MEC e o “jeito certo” de falar

por foo

Eu só acho uma tremenda cara-de-pau o jornal escrever:  “Mesmo assim, surgiu recentemente uma grande discussão sobre variações na linguagem oral em desacordo com a norma culta, motivada pelo livro didático “Por uma Vida Melhor”. O que motivou a discussão não foi o livro didático, mas a mídia. E muito leitor mal informado caiu nessa.

(Ainda bem que não estamos em época de eleição — caso contrário a polêmica seria sustentada por muito mais tempo.)

Da Folha.com

MEC descarta regra do “jeito certo” de falar desde 1997

A orientação para que as escolas não “consertem a fala de aluno para evitar que ele escreva errado” consta desde 1997 dos Parâmetros Curriculares Nacionais –ou seja, passou pelos governos FHC, Lula e Dilma.

Os documentos servem como orientação a escolas, professores e editoras.

Quando abordou nos PCNs o tema “qual fala cabe à escola ensinar”, o Ministério da Educação já orientava que a escola “precisa livrar-se do mito de que existe uma única forma certa de falar”.

Mesmo assim, surgiu recentemente uma grande discussão sobre variações na linguagem oral em desacordo com a norma culta, motivada pelo livro didático “Por uma Vida Melhor”.

Na semana passada, o site IG divulgou que o livro, ao tratar da diferença entre a língua oral e a escrita, afirma que é possível dizer, em determinados contextos, “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.

A educadora Maria Cristina Ribeiro Pereira, uma das coordenadoras dos PCNs em 1997, diz que a inclusão do tema nos parâmetros teve como objetivo chamar a atenção da escola para preconceitos não visíveis.

“O preconceito em relação à fala acontece não apenas com jovens e adultos. É comum, por exemplo, quando uma criança sai de uma escola rural para uma urbana, sofrer preconceito pelo modo de falar.” Ela não quis comentar o livro “Por uma Vida Melhor” por não tê-lo lido.

Para o linguista e acadêmico da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, no entanto, a orientação dos PCNs foi um “erro de visão”.

“Há uma confusão entre o que se espera de um cientista e de um professor. O cientista estuda a realidade de um objeto para entendê-lo como ele é. Essa atitude não cabe em sala de aula. O indivíduo vai para a escola em busca de ascensão social”, diz Bechara.

Anteontem, a ABL divulgou nota oficial criticando o livro e o MEC. Marcos Bagno, autor do livro “Preconceito Linguístico”, discorda.

“Discutir preconceito linguístico na escola é fundamental para que alunos que vêm de classes menos favorecidas não se sintam reprimidos ou amedrontados”, diz.

“A atitude normal da escola sempre foi zombar da fala dos alunos. Esse debate é fundamental para criar um ambiente mais acolhedor.”

Bagno critica os meios de comunicação por terem criado o que ele chama de falsa polêmica. “A discussão sobre preconceito linguístico ocupa apenas 2% do tempo de sala de aula. Nos outros 98%, o que se faz é ensinar as normas cultas de prestígio.”

Ele argumenta também que a língua é dinâmica. ‘Há 50 anos, dizer que alguém “poderia se mudar’ era crime bárbaro, pois o certo seria poder-se-ia. Hoje, no entanto, quase todos os manuais de redação de jornais orientam a evitar a mesóclise.”

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador