O gerenciamento sem gestão de Alckmin

Passou quase desapercebido o anúncio da reunião de gestão do governador Geraldo Alckmin com seus secretários. Alckmin convocou-os com a missão precípua de definir metas de cortes de despesa. Poucos compareceram a não se tirou compromisso algum, o que levou o normalmente cortês governador a perder a calma.

O governo de São Paulo ainda continua preso a um amadorismo gerencial inexplicável, em se tratando do maior estado brasileiro.

A reunião de Alckmin foi inspirada nas reuniões do governador Mário Covas, assim que assumiu o governo em 1994. Mas, de Covas tomou-se apenas a parte mais visível e menos relevante do processo.

Covas teve no Secretário da Fazenda Yoshiaki Nakano o grande gestor. Com as contas estaduais em frangalhos, sem nenhum sistema de informação gerencial – o governo Fleury recorria a planilhas Excel como ferramenta.

Primeiro, Nakano implantou modernos bancos de dados, com competência técnica e política, montando a estrutura paralela sem desmontar a estrutura arcaica em vigor. Apenas quando a paralela estava consolidada, sem risco de retrocesso, estendeu-a a toda a administração.

O primeiro banco de dados foi de contratos terceirizados de serviços. Definiram-se critérios de cálculo para os valores de contratos, foi possível comparar contratos de mesma natureza, forçando os preços para baixo. Depois, BDs com o orçamento, permitindo ao Secretário da Fazenda acompanhar as liberações orçamentárias em tempo real, assim como os saldos não utilizados em cada rubrica.

Só depois disso Covas definiu uma meta de corte de 30%, porque sabia estar armado para as reações contrárias.

A reação inicial dos secretários, aliás, foi cortar onde dava maior repercussão negativa na mídia – áreas de atendimento público, por exemplo. Aí, na reunião. Nakano mostrava que havia rubricas orçamentárias sem nenhuma relevância, cujos recursos poderiam ser remanejados. E oferecia técnicos em orçamento para o secretário promover o remanejamento.

Na qualidade de vice-governador pouco afeito às questões gerenciais, aparentemente Alckmin só acompanhava as reuniões finais, de reunir os secretários, exigir metas e dar bronca. Gostava da festa final, não dos trabalhos exaustivos que a precediam.

Hoje em dia, governos eficientes recorrem a consultorias apenas para trabalhos especializados. Alckmin recorreu até para o essencial: mapeamento de processos e identificação dos pequenos desperdícios. Apenas isso para seu grande momento de Covas: juntar os secretários e passar um pito.

Mais que isso, não demonstrou experiência sequer para coordenar reuniões colegiadas básicas. Tanto que até esse grande momento falhou, a peça mais fácil de todo o processo: a de secretários atendendo a um chamamento do seu governador.

Essa mesma incapacidade de organizar reuniões básicas revelou-se no episódio da Cracolândia, no qual juntou secretários, prefeitura, entidades, jogou no peito de um coordernador que definiu as funções… mas não tinha poderes para cobrar resultados. Consequencia: meses depois da primeira reunião. ninguém tinha cumprido a sua parte e o coordenador nem tinha instrumentos para obrigá-los a tal.

Luis Nassif

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