Portuguesa usa o design para se comunicar com os avós que têm Alzheimer

Por Danilo Mekari do, Portal Aprendiz

Há pelo menos 15 anos a portuguesa Rita Maldonado Branco convive com o Alzheimer. Desde quando seu avô paterno deu sinais de que os problemas de esquecimento não eram apenas pontuais – mais tarde a mesma coisa aconteceria com a avó materna –, Rita sente falta de se comunicar com eles como antigamente. A falta é tanta que usou seu conhecimento em design de comunicação para reativar os canais de troca com os avós.

“O design de comunicação pode ajudar doentes de Alzheimer a comunicar melhor?” foi a pergunta que guiou o mestrado de Rita, realizado no Colégio de Arte e Design Central Saint Martins, em Londres. De volta à Portugal, ela deu início ao doutorado na Universidade do Porto que pretende criar ferramentas práticas de comunicação.

Jogo de cartas criado para a avó estimula a memória.

Como a avó materna tinha dificuldade em reconhecer membros da família, Rita criou um jogo de cartas para “brincar com a árvore genealógica”. De um lado está a imagem/fotografia da pessoa e, de outro, uma breve descrição e o apelido pelo qual a avó tratava: Ritinha, por exemplo. Ao final do texto, uma pergunta remete para outra carta, criando assim um jogo.

O que fazer com o avô, que não gostava de cartas? Segundo Rita, fazia muito tempo que ele só respondia perguntas com “sim” ou “não”. “Também queria encontrar formas de ele rememorar a família”, revela. Pensando no gosto do avô por literatura – escreveu 14 livros –, Rita criou um livro da família: cada um escreveu uma breve apresentação de si mesmo, descrevendo atividades que vinha desenvolvendo e suscitando algumas memórias e costumes antigos. O resultado foi surpreendente: o avô se apegou muito à obra, e passou a tratá-lo como um retrato de sua vida.

“Todos esses trabalhos tiveram pensadas a tipografia e o layout. O livro tem um parágrafo por página e letra muito grande para facilitar a leitura”, afirma Rita, que lembrou de utilizar as letras de máquina de escrever, muito utilizada pelo avô. “Através da forma escrita e do livro conseguimos chegar até ele.”

Avô adotou o livro feito pela neta como obra de sua vida.

A doença de Alzheimer causa uma deterioração progressiva e irreversível de funções cognitivas como memória, atenção, concentração, linguagem ou pensamento. Por conta disso, a avó de Rita – “uma excelente cozinheira” – não tinha mais capacidade nem para tarefas simples como pôr a mesa.

Rita não teve dúvidas: desenhou uma toalha de mesa com desenhos dos utensílios e a localização de cada um. “Ela conseguiu fazer a ligação visual entre os desenhos e os talheres e ficou feliz quando pôs a mesa sozinha. São ideias muito simples que funcionam bem”, observa.

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Ela ressalta que, partindo de uma questão que lhe afetava diretamente, sempre teve o objetivo de ampliar os resultados para as famílias atingidas pelo mesmo problema. “Quando meus avós foram diagnosticados com Alzheimer ninguém sabia bem o que era. Hoje, vejo as coisas de outra forma: é importante haver mais informação para conseguir lidar com a pessoa com demência. Espero que possa ajudar um bocadinho nesse sentido”, projeta Rita.

“Quando há mais comunicação há mais articulação entre a família. Quanto mais projetos falarem dessa problemática de uma forma positiva, melhor”, finaliza.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Acredito que o sucesso, se

    Acredito que o sucesso, se houve, no tratamento aos acometidos por alzheimer, foi mais no sentido de postergar a morte deles. 

    Quando, no final dos anos 80, a esposa do meu tio foi a primeira vítima que conheci, o desenvolvimento do quadro dla foi gravíssimo, e com uma série de situações bastante dlicadas. Começou desmemoriada, sem se compreender nem mesmo no ambiente de sua própria casa; passou a odiar a única filha e a neta que mais gostava; tentou fugir de casa por diversas vezes; e, a coisa mais incrível: foi perdendo peso em breve espaçod e tempo. Uma mulherzona se transformou numa pessoa magrinha, até se prostrar, vegetar, e passar, enfim, doze anos vítima da enfermedidade. Os picos de agressividade foram grandes, ao ponto de quase matar a própria filha com um pedaço de pau, sempre negando ser mãe dela. Morreu em 1998. Ela foi pega pela infeliz pouco depois dos 65 anos.

    Em 1998, minha irmã, por parte de pai, contando com seus 74 anos, começou a apresentar sinais da doença. A diferença entre ela e a esposa do meu tio foi não ter sido agressiva, jamais; pelo contrário: as agressividades dela se diluiram com a doença. Virou uma pessoa muito doce. Mas ocorreu o de sempre: passou a detestar quem ela gostava e vice-versa. Não mudou ficsicamente, e foi perdendo todos os sentidos, aos poucos. Fez seus 90 anos em novembro passado. Internada num casa de idosos, fica entre a cama e uma cadeira de rodas, mas ainda vai à mesa pra receber a comida. É possível que ela esteja entre aqueles doentes que podem passar aé 20 anos, ou mais nessa situação. 

    Talvez a medicação indicada para aquela não seja a mesma prescrita pra minha irmã, daí algumas diferenças na evolução da doença. Por exemplo: foi importante minha irmã não ter partido pra violência contra as pessoas, ou logo ter ficado na pele no osso. Por outro lado, a degeneração é a mesma. 

    Rita Maldonado tem razão em achar que tudo que familiares e amigos fizerem em prol da felicidade desses doentes devem ser divulgadas, se apresentão resultados positivos. Os médicos estão lutando, fazendo o que podem, mas estão a a anos luz de saberem, ao certo, como atingir o cerne da questão: impedindo a morte dos neurônios sobreviventes.

     

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