, música e outros assuntos fora de pauta), eu acho que o autor ou a autora não precisava ficar retrucando ou esclarecendo ou agradecendo quase a cada postagem-comentário de visitantes ou cadastrados participantes. E há, suponho, aqueles que só lêem (digo “só” não como diminuindo, já é muita coisa ler). Quem entendeu, entendeu;  quem discordou, discordou;  quem con-cordou ou discordou em parte, assim seja! O autor ou a autora poderia, no final das contas, à noite, postar mais uma vez uma nota curta ou longa de esclarecimentos de seu ponto-de-vista. Fica sacal o ping-pong, parece disputa pra ver quem acertou mais ou errou menos. Aqui, cometo um abuso contraditório: relendo Alexandre, vejo contradições e nebulosidades, insisto que “trabalhador convencional” e “classe-média tradicional” carrega uma idéia ora estanque, ora difusa (aí, permite agradar leitores gregos e troianos, distinto público) como se o atual sistema sócio-econômico-político delimitasse classes, não se imbricassem, e, sim, cada vez mais a chamada classe-média se aproximando do chamado proletariado (ou “proletariado em conjunto”, Boris Koval, citando Marx) ou “classe trabalhadora” (curiosidade: termo abrangente abominado pelo PCdoB quando crescia o “Parti-do dos Trabalhadores”, e não a “Classe Operária” que “já tinha” seu único representante). Os hábitos da classe-média “tradi-cional” a gente pode ver contando nos dedos os blogs de notícia e alguma discussão que nós frequentamos (tenho dúvidas se a efervescência mental nos leva a 2 dedos, e menos ainda a visita e leitura a espaços mais diversificados e mesmo de direita: pode haver surpresas, não somos os únicos inteligentes e letrados, por vezes vi mais gente bem humorada noutros cantos, e rir faz bem, ajuda a relaxar, e, quem sabe, pensar e, o mais importante, se repensar). Agora vou dar uma espiada em At,Cami-nhante, e suas curtas crônicas, algumas ma-ra-vi-lho-sas.

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