A cultura do estupro, por Elisabete Regina de Oliveira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Elisabete Regina de Oliveira

via Facebook

Quando falamos da “cultura do estupro” estamos falando na legitimização dos usos, abusos e objetificação dos corpos femininos. As representações do abuso estão em toda parte e são glamurizadas e naturalizadas na mídia e na cultura. Como na propaganda da grife de luxo Dolce & Gabbana desta foto, a cultura do desrespeito às mulheres está nas propagandas de cerveja, de carro, nas novelas, nos filmes, nas letras de música populares, enfim, está espalhada em toda cultura. Todos nós – homens e mulheres – crescemos e somos socializados dentro dessa cultura machista e patriarcal que nos ensina que existem “mulheres honestas e de respeito, para casar” e outras que “não se dão o respeito”, portanto, não merecem consideração, merecem ter seus corpos violados. Libertar-se dessa cultura exige esforço, autoaprimoramento. Precisamos do investimento do Estado em programas específicos de educação para mudar essa triste realidade.

Só conseguiremos acabar com isso ensinando nossas crianças o respeito aos corpos alheios, ensinando que devem exigir o respeito a seus corpos, ensinando-as a denunciar os abusos. Para isso, precisamos falar de igualdade de gênero nas escolas, precisamos falar sobre igualdade de direitos e deveres nos relacionamentos, precisamos discutir a a violência contra as mulheres. Acabar com a cultura do estupro exige educação, exige reflexão, exige o comprometimento social. O dia em que cada um de nós ficar indignado com esta propaganda da Dolce & Gabbana – a ponto de repudiar e boicotar seus produtos – estaremos no caminho da mudança da sociedade.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. O problema é a impunidade

    Não é preciso fazer altas análises antropológicas para explicar a alta ocorrência de estupros no Brasil. Aqui há muitos estupros pelo mesmo motivo porque há muitos assassinatos, roubos, assaltos e crimes em geral: a impunidade. Referir-se a uma “cultura de estupro” é uma maneira sub-reptícia de dissolver no corpo da sociedade a culpa dos verdadeiros criminosos. Quem compra esse peixe acredita que o brasileiro médio é propenso a estuprar mulheres, sente-se culpado e abstem-se de acusar os verdadeiros estupradores, que não sentem culpa alguma.

    A cultura machista e patriarcal existe no mundo inteiro, inclusive naqueles países onde o número de estupros é muito menor do que no Brasil. É tolice achar que educação e reflexão vão diminuir o número de estupros: todo mundo sabe que é errado roubar e matar, e mesmo assim roubos e assassinatos acontecem a rodo por aqui. O criminoso não comete crimes por ignorar que tal ato é crime, mas por avaliar que suas chances de escapar impune são altas. A única solução para o estupro, assim como para todos os crimes, é a penalidade proporcional à gravidade do atp, o encarceramento longo, o fim da impunidade. O mais é papo de pesquisador de gabinete.

  2. Cultura do estupro

    Cultura do estupro no Brasil é resultado da ignorância e falta de educação dos dias atuais quando um ministro desqualificado da Educação recebe um ator pornô, também desqualificado, quando um deputado federal faz apologia a estuprador e torturador, da erotização da infância durante décadas, desde que a maior rede de televisão exibe programas infantis, comandados por uma ex-atriz pornô cooptada no início de sua carreira (https://www.youtube.com/watch?v=AW5AHRZYXKg), da publicidade que vende a mulher como objeto, além da queda da qualidade da música brasileira com É o Tchan (Boquinha da Garrafa), Anita e assemelhados, lançados no mercado pela mesma rede.

    Assinem: https://secure.avaaz.org/po/petition/CONAR_Conselho_Nacional_de_Autorregulamentacao_Publicitaria_Pelo_fim_da_exposicao_da_mulher_como_objeto_sexual_na_public/?sYZgNkb

  3. Quem mandou soltar o Roger Abdelmassih?

    Abdelmassih respode por 48 estupros a mulheres clientes de sua clínica de reprodução genética.

    a

  4. E o provisório? Está Indignado!!!

    Aquele que atualmente é o manda-chuva interino, mas ávido por se tornar definitivamente definitivo presidente do Brasil (cruzes!), poderia mandar verificar (pelo menos) se aquele  grampo ilegalíssimo contra Dilma não terá sido uma tremenda violência contra a mulher.  E a prisão de algumas mulheres pela Lava Jato terá sido o quê? Carinho de mãe?

    É preciso combater todas as  violências contra a mulher.

    No entanto, vindo de Temer, desconfie de qualquer providência neste e noutros sentidos. Pode ser golpe. 

    Temer anuncia a criação de departamento na PF para combater a violência contra a mulher:

    http://www.oparana.com.br/noticia/temer-anuncia-criacao-de-departamento-na-pf-para-combater-violencia-contra-a-mulher/7783/

     

  5. Estupro de vulnerável e o STF

    Estupro de vulnerável

    HC 73.662 e RE 418.376
    Julgamento em 16 de abril de 1996 e em 9 de fevereiro de 2006
    Em 1996, contra a jurisprudência do STF, o ministro Marco Aurélio entendeu ser relativa a presunção de violência nos casos de relação sexual com menor de 14 anos. O artigo 224 do Código Penal dizia que a violência era presumida. Seu voto recebeu apoio dos ministros Francisco Rezek e Maurício Corrêa. Ficaram vencidos Néri da Silveira e Carlos Velloso.

    O Habeas Corpus em votação na 2ª Turma descrevia que a menor de 12 anos admitiu ter tido relação sexual com o acusado por livre e espontânea vontade. Comentou também ter saído anteriormente com colegas do réu. “Portanto, é de se ver que já não socorre à sociedade os rigores de um Código ultrapassado, anacrônico e, em algumas passagens, até descabido, porque não acompanhou a verdadeira revolução comportamental assistida pelos hoje mais idosos”, afirmou o ministro.

    Leia mais, em

    http://www.conjur.com.br/2015-jun-12/dez-decisoes-ministro-marco-aurelio-foi-vencedor

    1. estupro de vulnerável…

      O Poder longe da sociedade. E sendo assim quem defenderá a sociedade? Como a sociedade se defenderá se não tem mecanismos para isto? Esta aberração e deturpação da Contistuição pelo STF e criminalização da vitima ocorreu porque o réu era um juiz, como foram diversas vezes vários politicos, pegos em flagrante abusando de crianças. O STF se tornou advogado de estuprador. A justificativa: Já que a criança de 11 ou 12 anos já havia feito o mesmo anteriormente por que julgar como estupro tal atitude? Vale lembrar o silêncio de instituições, orgãos de defesa da mulher e da infância e politicos, homens e mulheres, brasileiros.  O Brasil que estamos vivendo hoje em maio de 2016 se explica. Não surgiu do “nada” 

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