O fascínio das quiquilharias

 

         O número 1.99 me fascina há bem tempo e acaba por me deixar intrigado com essa atração diria “irresistível” por um numeral que a ciência própria, a numerologia, apenas aponta detentor dos atrativos comuns ao número 1 que resulta da soma de seus algarismos.

 

           Minha atração é não apenas pelos três numerozinhos que formam a cifra: 1.99, mas também por suas variantes 1,99; um e noventa e nove e tudo que diz desse repetição de números que o comércio de forma bastante esperta e bem sucedida lançou mão para denominar uma espécie de loja que se dedica à venda de quinquilharias.

 

           Eu me esbaldo todo ao entrar numa dessas muitas lojas de 1.99 que existem aqui na cidade. Fico deslumbrado com, a diversidade de cores e tipos, designs e apresentações de mil artigos que nunca sequer imaginei fosse possível existir, quando formei minhas querenças e meus prazeres ainda na infância, lá se vão mais de sessenta anos na velha e querida Campanha da Princeza lá nas Geraes.

 

           À época era o querosene vendido em garrafas e garrafas também o leite. Era a linguiça exposta ao tempo, o rolo de fumo junto ao balcão, arroz em saca pra vender varejo, rapadura enrolada em palha e lindas lamparinas de lata expostas em fieiras a brilhar como avanço de tempos idos.

 

           Hoje, não. Hoje são milhares de coisinhas pequenas de embalagem atrativa e uso nem sempre igual que prendem os olhos, movem cérebro e acabam por nos fazer, mãos aos bolsos, comprá-las ou pelo menos desejar, todas.

 

           Aprendi com o passar do tempo a fugir das quinquilharias inúteis e de má origem, normalmente chinesas, como o bonito jogo de chave de fenda que comprei certa vez para usar apenas em uma única apertada de parafuso. A fenda do parafuso ficou e chave entortou. Daí pra frente nada de coisa chinesa, embora agora veja “made in China” até em marcas tradicionais de toda minha vida em produtos mais caros, nenhum dos das lojas de um e noventa e nove.   

 

           Uma coisa de boa restou dessa atração inexplicada pelo 1.99: hoje, mais consciente de que querem por que querem nos empurrar continhas brilhantes como se fossem coisas úteis, tal qual se fez com a indiaiada que recebeu Cabral, tornei-me mais seletivo, rigoroso e a olhar sempre procedência, antes de cair no conto da beleza inútil de peças que imitam outras e para nada servem.

 

           E como consequência passei a uma atitude impensável há poucas décadas: prefiro artigos com o “fabricado No Brasil” e até mesmo aqueles que, por pedantismo ou facilidade de marketing, nos dizem serem “made in Brazil”.

 

           Com isso, acho que podemos dizer que depois de anos a fio em que produto nacional era sinônimo de coisa mal feita por nossa indústria, ser brasileiro por origem virou sinônimo de confiabilidade. Não são mais produtos “marca barbante” como outrora. E agora, para minha felicidade pessoal, talvez por força da globalização, também chegam aos borbotões às lojas dos sonhos do 1.99. Salve ela, a indústria brasileira!!!

 

Luis Nassif

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