Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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Brasil Moreno, de Ary Barroso, em um arranjo do Maestro Orlando Silveira e resenha de Jairo Severiano

 

Recebi do amigo e conterrâneo Jairo Severiano:

Pediria o obséquio de postar a gravação de “BRASIL MORENO”, num arranjo de Orlando Silveira (incluída no álbum da FENAB em homenagem ao Ary Barroso), outra das minhas preferências e sobre a qual gostaria de registrar algumas informações. Como fiz a direção de estúdio desse álbum tenho algumas informações interessantes a passar para os amigos, além de considerações sobre a obra do grande Ary Barroso.

Principal responsável pelo processo de sofisticação do samba, cristalizado em 1939 com a consagração de “Aquarela do Brasil” no espetáculo “Joujoux e Balangandãs”, Ary Barroso compôs (com Luís Peixoto) “BRASIL MORENO” para o “Joujoux e Balangandãs n°2”, em 1941. Nesse gênero de composição ele utilizou requintes como crescendos, dimimuendos, variações de andamentos e, sobretudo, a conjunção de percussão forte, sacudida, com melodias brilhantes, refinadas.

Demonstrando perfeito entendimento das intenções do compositor, o maestro Orlando Silveira criou o maravilhoso arranjo aqui mostrado, faixa do álbum “Ary Barroso, 90 Anos”, produzido por José Silas Xavier para a FENAB em 1992. Dessa gravação participaram 36 músicos (Mestre Dino, Giancarlo Pareschi, Leandro Braga, Edmundo Maciel, Wilson das Neves, Jorginho do Pandeiro, Biju, Formiga…). Como o naipe de cordas (14 violinos, 2 violas, 2 violoncelos) “dobrou” a gravação, esse total subiu para 54. (e muito grato, amigo Luciano Hortencio, pela postagem dessa obra-prima).

Espero que o amigo tenha gostado das informações. as quais acrescento mais uma: no dia da gravação do naipe de cordas, reservamos um longo período de uso do estúdio (de 9 às 21 horas). Aconteceu que um dos violoncelistas bateu com o carro num poste, na vinda para o estúdio e então foi um Deus nos acuda para arranjar um substituto.

Resumo da ópera: a gravação só foi começar com 5 horas de atraso, com 17 músicos “parados” e devidamente remunerados, obviamente!

 

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

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  1. Jairo Severiano

    JAIRO SEVERIANO: Pesquisador. Historiador. Produtor. Viveu a infância e adolescência em Fortaleza e Recife. Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou carreira de funcionário do Banco do Brasil.

    Interessado pelo estudo da música popular, começou em 1968 o levantamento da discografia brasileira em 78 rotações. Nos anos de 1970, passou a atuar em conjunto com os pesquisadores Alcino Santos, Grácio Barbalho e Miguel Ângelo de Azevedo, que realizavam trabalho similar.

    Patrocinada pelo então Ministério da Educação, a pesquisa foi concluída em 1979, sendo editada pela Funarte em 1982 com o título “Discografia Brasileira- 78 RPM – 1901/1964”.

    Por encomenda da Fundação Getúlio Vargas (FGV), escreveu a monografia “Getúlio Vargas e a música popular”, publicada em 1983.

    Nos anos seguintes, escreveu a biografia do compositor João de Barro, publicada pela Funarte em 1987, com o título “Yes, nós temos Braguinha”.

    Ainda nos anos de 1980, produziu álbuns fonográficos de sentido cultural, entre os quais se destacam a série “Revolução de 30”, “Revolução de 32” e “O ciclo Vargas”, para a Fundação Roberto Marinho; “Araci Cortes”, “Orlando Silva”, “Nosso Sinhô do Samba” e “Yes, nós temos Braguinha”, para a Funarte; “Native Brazilian Music”, para o Museu Villa-Lobos, e os LPs duplos “Dorival Caymmi” (1985) e “Antônio Carlos Jobim” (1987), reeditados em CD com os títulos de “Caymmi inédito” e “Tom Jobim inédito”.

    Paralelamente, coordenou os projetos “Mozart de Araújo” (1991), para o Centro Cultural Banco do Brasil, e “Memória musical carioca”, para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, este juntamente com o pesquisador Paulo Tapajós.

    Ministrou ainda palestras em universidades do Rio de Janeiro e outros estados, e cursos em entidades como a Fundação Casa de Rui Barbosa.

    Em 1997/98, lançou a obra “A canção no tempo – 85 anos de músicas brasileiras – 1901/1985” em dois volumes, escrita em parceria com o pesquisador Zuza Homem de Mello.
     

    M

      

     

  2. pré sal

     

    Quero arguém que me conte 
    Se aquilo é mesmo uma ponte 
    Ligando a terra ao firmamento 
    Pra que tanta querela 
    Que água negra é aquela 
    Que mais parece ungüento? 
    Zé Conceição 
    Aquilo é a torre 
    De um poço de petróleo 
    Jorrando óleo 
    Da nossa redenção, ai, ai, ai, 
    Zé Conceição 
    A água é negra 
    Depois não tem cor 
    Mas tem valor 
    E salva uma nação ai, ai, ai, 
    Zé Conceição 
    Não fica assim contente não 
    Pois acontece uma coisa de amargar 
    Água negra 
    Quando sai da terra 
    Manda gente pro seu lugar

    Água Negra (petróleo)

    Ary ‘Petros’ Barroso

    Rômulo Cardozo

        1. Caco de Ouro

           

          MATHEUS NUNES, O SAMBISTA INFERNAL

          Foto de Caco Velho

          “O homem que tem uma cuíca atravessada na garganta”

          Aos 22 anos de idade, Caco Velho venceu um concurso de músicas carnavalescas com o samba Eu Ando à Procura, superando ninguém menos que Lupicínio Rodrigues, que ficou em segundo lugar. Para espanto geral, Caco Velho emplacou outro samba, Que Coisa Louca, em terceiro lugar. Aos 24 anos compôs a toada Mãe Preta, sua primeira música gravada (com Piratini).

          * * *

          O motorista do táxi, que transportava o sambista para participar de um show, num clube na cidade de Santos-SP, não encontrava o endereço indicado. Com muita dificuldade, finalmente desembocam na rua onde encontrariam o endereço solicitado pelo artista, onde havia uma multidão que bloqueava o transito local. Caco solicita, então, ao motorista que contorne aquele tumulto, quando o motorista informa que todas aquelas pessoas aguardavam à presença do sambista Caco Velho. Ao deixar o veículo, foi, imediatamente, reconhecido pelo público e agarrado pela multidão, que desarrumou e amassou o seu terno, além de desfazer o seu penteado e surrupiar o seu lenço – Caco não contava com tanta euforia do povo praiano.

          * * *

          Hospedados no Hotel Gloria, com Carlos Gomes, quando visitava uma escola de samba popular na Cidade Maravilhosa, foi solicitado pela galera, ali presente, a tocar o seu pandeiro.

          Caco Velho tocava o pandeiro e alegrava os presentes, quando uma pessoa caminhou para o seu lado para abraçá-lo e mostrando o seu entusiasmo e falando em inglês: era Walt Disney. Conversaram pouco, tiraram duas fotos juntos e Disney continuou a observar aquele instrumento tocado por Caco Velho, que, provavelmente, inspirou a criação do Zé Carioca – tudo leva a crer que Disney não se esqueceu do encontro com Caco Velho.

          * * *

          Em fins de 1931 Caco Velho recebeu, de Alberto Cavalcante, o convite para participar das gravações do filme Mulher de Verdade. O seu personagem ‘Mormaço’ que se envolve em um romance promovendo trapaças e malandragens. Também fazem parte do roteiro deste filme, gravado nos estúdios do Jaçanã; Inezita Barroso (como Amélia), Adoniram Barbosa (Bigode); Valdo Wanderley (Lauro) e outros grandes artistas consagrados pelo público.

          * * *

          Caco Velho partiu para a França com George Henry. Chegando à Paris, eufórico com a beleza do lugar, assinou um contrato com a Boite Là Macumba. Artistas famosos, como Fred Astaire e Mel Ferrer, marcavam presença na boate La Macumba e sempre solicitavam que Caco Velho bisasse às suas musicas.

          * * *

          Jânio Quadros, grande freqüentador da noite paulistana, tinha amizade com Caco Velho.

          [video:http://youtu.be/8Mpa88uIe9c width:600 heigth:450]

          A composição Mãe Preta, de Caco Velho e Piratini, foi adaptada e rebatizada como Barco Negro e é tocada até hoje na Alemanha, Angola, Austrália, Bélgica, EUA, Egito, Espanha, Índia, Inglaterra, Japão, Suíça, Suécia, Portugal e vários outros países.

          [video:http://youtu.be/zKe0QVFB2O0 width:600 heigth:450]

          Os fatos marcantes da carreira musical de Caco Velho foram retirados dos recortes de jornais e revistas que o próprio Sambista e a sua esposa colecionaram e guardaram pelos anos afora.

          O gaúcho Matheus Nunes, o Caco Velho, morreu jovem, aos 50 anos, em 14 de setembro de 1971.

          Confira outros detalhes da enriquecedora trajetória artística do Grande Caco Velho aqui:

          http://www.lastfm.com.br/music/Caco+Velho/+wiki

  3. Alô Amigos!

     

    Aquarela do Brasil

    E suas possíveis intenções políticas

    Alô Meu Parça!

    Enquanto Ary Barroso tentava ser reconhecido por suas composições e participava de concursos musicais, acontecia no Brasil uma grande transformação política. O país acabara de sair do regime da República

    Velha para ingressar, em 1930, no governo provisório de Getúlio Vargas.

    Esperava-se que o país respirasse ares democráticos com a Constituição de 1934, mas em 1937 foi decretada a ditadura do Estado Novo, o então presidente ampliou seu poder como chefe do Executivo e mandou fechar as Assembleias Legislativa s, a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional, os partidos e organizações civis.

    Em 1939, foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propagando) que objetivava centralizar e coordenar a propaganda nacional, interna e externa; fazer a censura dos meio s de comunicação; promover manifestações cívicas e festas populares, assim como exposições demonstrativas das atividades do governo; colaborar com a imprensa estrangeira para evitar a divulgação de informações negativas do país, estimular atividades artísticas e composições que divulgassem uma boa imagem da nação e intervir nas que não tinham tal intenção.

    A tão famosa Aquarela do Brasil não escapou da censura do Departamento do Estado Novo. O escritor Sérgio Cabral relata, em sua obra, que o verso “terra do samba e do pandeiro” fora vetado com a ale gação de ser depreciativo. Ary teve que dirigir-se ao DIP para defender sua canção e conseguiu fazer com que o verso fosse mantido. Apesar desse pequeno problema com o órgão do governo, levantou-se a suspeita de que o samba-exaltação do mineiro fora direcionado a ideologia do governo Vargas, ou seja, por meio da retórica de Aquarela , a imagem desejada pelo presidente sobre sua nação fora dissipada não só no país como também no exterior.

    Ary Barroso alegou ser um a coincidência tal fato, contudo é uma realidade que o contexto influência diretamente em todas as instâncias e produções de uma sociedade, seja para apoiar ou contrapor, principalmente em um regime governamental em que a repressão se faz presente.

    Outra situação intrigante que envolve Aquarela do Brasil é o fato de fazer parte de uma produção que buscava convencer os telespectadores dos países latino-americanos de suas proximidades com os Estados Unidos. Alô Amigos, de Walt Disney, na visão de alguns historiadores, tinha por finalidade difundir a política de boa-vizinhança criada pelo governo de Roosevelt. O país norte-americano queria o apoio dos países da América Latina a suas causas e ao capitalismo, principalmente o Brasil e a Argentina que ora prestava apoio às forças do Eixo, ora aos Aliados.

    Mesmo que o artista brasileiro não compactuasse com os objetivos norte-americanos ao lançar a animação Alô, Amigos, sua música fez parte de uma tentativa de persuadir as populações latino-americanas.

    Aquarela do Brasil fez parte de um conjunto de táticas para a adesão a ideologia norte-americana.

    http://www.filologia.org.br

  4. Bola Cheia

     

    O Vereador do Maracanã

    Mais votado em 1946, Ary Barroso lutou pela construção do maior estádio do mundo

    Regina Rocha

    Ary, na ponta esquerda, era apaixonado pelo futebol.

    Antes de virar boêmio, compositor e radialista, Ary Barros havia cursado alguns anos a faculdade de Direito e sua oratória não era má. Em 1946, no auge da popularidade, arriscou-se nas urnas e foi eleito vereador para a Câmara Municipal do Rio, pela UDN – União Democrática Nacional, partido de oposição ao PTB de Getúlio Vargas. Fez o que pode pelo esporte, mas a ação mais importante foi lutar, ao lado do jornalista Mário Filho, pela construção do estádio do Maracanã, numa época em que poucos acreditavam que um dia fosse possível lotar uma arena para mais de cem mil torcedores. 

     

    Ary Barroso, transmitindo jogo em cima de um telhado.

    Ary fez uso do Ibope para conseguir convencer a opinião pública sobre o melhor local para a construção do Maracanã. Encomendou uma pesquisa para que a população escolhesse entre o terreno do Derby Club e uma restinga de Jacarepaguá. O Instituto foi a campo durante uma rodada em que quase todos os clubes atuavam: Botafogo x Olaria, Flamengo x São Cristóvão, América x Madureira, Bangu x Fluminense e Vasco x Bonsucesso. Pudemos contemplar as diversas torcidas”, comentava-se na pesquisa. 

    Dora Lopes e Edson Lopes [nenhum parentesco] em foto promocional tirada em frente ao Pão-de-Açucar para a tournee que a Orquestra de Ary Barroso faria pela Venezuela e Mexico em 1953.

    No placar geral, 56,8% dos entrevistados escolheram o Derby Club e 9,7%, Jacarepaguá; 6,9% sugeriram outras regiões como Centro, Gávea, Quinta da Boavista e Cascadura. A pesquisa indicava ainda que 79,2% achavam necessária a construção de um estádio para a cidade e 53,6% se dispunham a arcar com algum ônus tributário para que a prefeitura bancasse a obra. Os índices de aprovação, obviamente, garantiram o apoio da bancada majoritária à vontade de Ary Barroso.

     

    * * *

     

    BAFÔNICO

     

    Aracy Costa & Dora Lopes interpretam ‘Boneca de pixe’ na cidade do Mexico. Esse numero era geralmente feito por Aracy & Vieirinha, pois afinal é um ato onde deve existir um homem e uma mulher. Não se sabe o que aconteceu nessa ocasião para que Dora tomasse o lugar de Vieirinha. Nota-se que Dora veste calças compridas, mas não está caracterizada de ‘homem’ inteiramente.

    FONTE: Portal2014 | Brazilian Pop

  5. Esse foi o meu primeiro

    Esse foi o meu primeiro grande trabalho como técnico de áudio, e sem dúvida o maior da minha carreira profissional, nem poderia imaginar que um dia estaria diante de nomes consagrados da nossa música em uma mesma produção, no início foi assustador ( eu era um garôto ) lembro do primeiro dia de gravação, em que o produtor perguntou pra mim quem seria o técnico responsável, respondí meio sem jeito : eu, rssss ….  Foram dias inesquecíveis.

     

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