A música brasileira está vivíssima, e Breno Ruiz é gênio

 Dia desses, em entrevista a O Globo a cantora Mônica Salmaso lamentou a decadência da música popular brasileira. A grande Mônica padece de um problema diagnosticado como incapacidade de ver o novo se formando.

Há um furacão vindo à tona na música brasileira, uma efervescência como nunca vi desde que comecei a acompanhar a música nos anos 60.

Na música instrumental, não tenho a menor dúvida: se houvesse uma maneira de medir a produção atual, talvez seja equivalente à soma de toda música instrumental do século.

Há uma geração que se formou nas escolas, conhece teoria e se aprimorou nos botecos. Ou seja, não se trata de um fenômeno de salões. A música ao vivo em botecos espalhou-se por todo o país, colocando a rapaziada de conservatório em contato com os músicos intuitivos.

Nos anos 70 e 80, com meu bandolim meia-boca costumava dizer que, se olhasse para frente, conseguiria enxergar os melhores. Ou seja, se o tempo permitisse os ensaios, poderia até ficar em um honroso segundo time do choro.

Hoje em dia, é impossível. Essa molecada atrevida desenvolveu uma técnica imbatível. E não são um, dois ou três craques em cada instrumento. São dezenas.

Nas viagens que tenho feito, os saraus têm trazido jovens talentosíssimos em Recife, Fortaleza, Maceió, Rio, Brasília.

A regionalização do país criou cinco centros musicais de quase o mesmo nível: Rio, São Paulo, Brasilia, Belo Horizonte e Recife.

Na música cantada, há um renascimento de gêneros que pareciam sepultados pelos tempos – como o da canção brasileira, talvez o veio mais musical da história da música brasileira, uma corrente que começa com Villa-Lobos, passa por Waldemar Henrique, Heckel Tavares, Joubert de Carvalho e parecia ter encerrado com o Tom Jobim pré-bossa nova.

Essa corrente, que mistura temas folclóricos, música rural com tratamento sofisticado está renascendo com toda força em todos os cantos do país.

Outro dia, em Poços, minhas sobrinhas me presentearam com um CD de Poços de Caldas, de altíssimo nível. Dia desses trouxe aqui o “Conversa Ribeira”, lindíssimo.

Mas faltam os gênios, os fora da curva?

Dia desses assisti a um show da Sinfônica Jovem com três gênios: Sérgio Santos, de Belo Horizonte (meu ex-colega de Tênis de Mesa nos tempos de Varginha, ele, Poços, eu), o Renato Braz, o Luiz Filipe Gama. Todos de altíssimo nível.

Faltam gênios? Ontem fomos assistir o show de Breno Ruiz e Socorro Lira, dulcíssima Socorro Lira e seus temas nordestinos na Casa de Francisca.

De Breno, digo apenas: é um gênio absoluto. Para mim, o maior melodista brasileiro da atualidade. Não apenas. Um harmonizador precioso, um pianista de primeiríssima, um cantor excepcional.

Na música tradicional, parecia que tudo tinha sido inventada. Mas Breno conseguiu reinventar o clássico.

Ouçam aqui, gravação que fiz com ele e Renato Braz tempos atrás no Piu-Piu

https://www.youtube.com/watch?v=giR0xH4hn7E]

Aqui, uma apresentação dele em um dos saraus em casa:

https://www.youtube.com/watch?v=5nWjnqSVwwo]

A gravação é de 2011. E Breno ainda não tem seu CD apesar de dezenas de parcerias com o mais importante letrista brasileiro de todos os tempos, Paulo César Pinheiro.

Aqui, outra dupla com Renato Braz:

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Zk1k2O_gNX8

Outra:

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Gmp6dDOo3Og

Ia falar dos demais. Mas Breno é tão grande que merece ficar sozinho nessa homenagem aos músicos contemporâneos.

 

Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Concordo em quase 100%, aliás

    Concordo em quase 100%, aliás escrevi isso aqui a tempos

    atraz. Há  uma efervecência na música instrumental , jovens

    talentosos, antenados e que pesquisam a tradição  a procura

    do novo. O novo ainda não chegou mas certamente já nasceu.

    Entendo sim a Mônica Salmaso, pois o que acontece na música

    instrumental não ocorre na área do “canto , que conta com uma

    quantidade assustadora de vozes de “passarinho” semitonadas(os)

    trejeitos modelitos e exercicios vocais, são raríssimas as excessões.

     

  2. Sou mais do pop,

    mas a rapaziada do Nassif tem talento. Infelizmente tenho que ouvir mais pop estrangeiro do que brasileiro. Nosso pop é sofrível, com raras exceções.

  3. Morte da Música Brasileira

    Nassif, 

    não acho que dê para concordar com você, temos músicos bons, mas são poucos, a maioria produz muita porcaria. Os bons que você cita não parecem na mídia, que só toca lixo. Coisa brega! Nesse sentido concordo é mesmo com Monica, nunca vi uma crise dessa na música brasileira. Os letristas são na maioria uma tristeza, os bons não tem chance, se é que os há, para além daqueles que a gente conhece como Paulo Cesar Pinheiro. As cantoras com honrosas e pouquíssimas excessões não interpretam, canta baixinho, não tem voz. A última grande interpréte foi Cassia Eller que ia do popezinho miserável ao sambão mostrando sempre a que veio. Pena que se foi tão cedo! Cadê as Elzas, Elis, Dalvas,Nanas e Alaides da nossa música contemporânea? Cadê os cantores? Tira Renato Braz e Zé Renato, dentre esta geração que já não é tão nova, sobra o que?  

    Se essa geração de psedo intérpretes, as marisas, ceumar etc…deviam ouvir a Monica,  Dalva,  Elis,  Elizete, Nana, Alaide  e tantas outras,para saber o quanto não cantam. E os Homens? Deveriam ouvir  Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Cauby, João Bosco, para saber também o quanto não cantam. Talvez dentre os homens dessa nova geração se salva Diogo Nogueira, filho do Grande João.

    Como Você pode ver estou de mal com essa nova geração midiatíca da MPB. 

     

     

    1. “Os letristas são na maioria

      “Os letristas são na maioria uma tristeza”:

      Jose miguel, ate mesmo quando os letristas brasileiros sao bregas, caipiras, quadrados, e antiquados -copias de Carly Simon, por exemplo- eles manteem senso de metrica e de rima -como Carly Simon, por exemplo.

      Quer ver completa falta de metrica?  Leia ou escute qualquer letra da musica dos EUA que toca no radio.  Eh insuportavel.  Metrica nao existe nas letras em ingles.  Nesse meio tempo, os brasileiros tem o maior e melhor letrista do mundo de exemplo.

      (Por sinal, adoro Carly Simon.  Quadrada, brega, antiquada, mas originalissima letrista.)

      Como eu nao conheco musica brasileira, tendo a comentar o que aparece aqui, e esse cara do post eh superbo em varios pontos.

      Letras em espanhol?  Estao rimando “amor” com “calor” ate hoje…

    2. mpb ruim

      Concordo com a Mônica e com o Rasias. Deiaula em escolas de música mais de 30 anos. ATem gente boa? Claro… mas eram 2 ou 3 em 10, passou para 2 ou 3 em 20 3e hoje são 2 ou 3 em 100. E como o pais não comporta esses talentos eles vão para Europa ou USA. La mento muito seu Nassif. Você descobriu um guetto de gente talentosa. Seria possivel citar 3 deles na maior cidade do hemisfério sul????

      1. Breno Ruiz

        O cara mais incrível que já conheci! eu sou suspeita em falar desse genial compositor e exímio pianista.

        Breno vai além do artísta. É uma espécie de entidade dotada de poderes transcedentais que transformam a vida das pessoas com sua música.

        amo tudo o que ele compoe.

        Leila del Porto

  4. Música brasileira e música brasileira divulgada

    Vale para a música brasieira a diferenciação entre opinião pública e opinião publicada.

    Há – Brasil afora!! -muitíssima música de primeiríssima qualidade, nível artístico notável, que não tem espaço de divulgação.

    É preciso evitar confundir música de ‘gravadora’ com música criadora.

     

     

    1. Justamente isso. A crise é do

      Justamente isso. A crise é do sistema convencional da indústria cultural: gravadores, rádios-TV e crítica dos jornais. É esse circuito que exauriu, que já nõ consegue criar “ídolos”, marcas. Mas a matéria prima – o universo dos músicos – está mais fértil do que nunca. O pessoal que fala em decadência não teve a oportunidade  ainda de conhecer os meandros da música popular, porque estão em guetos.

  5. Detesto ser o cara que foge

    Detesto ser o cara que foge do tema, mas como se consegue fazer um bigode desses? Putz, nunca consegui, é meu sonho.

  6. a música brasileira está vivíssima!

    a música brasileira não só está vivíssima, como sempre esteve no passado e como estará em qualquer futuro que se delineie à frente dos dias atuais! não é preciso ser sábio, sociologo ou antropologo para verificar essa verdade! a música brasileira não vive, somente, nos estudios de gravação ou nas emissoras que insistem em propagar uma “qualidade” de reputação duvidosa; vive, muito mais, nas magníficas manisfestações culturais que surgem a partir do próprio povo brasileiro e que são resultado de uma miscigenação étnica que nos deu o ritmo e o swing dos negros, junto com outras manifestações de origem européia e até mesmo de contribuições indígenas.   Dou um conselho a qualquer brasileiro que duvide disso: vá à Europa ou aos Estados Unidos e vejam, ou melhor, ouçam como os europeus “pagam” para a alegria, o ritmo criativo que eles sabem que existe no Brasil.  Só no Brasil, existem pessoas que insistem no contrário. 

  7. Eu próprio, quero introduzir

    Eu próprio, quero introduzir o assunto tropicalista do Trópico de Capricornio.

    Próprio eu prefiro chamá-lo de TRÓPICO SUL.

    Aquele que arrebenta imaginariamente as placas e chapas daquelas estradas que me levam a chegar e/ou sair de S. Paulo.

    Pego o caminho de Cumbica, Anhãguera, Bandeirantes, Trabalhadores agora Ayrton Senna, lá me vem a placa:

    AQUI PASSA O TRÓPICO DE CAPRICORNIO

    Ou cruza, imaginariamente transpassa.

    Me pergunto porquê se imaginariamente eu não TROPO.

    Metonimia, metáfora, sinédoque, cadê o TROPO?

    Estaria simbolicamente na Lua ou no Sol o TROPO TROPI,

    Ou na hora ou ora de encarar o regime primavera outono verão ou

    O meu Sol  onde está será aonde que vou

    Exatamente que lado que é

    E passa transpassa e pesa no munícipio de São Paulo, afora os outros,

    Mas é no norte ali de SãoPaulo que imaginariame ele vem batente e valente tal qual um solistício de verão iluminando as primaveras e sem se esquecendo dos outonos ou invernos e se arfimando firmamento SUL que ser pode vir a ser

    aquele simbólico sol significado sol hemisférico sol e suas gentes sol podemos olhar por estar aqui para lá que é lá que estará tambem e assim

     

    Será

  8. musica brasileira

    Gostei muito e me emocionei ouvindo “com todos os ouvidos” do corpo e da alma, as musicas na interpretação do Breno Ruiz. Ás vezes as pessoas falam que tal musica não lhe emocionou, é poque emoção é de cada um, e acredito que tem a ver com com a cultura, a história da  vida de cada um, isso tambem interfere um pouco no que consideramos bom, pessimo…O fato é que fiquei emocionada gostei muito do Breno, pq o Renato Braz ja é batante  conhecido. Obrigada pela oportunidade e tou esprando mais!

  9. musica brasileira

    Gostei muito e me emocionei ouvindo “com todos os ouvidos” do corpo e da alma, as musicas na interpretação do Breno Ruiz. Ás vezes as pessoas falam que tal musica não lhe emocionou, é poque emoção é de cada um, e acredito que tem a ver com com a cultura, a história da  vida de cada um, isso tambem interfere um pouco no que consideramos bom, pessimo…O fato é que fiquei emocionada gostei muito do Breno, pq o Renato Braz ja é batante  conhecido. Obrigada pela oportunidade e tou esprando mais!

     

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