Bolsas do Ciências sem Fronteiras são interrompidas pelo governo

Jornal GGN – No Ciência sem Fronteiras, programa federal de intercâmbio, estudantes de doutorado pleno no exterior enfrentam dificuldades na renovação da concessão de suas bolsas, fazendo com que alguns dos participantes do programa fiquem sem dinheiro ou até mesmo em situação ilegal nos países em que estudam. 

Segundo reportagem assinada por Sabine Righetti na Folha de S. Paulo, quatro doutorandos que estudam no Reino Unido, Holanda e Itália tiveram a bolsa mensal interrompida por prazo indefinido após parecer negativo da Capes, que é a agência federal que participa do programa através do Ministério da Educação.

O estudante de doutorado tem um contrato de quatro anos com o governo e tem o dever de enviar relatório de desempenho anuais para renovar sua bolsa. No caso deste alunos, a Capes considerou insuficiente o relatório. Um dos doutorandos diz que sua bolsa foi indeferida com um parecer de três linhas, que dizia que seu relatório estava redundante. Ele diz que enviou diversos  documentos para a Capes pedindo a reconsideração do parecer, incluindo uma carta do seu orientador europeu, mas não obteve resposta.

O temor é de que o governo estaria cortando bolsas para reduzir custos devido à crise econômica. No Reino Unido, onde estudam 504 bolsistas de doutorado pleno, o investimento mensal com cada estudante é de que quase R$ 8 mil mensais em cidades consideradas de alto custo. Em nota, a Capes diz que não há cortes e que a renovação das bolsas não é automática.

Da Folha

Governo interrompe bolsas do Ciência sem Fronteiras no exterior
 
SABINE RIGHETTI
 
Estudantes de doutorado pleno no exterior do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras estão enfrentando problemas para renovar a concessão de suas bolsas –o que já tem deixado alguns deles sem dinheiro ou em situação ilegal no país em que estudam.
 
A Folha conversou com quatro doutorandos que estão nessa situação em universidades do Reino Unido, da Holanda e da Itália. Eles tiveram a bolsa mensal interrompida indefinidamente após parecer negativo da Capes, agência federal que participa do programa Ciência sem Fronteiras pelo MEC (Ministério da Educação).
 
Cada doutorando tem um contrato de quatro anos com o governo e deve mandar relatórios anuais de desempenho para que a concessão da bolsa seja renovada. Com a renovação, que deveria acontecer em maio, eles ingressariam, em agosto, no 3º ano de doutorado.

progrma Bolsas implementadas Bolsas vigentes
TOTAL DO PROGRAMA 92,88 15,99
GRADUAÇÃO SANDUÍCHE NO EXTERIOR 73,35 10,94
DOUTORADO SANDUÍCHE 9,69 0,43
PÓS-DOUTORADO NO EXTERIOR 4,65 2,71
DOUTORADO PLENO NO EXTERIOR 3,35 0,79
MESTRADO NO EXTERIOR 0,56 0,70
 
Doutorado pleno no exterior: Estudantes relatam que as bolsas foram interrompidas no final do doutorado

O problema é que eles tiveram a renovação da bolsa indeferida. Ou seja: a Capes considerou insuficiente o relatório anual desses alunos. Após envio de documentação adicional para revisão do parecer sobre o relatório, dizem, os doutorandos estão sem resposta e tiveram a bolsa mensal interrompida.

Não há dados oficiais de quantos doutorandos brasileiros estejam no mesmo imbróglio –há 2.713 alunos de doutorado com bolsa plena do governo federal fora do país. Um dos estudantes ouvidos pela reportagem disse que está sem dinheiro e em situação ilegal. A renovação de seu visto de permanência no país depende da renovação da concessão da bolsa.

Outro afirma que teve a concessão da bolsa indeferida com um parecer de três linhas, que alegava que o relatório estava redundante. “Estou em um instituto de ponta e tenho de seguir as regras, que não são poucas e nem fáceis”, diz Pedro* (nome fictício). “Tive um parecer muito positivo nas minhas avaliações aqui, ganhei prêmio e nada disso adiantou.”

Ele afirma ter enviado uma série de documentos para a Capes pedindo a reconsideração do parecer –incluindo uma carta do seu orientador europeu, que alega bom desempenho acadêmico. “Imagine se eu tiver de voltar para o Brasil sem o título de doutorado?”, diz Ana* (nome fictício). Ela também teve o relatório indeferido e aguarda revisão do processo há um mês. “Temo ter perdido dois anos de minha vida”.

Folha teve acesso à documentação dos doutorandos ouvidos. Todos pediram anonimato alegando medo “de retaliação” da agência. Em 2013, a Capes exigiu que bolsistas mencionados em uma reportagem da Folha enviassem um e-mail para o governo atestando que não passavam “necessidade nenhuma”. A reportagem tratava de problemas de pagamento de bolsas no exterior.

SEM DINHEIRO

A especulação é que, agora, o governo estaria cortando bolsas no exterior para reduzir custos, diante da atual crise econômica. Para se ter uma ideia, o investimento mensal para manter um bolsista de doutorado pleno nos EUA –onde há 573 deles–, em cidade considerada “de alto custo”, é de U$1.700 (quase R$6.000).

No Reino Unido, que tem 504 bolsistas de doutorado pleno, o investimento mensal do governo com cada doutorando é de quase R$8.000 em cidades de alto custo. A Capes informou, em nota, que não há cortes e que renovação da concessão da bolsa não é automática.

Esse processo, diz, passa “por análise de mérito do progresso das atividades desenvolvidas no exterior”. O problema, dizem os doutorandos, é o governo não ser claro sobre o que espera do relatório técnico anual.

Além disso, não há prazo estipulado para que o governo dê uma resposta à documentação enviada pelos estudantes que tiveram sua bolsa interrompida. Nas redes sociais, em comunidades de estudantes do programa, há relatos de casos, e as opiniões se dividem.

De um lado, estudantes recomendam que os bolsistas façam uma “poupança” caso enfrentem o mesmo problema. Outros dizem que quem teve a bolsa interrompida “não sabe escrever um relatório científico direito.”

Não são só os estudantes de doutorado pleno do programa que enfrentam problemas. A Folha conversou com um aluno que acabou de concluir mestrado nos EUA pelo Ciência sem Fronteiras. Ele relata ter ficado sem diploma por falta de pagamento das taxas à universidade.

De acordo com o jovem, a universidade norte-americana teria concordado que ele participasse da cerimônia de formatura porque sua família teria viajado aos EUA. Ele, no entanto, teria saído da festa sem receber o canudo.

Criado em 2011 como pupila do governo Dilma Rousseff com objetivo de enviar 101 mil estudantes para as melhores universidades do mundo, o Ciência sem Fronteiras tem sido alvo de críticas.

Uma das controvérsias é que oito em cada dez bolsistas são alunos de graduação –há especialistas que dizem que o programa deveria ter foco na pós. De acordo com uma reportagem recente publicada pela Folha, menos de 4% dos estudantes foram para uma das 25 melhores universidades do mundo, segundo o ranking britânico THE (Times Higher Education). 

 

Redação

16 Comentários

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    1. Vá me desculpar, meu caro…

      Mas mesmo que isso fosse verdade, não há justificativa plausível para tal corte, apenas mais uma cagada desse governo interino, com o perdão da expressão. 

      Antes da posição política do camarada, se é de direita, esquerda, ou o diabo que for, entende-se que o aluno de doutorado teve mérito para ter tal bolsa. 

      Fazer um doutorado, acredite ou não, não é bom apenas para o próprio sujeito: a Ciência não anda em lugar nenhum do mundo sem estudantes de pós-graduação. Portanto, interromper durante seu curso o trabalho de tese de doutorado de alunos nossos, no exterior, é de uma burrice que chega a ser espetacular. 

      Isso não é gasto, entenda-se. Isso é investimento… achar que isso é gasto sim, que é pensamento de Coxinha, e dos coxinhas da pior espécie. 

       

      1. ei rapaz, essas dificuldades

        ei rapaz, essas dificuldades   que estão acontecendo para os bolsistas ja vem ocorrendo a mais de 1 ano culpa do desgoverno Dilma que com sua incopetencia levou a economia do pais a ruina. agora tudo de ruim que esta acontecendo e por causa de um governo interino de menos de 2 meses? voce acha que se dilma voltar tudo vai se normalizar? não sei se voce e ingenuo ou cara de pau.

  1. FHC tinha feito isto no seu desgoverno

    O mais chocante era que grande parte dos estudantes bolsistas era contra o governo Dilma. Muitos, senão a maioria, estavam no protesto de junho de 2013. Grande percentagem desta turma estava batendo panela contra a Dilma. Conheço este universo e como professor nunca tinha visto tanta desinformação política em uma turma que teoricamente é a elite intelectual do país. Também o quadro acadêmico tinha um grande percentual de professores contra a Dilma. Professores que só adentraram na universidade pública pelos concursos na era PT e Lula.

     

  2. Quem é bom mesmo não precisa
    Quem é bom mesmo não precisa de ajuda estatal, ganha as coisas no mérito. Quem gosta de ajuda estatal é vagabundo do bolsa família.

    Ass: estudante do Ciência sem Fronteiras em qualquer parte do mundo.

    1. Esqueceu que…

      Esqueceu que para ganhar bolsa precisa ter muito mérito, já que a quantidade de bolsas é sempre limitada. Os programas de pós-graduação sempr foram um dos exemplos máximos da aplicação da meritocracia.

  3. O mesmo com meu guri

    Meu guri está nos EUA finalizando o estágio do CSF e também está com dificuldade de receber o que lhe devem, e o mesmo acontece com seus amigos bolsistas. Entregou os documentos que muitos que foram aprovados entregaram e a CAPES pediu outros mais. O problema é que demoram mais de um mês para analisar e ele tem apenas mais três semanas de estágio. Não é por ser o meu guri (isso que vou dizer se aplica certamente a muitos dos bolsistas), mas é aluno de elevado nível, graduando em Engenharia Eletrônica na UFSC (reconhecida por todos entre as melhores do Brasil na área), com notas sempre boas em todas as disciplinas. Estão brincando com uma gurizada que está se preparando para entregar o melhor ao País.

  4. ponte para o futuro, que piada…

    e a ciência, o conhecimento e o aperfeiçoamento sendo bruscamente interrompidos

    com o golpe, passaremos um bom tempo sem acontecer nada de bom no Brasil

    e lá vamos nós, com Temer, engatinhando para o futuro enquanto nos tiram até as fraldas

    golpe é progresso interrompido, sempre foi, e não será diferente com Temer

  5. Voltem, queridos !

    Que a grana acabou. Tudo não passou de um sonho de verão de uma governante e em seus devaneios.

    Não tem grana nem prá pensão dos velhinhos, molecada !

    Particularmente conheço dois que foram pelo Ciência em plena graduação, tiveram que interromper o curso para ir.

    Ambos tem condições financeiras familiares já bem ( mas bota bem nisso ) acima da média nacional e não precisariam de mais essa moleza para serem “mais iguais” que a grande maioria dos jovens brasileiros que sequer tem um ensinofundamental decente.

    Não fosse isso, os dois se encataram, um pela Alemanha e outro pelo Canadá, e só voltaram pensando numa coisa : dar um jeito de voltar correndo prá lá.

    1. Claro que não

      Afinal tem-se de dar 48 bilhões ao judiciário para pagar os ternos em Miame. Ou as emendas parlamentares para consolidar o golpe. Ou os desvio de grana da saude e educação para as mamata do temer e quadrilha. E se estamos quebrando é por que para derrubar o PT a direita deu um golpe mais baixo ainda de tentar quebrar o país. Comprovado estatisticamente em tese.

      https://jornalggn.com.br/noticia/os-impactos-da-lava-jato-na-petrobras-e-na-economia

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