O Brasil sem os malditos petralhas

A coisa aqui tá preta – para os petralhas.

Interessante que o petralhíssimo Chico Buarque, 41 anos atrás, previa, na letra de sua Meu Caro Amigo, o clima do Brasil de hoje.

Ou, com esse verso, ele quis retratar a situação do Brasil de 1976, aquele da ditadura militar?

Pouco importa.

O fato é que, pelo andar da carruagem – ou dos SUVs -, os petralhas estão com os dias contados neste Brasil Novo das reformas e outras mutretas mais.

Em breve, muito em breve, os petralhas e congêneres farão parte do passado.

Serão apenas lembrados em parcas – ou porcas? – linhas nos livros – ou tablets? – de história, histórias para boi dormir, histórias para botar medo nas criancinhas, adotados pelas escolas sem partido.

“Houve um tempo em que o Brasil era infestado por uma raça de seres malignos, os petralhas, que se divertiam roubando o povo sofrido, entrando nas mentes dos jovens, corrompendo os costumes, iludindo as pessoas com promessas impossíveis, fazendo o mal, enfim…”

Nesse Brasil Novo, livre dos malditos petralhas, tudo vai ser diferente, como disse o Rei Roberto, eterno cantor da essência da alma brasileira – é sempre bom lembrar que nem só de Chicos Buarques vive a nossa rica música popular.

Vamos ter, por exemplo, a tão almejada ordem e progresso.

Nada de baderneiros impedindo o direito constitucional de ir e vir do trabalhador.

Nada de sindicalistas para atrapalhar a negociação entre os felizes funcionários e os generosos patrões.

E a justa meritocracia finalmente será exercida em sua plenitude.

Haverá oportunidade para todos, desde que cada um saiba o seu lugar.

Nas ruas, os cidadãos de bem poderão andar tranquilamente, sem medo de violência, assaltos, roubos ou furtos, pois a polícia estará atenta, vigilante, de olho em todos os tipos suspeitos, essa gente feia que habita casebres sujos, distantes de tudo, se veste mal, fala um patoá incompreensível, e tem a pele escura.

Não haverá, tampouco, lugar para notícias ruins, que possam afetar o ânimo do povo ordeiro desse Brasil Novo.

A Rede Globo de Televisão será o pilar emocional da nação, se encarregará de espalhar otimismo e felicidade para todos.

Terá, claro, a ajuda de outras emissoras, como a Record, que ampliará as mensagens cristãs de paz e fraternidade dos religiosos que a dirigem.

A religião terá papel fundamental no Brasil livre dos malditos petralhas.

As igrejas florescerão – haverá templos em cada esquina.

Pastores e pastoras, bispos e bispas poderão levar sua mensagem evangelizadora sem o temor de ter a sua sagrada palavra contestada pelos infiéis, os ímpios, os malditos petralhas.

E os dízimos se multiplicarão e permitirão que lindos e possantes veículos transportem com segurança e conforto os propagadores da palavra do Senhor às casas de Deus.

Nesse Brasil que se aproxima, por obra e graça de um seleto grupo de visionários, não haverá mais a discórdia entre as pessoas, e finalmente elas compreenderão que é impossível, para que a civilização evolua sem traumas, não haver pobres e ricos, excesso e escassez, senhores e vassalos.

O Brasil sem os malditos petralhas será, em suma, como sempre foi, o decantado, o sempre celebrado país do futuro.

Redação

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