Procuradora vê descaso com ossadas da vala de Perus

Do Jornal GGN

Procuradora vê descaso do governo com ossadas da vala de Perus

Da Redação

Jornal GGN – A procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga declarou nesta segunda-feira (20), durante audiência pública da Comissão da Verdade de São Paulo, ver descaso do governo federal em relação às 1.049 ossadas encontradas na Vala de Perus. O local de despejo situado no Cemitério Dom Bosco, na zona norte da capital, serviu como cemitério clandestino de corpos de presos políticos, moradores de rua e pessoas mortas por esquadrões da morte. Nenhum trabalho específico está sendo feito atualmente.

Comissão da Verdade de SP faz audiência sobre a Vala de Perus

A história da vala de Perus

Uma das responsáveis pelas ações judiciais relacionadas aos restos mortais dos desaparecidos políticos, que tiveram início em 1999, a procuradora enfatizou que a União barrou o andamento de uma ação civil pública que reivindicava uma verba de R$ 3 milhões para a identificação dos corpos.

“Vendo a incompetência e a falha da lei [de mortos e desaparecidos], que não previu verba para aquela comissão (especial sobre mortos e desaparecidos políticos), nós entramos com uma ação responsabilizando algumas entidades, alguns profissionais e com o pedido de  verba para a cidade. Conseguimos a liminar, mas a própria União entrou com pedido para suspender”.

Ainda no âmbito federal, Eugênia também disse que há discrepância entre a vontade política em disponibilizar verba na busca de corpos de militantes na região do Araguaia e uma possível resistência em não fazer o mesmo na capital paulista.

“Tem milhões disponibilizados para digitalizar documentos, mas não tem para fazer a identificação dos corpos. Gasta-se milhões de reais com furadeira na região do Araguaia, mas aqui, para pegar esses restos mortais de até 10 pessoas que poderiam ser prontamente identificadas, não tem. Tanto que chegou ao ponto de as famílias terem de pagar por trabalho especializado particular”.

De acordo com a Comissão da Verdade, uma equipe de antropólogos forenses da Argentina, contratados por familiares de desaparecidos, constataram em abril deste ano que há ossos com fungos devido à umidade do local de armazenamento atual, que possui goteiras. Desde 2001, as ossadas encontradas na vala clandestina estão alojadas no Cemitério do Araçá.

A partir de 2010, foi firmado um convênio entre o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial de Direitos Humanos). 

Araguaia

Também presente na audiência, o secretário da pasta federal de Direitos Humanos Paulo Abrão afirmou que há peritos da PF  realizando exumações e análises antropométricas nos ossos da vala clandestina e enfatizou os trabalhos feitos no Araguaia.

“Há um grupo de trabalho que fez seis ou sete incursões in loco, com escavações, com especialistas e na presença dos familiares. O que não se encontrou até o presente momento foi por causa de condições climáticas e, devido à geografia da região, há a impossibilidade de achar os locais onde foram depositados esses corpos”.

Histórico

Até hoje, só foram identificados os corpos de três perseguidos políticos: Dênis Casemiro, Frederico Eduardo Mayr, e Flávio de Carvalho Molina. Criado em 1971, o Cemitério Dom Bosco passou a receber os corpos de desaparecidos políticos em 1976, quando o então deputado federal Paulo Mauf (PP) era prefeito nomeado por militares.

O depósito clandestino foi descoberto em 4 de setembro de 1990 com 1.049 ossos, todos alojados em sacos plásticos, semelhantes aos de lixo. A pedido da deputada Luiza Erundina (PSB), que na época era prefeita, foram feitas as primeiras análises nas ossadas. O material foi encaminhado para Unicamp e USP – ambas instituições não conseguiram dar prosseguimento às perícias.

Luis Nassif

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