Eleições, a revolução pacífica no Brasil

Esta semana vimos e ouvimos militares do PSDB agressivamente denunciar uma suposta “ditadura petista”, assegurar que “o PT inventou a guerra de classes” e outras bobagens semelhantes (“cubanização do Brasil”, “o Brasil ficou igual a Venezuela” etc…). O desespero dos eleitores tucanos é evidente e tem sido encorajado pelas lideranças do partido. Vai que conseguimos ganhar no grito? – devem ter calculado. No fundo, porém, o PSDB sabe que perdeu esta eleição no momento em que algumas lideranças históricas do partido começaram a apoiar Dilma Rousseff (caso de Bresser Pereira, por exemplo). 

Não vou nem me dar ao trabalho de contestar as bobagens que eleitores desesperados vociferam nas ruas. Eleição se disputa no voto. Quem tem mais votos ganha e governa, quem perdeu se prepara para disputar a próxima eleição. É assim que a democracia funciona. Seria muito estranha uma democracia em que o partido menos votado pudesse governar contra a vontade da maioria. 

Num ponto, porém, concordo com os tucaninhos exaltados. É verdade, o Brasil não tem  e nunca teve uma Guerra de classes. 

Quando chegou ao Brasil em meados do século XVI Tomé de Souza  despedaçou índios na boca do canhão. Se tivessem canhões, os índios teriam feito o mesmo com Tomé de Souza. Mas eles não tinham. Portanto, vivemos sob uma Guerra de classes que não houve. 

Guerra pressupõe “equivalência militar”, “meios de destruição semelhantes”, “tropas igualmente treinadas e equipadas”, “possibilidade de vitória e derrota” . A superioridade militar dos colonos sobre os índios era absoluta, sobre os negros coisas também. A relação de forças entre militares e militantes de esquerda (1964/1985) também não era equilibrada. Os desequilibrados de farda tinham todo poder e sempre souberam disto. 

Desde que o Brasil foi descoberto (eufemismo para invadido) o que havia era um Massacre de classes. Os descendentes das vítimas da brutalidade inicial, porém, podem votar e não votam mais nos descendentes dos seus algozes. Esta é a realidade que as urnas comprovam há doze anos. Cresci e amadureci estudando a revolução francesa e russa. Imaginava que a orgia de violência fosse um componente essencial das grandes rupturas políticas. A história recente do Brasil prova o contrário. Nem as rupturas precisam ser violentas, nem seguidas de violência política.

Uma revolução pacífica ocorreu e segue ocorrendo em nosso país. A classe que massacrava as demais ficou triste, acabrunhada, macambúzia, cabisbaixa, amuada, apertando os botões com uma lágrima nos olhos porque já não consegue mais ter legitimidade para massacras ninguém (honrosa exceção pode ser feita a Geraldo Alckmin, que foi eleito para maltratar até seus eleitores com falta d’água).

O fato de não ter sido massacrada como na França em 1789 e na Rússia 1917 a deixou a classe que era dona do Estado boquirrota, abestada, confusa, perdida e sem saber o que fazer. Os otimistas diriam que tudo vai bem no melhor dos mundos. Os pessimistas diriam que se os playboys resolverem pegar em armas, o povo brasileiro terá uma justificativa plausível para fazer o seu massacre. Uma pessoa bem informada, porém, sabe que os brasileiros falam em pegar em armas justamente quando tencionam fazer exatamente o oposto. Assim temos sido há 500 anos. Mudamos um pouco, mas não mudaremos muito em tão pouco tempo. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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