O Brasil na beira do abismo

No filme  “The Italian Job” (1969), estrelado por Michael Cane, o plano para roubar um carregamento de ouro em Turim é executado com perfeição. Qualquer semelhança entre o enredo desta tragicomédia e o golpe de estado em curso é mera coincidência.

A capa da nova edição da revista Carta Capital dá como certo o início do processo de Impedimento contra Dilma Rousseff. A ausência de justa causa para o processo excepcional é evidente e tem sido sustentada por juristas de renome, mas nada disto parece estar sendo levado em consideração pelos arquitetos do golpe de estado. A sede de vingança dos derrotados surfa na onda de medo e ódio que cresce num Parlamento que não precisa ser coberto para virar um circo e que poderia ser murado em razão de abrigar centenas de criminosos procurados pela Justiça.

A presidenta foi eleita por seus méritos e não será cassada pelos melhores entre os melhores e sim pelos piores entre os piores. Com ajuda dos barões da mídia que tem contas no HSBC da Suíça e não desejam ajustar suas contas com a Justiça do Brasil, o lixo da nação foi elevado ao pedestal da moralidade para impedir que o Estado seja reformado de maneira a banir da política a corrupção eleitoral generalizada.

No centro da crise não está Dilma Rousseff e sim Gilmar Mendes. Se o financiamento público de campanha tivesse sido aprovado pelo STF a tempo de ser empregado na disputa eleitoral de 2014, o Congresso Nacional não estaria cheio de bandidos comandados por um evangélico acusado de pedir e receber propina. O golpe de estado em curso não foi planejado depois da derrota de Aécio Neves. De fato o plano para destruir a soberania popular (uma “segunda opção de vitória” em caso de derrota eleitoral de Aécio Neves) pode ter começado dentro do STF muito antes das eleições. Ele foi concebido ou apenas executado pelo juiz que sabia ser voto vencido na ADI 4650?

O golpe de estado em curso não será militar (como o que afastou João Goulart do poder em 1964), nem parlamentar (como ocorreu no caso de Fernando Lugo no Paraguai em 2012). Ele será um típico “Italian Job”. Nem políticos, nem jornalistas, nem juristas, nem a máfia, nem a polícia foi capaz de antecipar ou resistir à “segunda opção de vitória” construída mediante a artificial paralização da ADI 4650.

Usando Mini Coopers os ladrões liderados por Charlie Croker despistam seus perseguidores. “The Italian Job” oscila entre e o dramático e o cômico. A cena final reúne elementos de ambos e dá o que pensar.

Em segurança, já no ônibus carregado com o ouro, os golpistas abrem champanhes e começam a comemorar o resultado. O motorista fica embriagado e se empolga, o ônibus derrapa e acaba na beira de um abismo alpino. Os ladrões não podem nem deixar o veículo nem alcançar o ouro que está na outra ponta do mesmo. O golpe contra Dilma Rousseff não resultará num impasse semelhante. O mais provável é que todos caiam no abismo que foi meticulosamente criado por Gilmar Mendes e está sendo velozmente ampliado por Eduardo Cunha com ajuda dos barões da mídia. Equivocam-se aqueles que acreditam na passividade do povo brasileiro e na tranquilidade encenada pelas forças armadas.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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