Análise sobre a investigação de Palocci

Comentários de final do primeiro tempo

Bom, juridicamente a coisa está assim encaminhada: no aspecto penal, a oposição está no beco sem saída. Resta ainda a esperança de que o MPDFT encaminhe alguma coisa no aspecto administrativo. Mas  o parecer do MPF avançou muitos freios tanto no  mérito quanto no processo. o MPDFT vai ter de rebolar para colocar o Palocci em saia justa. E ele não é bobo, se mal fez, soube fazer e bem.

No que tange o cenário político, aí são outros quinhentos. O PIG e a oposição levaram uma bordoada, o que não significa que perderam a guerra. A imprensa vai continuar a cutucar, procurar mais e mais coisas, tentando desgastar o governo até à sua paralização. A oposição vai usar seus espaços parlamentares constitucionais, e a lava continuará queimando por um bom tempo, até a coisa se esgotar (ou encontrarem outra carniça apetitosa).

Entre parênteses: para Dilma, o melhor resultado teria sido a instauração de inquerito pelo MPF, que facilitaria a saída de Palocci e a retomada do “business as usual”. A saída de Palocci não seria uma grande catástrofe, pois hoje o Governo não depende tanto dessa figura como Lula no início de seu governo (“âncora de credibilidade junto ao mercado”). Os moralistas do PT ficariam saciados, e logo a bancada poderia  voltar a ficar unida.

O MPF não fez esse servicinho, porém. E com suas razões que não podem ser pixadas de engavetamento, como na era FHC: a sua decisão, discricionária, foi mais do que motivada juridicamente (páginas e mais páginas por sinal muito bem escritas), e não há espaço constitucional para atacar a decisão da PGR. A convocação da PGR iria ser uma palhaçada, porque tudo que a PGR poderia ter apresentado foi escrito. Ela pode até se recusar a ser chamada, invocando a independência dos Poderes. Se, por conveniência política, ela ainda decidir ir para a Sabatina, quem vai levar porrada maior é a oposição, porque vão revelar sua ignorância em matéria jurídica. Portanto, essa convocação é mais jogo de cena.

Mas no fundo, o grande vencedor dessa jogada se chama PMDB e Milton Temer: eles não titubearam em dar todo apoio a Palocci (que prontamente agradeceu a “solidariedade”), enquanto muitos petistas mijaram nas calças. Vai haver troco (cargo, Código Florestal e o escambau)!

Mas, ao frigir dos ovos, se esse era para ser o Mensalão da Dilma, ela está em melhores lençóis  do que Lula quando pipocou o seu: neste, toda uma bancada petista se envolveu, houve impeachment e demissão de cardeais do partido, e o Lula teve de encenar pateticamente sua ignorância. Isso não se repete nesse episódio, que trata apenas de uma única pessoa, descartável, que foi atacada pela imprensa e pela oposição de uma maneira que levou a esse desfecho jurídico catastrófico. Tanto o PIG e a oposição levaram a pecha de ignorantes em matéria jurídica; mas, claro, o cinismo deles os levarão tirar essa surra de letra.

De resto, a Dilma segue a receita magistral de Lula: em crise dessas, a saída é governar, governar e mais governar. Falar para o povo, que afinal deu duas vezes as costas à imprensa, e mostrar serviço. Seu governo não está mal: está conseguindo governar os problemas macroeconômicos (inflação, crescimento), apresentando novos projetos de cunho desenvolvimentista relevante, e, a durissimas penas, afrouxando seu discurso.

Claro, ainda não chega para ser uma mestre da retórica política, de alcance popular, como foi Lula, a custa de ter comido muito barro na sua infância. A guerrilheira classe-média ainda é apegada a estruturas de raciocínio muito formais, e se engasga quando tem de adotar o modo lulista de discursar; em termos de futebol, está ainda muito Carlos Alberto Parreira, enquanto Lula é Saldanha. Mas é um aprendizado, certamente “coach-ado” pelo Mestre (porque não? porque não contar com o apoio de Lula, o mais esperto, malandro político vivo no mundo, que inclusive o colocou na Presidência?). Apesar de suas limitações intelectuais-vivenciais de classe média, ela ainda tem tudo para fazer um bom governo.

De resto, vamos continuando a acompanhar essa indigesta novela, a nós imposta pelo PIG. A oposição pode sair dessa desmoralizada, apesar dos arranhões causados na imagem da Presidenta (que se lixem as pesquisas, nessas alturas; o próprio Lula sofreu seus vales na curva de popularidade; e pesquisa não é eleição). O governo, esse não conseguiram paralizar, pois nesse campo sobra experiência do passado. Mas dessa vez, o gol foi feito pelo PMDB, e os brochas petistas vão ter de engulir os castigos de sua covardia (esperem o puxão de orelhas por Lula, que nunca abandonou Palocci, mesmo a custa de ser acusado de “comparsa” por alguns).

Já na blogosfera/jornalismo independente, Mino e Azenha que se cuidem. O safanão sobrou para eles também (Não, não vou puxar saco do Nassif)…

Luis Nassif

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