Brasil 2015: a política industrial da saúde

 

Muito se tem falado em um novo modelo econômico casado com as demandas sociais, explorando as necessidades do país em saúde, educação, saneamento etc.

O modelo existe e está pronto para servir de modelo a outros setores. Trata-se do Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde, a melhor e mais promissora política industrial moderna lançada no país.

Criado na gestão José Gomes Temporão, no Ministério da Saúde, reforçado na gestão Alexandre Padilha, preservado depois dos problemas da Labogen, e nas mãos firmes de Carlos Gadelha – Secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde -, o PDP é um modelo vitorioso.

***

Não segue a receita da Índia. Lá, montaram grandes multinacionais de genéricos e princípios ativos, mas totalmente dissociadas da política da saúde. Dos 1,2 bilhão de habitantes, apenas 400 milhões têm acesso à medicina ocidental.

***

No caso brasileiro, o PDP foi desenhado a partir das necessidades da população.

Parte-se do princípio que nem toda incorporação tecnológica é adequada. Cabe ao Ministério da Saúde definir as prioridades. Outra característica brasileira é a rede de laboratórios públicos, praticamente inexistentes em outros emergentes.

Definidas, entra em cena o modelo, que conta com as seguintes pernas:

  1. O Ministério da Saúde definindo as compras.

  2. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financiando as empresas; e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) financiando a pesquisa.

  3. Um laboratório público, incumbido de assimilar a tecnologia.

  4. Uma multinacional incumbida de transferir a tecnologia.

  5. Um laboratório brasileiro definindo o acesso ao mercado.

Até agora foram assinados 104 contratos de PDPs, para 97 produtos, sendo 66 medicamentos, 7 vacinas, 19 produtos para a saúde e 5 de pesquisa e desenvolvimento. Entraram 79 parceiros, sendo 19 laboratórios públicos e 60 privados.

***

Tem-se o mercado. De 2004 a 2011 o mercado brasileiro de medicamentos saiu da 11a para a 6a posição mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, Japão, China, Alemanha e França.

Tem-se o sistema de compras, graças à estrutura do SUS. Atualmente as compras das PDPs chegam a R$ 8,5 bilhões/ano.

Tem-se os laboratórios públicos. E tem-se os mecanismos de financiamentos dos privados nacionais.

***

A inclusão do produto precisa obedecer a pelo menos um dos critérios fixados: produto essencial para o SUS e para a capacitação tecnológica do país; custo de aquisição no SUS e/ou déficit da balança comercial superior a R$ 10 milhões; incorporação no SUS: protocolos clínicos novos; e com risco de desabastecimento.

***

Finalmente, tem-se a fronteira tecnológica. Segundo Temporão, dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que nos próximos vinte anos, as doenças de maior impacto serão a demência e os distúrbios neuropsíquicos.

Além disso, o modelo atual da indústria farmacêutica – baseado na química – está esgotado. A curva de novos lançamentos vem caindo gradativamente.

A nova onda será a dos biofármacos, de moléculas grandes e complexas.

É essa nova fronteira tecnológica que fecha o ciclo, permitindo ao país reforçar sua política de saúde apostando no futuro.

Luis Nassif

23 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A área de saúde os últimos governos deram um show de bola

    Na área de saúde os últimos governos deram um show de bola, demonstrando que quando se tem vontade política se cria um planejamento de longo prazo e o executa com eficiência como a matéria de Nassif detalhadamente exemplifica.

    Uma pena que dos blogs ou sites alternativos apenas o GGN vem dando a merecida cobertura.

    A mídia tradicional totalmente omissa.

    Essa é a diferença de “comunicação” dos governos do PT e do PSDB.

    Enquanto essa construção grandiosa analisada pela matéria não tem divulgação, a quebra de patente de Serra foi durante anos colocada pela imprensa como uma das sete maravilhas do mundo.

  2. Notícia boa

    Sensacional notícia. Parabéns, Nassif, por divulgar matéria de tanta relevância para a sociedade. É pena, porém, que tão poucos jornalistas e meios de comunicação estejam interessados em mostrar as melhorias que vem ocorrendo em nosso país nos últimos anos.

  3. Labogen, PDP, operação

    Labogen, PDP, operação lava-jato, doleiro Youssef, André Vargas e Padilha.

    MP e Polícia Federal. Admirável mundo novo! Amnésia eleitoral!

    Tamo junto! 

    1. Nassif, jornalista de visão…

      Parabens por ser um jornalista  imparcial, e  que sabe ” enxergar ”  muito alem do que parece “óbvio”…

  4. O GOVERNO DO PT É MUITO ESQUISITO…

    Quem comanda a política industrial são os demais ministérios, não o ministério da Fazenda, depois não entendem porque criticamos o Mantega (que acha, dando dinheiro para grandes empresários está tudo resolvido).

    Morro de rir quando vejo gente politicamente de esquerda comemorando investimento chinês automobilístico no Brasil, que deveria ser brasileiro.

    Além da indústria naval, de bens de capital e saúde, há muita coisa boa sendo feita na de defesa, mesmo assim pouco para o que o Brasil precisa.

    Mais um motivo para os paulistas elegerem o Padilha, num estado que já foi a locomotiva do país e hoje decadente industrialmente.

  5. essa matéria dá algum alento

    essa matéria dá algum alento par essa área tão esculhambada pela grande mídia conservadora…nas tvs a gente v~e só  desastre, só coisas contra o setor,,pegam casos pontuais e generalizam sempre sizendo que o problma é dfederal e jamais rtesponsabilizam oo governo estadualm por exemplom o primeiro que deveria responder aos problemas. ouvii na band uma reportagem em municípios de s~~ao paulo em que o orepórter mostrava claramente os nomes dos municípios e a responsabilidade deles mas na hora do âncora falar ele atacava o governo federal… a técnica de ataque agora  nestes casos, é inisistir no bordâo “esta  é a triste  siituação da saúde brasileira”.

    é óbvio que o telespectador mais desavisado, menos malicioso, ligará essa frase ao governo federal…

     

  6. Marketing

    Esta notícia me lembrou dos tempos da ditadura militar quando o governo vinha com a conversa fiada que ia lançar o programa A ou B, etc.. Tudo marketing. Acredita quem quer.

  7. Medicamentos para o SUS

    Depois de 12 anos fechada pelo ex governador Paulo Souto (DEM), finalmente foi reaberta a nova BAHIAFARMA

     

  8. Por que não te Kallas?

    Paradoxos:

    -A ditaduram dizia e não fazia; o atual governo faz e não diz.

    -JN e Veja divulgavam as mentiras da ditadura, hoje divulgam só mentiras sobre o atual governo.

  9. imparcial

    Nassif, parabens pela imparcialidade, se tivessemos no Brasil pelo menos 10% dos jornalista fasendo o que você faz teriamos um povo mais polido politicamente, que votaria por ideologia politica envês de ser uns Maria vão com as outras e se deixando emprenhar pelos ouvidos.

    1. Comentário

      Nunca vi tanta imbecilidade junta com desinformação, dizer que se o povo fosse mais informado votaria por ideologia. No mundo inteiro, onde há democracia o povo vota por bons resultados na administração do pais. Se os dirigentes forem relapsos como os brasileiros e não promoverem serviços de qualidade à população, são defenestrados. Aqui nesta republiqueta é que se fala em voto ideologico. Quanta ignorância.

  10. SUS

    Este é o SUS que a mídia e classe média desinformada demonisa. Os brasileiros precisavam conhecer a saúde pública exercida em países que se dizem de primeiro mundo.

  11. Saúde Pública

    Sou médico e faço saúde pública  há 50 anos e continui trabalhando pela saude da polação. Não concordo com a opinião de profissionais que procuram se realizar profissionalmente sem cumprir um programa em que estejam incluidos populações menos favorecidas, sabendo que esses profissionais, a maioria, foram formados com recursos da nação, por conseguinte, dos aludidos  pagadores de impostos. Meu currículo está a disposição.

    1. Parabéns, José erb
      Parabéns, José erb Ubarana!

      Precisamos de mais médicos com a sua maneira de pensar e atuar.

      O Brasil agradece o seu compromisso.

  12. Este é sem dúvida um

    Este é sem dúvida um excelente programa que há tempos venho observando. Fruto da criatividade brasileira, que a maioria de nós não reconhecemos. Precisamos ser mais participativos, atuarmos como fiscais, para evitar que fraudes e corrupções não coloquem a perder tais mecanismos. Não pode existir empresa de fachada fornecendo remédios que não existem e lavanod e enxaguando dinheiro com doleiro, ou favorecer empresa cubana, só porque são antigos parceiros de exílio.

  13. mundo do faz de conta

    Faz de conta que tudo nesse pais funciona e sua materia deveria ser motivo para eu aplaudir de pé as ações do governo…

    a realidade que eu enfrento como médico é a seguinte…

    paralizaram a ANVISA, não se dá licença a importação de mais nada, muitos materiais e medicamentos já em uso no exterior não estão disponiveis aqui e não sai autorização para se utilizar, a não ser por medidas judiciais, caso a caso.

    nós sabemos que a opção terapeutica existe mas não temos acesso a ela, essa industria tupiniquim que voce cita ainda não existe, deverá ser criada pelos estimulos citados, mas até lá o que eu faço com os meus pacientes ?

    esse modelo é um desenho protecionista. Coisas do passado que já sabemos que não funciona, como não funcionava com a industria automotiva, liberada das amarras pelo Collor (quem diria que aquilo faria algo que prestasse).

    Deveria ser utilizado somente para determinar o que seria comprado pelo SUS, ponto.

     

     

    1. Política Industrial de Saúde

      Já que o digno doutor fez questão de na sua “elegância” ironizar com o mundo de faz de conta, cabe destacar que há sem dúvida uma política industrial da saúde, pode não ser a política dos sonhos e sua efetivação, como toda política de impacto social e econômico, depende muitas variáveis, inclusive do complexo modelo assistencial ainda em construção no país e as forças contrárias a ele, as quais representadas por determinados segmentos e corporações profissionais, ainda teimam em submeter este modelo à lógica da medicina liberal com forte incorporação tecnológica sem a devioda avaliação do seu impacto e do custo-benefício da mesma…Alguns profissionais médicos inclusive como num arroubo de fashionismo tendem a assimilar toda e qualquer novidade como sendo algo bom em detrimento das “tecnologias obsoletas”, que “não servem mais” ou que “todo mundo sabe qie não têm mais serventia”…

      Pode-se criticar a morosidade e a burocracia estatal, ademais presente e incrustada na cultura cartorial brasileira…diga-se de passagem um mal que não é exclusivo do setor público. No entanto é justo refletir sobre até que ponto visões do senso comum, fortemente vinculadas ou moldadas pelo discursso ideológico do complexo médico-industrial, de fato contribuem para o desenvolvimento do país, ou atendem aos interesses alheios à sociedade…

      Um olhar mais crítico talvez revele onde se encontra de verdade o mundo de faz de conta: na proposta de uma política industrial da saúde coerente com nossa realidade e necessidades de saúde ou na birrenta vontade de um “doutor fashion”

  14. Nassif

    Acompanho esse programa há muito tempo e com bastante interesse.Só não consigo fechar a conta. 

    O SUS ganha com a aquisição de medicamentos a custos menores

    O Laboratório Oficial ou Nacional ganha com a venda dos medicamentos e a detenção da tecnologia

    Um laboratório de insumos ganha com a capacitação de produção de sintese de farmacos e com a venda destes para os laboratórios nacionais ou oficiais

    E o detentor da tecnologia de produção do insumo e do medicamento, como ganha? Acesso ao mercado? Muitos deles acham mais vantajoso entrar no Brasil com suas proprias pernas ou associado a algum laboratorio nacional e vender seus produtos via licitação, sem transferir tecnologia (que custou caro para desenvolver).

  15. Cabral não veio em 2003….

    “De 2004 a 2011 o mercado brasileiro de medicamentos “

    Cadê o programa de genéricos do Serra, a abertura comercial do Collor? Tudo isso estimulou a inovação nessa e em outras áreas no Brasil!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador