Eleitorado não é tão conservador quanto se pensa, diz Roberto Dutra

Jornal GGN – Roberto Dutra, professor da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro, analisa a influência da religião na política, principalmente a questão da bancada evangélica no Congresso brasileiro, que tem 75 deputados federais e três senadores. Ele crê que o voto do eleitorado evangélico é motivado, primeiramente, pela questão da moral e dos costumes, mas diz que o eixo do bem estar social – saúde, educação e programas sociais – é determinante do comportamento eleitoral, não só dos neopentecostais como de todas as classes populares.

Dutra crê que o governo interino de Michel Temer deverá usar a questão dos costumes para fidelizar o eleitorado evangélico mais pobre, mas que este grupo tende a se distanciar do governo “na medida em que ele adotar uma política socialmente insensível de redução do gasto social”.

Para o professor, a influência da moral e dos costumes é maior nas eleições legislativas, e eleitorado brasileiro não é tão conservador quanto se imagina. “Elegemos um presidente sociólogo, um presidente operário e uma presidenta guerrilheira”, afirma. Leia a entrevista  concedia ao El País abaixo:

Do El País

“Há cegueira da esquerda para entender a nova classe trabalhadora”
 
Para sociólogo, cresce politização da religião, mas vida prática, e não moral, é fator decisivo no voto
 
André de Oliveira
 
Compõem hoje a maior bancada evangélica da história do Congresso brasileiro 75 deputados federais e três senadores, o que faz com que, cada vez mais, suas posições e acordos tenham relevância no cenário político. Para Roberto Dutra, doutor em sociologia pela Universidade Humboldt de Berlim e professor da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), o posicionamento dos congressistas, contudo, não deve ser confundido com as convicções doeleitorado evangélico como um todo. Em um momento em que esse grupo político se uniu em torno do impeachment e de teses conservadoras no campo dos costumes, Dutra avalia em entrevista ao EL PAÍS os reflexos da interferência da religião na política e com que olhos os fiéis enxergam isso. Leia abaixo os principais destaques da conversa.

Pergunta. Existem hoje temas específicos que motivam o voto do eleitorado evangélico?

Resposta. São vários temas, mas há dois eixos temáticos que têm se destacado. O primeiro é a questão da moral e dos costumes que, contudo, até agora foi determinante apenas em eleições legislativas. Isso não quer dizer que essa temática não possa se tornar central em algum momento nas executivas, mas, por enquanto, ela depende muito mais da instrumentalização política que líderes de perfil religioso têm feito dela. Falar de costumes tem atraído um eleitorado, mas o que realmente explica as motivações do comportamento eleitoral, não só dos evangélicos, mas de todas as classes populares – considerando aí que a maior parte dos evangélicos pertence às classes populares – é o eixo do bem estar social. A preocupação é muito mais prática: saúde, educação e programas sociais.

P. A bancada evangélica votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e tem expressado apoio a Michel Temer. Essa adesão é transferível ao eleitorado evangélico?

R. É difícil fazer uma previsão, mas eu acredito que há uma tendência do Governo Temer tentar usar a pauta dos costumes para fidelizar esse eleitorado evangélico mais pobre, que, contudo, tende a se distanciar dele na medida em que ele adotar uma política socialmente insensível de redução do gasto social. Nós não podemos pegar um momento como esse, em que a grande polarização ideológica e cultural leva a um fortalecimento da pauta dos costumes, e projetar isso no comportamento eleitoral das eleições deste ano ou de 2018. O voto religioso é circunstancial e muito mais presente nas eleições legislativas do que nas executivas. Por isso, eu acredito que se o Governo Temer não for capaz de fazer uma política social minimamente satisfatória do ponto de vista dessa população, ele não vai conseguir o apoio dela.

P. E por que o discurso moralista de políticos religiosos perde força nas eleições majoritárias?

R. Por razões próprias da política. Você consegue angariar um número grande de votos para eleger um deputado como o Bolsonaro, fazê-lo o mais votado. Mas na eleição do executivo, a maior parte do eleitorado não vota por religião e é também alimentada com informações que servem para descredenciar o perfil religioso do candidato religioso. Foi o caso do Marcelo Crivella (PRB), que perdeu a eleição para Governador do Rio de Janeiro de forma avassaladora para o Luiz Fernando Pezão (PMDB). No final, a vinculação do Crivella à Igreja Universal do Reino de Deus atrapalhou. Tanto é que dizem por aí que o Crivella está pensando em se desvincular do PRB, aderindo a um partido não religioso. Ao contrário do que se pensa, o eleitorado brasileiro tem bom senso. Elegemos um presidente sociólogo, um presidente operário e uma presidenta guerrilheira. É um eleitorado que não é tão conservador como se imagina.

P. De qualquer jeito, a bancada evangélica tem crescido em número e importância nos últimos anos. O que explica o crescimento?

R. A extrema facilidade com que os líderes religiosos pentecostais lidam com as regras da política. É a capacidade dos evangélicos buscarem a vida política através do pragmatismo. O Edir Macedo, por exemplo, apoiou o Governo Dilma até recentemente. Se acontecesse uma improvável volta de Dilma daqui alguns meses, não tenho dúvidas de que ele estaria pronto para apoiá-la novamente. Também é importante dizer que é um equívoco falar em coesão da bancada religiosa. A Igreja Universal, por exemplo, tem uma estratégia de atuação parlamentar bem diferente da Assembleia de Deus. Só há união em momentos específicos, como agora.

P. E não há interferência direta de algumas igrejas no processo eleitoral?

R. Hoje há, de fato, igrejas aparelhadas. São verdadeiras redes que grandes líderes políticos, como Eduardo Cunha, oferecem como recurso político para outros líderes. O que vemos é que o púlpito tem fidelizado muito para o legislativo. Mas a curiosidade é que, do ponto de vista programático, o repertório do sucesso das eleições legislativas dos evangélicos é um repertório corporativo. É mais algo do tipo “vote no deputado porque ele vai defender nossa igreja” e menos “vote no deputado porque ele é contra o aborto”. Costume e moral não são os fatos predominantes para explicar o voto. É muito mais o sentimento de corpo mesmo, que é instrumentalizado pelos pastores. Então, o que eu arrisco dizer é que existe, sim, um crescimento grande da instrumentalização política das igrejas, mas isso não é uma garantia de votos e pode, em determinado momento, virar até motivo de debandada de fiéis.

P. Por quê?

R. Ser evangélico não é pré-requisito de voto para o eleitorado evangélico. As pessoas observam aquilo que a mídia fala delas, a imagem que é projetada sobre elas. Ficam preocupadas com a interferência de líderes evangélicos na política. Se há um movimento crescente de transformação das igrejas em curral eleitoral, por outro lado, aumenta o sentimento de muitos fiéis de que eles estão sendo feitos de palhaços pelo pastor. E ao mesmo tempo em que aumenta a politização conservadora da religião, aumenta também o sentimento de que a fé das pessoas está sendo manipulada por interesses próprios. E aí a concorrência religiosa é fatal. O Brasil está em plena modernidade religiosa. Caso esse sentimento dos fiéis aumente, pode surgir uma variável de dinamização do próprio mercado religioso.

P. Você identifica em algum grupo específico esse olhar mais crítico?

R. Talvez nos jovens. Hoje há uma geração de jovens que já pode ser chamada de “evangélicos não praticantes”. Uma coisa é você ser convertido para uma religião evangélica, outra é você nascer nessa cultura. Aí é natural que você olhe de modo mais distanciado. De qualquer jeito, é importante não confundir os líderes políticos que têm um perfil religioso – ou seja, líderes políticos que tem na religião um recurso de poder e mobilização eleitoral – com as formas de comportamento, consciência e visão de mundo dos evangélicos como um todo. Além disso, apesar de óbvio, é necessário dizer que os evangélicos também são heterogêneos. De modo que há na classe média brasileira intelectualizada e, inclusive, de esquerda, um preconceito muito grande contra os evangélicos. Há a premissa de que eles são burros, que eles não sabem olhar com distanciamento a pauta política do Feliciano, do Malafaia, do Pastor Everaldo, do Bolsonaro.

P. E como esse distanciamento da esquerda aparece de forma prática?

R. Ela não consegue ver a possibilidade de disputar a fidelidade eleitoral e ideológica desse público. Dou o exemplo mais forte. Um tema central na vida cotidiana dos evangélicos é a família, mas a esquerda taxa isso de puro conservadorismo. A única alternativa política que tem tematizado o tema da família é – em uma democracia como a nossa, e eu diria que em várias outras também – a da direita. Ou seja, é justamente quem fala para os evangélicos: a família corre risco porque os homossexuais, a ideologia de gênero e os “esquerdopatas” estão ameaçando ela. Sem outra explicação, muitas vezes o indivíduo aceita essa mesma. Assim, a identificação dos evangélicos com a pauta política de seus líderes vem em alguns casos por pura falta de alternativa e compreensão dos setores ditos mais esclarecidos da sociedade que não conseguem compreender que o tema da família não é necessariamente conservador.

P. E por que esse tema tem tanto apelo?

R. Por razões de classe social. Os evangélicos se dividem, basicamente, em dois tipos de classe, que eu e o grupo de pesquisadores em torno do sociólogo Jessé Souza, costumamos dividir como ralé estrutural e batalhadores. O primeiro é um público completamente excluído das principais instituições da sociedade. Em geral, eles frequentam igrejas evangélicas que funcionam como uma espécie de pronto socorro espiritual. O segundo grupo tem uma vida familiar e social mais estável, com vínculos sociais mais fortes. Há uma proteção e solidariedade com que a ralé não conta. Para os dois públicos, contudo, a ameaça familiar é uma ameaça real e constante, seja por fatores econômicos, de alcoolismo ou de desestabilização social, como a falta de uma moradia decente. São problemas que as classes populares e excluídas enfrentam no mundo inteiro. Ora, só vai considerar o tema da família conservador quem não vê no abandono um problema cotidiano. Em resumo, os evangélicos agem muito mais por interesses práticos e que podem tomar rumos muito variados, de acordo com os partidos políticos que interpretam esses interesses práticos, do que propriamente por convicções conservadoras. Convicções que eles podem até ter, mas que não são tão claras e fortes como se imagina.

P. Mas onde entram as classes mais altas evangélicas nessa separação que você colocou?

R. Elas constituem um público mais tradicional, não pertencente historicamente às classes hegemônicas católicas brasileiras, que em geral faz parte das chamadas igrejas protestantes históricas ou de missão, como as igrejas Batista e Presbiteriana que, embora tenham copiado muitos dos ritos e das ideias das pentecostais, como Universal e Assembleia de Deus, mantêm um estilo, digamos, mais sóbrio. O público é formado por uma classe média ascendente com um determinado padrão de formação escolar e nível de renda mais estável. Mas esse é um público minoritário entre os evangélicos.

P. Pode resumir a diferença entre o protestantismo “clássico” e o pentecostalismo?

R. Ele é uma revolução protestante dentro da revolução protestante e surge na Igreja Metodista Wesleyana. John Wesley é um dos grandes fundadores do pentecostalismo, mas outros líderes menores popularizam ainda mais essa religião entre os negros dos EUA no final do século 19, início do 20. Ela se caracteriza por uma crença, muito grande, na força de Deus para mudar as coisas cotidianas. É o que podemos chamar de uma religiosidade mágica. No Brasil, isso chega em 1910, mas é só a partir da década de 1960, com a urbanização da pobreza, que o protestantismo brasileiro vai tomando a cara do pentecostalismo. Qual é a diferença básica? É que o protestantismo clássico não enfatiza tanto a presença cotidiana do espírito santo para resolver os problemas cotidianos das pessoas. O protestante batista não espera que Deus vá ajuda-lo a passar em um concurso público, já um pentecostal crê nisso. O pentecostalismo é mais popular que o protestantismo clássico. Por isso, com o tempo, vai virando a religião dos excluídos. Disso que nós denominamos ralé estrutural. É uma religião que oferece valor social para os excluídos: Deus tem um projeto para sua vida, você vale alguma coisa.

P. Você disse que existe um preconceito de setores progressistas com os evangélicos. Há uma crítica de que o PT se afastou dos mais pobres nos últimos anos, perdendo espaço para as igrejas. Você concorda com essa avaliação?

R. Acredito que é uma explicação muito reducionista. Eu concordo que o PT se distanciou dos pobres, mas o que significa isso? O PT certamente não se distanciou dos pobres no sentido de fazer políticas sociais para os pobres. No entanto, o PT se distanciou culturalmente dos pobres. O PT é informado por uma visão de esquerda de que os pobres devem seguir um modelo de ser e agir que vem dos moldes dos sindicatos. Os pobres devem ser coletivistas. Os pobres devem se enquadrar em um viés de solidarismo anti-individualista. Toda vez que o PT encontra a valorização do indivíduo, a valorização da autonomia do indivíduo frente às intempéries da vida, que, em resumo, é a pregação cotidiana das igrejas pentecostais, o PT aponta o dedo acusatório: “É a pregação do individualismo, é a pregação do neoliberalismo dentro das igrejas”. O PT não entende essa filosofia liberal popular e nem o valor moral do individualismo que está por trás dela.

P. O que você quer dizer com “valor moral do individualismo”?

R. É a ideia de que para ser alguém valoroso na sociedade é preciso ser um indivíduo respeitado em sua privacidade, em seu projeto de vida. De modo que há, de forma muito presente nas igrejas, essa cultura da valorização da iniciativa individual. E isso não significa a negação da solidariedade. Acredito que há uma cegueira do PT em compreender a alma e a cultura dessa nova classe trabalhadora que não é formada no sindicato e que hoje é a maior parte dos brasileiros pobres e remediados do país. Esse é o distanciamento que existe, mas ele não é exclusivo do PT. A esquerda de forma geral não entendeu que o sonho dessa nova classe trabalhadora é, muitas vezes, ter uma empresa própria, ser um empreendedor. Há muitas semelhanças com a população dos EUA, por exemplo. É um liberalismo popular que não é, necessariamente, conservador. Hoje, esses ideais liberais de autonomia e afirmação do indivíduo estão em disputa e os conservadores têm conseguido capturá-los com mais eficiência.

Redação

9 Comentários

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  1. Novo coronelismo
    Dizer-se evangélico e pedir, aliás, comprar o apoio de pastores através de doações é a nova forma de coronelismo que pensávamos ter estirpado com a internet e a urna eletrônica

    Se o Estado é laico deveria ser simplesmente proibido pedir voto em culto e candidaturas de pastores e bispos.

    Pior que a cleptocracia em que vivemos será uma teocracia dos ditos “crentes” que vão fazer a Santa Inquisição e o Holocausto parecerem fichinha perto da Intifada evangélica.

    Nem Jesus vai nos salvar com neopentecostais se infiltrando em todas as esferas do governo.

  2. O rebanho precisa ser ludibriado com ópio, religião, disse Marx
    É PRECISO DISCUTIR MUITO E URGENTE:  RELIGIÃO,POLÍTICA, FUTEBOL E O FIM DA TV GLOBO!!!! Religião é o ópio do povo, disse Karl Max… A recente implantação de religiões no país é tática nazifascista usada por intervenção e orientação dos EUA/Israel na política brasileira para fortalecer governos neoliberais no controle da mente da população ordeira, obediente, religiosa e cega e na desestabilização de governos progressistas, democracias sociais anti capitalistas.  “A religião é o ópio do povo”, escreveu Karl Marx em 1843, falando sobre a realidade que o cercava na Europa. Era um mundo em que ateus e agnósticos eram figuras raras, enquanto a maioria professava uma fé, uma religião. Marx estava dizendo que o ópio/religião era usado pelas pessoas para se desligar da realidade dura e incompreensível. Ao longo das décadas seguintes, prevaleceu uma interpretação mais política da frase.  Hoje, as mídias usadas (fora da lei do estado laico) para fins religiosos são as principais ferramentas de manipulação do rebanho obediente, sem crítica. A proliferação de “igrejas”, está ligada diretamente a bancada da bala que regularmente visita Israel. A questão da privatização da segurança, a questão prisional, do tráfico de drogas, da lei de maioridade penal entre outras mazelas do povo pobre e das periferias estão intimamente ligadas a essas táticas religiosas nazifascistas e terroristas… É necessário e muito importante discutir religião, política. futebol, fim da Tv Globo! URGENTE!!     

  3. A esquerda se fechou no discurso para ela mesma

    Vários setores da sociedade se radicalizaram na direita pela falta de diálogo da esquerda com o restante do espectro social. Mesmo setores de centro-esquerda pularam do barco (e me incluo entre esses) dada a manipulação retórico-ideológica descarada ao longo da última década e o reacionarismo de nossa esquerda em não ter simplesmente nenhuma ideia sequer de como reformar nosso estado para modernizá-lo. Tenho poucas simpatias pelo obscurantismo evangélico, mas entender que eles não são uma massa uniforme, e que entre eles constam correntes menos fundamentalistas é essencial para voltar a estabelecer um diálogo fora da agenda conservadora lamentável em andamento no país.

  4. A esquerda se fechou no discurso para ela mesma

    Vários setores da sociedade se radicalizaram na direita pela falta de diálogo da esquerda com o restante do espectro social. Mesmo setores de centro-esquerda pularam do barco (e me incluo entre esses) dada a manipulação retórico-ideológica descarada ao longo da última década e o reacionarismo de nossa esquerda em não ter simplesmente nenhuma ideia sequer de como reformar nosso estado para modernizá-lo. Tenho poucas simpatias pelo obscurantismo evangélico, mas entender que eles não são uma massa uniforme, e que entre eles constam correntes menos fundamentalistas é essencial para voltar a estabelecer um diálogo fora da agenda conservadora lamentável em andamento no país.

  5. esrtimulante a

    esrtimulante a constastação do professor,

    pois nem tudo estaria perdido e nem todo mundo entra

    nesse jogo espúrio do uso político da religião….

  6. Mais uma observação interessante nesse texto

    Vejam que bela frase: “Há cegueira da esquerda para entender a nova classe trabalhadora”. Qualquer trabalhador em informática sabe o quanto nossa legislação é ultrapassada. Como temos uma lei de terceirização arcaica, boa parte desse tipo de trabalhador é obrigada a abrir uma empresa para prestar seus serviços, com CNPJ e toda a burocracia paleolítica que acompanha esse processo Brasil. E aí entram situações que a esquerda que vive dentro de gabinetes acadêmicos não tem noção que existem: empresários não tiram férias, nem têm décimo terceiro. Um trabalhador autônomo como esse passa então a ser considerado empresário, tendo menos direitos até que um trabalhador terceirizado. Isso sem contar o tempo e esforço que ele passa a ter de dispender com tributos e burocracias. Caso tivéssemos uma legislação trabalhista mais dinâmica, essas pessoas poderiam ser contratadas via CLT em empresas terceirizadas, sem terem de passar anos e anos sem férias, sem FGTS, sem nenhum dos benefícios que os demais trabalhadores têm. A nossa legislação trabalhista faz coisas como essas… Outra coisa inaceitável para qualquer trabalhador da iniciativa privada é ver os privilégios imorais dos funcionários públicos em geral. Essa é outra história, mas a esquerda brasileira ainda não se deu conta da injustiça de classe que ela defende com esses privilégios.

     

  7. Interdições.

    Ótima entrevista.

    O que o Roberto (Torres) diagnostica com precisão é a falta de capacidade do PT e das esquerdas em combaterem a luta política dentro do campo cultural e simbólico dessas classes heterogêneas (ralé estrutural e batalhadores), e como esses setores aderem a um conjunto de valores que a esquerda imagina serem antagônicos ao seu esquema clássico de luta de classes.

    De um lado a crença economicista de que o conforto econômico daria conta dos desejos desses setores, criando uma solidariedade automática, de outro, a raiz católica eclesial de base, que ainda que possa ser considerada um avanço frente a estrutura conservadora de Roma, mesmo assim traz em sua dogmática a aversão ao discurso praticado pelos neopentencostais, que conseguem justificar o “sucesso individual”, sem culpas, mas antes como obra divina aos que creem.

    Junte-se a isso tudo uma boa dose de preconceito legado pela nossa origem classe média, que detona os pentencostais, mas rebola e urra com os padres-cantores, e a renovação carismática, versão católica do púlpito-show…

    São várias incapacidades, que impedem uma correta visão e planejamento da abordagem desses setores, da interlocução com suas expectativas, e claro, com a chance de reverter concepções mais atrasadas, sem desqualificar a posição do outro.

     

     

  8. Como ganhar uma eleição

    O fiel da balança

    O que faltou para as esquerdas entenderem, é a mentalidade do povo, que tem mudado. O povo não votou em conservadores políticos, mas em conservadores políticos disfarçados de líderes religiosos. Temos hoje cerca de 35 milhões de evangélicos, que na maioria se deixarão levar pelos candidatos “pastores”.

    Aqui no Brasil a mania de misturar religião com política gera um engodo para o povo que é utilizado pela direita reacionária. Por isto eleição nenhuma irá mudar o país nem em 2018, enquanto a esquerda não compreender isto.

    Para ganhar uma eleição, um candidato de esquerda pode até ser progressista nos assuntos econômicos, mas precisa ser conservador nos assuntos de religião, recato, e moralidade, ou pelo menos neutro.

    Por exemplo, o PSOL não sai de seus míseros 2% de votos, elegeu 3 deputados para uma  Camara que tem 500 deputados, apesar de ser um dos partidos mais bem avaliados no Congresso. É que eles se declaram abertamente a favor de liberação das drogas, de liberação do aborto, e outras coisas mais, que num país de religião conservadora como o nosso, é escândalo imperdoável, pelo menos na cabeça do eleitor. Mas a teimosia dos PSOListas não deixa eles verem isto.

    Serra só ganhou para o Senado porque Marta falava de assuntos polêmicos de sexualidade abertamente, numa sociedade conservadoríssima como o Estado de SP, isto foi determinante para a derrota dela, ou seja ela ajudou Serra a ganhar. .

    Se não puder concordar com as massas, pelo menos que declare neutralidade. Na China por exemplo, quando perguntam ao Governo o que ele acha do homossesualismo, ele responde:

    “Não aprovo, não desaprovo, não promovo”.

     

    Ou seja, é a política de neutralidade, não somos contra nem a favor, muito pelo contrário. O Governo na visão dos chineses, deve se importar só com política econômica, e evitar assuntos polêmicos, num pais tão grande e com tantas culturas, isto é Sabedoria.

    Os candidatos brasileiros poderiam aprender muito com os chineses.

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