Explicando o crescente risco de esgotamento de outras represas de São Paulo

Explicando o crescente risco de esgotamento de outras represas de São Paulo

Nesta semana, possivelmente como parte de um processo de redução de danos à imagem do Governo de São Paulo, algumas medidas foram anunciadas por Geraldo Alckmin como soluções para contornar a crise hídrica: 1) a interligação dos reservatórios, como solução para o caso de “a água acabar” (de acordo com entrevista dada pelo Governador); 2) a redução da dependência do Cantareira, de forma a fazer com que sua vazão média de saída corresponda à metade do que era antes de a crise ser declarada; 3) a construção de 29 reservatórios (responsáveis pela armazenagem local de água, não pelo aumento de sua produção); 4) a construção de 3 estações de tratamento de água de esgoto com vistas a seu consumo doméstico.

Embora, em tese, algumas dessas iniciativas possam ser vistas como interessantes para, de alguma forma, atuar por sobre a grave crise em questão, chamo-as de factoides por surgirem de forma intempestiva, e por virem a ser implementadas possivelmente após o momento em que a população afetada venha a ficar sem água para suas tarefas mais cotidianas. Vale dizer que a maioria dos reservatórios referentes ao item 3 só ficará pronta daqui a um ano, e as estações de tratamento de água de esgoto só passarão a funcionar em 2016. Poderá ser tarde.

Gostaria de explorar aqui as duas primeiras medidas, em especial a questão da “interligação entre os reservatórios”. A abordagem permitirá com que entendamos algumas dimensões subestimadas da crise, em especial o risco crescente de que todos os demais componentes do Sistema Adutor Metropolitano (para além da Cantareira e do Alto Tietê, integram-no as outras quatro maiores represas que fornecem água para toda a região metropolitana de São Paulo – Rio Grande, Rio Claro, Alto Cotia e Guarapiranga) venham, também, a passar por um processo crítico de esgotamento.

O primeiro elemento, a interligação dos reservatórios, é uma demanda bastante antiga. Trata-se de uma solução que é válida a todo tempo, mas teria sido muito mais adequada se tivesse sido implementada antes do agravamento da crise hídrica. É óbvio que a interligação não significa um aumento global da água disponível, mas ela é importante para tornar o processo de produção do líquido algo realmente sistêmico e integrado. Tivesse sido adotado no passado, hoje o Cantareira, possivelmente, não estaria, já, tendo retirado o seu segundo volume morto. Mas, o que é mais grave, é que a falta de planejamento em sua adoção pode fazer com que – em um contexto de extrema adversidade como o atual – o seu emprego em lugar de outras medidas pode levar ao esgotamento das represas que ajudam aquelas que estão em situação mais crítica.

E por que isso? O que é interessante, ao discutirmos essa medida, é o fato de que ela desnuda um problema subsidiário, pouco comentado pela mídia: nossas “caixas d’água” são pequenas para a demanda populacional. Na verdade, esse é um problema gêmeo a outro, que é a questão da produção de água propriamente dita. Ambas geram o problema do racionamento, e as duas impactam uma na outra com relação à gravidade da questão do desabastecimento. Explico.

A temática da produção de água diz respeito à equalização da demanda por água (pelos cidadãos, de modo geral; pelo comércio; pela agricultura; pela indústria, etc) com a oferta do líquido, quer dizer, o quanto se consegue produzir de água para se atender ao público. De modo geral, esse foi (e é) um dos principais problemas históricos de São Paulo. O que é curioso nele é que em tantas e tantas ocasiões, o racionamento foi decretado enquanto os reservatórios estavam razoavelmente cheios. Isso ocorria porque ou os reservatórios não tinham capacidade de enviar toda a água necessária para as adutoras, ou as adutoras não tinham a disponibilidade necessária para atender a toda uma região. Então os racionamentos eram adotados para que uma localidade fosse plenamente atendida em um momento, para que então outra viesse a sê-lo no dia seguinte, por exemplo.

Já a questão do tamanho da “caixa d’água” (adoto o nome por didatismo) diz respeito à capacidade efetiva de um reservatório. De modo amplo, um reservatório pode ser considerado grande ou pequeno a depender do quanto de água se tira dele, e do quanto de vazão natural ele dispõe (a água que entra a partir dos rios que o formam). Também em linhas gerais, podemos dizer que a segurança hídrica depende do superávit entre essas vazões de entrada e de saída (que podem ser controladas a partir de instrumentos como as curvas de aversão ao risco, que estipulam o quanto do líquido pode ser retirado a depender do nível do reservatório – uma forma de evitar o seu esgotamento).

Na região metropolitana de São Paulo, o racionamento de primeiro tipo foi equacionado como um problema por volta do ano 2000. Ainda assim, até antes da crise hídrica ser percebida, ainda eram comuns os casos de desabastecimento em alguns pontos específicos – i.e., a cobertura de abastecimento não alcançou os 100%, mesmo em São Paulo. Mas, é preciso ponderar que o Governo sempre correu atrás de atender ao crescimento da demanda, jamais conseguindo fazer com que a oferta conseguisse equacioná-la – muito menos abrir uma pequena “vantagem”.

O equilíbrio entre o tamanho da caixa d’água e a produção de água é afetado não só pelas estiagens, que diminuem as vazões de entrada: também um aumento da oferta sem o correspondente incremento das dimensões dos reservatórios também repercute em riscos de déficits. E, a partir desse desequilíbrio inicial, outros maiores podem começar a ocorrer, conforme os reservatórios esvaziam, perdem eficiência em seu processo de transferência de água (que, em geral, ocorre por gravidade) e, então, demandam a retirada de mais água de outros, que se esgotam mais rapidamente. É essa a situação que enfrentamos agora, por exemplo, no Alto Tietê (em especial nas represas de Paraitinga e Biritiba), e no Cantareira (no reservatório intermediário, de Cachoeira).

Por sinal, em 2005, por exemplo, houve a expansão do Alto Tietê, a partir da inauguração das duas represas mencionadas acima. Elas permitiram com que, em tese, a produção de água subisse em 5 m³/s (de forma a fazer com que a oferta quase alcançasse a demanda, que começava a superá-la naquele momento). Essa expansão, na prática, só começou a ocorrer em 2011, quando finalmente foi inaugurada o aumento da capacidade de tratamento da ETA Taiaçupeba. A questão é que essas duas represas, juntas, têm uma capacidade útil de 70 hm³. O sistema inteiro, quando produzia 10 m³/s, tinha aproximadamente 450 hm³. Ele teve a sua capacidade de produção aumentada em mais 50% (mais 5 m³/s), e o seu tamanho em mais apenas 16%. É óbvio, portanto, que esse novo contexto ampliou o seu risco de esvaziamento (especialmente se considerarmos que as vazões naturais não são elevadas o bastante para compensar esse cenário).

Toda essa explicação nos é útil para esclarecer a ideia de que nossas caixas d’água são pequenas para as demandas da população. Mais significativamente, elas são diminutas considerando-se que as expansões promovidas pelos governos tucanos foram pífias ao longo desses 20 anos. Do ponto de vista da expansão da produção, o que se conseguiu foram ou novas outorgas que permitissem retiradas maiores de água, ou melhorias e inovações tecnológicas que ampliassem a eficiência e a produtividade dos reservatórios já existentes.

Em outras palavras, a produção de água foi aumentada, mas a reservação, praticamente não. Nós tínhamos uma produção, em 1998, de algo como 58 m³/s, e agora, até o começo da crise, chegou a 70 m³/s. Esse incremento veio, conforme já comentado, a partir da expansão do Alto Tietê (5 m³/s), da renovação da outorga do Cantareira (mais 3 m³/s), da reversão do Taquacetuba (braço da Billings) para o Guarapiranga (mais 2 m³/s), da ampliação da retirada do Rio Grande (1 m³/s) e de outras pequenas melhorias operacionais.

Ou seja, ampliou-se, nesse anos, a capacidade de produção em cerca de 20,7%, mas e a capacidade de reservação? Em 1998, ela já era bastante similar à atual: apenas houve a enunciada expansão real do Alto Tietê, e de apenas 70 hm³. Se considerarmos os volumes operacionais de todos os reservatórios, ocorreu um incremento, então, de apenas 4,6% (de 1.526 hm³ para 1.596 hm³). O pequeno “pulo do gato”, aí, foi que a nova outorga do Cantareira permitiu a retirada de mais 209 hm³ do Jaguari-Jacareí (o qual, obviamente, não aumentou de tamanho, mas sim passou a ter parte daquilo que era considerado como volume morto em 2004 como volume útil). Considerando-se esse artifício, a “caixa d’água total” teve um aumento de 18,1% ao longo desse período. Trata-se, no entanto, de uma contagem equivocada, que dá uma falsa sensação de expansão, dados os motivos expostos acima.

Se a expansão da produção pode ser considerada, então, como insuficiente, o incremento real da capacidade de reservação não pode ser visto como nada menos do que desprezível. É por isso, então, que se no começo da crise a função da interligação das represas serviria para prolongar o período até o colapso do sistema, neste momento a adoção de tal medida terá ainda menos potencialidade de superar o problema. Pelo contrário, funcionará como uma espécie de “transferência da crise”, acelerando a escassez em outros reservatórios.

Por um lado, a interligação das represas poderia ser útil por permitir com que aquelas que estivessem situadas em regiões em que as médias de chuvas fossem maiores (como o Guarapiranga e o Rio Grande) transmitissem às demais o seu “excedente” de água. Por outro, tendo-se em vista que a situação do Cantareira e do Alto Tietê é absolutamente dramática, a necessidade de auxílio por parte dos demais reservatórios é imensa. E aqui, mais uma vez, voltamos à questão do tamanho das represas. Justamente os dois sistemas em condições mais adversas são os dois maiores: o Cantareira, com uma capacidade total (incluindo até a 3ª cota do volume morto) de 1.459 hm³; o Alto Tietê, com 527 hm³ (já contando com os 10 bilhões de litros do volume morto de Biritiba). Os dois, somados, correspondem a mais de 86% da capacidade total do chamado “Sistema Adutor Metropolitano”. E estão praticamente vazios.

Para piorar, os demais sistemas enfrentam, também, uma situação de escassez relativa – menos grave do que a vivida nesses dois acima, mas também já considerada relevante. Conforme são feitas obras para que os sistemas sejam interligados para salvar o Cantareira (e aqui cabe explicar que não se trata de uma interligação propriamente dita, como poderia ocorrer, mas sim da implantação de boosters e outros equipamentos capazes de enviar a água produzida por um manancial para “mais longe”, de forma a avançar por sobre o território atendido por outro manancial), mais água acaba sendo deles retirada. Em tese, as outorgas concedidas pelo DAEE à SABESP impediriam a extração de mais água do que o estabelecido no documento, mas não sabemos se isso está sendo respeitado nessa situação excepcional (já vimos que no caso do Cantareira os limites de retirada foram desrespeitados, e o mesmo elemento foi questionado, no caso do Alto Tietê, por uma Ação Civil Pública).

O aumento do ritmo das diminuições ocorridas em cada reservatório é um indício de que está, sim, ocorrendo uma saída de água ainda maior do que a existente em condições normais (ou, em hipótese, uma piora significativa das vazões de entrada, o que considero menos provável). A consequência disso é que o problema trágico vivido por Cantareira e Alto Tietê vai alcançando os outros mananciais – os quais são muito menores. A crise hídrica tem o potencial de se tornar, então, um evento cataclísmico ainda muito maior se Guarapiranga, Rio Claro e Rio Grande secarem – mais 7 milhões de habitantes serão afetados, de forma decisiva. E, até onde se sabe, eles não possuem volume morto. A recuperação desses mananciais, então, poderia ser tão lenta quanto a observada para o Cantareira – se ocorrer. Seria a hecatombe que comprovaria a tese, hoje ainda bizarra, de necessidade de evacuação populacional da região metropolitana – e isso em um intervalo de tempo menor do que 1 ano, se as médias de vazão de entrada forem similares às do verão 2013/2014.

Para que tenham uma ideia do cenário atual, em que a crise começa a se tornar clara para todo o sistema produtor – e suas 6 maiores represas – montei a tabela abaixo, a qual reúne uma série de dados relevantes. Explico a seguir.

Na primeira coluna, apresentamos a capacidade total aproximada de cada sistema/reservatório (incluindo, onde cabível – e cognoscível –, as “reservas técnicas”). É possível observar, conforme comentado, que Cantareira e Alto Tietê são muito maiores do que as demais. Na verdade, Alto Cotia e Rio Claro são, praticamente, tanques, já que suas barragens represam muito pouca água. A peculiaridade de Rio Claro é a de que parte considerável das suas vazões de saída advém de outras fontes: apenas 1 m³/s de seus 4 m³/s são oriundos da represa; os demais vêm de captações de rios, de piscinas naturais e até mesmo da interligação com a represa Ponte Nova (a maior do Alto Tietê).

A segunda coluna nos apresenta a quantidade de água disponível no conjunto das represas. Aqui, fui generoso e contabilizei toda a 3ª cota do volume morto do Cantareira como disponível. Observamos que, embora em situação mais do que crítica, Cantareira e Alto Tietê ainda possuem 67,25% de toda a água a ser distribuída para a população – mais um sinal de que a crise é ainda mais séria do que aparenta, e de que não podemos contar, seriamente, com a compensação de outras represas. Ou seja, nas atuais condições, dada a falta de investimentos, é um factoide imenso considerar, como fez o governador, a ideia de se reduzir a dependência do Cantareira (a segunda medida enunciada no começo deste texto).

Aqui cabe explorar um pouco essa questão, conforme prometido. Alckmin havia prometido, até “o início do inverno de 2015” (momento em que, de acordo com meus cálculos, ocorre o esgotamento total do Sistema, se persistirem as condições atuais), que haveria a redução da retirada de água do Cantareira em 50% quando comparado com o que era feito antes da crise – classificando o feito como “fantástico”. Ora, hoje já são retirados 22,5 m³/s (menos, até, nos últimos dias), e a outorga permitia a saída de até 36 m³/s. Ou seja, 62,5%. Até Junho de 2015, apenas mais 4,5 m³/s deixarão de ser captados, diariamente, do Sistema. E essa diminuição dependerá do aumento da produção de outros sistemas: está previsto, por exemplo, o aumento de ajuda do Guarapiranga: mais 1,5 m³/s a partir de Fevereiro de 2015. Parece claro, então, que nem a diminuição da retirada do Cantareira poderá ser suficiente para evitar seu esgotamento, nem as condições dos demais reservatórios permite uma segurança tal que viabilize transferências de vazões sem que suas condições sejam colocadas em risco.

A coluna do “tamanho da caixa d’água” explica em números o que dizia mais acima: nossos reservatórios são pequenos para o tamanho das demandas da população e para as ofertas de água realizadas pela SABESP. Vejam que o Cantareira, apesar de tudo, ainda é o reservatório que mais tem condições de aguentar uma estiagem. Notem como o Guarapiranga, o Alto Cotia e o Rio Claro possuem uma “autonomia” muito menor – ao mesmo tempo em que, por razões óbvias, são aqueles em que as precipitações mais influenciam, relativamente, no volume de água armazenado (área consideravelmente menor para que as chuvas caiam e produzam efeito).

Vale notar, então, quais são os reservatórios que estão “ajudando” o Cantareira: Alto Tietê e Guarapiranga (2,1 m³/s cada), Rio Grande (0,8 m³/s) e Rio Claro (0,7 m³/s). No caso do Alto Tietê, a ajuda começou ainda em Dezembro de 2013 (o que foi anunciado pela mídia apenas em Fevereiro, quando a crise foi publicizada), e depois foi ampliada em Julho. Depois, o Guarapiranga começou a ser utilizado (1,1 m³/s), sendo que agora em Novembro mais 1 m³/s passou a ser retirado – o que acelerará o nível do déficit desse reservatório. Rio Claro e Rio Grande passaram a colaborar em Julho e no final de Setembro, respectivamente. Por esses dados, vemos o quanto a “economia” trazida pelo bônus ainda é absolutamente irrisória: mesmo que consideremos que não haja mais nenhum fator que contribua para a redução da oferta de água (como as válvulas redutoras de pressão), a diminuição da produção de 70 m³/s para 64,4 m³/s significa que houve, apenas, 8% de redução no consumo, caso admitamos uma equivalência plena entre produção e demanda. Há muito o que percorrer na mudança de cultura de uso da água.

Essas retiradas a mais de água, então, impactam o nível global de perdas diárias. Se o Cantareira e o Alto Tietê continuam perdendo bastante de sua capacidade por dia (1,8 bilhão de litros no total, se somados), os demais contribuem com mais de 1,3 bilhão de litros de déficit. O desequilíbrio recente entre oferta e demanda é tão impressionante quanto negligenciado pelos meios de comunicação – são produzidos 64,4 m³/s, mas a demanda supera a oferta em 36,5 m³/s. Trata-se, inequivocamente, de uma situação insustentável, caso as condições permaneçam como as atuais.

E, se mesmo com a redução das vazões de saída do Cantareira é possível observar que seu esgotamento absoluto está próximo (230 dias, no cálculo grosseiro realizado na tabela – 21 de Julho, na estimativa que realizei no artigo que publiquei no começo da semana), o mesmo se torna evidente com relação aos demais reservatórios: em tese, à exceção do Rio Grande, todos podem se esgotar em menos de 100 dias, ceteris paribus. É óbvio que há a probabilidade concreta de que o desabastecimento possa durar mais do que isso, já que estamos entrando no período chuvoso. Mas a preocupação não deve estar no próximo mês, mas em 2015. É impossível não conjecturar sobre o quão severo deveria ser o abastecimento em Abril ou Maio mesmo na situação em que todos os reservatórios estejam, nesse momento, com exatamente o mesmo volume de água que possuem hoje – o que é, sim, uma realidade concreta.

Conforme os outros reservatórios são demandados para além da sua capacidade e começam a secar, será natural que deixem de ajudar uns aos outros, generalizando a situação de colapso, já que o fim do socorro pode significar a volta da radicalização do desabastecimento da represa “ajudada”, e um fôlego momentâneo para aquela que fornecia suporte. Corre-se o risco de se viver em uma contínua “sinuca de bico”, em um permanente xeque-mate da crise hídrica contra a falta de planejamento do Governo do Estado, até o ponto em que a insustentabilidade não possa mais ser camuflada. Se não vivenciarmos, a partir de agora, um contexto hidrológico e pluviométrico olimpicamente favorável, é para esse cenário aterrador para onde, inexoravelmente, caminharemos.

Se há alguma solução para a crise hídrica neste momento, para agora, ela está necessariamente no equacionamento drástico da oferta e da demanda por água. Todas as iniciativas de infraestrutura, mesmo que corretas, demorarão a ser implementadas. Não se pode correr o risco de, simplesmente, deixar a população sem água, esperando até que fiquem prontas. Será fundamental diminuir ao máximo o déficit atual entre entrada e saída de água. É preciso ser realista quanto a isso: se os níveis de todas as represas continuarem diminuindo, haverá uma tendência de que as vazões de entrada também diminuam, e de que as tão comentadas chuvas tenham uma eficácia muito menor do que a usual em aumentá-las neste verão. Não há o menor cabimento em termos um governo com um orçamento de quase 200 bilhões de reais cuja medida de curto prazo mais consistente é anunciar que a “chuva está cada vez mais próxima”. É preciso que tomemos ações que, se talvez já não sejam mais tempestivas, não possam ser vistas, daqui a alguns meses, como meramente cosméticas. Difícil dormir com esse barulho.

Redação

30 Comentários

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  1. Sistema Cantareira

    Prezado Sérgio,

    1) Por que a vazão de saída do reservatório Cachoeira foi reduzida de 2,5% para 2,08% entre os dias 06 e 07/11? Foi uma medida da Sabesp para economizar o volume do Cachoeira?

    2) Pela média da diminuição de volume dos reservatórios Atibainha e Cachoeira nos últimos 6 dias, o Atibainha seca no dia 23/11 e o Cachoeira no dia 27/11. Do dia 6 para o dia 7, o Atibainha perdeu 12,96 m3/s e o Cachoeira 4,82 m3/s. Ou seja, um total de 17,78 m3/s. Gostaria de saber se é possível que a Sabesp transfira 21,41 m3/s (17,78 m3/s + 3,63 m3/s transferidos efetivamente) de água, por dia, do sistema Jacareí/Jaguari para o sistema Cachoeira? Nos últimos 15 dias, o maior valor transferido foi de 11,47 m3/s e a média foi de 6,38 m3/s. Pelo que estou percebendo, o pior cenário apontado por você no artigo “Quando vai acabar a água do Cantareira e do Alto Tietê? Cenários” está mais próximo de se concretizar. 

    1. Oi, Nexus. Em tese, a redução

      Oi, Nexus. Em tese, a redução da vazão do Cachoeira para o PCJ ocorre em razão da elevação relativa da vazão desses rios a jusante do reservatório (devido à ocorrência das precipitações dos últimos dias).  Quando houve o deferimento da liminar que impediu a retirada da segunda cota do volume morto até 30 de Novembro, o juiz estabelecia que as vazões mínimas para o PCJ, em nenhuma hipótese, poderiam ser menores do que 3,75 m³/s. Como ela foi derrubada, creio que agora a SABESP poderá até reduzi-las a 3 m³/s sem cometer ilegalidade (mas sabemos que as consequências podem ser desastrosas para Campinas e o entorno caso essa vazão seja mantida sem que novas chuvas ocorram).

      No meu entendimento, não está havendo maior transferência por parte de Jaguari-Jacareí em virtude da não-conclusão das obras da ensecadeira para a extração da segunda cota. Foi noticiado no Estadão que, de fato, estão utilizando apenas 3 bombas (o que dá uma capacidade nominal de algo como 7,5 m³/s), já que, de acordo com a própria SABESP, não é possível extrair mais do que isso sem que ocorra revolvimento do lodo. Eles estão mantendo a extração na cota 815,9, sem diminuí-la, o que significa que, basicamente, estão retirando o equivalente das vazões de entrada nesses reservatórios, de forma a manter uma situação equilibrada. Isso, é claro, está repercutindo no rápido esvaziamento do Cachoeira e de Atibainha (que já teve retirado, sem repercussão na mídia, o equivalente a 70% de sua segunda cota do volume morto). É a partir daí que notamos a existência de um risco já razoável de vermos a realização de um daqueles cenários mais críticos que eu havia delineado na semana retrasada. 

      1. Sérgio, obrigado pelas

        Sérgio, obrigado pelas respostas.

        Pelo que eu tinha entendido, em um artigo publicado anteriormente por você, haveria a necessidade de instalações de bombas para retirar a 2ª cota do volume morto. Você sabe se isso já foi feito ou está sendo feito?

        1. Nexus, as obras estão em

          Nexus, as obras estão em andamento. O Alckmin disse há mais de um mês que elas estavam quase concluídas, mas não é verdade. Houve um atraso grande no timing da contratação. Pelos meus cálculos, na melhor das hipóteses elas ficariam prontas em 15 de Novembro. Mas vi um vídeo no Youtube, de umas duas semanas, que indicava que, pelo cronograma, as obras estariam atrasadas. Então o que é provável que ocorra é que utilizem toda a água da segunda cota do Atibainha e do Cachoeira (indo abaixo dos mínimos autorizados, se possível e viável).

          1. Sistema Rio Claro

            Sérgio, você sabe a que se deve o aumento do volume do Sistema Rio Claro? De ontem para hoje o volume aumentou 6,6%, sendo que não houve registro de precipitações para o sistema.

          2. Reservas extras

            No cômputo do volume restante no Cachoeira e Atibainha, a Sabesp está obedecendo aos limities mínimos autorizados? Na verdade gostaria de saber se existe ainda alguma quantidade extra de água, além daquela que está sendo apresentada no site da Sabesp.

            É possível que outros sistemas (Guarapiranga, Rio Grande) forneçam mais água para as regiões hoje atendidas pelo sistema cantareira?

  2. Desde o começo do ano tenho

    Desde o começo do ano tenho acompanhado seus artigos e os que saíram no Tijolaço com grande interesse por morar em um bairro da Zona Norte de S.Paulo. O modo como a situação se apresenta para os próximos 2-3 anos me faz pensar que a situação ultrapassou a incompetência administrativa e o estelionato eleitoral.

    Por um lado, a negligência com que a imprensa tem tratado a situação causa um péssimo efeito na população que não está se preparando para uma situação de completo desabastecimento. Tenho visto pessoas que acham que por estar chovendo não é masi necessário economizar. A noção de que a situação é grave, apesar das chuvas, não chega até elas porque a imprensa vem endossando as falas do governador Geraldo Alckmin.

    Por outro lado, obras de grande porte implicam em licitações, licenças ambientais e, possivelmente, desapropriações. Cabe perguntar, a quem aproveita deixar que se chegue a uma situação de total desabastecimento? Quem irá se beneficiar se for necessário suspender os controles nas contratações do governo estadual quando o tamanho da calamidade causada pela falta de água não puder mais ser maquiada?

     

  3. Nao sou nenhum conhecedor do

    Nao sou nenhum conhecedor do tema, mas gostaria de saber se há mesmo um processo de desertificação de S.Paulo, Coisas parecidas já aconteceram em outras partes do mundo, por conta de intervenções humanas desastradas,m principalmente, Ocupação econômica desastrada. Aconteceu em algumas regiões da Espanha. Aconteceu nos Estados Unidos, nas chamadas Altas planiveis ou Grandes planicies, a região do Vinhas da Ira. Se é isso que está ocorrendo em SP, em especial com o tipo de agricultura e manejo do solo (e dos rios), isso é grave e demora para corrigir, mas tem que começar logo. 

    1. desertificação em São Paulo

      Prezado Moraes,

       

      Não é exatamente a minha praia, mas como pesquisador posso afirmar que não há em curso um processo de desertificação em São Paulo. Vivemos um período de baixa pluviosidade desde 2013, mas nada que que indique uma tendência. Previsões de longo prazo, que costumam funcionar mais ou menos, indicam um verão 2014-2015 com pluviosidade abaixo da média histórica, o que é muito ruim. Mas mesmo se fosse um pouco acima da média histórica a situação estaria péssima. É assustador o quadro de abastecimento para milhões de pessoas. Considero esta herança de 20 anos de governos do PSDB uma vergonha. Mas o que escrevi, escrevi sem qualquer viés político. 

      Teodoro

    2. Quando a pessoa começa

      Quando a pessoa começa escrever assim: ”Nao sou nenhum conhecedor do tema”,ou do comentarista abaixo: ”Não é minha praia”, não precisa escrever.

       Se não é sua praia  ou não conhece o tema, que sentido faz seu comentário algoz?

              Algoz sim. Vcs condenam o govermador sem saber o que se passa.

            É do tipo condenatório,Se fosse do PT seria absoLitório,Vcs sabiam que HADDAD APARELHEROU  a prefeitura com 1 200 funcionários, sendo que uns 950 não são necessários?

                  Pois é….

  4. ”Explicando” o que? Nós já

    ”Explicando” o que? Nós já sabemos que nosso governador é incompetente,

       Não precisa ”EXPLICAR” mais nada.

    Domingo quando escrevi uma suposta comparação entre a falta de á agua e a subida de juros,um comentarista escreveu que há uma diferença enorme entre a falta de água e a subir apenas 0,25 os juros,

          Desde que o nobre comentarista ache normal um ente querido furtar ”apenas” 250 reais de sua carteira, quando antes furtava 2 500 reaus,Quanto a falta de água , ela era tremendamente sabida  ANTES das eleições.

             E escrevi antes do aumento da gasolina( a filha boazinha falava que não aumentaria) e o colapso eminente da luz.Petrolão com novos personagens…etc…

                E querem controlar a mídia pra nós não sabermos disso? 

                   Sabe qual o melhor controle da mídia que o governo deveria fazer?

                          Ser honesto.

                      Aí sim a mídia fica controlada.

    1. A mídia já tá controlada besta

       é por isso que não sabiam da catástrofe da água e da culpa do governador

      é pra acabar com o controle dos eternos mentirosos da direita sobre ela

      1. Lembrando que a principal

        Lembrando que a principal ameaça sobre o controle da mídia era o Padilha. O candidato petista não poderia participar de debates na Globo e então inventaram uma pérola de casuísmo: o candidato apto a participar dos debates deveria ter porcentual de votos acima de 6%. Nessa altura da corrida eleitoral o Padilha tinha exatos 6% na pesquisa Ibope. Na verdade o Padilha deveria ser impedido, a qualquer custo, de participar dos debates por um motivo bem simples: ele contaria para todo o Estado que Geraldo Alckmim era um péssimo administrador, que o Sistema Cantareira estava reduzindo drasticamente seu nível dia após dia e que a cidade de São Paulo estava correndo o risco real de desabastecimento de água. O que todo mundo agora sabe. Mas agora o Geraldão já está reeleito. Com as bênçãos do Pig que do início ao fim do seu governo teceu loas ao grande governador. Enquanto despejava porrada em cima da Dilma. Esse é o controle da mídia que hoje vigora.

      1. Vc sabia que de acordo com o

        Vc sabia que de acordo com o novo dicionário,não existe mais acento em paranoia?

        Mas, em contrapartida, larápio continua sendo acentuado.Trata-se de uma paroxítona terminada em ditogo oral.

           Muita citada em integrantes do PT.

  5. Chuchu

    Hoje vi na tevê o nosso governador vitalício falar que a culpa da falta de água era do governo federal e que inclusive iria faltar luz.

    Molecagem pura.

    Ele fala sem contestação então o povo acredita.

  6. Falta de nuvens carregadas ameça Alckmin

    Se o comportamento hidrológico for parecido em 2015 com o de 2014, a situação do Alckmin será desesperadora…

    Esse é um dos motivos do desespero tucano…

    Tem que rezar pra São Pedro ajudar…

  7. Sérgio Reis, tenho

    Sérgio Reis, tenho acompanhado suas intervenções, que são extremamente importantes, principalmente pela omissão total da grande imprensa em esmiuçar o problema. Sou carioca, não tenho problema de fornecimento de água, pelo menos por enquanto, mas mesmo assim, estou bastante apreensivo com o que irá ocorrer em São Paulo. Fala-se até mesmo (não sei se foi você mesmo que aventou a hipótese) na possibilidade de evacuação de moradores. Isso seria uma tragédia local e também nacional, dada a importância de São Paulo para o país. Continue nos mantendo informados, se lhe for possível. Obrigado.

  8. Excelente texto

    Eu moro no abc e sou abastecida pelo sistema rio grande. Tenho acompanhado com grande preocupação a ação irresponsável do Alckmin de usar os outros sistemas para suprirem a demanda do cantareira sem nenhum tipo de racionamento ou planejamento decente. Pelo ritmo de diminuição que eu vejo no sistema rio grande desde que sua vazão foi aumentada, parece evidente que logo vamos ter um colapso em uma escala muito maior do que estão falando. A crise vai atingir em cheio a cidade de São Paulo, Campinas e todo o ABC, ou seja, vai faltar cacique cobra coral pra fazer milagre. Isso já passou faz tempo de irresponsabilidade, a ação desse governo é criminosa.

  9. Duchinha grátis

    Enquanto isso qualquer posto de gasolina continua anunciando a “duchinha grátis” para os fregueses.

    Nem isso eles são capazes de regular!

    Sabe quem paga a duchinha “grátis” do posto? Você!

  10. Conheça soluções para a crise da água em 6 cidades do mundo

    Da BBC Brasil

    Conheça soluções para a crise da água em 6 cidades do mundo

    Paula Adamo Idoeta e Rafael Barifouse Da BBC Brasil em São Paulo 7 novembro 2014

    Crise da água em São Paulo desperta discussões sobre abastecimento, consumo e clima

    A crise da água no Sudeste brasileiro, que afeta milhões de pessoas, desperta discussões sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos e alternativas de abastecimento.

    Diversas cidades do mundo também enfrentam ou enfrentaram desafios semelhantes, envolvendo seca, desperdício e excesso de consumo. A experiência delas pode servir de lição para São Paulo e as demais cidades brasileiras que sofrem com a falta d’água?

    A BBC Brasil identificou seis cidades que tentam solucionar suas crises de abastecimento e perguntou ao Instituto Socioambiental (ISA) até que ponto as medidas se aplicariam à realidade paulista:

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    PEQUIM – TRANSPOSIÇÃO DE ÁGUA

    A China está entre os 13 países listados pela ONU com grave falta d’água: com 21% da população mundial, o país tem apenas 6% da água potável do planeta.

    Cerca de 400 cidades do país enfrentam obstáculos de abastecimento, e Pequim é uma delas: com uma população crescente, a capital já consome mais água do que tem disponível em seus reservatórios.

    Além disso, diversos rios chineses secaram recentemente em decorrência de secas prolongadas, crescimento populacional, poluição e expansão industrial.

    Para enfrentar a questão, a companhia de água de Pequim está apostando em um projeto multibilionário para redirecionar rios, o Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, cuja primeira etapa deve ser concluída neste ano.

    O objetivo é mover bilhões de metros cúbicos de água do sul ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma distância superior à que separa o Oiapoque do Chuí (extremos do Brasil), a um custo que deve superar os US$ 60 bilhões. Seria necessária a construção de 2,5 mil km de canais.

    -É VIÁVEL EM SP? O governador paulista, Geraldo Alckmin, propôs uma obra de transposição para interligar o Sistema Cantareira à bacia do rio Paraíba do Sul – proposta polêmica, já que este último é a principal fonte de abastecimento do Estado do Rio de Janeiro, mas vista como “viável” pela Agência Nacional de Águas (ANA). O custo estimado é de R$ 500 milhões.

    No entanto, para Marussia Whately, consultora em recurso hídricos do ISA (Instituto Socioambiental), São Paulo estaria avançando sobre outras fontes de água sem cuidar da água que tem disponível atualmente.

    “Vamos investir em grandes obras antes de pensar na gestão das perdas de água, no consumo e na degradação das fontes de água atuais?”, questiona.

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    PERTH (AUSTRÁLIA) – DESSALINIZAÇÃO

    Perth é a “cidade mais seca” entre as metrópoles da Austrália. Segundo a presidente da Western Australia Water Corporation, Sue Murphy, as mudanças climáticas ocorreram mais rápido e antes do que era esperado no oeste do país. “Nos últimos 15 anos, a água de nossos reservatórios foi reduzida para um sexto do que havia antes”, disse à BBC em junho.

    A cidade construiu duas grandes estações para remover o sal da água coletada no Oceano Índico e torná-la potável.

    Hoje, Perth obtém metade de sua água potável a partir do mar. Mas os ambientalistas criticam o processo por ser caro e demandar muita energia. Os moradores sentiram o impacto em suas contas de água, que dobraram de valor nos últimos anos.

    A cidade também está fazendo experimentos com o sistema Gnangara, sua maior fonte hídrica subterrânea. Por uma década, Perth injetou nos aquíferos subterrâneos a água que foi usada pela população, já tratada. A água é filtrada naturalmente pelo solo arenoso e depois extraída para ser consumida pela população ou usada na irrigação agrícola. O teste foi considerado bem-sucedido, e um programa oficial foi estabelecido – sua meta é obter desta forma 7 bilhões de litros por ano.

    “Com um clima mais seco, precisamos ser menos dependentes de chuva, por isso apoiamos estes projetos”, disse Mia Davies, ministra de Água e Florestas do Leste da Austrália. Ao mesmo tempo, houve uma campanha pelo uso racional da água, o que fez com que a demanda por água hoje seja 8% menor do que em 2003, apesar de a população ter crescido mais de 30%.

    -É VIÁVEL EM SP? A dessalinização não seria uma opção coerente, diz Whately, do ISA, já que São Paulo não é cidade costeira e o Brasil tem um enorme patrimônio de água doce. Ao mesmo tempo, já se fala em recorrer ao uso emergencial de água usada: o governo paulista anunciou nesta semana planos de construir uma Estação de Produção de Água de Reúso na zona sul de São Paulo.

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    NOVA YORK – PROTEÇÃO DE MANANCIAIS

    Uma das maiores cidades do mundo, Nova York iniciou nos anos 1990 um amplo programa de proteção aos mananciais de água, para prevenir a poluição nessas nascentes e, assim, evitar gastos volumosos com tratamento ou busca de novas fontes de abastecimento.

    O projeto incluiu aquisição de terras pelo governo nas nascentes de água, com o objetivo de proteger sua vegetação e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser alimentados; assistência financeira a comunidades rurais nessa região em troca de cuidados com o meio ambiente; e mitigação da poluição nos mananciais. Com isso, a cidade conseguiu ampliar em décadas a vida útil de seus mananciais.

    O programa também envolveu campanhas pela redução do consumo. Dados oficiais apontam que o consumo per capita da cidade era de 204,1 galões de água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/dia em 2009.

    – É VIÁVEL EM SP? Para Whately, trata-se da opção mais adequada para a realidade paulista: “A ideia (em Nova York) foi pensar o recurso que eles tinham disponíveis e cuidar deles, em vez de investir em obras”, diz.

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    ZARAGOZA (ESPANHA) – CONSCIENTIZAÇÃO E METAS

    Secas severas nos anos 1990 deixaram milhões de espanhóis temporariamente sem água. Mas um relatório da Comissão Europeia aponta que o maior problema no país não costuma ser a falta de chuvas, e sim “uma cultura de desperdício de água”.

    A cidade de Zaragoza, no norte, encarou o problema com uma ampla campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa pelo uso eficiente da água e o estabelecimento de metas de redução de consumo. Dos cerca de 700 mil habitantes, 30 mil se comprometeram formalmente a gastar menos água.

    A estratégia incluiu incentivos para a compra de aparelhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sanitários, torneiras e máquinas de lavar louça eficientes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no uso da água em edifícios e espaços públicos, como parques e jardins; e cuidados para evitar vazamentos no sistema.

    A meta estabelecida em 1997, de cortar o consumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros água em um ano, foi atingida. Antes da campanha, diz a Comissão Europeia, apenas um terço das casas de Zaragoza praticava medidas de economia de água; ao final da campanha, eram dois terços. O consumo total caiu mesmo com o aumento no número de habitantes.

    “O projeto mostrou que é possível lidar com a falta d’água em um ambiente urbano usando uma abordagem economicamente eficiente, rápida e ecológica”, diz o 2030 Water Resources Group, consórcio que reúne ONGs, governos, ONU e empresas em busca de soluções ao uso da água no mundo.

    -É VIÁVEL EM SP? Não apenas viável como necessário, diz Whaterly, do ISA. “Se houvesse, por exemplo, um amplo programa de incentivos à aquisição de hidrômetros individuais (em vez de coletivos) nos edifícios de São Paulo, haveria uma economia brutal de água”, opina. “Também são necessários incentivos à construção de cisternas e sistemas individuais de reúso da água.”

    Whately opina também que, ante a urgência da situação, a cidade precisa fixar metas e incentivos à redução do consumo mais duras do que as promovidas atualmente pela Sabesp – por exemplo, forçando consumidores maiores a cortar mais seu gasto de água e debatendo a imposição de multas a quem aumentou o consumo em plena estiagem.

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    CIDADE DO MÉXICO – NOVOS AQUÍFEROS

    Em junho, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto afirmou que 35 milhões de habitantes do país têm pouca disponibilidade de água, tanto em qualidade como em quantidade.

    Essa escassez é grave na própria capital, a Cidade do México, onde uma combinação de fatores – como grande concentração populacional, esgotamento de rios e tratamento insuficiente da água devolvida ao solo – causa extrema preocupação.

    Em 2009, partes da cidade foram submetidas a racionamento de água após uma forte seca; e autoridades ouvidas pela imprensa local afirmam que, no ritmo atual, a cidade pode não ter água o suficiente em 2030.

    Uma aposta da Cidade do México são aquíferos identificados no ano passado, cuja viabilidade está sendo estudada. Estão sendo perfurados poços para não apenas confirmar a existência das fontes subterrâneas de água, mas também avaliar sua qualidade para consumo humano.

    Até 2016, as autoridades dizem que será possível saber se os aquíferos serão ou não uma alternativa de abastecimento para a megalópole. O problema, dizem, é que a perfuração, a 2 km de profundidade, deve sair muito mais cara do que perfurações de fontes mais próximas à superfície.

    Para David Barkin, professor da Universidade Autônoma Metropolitana na Cidade do México e estudioso da questão da água, o plano mexicano pode não ser concretizado por causa dos altos custos envolvidos na exploração do aquífero.

    Além disso, diz ele, a forma como as autoridades tratam a água disponível atualmente é “obscena” – citando desperdícios, construções residenciais em áreas que deveriam servir para armanezagem de água natural e problemas de planejamento.

    -É VIÁVEL EM SP? Para Whately, o uso de água subterrânea já é uma realidade para diversas cidades brasileiras, mas, por serem importantes reservas de água para o futuro, seu uso deve ser racional. “Ainda temos pouco conhecimento a respeito de nossos aquíferos. Eles precisam ser melhor estudados e mais bem cuidados – por exemplo, há locais em que o uso de agrotóxicos (no solo) pode prejudicá-los.”

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    CIDADE DO CABO (ÁFRICA DO SUL) – GUERRA AO DESPERDÍCIO

    Khayelitsha, a 20 km da Cidade do Cabo, é uma das maiores “townships” (como são chamadas as comunidades carentes sul-africanas) do país, com 450 mil habitantes. No início dos anos 2000, uma investigação descobriu que cerca de uma piscina olímpica era perdida por hora por causa de vazamentos em sua rede de água.

    A principal fonte de desperdício eram os encanamentos domésticos, muitos dos quais deficientes e incapazes de resistir alta à pressão de bombeamento da água.

    Com isso, aumentavam o consumo de água e também a inadimplência, já que muitas pessoas não conseguiam pagar as contas mais caras. Além disso, a Cidade do Cabo vive sob constante ameaça de falta d’água.

    Um projeto-piloto de US$ 700 mil, iniciado em 2001, funcionou em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e a redução da pressão da água fornecida ao bairro, para evitar os vazamentos.

    Segundo um relatório do governo da Cidade do Cabo, o projeto custou menos de US$ 1 milhão e o investimento foi recuperado em menos de seis meses.

    Com a iniciativa, aliada a uma campanha de conscientização para evitar desperdícios, Khayelitsha conseguiu economizar 9 milhões de metros cúbicos de água por ano, equivalente a US$ 5 milhões, segundo o consórcio 2030 Water Resources.

    – É VIÁVEL EM SP? Para Whately, as perdas de água também são um “problema enorme” em São Paulo. “Quase um terço da água é perdida (no caminho ao consumidor), o que equivale a todo o volume do Guarapiranga e Alto Tietê juntos”, diz. “Em alguns casos, encanamentos antigos podem contribuir para isso. Seria necessário mapear, com a ajuda das prefeituras, áreas onde há grandes perdas de água e identificar os motivos.”

    Água preciosa

        Segundo a ONU, até 2025, dois terços da população mundial enfrentarão dificuldades com a falta d’água.
        Mais de 1 bilhão de pessoas que moram em cidades poderão viver com menos de 100 litros por dia – limite da ONU para uma vida saudável – e mais de 3 bilhões terão falta d’água por um mês a cada ano, de acordo com um estudo na Nature Conservancy.

    Leia mais:

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    1. Várias frentes

      Além da questão de gestão irresponsável por parte do nosso querido governador, existe no Brasil uma cultura de que a água é abundante, o Brasil é o país com as maiores reservas de água doce do mundo (não me lembro se antes ou depois do Canadá), portanto economizar não existe.

      Fico espantado quando falo com um amigo meu. O filho dele passa 40 minutos debaixo do chuveiro todos os dias, a conta de água fica nas alturas, mas ele não move uma palha. Acha que se fizer alguma coisa vai podar os direitos do filho.

      Este é um exemplo entre muitos. A falta de informação é gigantesca, as pessoas acham que como voltou a chover o problema acabou. A população em geral não sabe o que é economizar, o consumo médio por habitante no Brasil é duas vezes o consumo considerado adequado pela OMS. Todo mundo acha que a água é um recurso inesgotável no Brasil, essa sempre foi a imagem que foi passada.

      Caça aos vazamentos: é espantoso e vergonhoso que a Sabesp ainda perca cerca de 30% da água captada antes de chegar no consumidor. Esse, por sinal é um dos motivos da relutância em fazer racionamento efetivo: quando voltar a água depois do corte, com as canalizações com mais de 30 anos de idade o risco de elas estourarem aumenta sensivelmente.

      Proteção de mananciais: aí o buraco é mais embaixo. Todas as administrações municipais das últimas décadas incentivaram ou pelo menos não reprimiram as invasões em áreas de mananciais. Hoje boa parte das margens das represas, tanto Guarapiranga quanto Billings, estão invadidas e ocupadas por favelas. Retirar essa população teria um custo político que ninguém está disposto a assumir, muito menos administrações de esquerda, petistas ou outras.

      Transposição de água ou dessalinização: o custo dessa operação é altíssimo, e no modelo atual de empresa semi-privatizada (Sabesp), duvido que eles assumam esse custo. Sobraria portanto para a população.

      Tratamento de esgoto: a situação atual é um escândalo, com boa parte da água não sendo tratada, e as atividades industriais sendo abastecidas com água limpa. O modelo de cobrança de tarifa da Sabesp (baseado exclusivamente no consumo de água, embora cobre outro tanto para cobrir oficialmente o custo de saneamento e esgoto) fomenta o consumo, o que aumenta a receita. Não há nenhum incentivo para investimento em tratamento de efluentes. Enquanto o modelo perdurar assim, não haverá solução.

      1. BIngo !!!

        “Proteção de mananciais: aí o buraco é mais embaixo.”

        Esse é ponto menos discutido, e o mais importante. Noto que mesmo neste trabalho excepcional de acompanhamento do Sergio, há uma abordagem muito de engenharia e pouco de ecobiologia.

        Fala-se de produção, como captaçãoe armazenamento e nunca da “produção efetiva” de água. Água não cai do céu, simplesmente, ela é produzida na natureza, num sistema complexo , onde proteção da mata ciliar e ocupação do solo são pontos fundamentais.

        Sr. Nassif, convoca aê o pessoal especializado, que falaria com muito mais propriedade que eu, mero leigo curioso.

        Em 20 anos de administração tucana, não houve um desleixo com a questão ambiental?

         

      2. Mais investimento

        Vcestá coberto de razão Niclos. Todas essas ações citadas por vc são importantíssimas e deveriam ser ações permanentes (vazamentos, mananciais e esgoto).

        Mas além disso, o sistema como um todo tem de ter segurança hídrica no longo prazo

        Os investimentos do presente deveriam ser projetados para atender os próximos 10 a 20 anos e não para bombear volume morto. Estamos falando de nada mais nada menos que São Paulo!! 

        Em 2004 fizeram um plano diretor de agua da RMSP. Várias alternativas foram colocadas na mesa. Quais foram as escolhidas? As mais econômicas, as mais rápidas e, em geral, retirando mais água nos mesmos sistemas produtores já existentes, conforme comentado no post.

        Veja as opções abaixo (do Plano Diretor de 2004). Avaliaram buscar agua até em Barra Bonita e Jurumirim! Deveriam ter iniciado, mas o custo…. se bem que o custo da água do volume morto deve estar saindo mais cara. 

           

      3. Excelente comentário,

        Excelente comentário, Nicolas. A minha percepção, como alguém que não é especialista em gestão de recursos hídricos, é a de que estamos em um nível geral “pré-cambriano”, tanto no que se refere ao comportamento dos cidadãos, como por parte dos governos – mesmo os mais ricos e com maior capital intelectual a priori. Do que tenho pesquisado nos últimos anos, noto que as políticas de saneamento são uma espécie de “patinho feio” das políticas públicas, em parte em razão de uma grande confusão normativa de competências (que gera um “deixa que eu deixo” entre os entes da federação), em parte em virtude de disputas entre diferentes leituras sobre a questão (as quais poderiam se somar, mas rivalizam entre si: a ambiental, a de infraestrutura, a social). Temos um longo caminho até que avancemos significativamente nessa seara. Enquanto isso, muitos factoides (como tantos e tantos produzidos pelo Alckmin recentemente) irão surgir.

  11. Enquanto isso, o “bode na

    Enquanto isso, o “bode na sala” está dando certo. O tema do reuso da água de esgosto (difícil de digerir para o leitor comum) gera discussões acaloradas. Virou manchete nos principais jornais.
    Desvia-se o foco do principal e imediato problema da situação dos mananciais, e o fato do nível de Guarapiranga ter despencado quase 13% em outubro passa quase que despercibido.

  12. Água e Floresta

    Desmatamento na Amazônia dispara em agosto e setembro

    Agora é oficial: o desmatamento na Amazônia disparou em agosto e setembro. Foram devastados 1.626 km² de florestas, um crescimento de 122% sobre os mesmos dois meses de 2013. 

    A Folha tentava obter esses dados do Inpe desde 20 de outubro. Segundo a direção do Ibama, o órgão tem segurado a divulgação de dados do desmatamento para evitar que sejam usados pelo crime organizado para fugir das ações de fiscalização.

    http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2014/11/1544688-desmatamento-na-amazonia-dispara-em-agosto-e-setembro.shtml

    1. A operação Teflon no Xuxu

      A operação Teflon no Xuxu continua, querem por que querem jogar a culpa da crise hidrica paulista no aquecimento global, só que para que isso fosse verdade Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Vitória, que são as outras capitais do sudeste, teriam que estar passando por uma crise com as mesmas proporções e até onde se sabe isso não esta ocorrendo, a estiagem pode até ser culpa do desmatamento, essa relação ainda tem que ser estabelecida, mas a falta de agua em SP, que é a maior cidade do Brasil, tem tudo a ver com o “xoqui di jestão” tucano e as medidas neoliberais que estão no seu recheio, os polpudos dividendos distribuidos pela SABESP estão aí para mostrar qual foi a prioridade da empresa nos anos de vacas molhadas, agora que estamos nos anos das vacas secas não há reservas, SP precisava de um José do Egito mas o máximo que conseguiu foi José Serra, que esta mais para praga do faraó.

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