Chiquinha Gonzaga, uma mulher irreverente

Por Tamára Baranov – Rio Claro/SP

Chiquinha Gonzaga (Francisca Edwiges Neves Gonzaga)
(Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 – 28 de fevereiro de 1935)

O marido, dono de navio, mandou Chiquinha escolher entre ele e o piano. Era 1868 e ela ficou com a música. Separando-se do marido conquistou a sua independência numa época em que isso causava escândalo na sociedade brasileira. Frequentava rodas de choro, tocando em festas e bailes à noite com boêmios para sustentar os filhos e tê-los juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação obrigatória dos filhos imposta pelo marido e pela sociedade preconceituosa daquela época, que impunha duras punições à mulher que se separava do marido. Seu primeiro sucesso foi a polca ‘Atraente’, de 1877 e é autora da primeira marcha de Carnaval, ‘Ó Abre Alas’ que compôs para o cordão Rosa de Ouro e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Politizada arrecadou dinheiro para alforriar escravos e protestou contra a monarquia. Aos 52 anos, se apaixonou por um rapaz de 16 anos. Temendo o preconceito, finge adotá-lo como filho, para viver esse grande amor e evitar escândalos para seus filhos, além de afetar sua brilhante carreira e viveu com ele até morrer no dia 28 de fevereiro de 1935, aos 87 anos. 

Chiquinha Gonzaga: uma mulher irreverente

‘Ó abre alas, que eu quero passar…’ a música mais popular de Chiquinha Gonzaga bem poderia servir como lema para sua vida. Compositora e maestrina de sucesso, numa época em que mulher não tinha profissão, ela abriu caminhos e ajudou a definir os rumos da música brasileira. Deixou uma obra estimada em cerca de duas mil canções e 77 partituras para peças teatrais, maior do que qualquer compositor de seu tempo.

Chiquinha Gonzaga se transformou num símbolo da irreverência. Desde o modo de vestir ela revelou uma mulher original. Lutava com dificuldade para se manter e não podia dar-se ao luxo das ricas toilettes. Costumava confeccionar ela própria seus vestidos, e manteve esse hábito até a velhice. Orgulhava-se disso, e exibia aos amigos suas últimas obras primas. Naqueles tempos em que a moda era a saia-balão e a mulher elegante não dispensava o chapéu como acessório de respeito e status, Chiquinha ousava dispensá-lo. Substituía-o por um lenço de seda que envolvia e confundia-se com seus cachos. O arranjo resultava natural e gracioso. Sendo muito exposta à curiosidade pública, era natural que aquilo provocasse inveja e comentários maliciosos. Caminhava uma tarde pela Rua do Ouvidor quando uma elegante senhora, ao passar por ela, arranca-lhe da cabeça o original ornamento. A compositora percebe de imediato a curiosidade e a inveja da outra. Rapidamente recolhe o lenço, ajeita-o entre as mechas do seu longo penteado e, impertinente, dirige-se à agressora: ‘Feia’. (Assim relata Edinha Diniz, no livro Chiquinha Gonzaga – Uma História de Vida)

O documentário ‘A Maestrina Chiquinha Gonzaga Série 500 anos de História do Brasil’ de 1999, apresentado pela atriz Carolina Ferraz, além da participação da biógrafa da maestrina, Edinha Diniz, conta também com depoimentos da pianista Clara Sverner, do músico Paulo Moura, da atriz Rosamaria Murtinho, da escritora Maria Adeláide Amaral, do musicólogo Ary Vasconcelos, do ator Mário Lago, entre outros.

http://www.youtube.com/watch?v=xovks5pFOvs
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Redação

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