Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O dia do agricultor é hoje, por Rui Daher

por Rui Daher

“Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar”, escreveram Milton Nascimento e Caetano Veloso, em “Paula e Bebeto”, de 1975. Lindo, não? Tudo. Letra, música, história inspiradora (pesquisem), enfim, uma qualquer nota das melhores.

Há quaisquer notas, porém, muito ruins, nem tanto pelo desafino, pois em peitos desafinados também batem corações, mas sim pelo que se fala ou escreve sem saber da realidade, apenas papagaiando chavões ideológicos, assertivas falsas. Fosse apenas para ganhar público similar, sem problema, merecer-se-iam. Mas não, desinformam, confundem e, pior, prejudicam aos que pensam defender. No meu caso, trazem amofinação e perda de tempo.

Neste GGN são frequentes suas aparições. Recentemente, alguém citou nossa vocação agrária ser uma velharia catalisada, agora, por uma campanha da Rede Globo. “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Bastariam os 36 anos do programa Globo Rural, com matérias sobre assentamentos bem-sucedidos, agricultura familiar, novas tecnologias e, por que não, agronegócio para desqualificar a ilação. E olha que os que me leem conhecem o quanto sou crítico com as “Organizações”.

Não discuto a qualidade publicitária, me insurjo contra quem assalta a verdade usando chaveiros-canivetes argumentativos para culpar o agronegócio que, repito, não é um personagem reacionário treinado por Donald Trump ou Jean Marie Le Pen. É somente um setor da economia, como qualquer outro, parte da dinâmica do sistema capitalista, indústria e serviços agregando valor à agropecuária. Personificá-lo como bom ou ruim é uma estupidez.

Não o defendo, porque não precisa. Sempre existiu, originado há séculos e, nos últimos tempos, teve doenças exacerbadas pelas formas tomadas pelo capitalismo. Como não o entender e reconhece-lo irreversível?

De tanto criticar suas nuances, sei que trouxe, traz e ainda trará inúmeros malefícios ao planeta. Como também benefícios. Uns e outros vindos de anseios alimentares, têxteis, madeireiros e combustíveis do consumo humano. Agregou tecnologia, mas devastou biomas; gerou excedentes, mas não os distribuiu de forma adequada; desbravou fronteiras, gerando polos urbanos modernos, mas acentuou o êxodo e a miséria entre a população rural.

Se quiserem trabalhar com seriedade, conheçam-no para evitar os prejuízos que provoca e melhor aproveitar as oportunidades que oferece. Sojicultores que plantam 10 mil hectares, assentados que plantam marmelo, aldeias indígenas e quilombolas que plantam mandioca, famílias que plantam feijão, são todos agricultores.

Vinte e oito de julho é o dia deles. O Brasil lhes agradece.

Notaem meu artigo a ser publicado amanhã no site de CartaCapital e, costumeiramente, aqui no fim de semana, amplio o debate com dados estatísticos que comprovam meus argumentos.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

6 Comentários

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  1. beleza de post, parabéns…

    trabalho vital para todo o país

    sempre encarei nossos agricultores, de suas mãos até suas máquinas, uma benção

    que sigam, e seguirão, sempre felizes, confiantes e cientes de que são de uma importância sem outra igual, os que têm a terra e/ou a natureza como escritório

    muita força para todos os nossos agricultores

  2. dia do agricultor…

    Hoje deveria ser feriado nacional. Parabéns Viçosa, parabéns Esalq, parabéns fantástica, fabulosa EMBRAPA Empresa “BRASILEIRA” de Pesquisa Agropecuária, mas se me permitir, parabéns João “Piaça”, agricultor do PR, veio morar em Guarulhos (ou seja na periferia da periferia da periferia de São Paulo) trabalhar em alguma indústria. Não via futuro. Gente do mato, entusiasmado com seu povo, que fazia o mesmo, decidiu ir para Rondônia nos anos de 1980. Ele e 5 mulheres. A esposa e quatro filhas. Não deu certo, voltou. Mas já pensando no retorno, agora conhecendo mais a realidade do lugar e um pouco mais “preparado”. De volta à Rondonia para plantar café. Os sogros também tentaram, mas 4 ou 5 malárias depois, desistiram.  Duas horas de caminhada por um trilho para ir do seu lote à BR, esperar um ônibus por dia para ir à cidade mais próxima a 6 hrs. de distância. Há alguns anos, num dos raros contatos, soube que adquirira uma fazendinha, comércio na cidade, genros,netos e bisnetos e estava muito bem de vida. Este é o agricultor brasileiro. Não passa em horário nobre. Se ao menos as pessoas assistissem ao Globo Rural e constatassem as mudanças, desenvolvimento, progressos que a agropecuaria trouxe para este país nestes 36 anos, não falariam tantas besteiras. Abs.   

    1. É isso aí, Zé Sérgio

      E não vamos nos esquecer também do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, que em conjunto com a CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral foram os inventores do feijão carioquinha, e ainda as Emater, as empresas de assistência técnica, etc. 

    2. Zé Sérgio,

      bom receber comentários seus e do Fernando, que entendem do assunto. Não sei se leram os absurdos postados aqui por um cara do Diário não sei o que lá e um economista do INCRA sobre a nossa vocação agrária. Cacete! Desculpem-me. Como nossa? Já andaram por este país terciero mundista? Queriam o quê? Antes de desenvolver a agropecuária fôssemos à lua? Abraços amigos.

      1. dia do agricultor…

        Obrigados. FernandoJ, não daria para escrever todos os centros de pesquisa, um mais espetacular que outro. Ainda se acredita ( e se divulga) que é só jogar a semente no chão e esperar correr no banco. Falando em Globo Rural, lembra nos anos de 1980, das maçãs catarinenes do tamanho de azeitonas, pela falta de condições climáticas para seu desenvolvimento? Vá hoje em SC. Novamente, parabéns a todos cientistas e agricultores que propiciaram tamanho desenvolvimento. Caro sr. Rui, não entendo absolutamente de nada do que escrevi. Mas ainda enxergo. As matérias citadas, ao meu ver, o pior é constatar que profissionais da área, funcionários do governo que deveriam entender de todo universo da realidade social e agropecuaria do país ainda estão atrelados à informações tão rasas e tão distorcidas. Ou nem isto, são apenas desinformados. Tal situação é imperdoável na sociedade em geral, mas entre as pessoas que devem projetar o Brasil é extremamente lamentável. Abs.

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