Sobre neoliberalismo e pós pós modernidade

 

Sobre neoliberalismo e pós pós-modernidade.

Montei esta reflexão mal pensada em função de uma pergunta do colega Hermeneuta num texto do amigão Zé da China no Portal Luis Nassif, a respeito da arquitetura sob a estética da era pós-moderna, que para mim está estreitamente atrelada ao chamado neoliberalismo na economia e todo pensamento pseudo liberal, mas no fundo autoritário, que lhe dá sustento no meio social. Há muito liberalismo para o homem possuidor de capital, mas cada vez menos liberdades civis, cidadãs, para o homem comum.

Vivo pensando no dia em que viveremos a era da pós pós-modernidade. Talvez já estejamos vivendo em seu início, mas esse movimento ainda não está claro, pois há muitos reacionários no plantão, que insistem em manter o pé no pedal do acelerador do câncer neoliberal. Sou otimista?

O esdrúxulo termo “pós-moderno” apareceu mais ou menos na mesma época que outros termos igualmente imprecisos, reacionários e arrogantes que vieram junto com a onda neoliberal ao final dos anos 80. Termos que vieram tentar dar sustentação e base teórica à arrogância neoliberal.

O auto proclamado neoliberalismo é apoiado em economistas e filósofos de quinta categoria, pois não oferece respaldo teórico prestável ao próprio capitalismo que ele se propugna a praticar e defender. Economicamente ele substitui noções de comportamento caras ao capital por noções totalmente carentes de sentido para o próprio capitalismo. Por exemplo, propõe lucro maximizado pelo custo mínimo, sem levar em consideração o estreitamento de mercado que ocorre ao se super pressionar a economia pelo lado do custo, com a diminuição correspondente da demanda que isso ocasiona ao se apertar os fornecedores, produtores de bens primários e pequenos proprietários até a sua falência, com as implicações sociais e “consumistas” subsequentes. Incita a velocidade nas trocas de mercadorias, sem levar em consideração a visão de custo de materiais, de insumos, do impacto ecológico e social das decisões, ocasionando ganhos imediatistas, porem sem fôlego econômico permanente devido a conseqüente degradação dos meios de produção. É mais concentrador que o capitalismo de cunho keynesiano ao desestimular as políticas compensatórias do Estado, para as populações de baixa renda que não conseguem se ajustar à velocidade do mercado neoliberal, deixando para trás enormes bolsões de pobreza e seus problemas recorrentes. Retira os marcos regulatórios de controle fiscal e consequentemente social do Estado sobre os bancos e grandes financeiras deixando que ocorra a criação de renda sem lastro com a multiplicação da moeda do papelório inflado artificialmente, estimulando o anti empreendedorismo e o ganho de capitais especulativos sem risco, ou seja, o capitalismo de vagabundos. Colocam regras de proceder e de mercado que servem para os outros, mas não para neoliberais endinheirados cumprir. Aqui em nossa terrinha, “bobão elitoso brazuca” adora declarar-se “liberal”, sonha com o capitalismo preconizado por Adam Smith, acredita piamente que exista “livre competição de mercado”. Só que no final das contas, no capitalismo realmente existente o que vemos são quatro mega conglomerados controlando toda a indústria musical do mundo, ricos impondo barreiras e tarifas aos produtos dos pobres, oligopólios praticando dumping, guerras de rapina para saquear petróleo dos outros, um setor financeiro que sob o pretexto de “financiar a produção”, na realidade se desregulamenta e se auto infla com rendimentos acima do que foi produzido, tornando-se um sugador do trabalho alheio, e claro, fator de desequilíbrio econômico.

Ao ser confrontado com esses fatos, o máximo de crítica que o neoliberal de carteirinha aceitará é que, no “verdadeiro liberalismo”, essas coisas deverão ser “corrigidas”, pois a “competição pura” se dará entre honestos e probos empreendedores, os quais respeitarão os direitos dos perdedores (empregados). Papo parecido com o de “intelectual” marxista falando sobre o fim da “ditadura do proletariado” e a vinda do paraíso comunista. É incrível como gente inteligente na esquerda e na direita acredita que um dia existirá um paraíso na Terra, onde todos estarão plenamente felizes e adaptados.

Para que esse sistema (?!) fosse possível, uma “novilíngua” haveria que ser criada. Tudo que atrapalhasse a lógica utilitarista deveria ser desconstruído em prol do “pensamento único”. Vai daí que trabalhador começou a ser ofendido com a pecha de “colaborador”. Substitui-se o cidadão pelo “consumidor”. Duas meias verdades passam a valer como uma verdade inteira. O indivíduo passa a ser o foco principal, tudo que leva o termo “social” tem que ser demonizado. “A soma dos nossos egoísmos vai dar condições de avanço econômico para todos” (Milton Friedman), aliás, tudo se resume a satisfação econômica, todo o resto das aspirações humanas passam a ter importância secundária. Cria-se admiração pelo “workaholic” uma figura que esbanja falta de imaginação, trairagem com os companheiros de trabalho e normalmente “baba ovo” de chefes e patrões. O negócio é trabalhar muitas horas sem reivindicar nada, afinal segundo as leis do mercado malandro, ganhamos exatamente o que merecemos. Vi na TV um desses vagabundos “gênio de consultoria economica” dizendo que professores ganham mal porque são muitos. Pode? E quando eles forem poucos, os 6 bilhões de seres que caminham na terra irão…, deixa prá lá. Exacerba-se a “ultra competição” laboral e a violência psicológica, e as vezes até física, se justica na cabeça de certa peãozada ignara fascinada pelo hedonismo dos “bem sucedidos”. É o salve-se quem puder por uns trocados a mais. O “ter” passa a ser valorizado em detrimento do “ser”. Nas artes, a arte moderna, um verdadeiro rompimento estético com o que havia anteriormente, foi substituída pela arte pós-moderna, uma arte que atende apenas à lógica mercantilista e utilitarista, sem levar em consideração um maior engajamento com a estética do universo sócio político ou econômico e sequer com a vida das pessoas comuns. Toda arte é pensada em seu potencial de venda, e logicamente se dá um empurrão via propaganda e mídia para que as pessoas “gostem das coisas certas”. Arte com qualquer engajamento crítico ou político é desestimulada. A sociedade do espetáculo, dos gênios sem livros, das prima-donas e palhaços sem cultura se instala com mais força do que de hábito na história humana. O Estado é demonizado, os donos de empresas e ricos em geral (o Ronaldinho vale) são os que sabem o que é melhor para todos. Aparece um idiota de olhinho puxado e diz que a história acabou…

Talvez a humanidade não sobreviva ao esgotamento de recursos ora preconizado pelo neoliberalismo predador e “consumidor”. Talvez a nossa história acabe mesmo. Agora sou pessimista? Afinal, o crescimento populacional levou à sociedade global problemas concretos de degradação do bioma terrestre. Coisa mais concreta e grave que disputas ideológicas entre grupos de pessoas ou mesmo países. Há que se encontrar a práxis e sua ideologia de sustentação para uma solução de continuidade biológica e social do ser humano globalizado e banalizado. Certamente o neoliberalismo deixou bem claro sua característica de “Titanic” desgovernado, não é solução para o problema sócio econômico de natureza global da humanidade, ao contrário, ele a causa e agrava. Há que se pensar numa forma de socialismo democrático, dinâmico, sem autoritarismo, que estimule a meritocracia na medida certa, respeitando a individualidade das pessoas sem desumanizá-las.

Não nos esqueçamos que as sociedades e maneiras de produção praticadas no chamado “socialismo real”, também foram e são altamente poluidoras, injustas com o indivíduo e suas aspirações, e não conseguiram obter uma realidade econômica, social e política aceitável (ao menos aos olhos deste escrevinhador), mesmo porque todo poder abusivo gosta de justificar a opressão aos indivíduos com a desculpa do “fazer o bem à coletividade”. É necessário que se abandonem velhas cartilhas que não analisam a atual realidade e ainda por cima querem que o mundo volte ao passado para depois se construir um futuro. Será preciso uma sociedade de defesa da cidadania, da educação e da técnica, com economia ecológica e sustentável. Isso exigirá uma radical mudança nas prioridades de produção, de educação, e das aspirações do ser humano. As ferramentas para o pensamento inédito existem, e as eventuais dúvidas de procedimento, podem e devem ser amparadas em pesquisas nos 100 mil anos de história do homo sapiens, basta pensá-las, construí-las e usá-las com sabedoria. Acredito que o Estado é uma evolução humana, ele é o garantidor da vida em sociedade, e considero que o hibridismo entre as iniciativas de cunho individual, que só podem nascer da liberdade individual, e as iniciativas que visam interesses coletivos, garantidas pelo aparato estatal, seja a melhor resposta possível para produzir o maior número de cidadãos felizes. Alteridade, civismo e sabedoria política é que definem o melhor. Porém essas características só surgem em políticos sábios, apoiados por seus povos, por consequencia eles só podem advir de povos sábios, coisa que as pessoas “esquecem”. 

O que consola é que como ensina o futebol, o jogo só acaba quando termina, e a nossa história ainda não chegou ao fim.                                                                                     

                                                                

Sérgio Troncoso

 

Redação

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