Em São Paulo, Institutos de Pesquisa perdem metade de seus funcionários

Sugerido por Zarastro

Boa reportagem do Estadão sobre a perda de funcionários dos institutos de pesquisa de SP. Sem histerismos, mostra a realidade de alguns IPs do estado, que enfrentam antes de tudo falta de funcionários.
 
Do Estadão
 
REPORTAGEM ESPECIAL: Institutos de Pesquisa de SP perdem metade de seus funcionários e sofrem para manter vivo seu patrimônio científico e intelectual
 
Muitas áreas de pesquisa estão sendo prejudicadas pela falta de cientistas. Sem funcionários de apoio, pesquisadores têm de varrer o chão e limpar banheiros.

Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

Aos 61 anos de idade, 37 deles dedicados à pesquisa científica, Yara Aiko Tabata já poderia estar aposentada desde 2010. Não se aposenta porque não quer ver sua pesquisa morrer. Ela é a única pesquisadora em atividade na Estação Experimental de Salmonicultura do Estado de São Paulo, responsável por um tradicional programa de pesquisa e reprodução de trutas em Campos do Jordão, nas montanhas do Vale do Paraíba. O único cientista que atuava ao lado dela – seu marido – morreu em junho de 2012.

“Já passou meu tempo de aposentadoria, mas não tem nenhum outro pesquisador aqui e não há perspectiva de reposição. É muito preocupante”, afirma Yara, médica veterinária desde 1975 e pesquisadora concursada do Estado desde 1976. “Não me aposento porque gosto muito do meu trabalho; fazemos das tripas coração aqui para que tudo funcione.”

Histórias semelhantes à de Yara podem ser ouvidas nos laboratórios, museus e campos de experimentação de quase todos os Institutos de Pesquisa (IPs) vinculados ao governo do Estado. São 19 ao todo, subordinados a quatro secretarias (Agricultura, Meio Ambiente, Saúde e Planejamento). Entre eles, vários centros históricos e de referência em suas áreas, como o Instituto Agronômico de Campinas, o Instituto Biológico, o Florestal, o Geológico, o de Pesca, o de Botânica, o de Economia Agrícola, o Adolfo Lutz, o Butantã, o Dante Pazzanese e o Pasteur. (lista completa: institutos_de_pesquisa_sp)

Yara estava no quadro do Instituto de Pesca até 2002, quando a gestão da estação de Campos do Jordão foi transferida para o Departamento de Descentralização do Desenvolvimento (DDD), daAgência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), entidade guarda-chuva que abriga os seis institutos de pesquisa da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.

A estação sobrevive economicamente da venda de embriões e alevinos e não sofre tanto com problemas financeiros, mas vive uma penúria de recursos humanos. Anos atrás, chegou a ter 15 funcionários, incluindo 2 pesquisadores e 13 servidores de apoio. Hoje, tem apenas 4, incluindo Yara, dois auxiliares de campo e uma pessoa de apoio administrativo — todos na faixa dos 50 anos. Assim, a unidade segue funcionando, mas sobra pouco tempo para Yara se dedicar à pesquisa científica propriamente dita. “A atuação do pesquisador fica muito limitada por funções administrativas”, lamenta. “A falta de mão de obra é um problema generalizado nos institutos. Faz muito tempo que não há concurso.”

Juntos, os IPs têm cerca de 1,5 mil pesquisadores em atividade, mas deveriam ter cerca 2,2 mil. Mais de um quarto (28%) dos cargos de pesquisador estão vagos nos 19 IPs. Na soma de todas as carreiras, incluindo os cargos de apoio técnico e administrativo, os institutos estão operando com apenas metade, aproximadamente, do quadro de funcionários que deveriam ter, segundo dados compilados pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) e diretores dos IPs. A outra metade foi esvaziada ao longo dos últimos anos por aposentadorias, mortes, exonerações e perda de funcionários para outras instituições. (Clique aqui para ver uma tabela com o índice de ocupação de cargos de cada instituto: IPS_Tabela)

“Muita gente está se aposentando e essas vagas não estão sendo repostas”, diz o entomólogo Laerte Machado, pesquisador do Instituto Biológico desde 1983 e presidente da APqC desde 2012. “Corremos o risco de um apagão científico.”

O intervalo médio entre um concurso e outro tem sido de dez anos, e o problema se agrava diariamente com o envelhecimento do corpo científico. Mais da metade (52%) dos cerca de 1.560 pesquisadores em atividade nos IPs tem entre 50 e 70 anos, o que significa que muitos deles estão próximos ou já com idade para se aposentar. Nos institutos ligados à Secretaria da Agricultura, só 15% dos pesquisadores têm menos de 40 anos, e o número de aposentadorias gira em torno de 12 a 15 por ano – o que significa que outros 75 pesquisadores poderão se aposentar já nos próximos cinco anos.

“É um cenário que preocupa. Corremos o risco de ficar sem pesquisadores em áreas de grande competência”, disse ao Estado o diretor da APTA, Orlando Melo de Castro. Segundo ele, seria necessário preencher 100 vagas de pesquisador e mais de 200 vagas de apoio técnico para “dar uma ajeitada na casa”, o mais rápido possível.

EVASÃO

A falta de “sangue novo” nos IPs deve-se tanto à falta de abertura de concursos quanto à dificuldade de manter os funcionários que são contratados interessados em trabalhar nos institutos por muito tempo. No Instituto Agronômico de Campinas (IAC), 36 dos 92 pesquisadores que foram contratados no último concurso (de 2003) já foram embora, além de outros 53 que se aposentaram, morreram ou foram exonerados desde 2005.

“Perdemos muita gente para universidades, empresas e institutos federais, como Embrapa e Fiocruz, que oferecem salários mais atrativos e melhores condições de trabalho”, afirma Machado, da APqC, referindo-se tanto aos pesquisadores quanto ao pessoal técnicos de apoio. “Muitos entram, ficam por um tempo, ganham um pouco de experiência, esperam abrir outro concurso e vão embora”, completa ele, num discurso corroborado por várias outras fontes ouvidas pela reportagem.

Os cargos de Pesquisador Científico Nível 1 e 2, por exemplo, pagam menos  (R$ 4,1 mil e R$ 5,5 mil, respectivamente) do que uma bolsa de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (R$ 5,9 mil). Nesse caso, a boa formação dos candidatos acaba favorecendo a evasão. “A contratação para Nível 1 não exige nem mestrado, mas a maioria já chega com doutorado”, destaca o diretor do IAC, Sergio Carbonell.

“O governo investe na formação do cientista, depois o pune com um salário ruim”, diz Orlando Garcia Ribeiro Filho, presidente da Comissão Permanente do Regime de Tempo Integral (CPRTI) e pesquisador do Instituto Butantan. (Para ver uma tabela com os salários dos institutos de pesquisa, clique aqui: http://migre.me/hjE3G. E para os valores de bolsa da Fapesp, clique aqui: http://www.fapesp.br/3162)

Subordinado à Secretaria da Saúde, o Butantan é o único dos IPs que tem uma fundação de apoio própria, de caráter privado (a Fundação Butantan), o que ajuda – e muito – a proteger a saúde financeira do instituto. “A verba de custeio que a gente recebe do Estado não paga nem as contas de água e luz”, diz o pesquisador Lanfranco Troncone, do Laboratório de Farmacologia, pesquisador do instituto desde 1987.

Ainda assim, o Butantan sofre tal qual os outros com a falta de recursos humanos, que só podem ser contratados diretamente pelo Estado, via concurso público.

“Por enquanto estamos dando conta de manter as coisas funcionando, mas a situação está começando a ficar crítica”, diz o diretor substituto do instituto, Marcelo de Franco. Segundo ele, o Butantan precisa “imediatamente” de pelo menos 50 novos pesquisadores e 20 auxiliares técnicos de nível superior, só para garantir a realização de projetos já contratados com o Ministério da Saúde, voltados para a produção e desenvolvimento de vacinas. O governo do Estado concordou em autorizar as contratações no final de setembro, segundo de Franco, mas até agora nada foi publicado no Diário Oficial.

A situação, tal como nos outros institutos, tende a se agravar rapidamente. A média de idade dos 184 pesquisadores em atividade no Butantã é de 52 anos, e a expectativa é que mais de 50 deles se aposentem nos próximos cinco a dez anos.

REVEZAMENTO

Diretores e cientistas ouvidos pela reportagem justificam o pedido de urgência nas contratações com o fato de que é preciso garantir um tempo mínimo de convivência entre os pesquisadores seniores que estão saindo e os jovens cientistas que estão entrando, de modo que a experiência e o conhecimento acumulados pelos primeiros possam ser transferidos de uma geração para outra. “Não adianta só contratar alguém novo depois que o antigo já foi embora; precisamos de concursos frequentes para manter o fluxo de pessoas e garantir a transferência do conhecimento acumulado”, afirma de Franco.

Cerca de 57% dos pesquisadores em atividade nos institutos são de Nível 5 e 6, os mais alto da carreira científica no Estado. Apenas 13% são de Nível 1 ou 2. No Instituto Agronômico de Campinas, por exemplo, 97 dos 160 pesquisadores em atividade são do Nível 6 e nenhum, do Nível 1. No Instituto Biológico, a proporção é de 53 e zero. No Instituto de Pesca, 27 e 3.

O ideal, segundo várias fontes ouvidas pela reportagem, seria fazer pequenos concursos regularmente, em vez de grandes concursos esporádicos. “É muito ruim esse negócio de abrir concurso só a cada dez anos”, diz o diretor da APTA, Orlando de Castro. “Fazer pesquisa é como uma corrida de revezamento, sem linha de chegada. Se você não tiver para quem passar o bastão, ele cai no chão e é difícil de recuperar depois.”

Muitas linhas de pesquisa são umbilicalmente ligadas a pesquisadores específicos, que, como no caso de Yara, temem ver seu legado científico ser engavetado depois de se aposentarem. Como vem acontecendo, por exemplo, em algumas das linhas mais tradicionais de pesquisa do IAC: o melhoramento genético de plantas para a agricultura. “Melhoramento é uma atividade de longo prazo e de alto risco; se não tiver manutenção, se não tiver continuidade, acaba”, diz o pesquisador Carlos Rossetto, de 74 anos, aposentado compulsoriamente do IAC aos 70, em 2009 – ou “expulso”, como ele prefere dizer, porque sua vontade era continuar trabalhando.

Rossetto cita os programas de melhoramento de algodão, arroz e trigo como exemplos de abandono. “Esses programas estão morrendo; estão sendo sepultados, eliminados, destruídos”, esbraveja o cientista, membro da APqC.

O diretor do IAC, Sergio Carbonell, ressalta que o instituto continua extremamente produtivo, com 54 cultivares lançadas nos últimos dois anos para uma grande variedade de culturas – entre elas, o “feijão do milênio”, a milésima cultivar lançada pelo IAC em seus 126 anos de existência. Porém, não esconde os problemas. “Temos alguns programas hoje sem especialistas”, reconhece Carbonell, citando como exemplo os de trigo de inverno, soja e adubos verdes. Outros, como os de amendoim, algodão e arroz sobrevivem às custas de um ou dois pesquisadores, também em vias de se aposentar. “Não é um instituto que está morrendo, mas precisamos de investimentos e contratações para continuar competitivos em algumas áreas”, diz.

FOTO: Mudas de feijão no IAC. Crédito: Ricardo Lima/Estadão

FALTA DE APOIO

A redução do número de auxiliares técnicos e administrativos é outro problema crítico nos institutos, já que sem esses funcionários a carga de trabalho dos pesquisadores aumenta significativamente, reduzindo o tempo que eles têm disponível para se dedicar à ciência propriamente dita — como no caso de Yara.

“Em vez de fazer pesquisa, eles têm de ficar cuidando da infraestrutura dos laboratórios”, afirma Machado, da APqC. “As pesquisas de campo foram reduzidas drasticamente, principalmente na agricultura, porque não há quem cuide dos experimentos no dia a dia.”

No Instituto de Pesca (IPesca), por exemplo, há 71 cargos vagos de auxiliar de pesquisa, 27 de assistente técnico e 40, de agentes de apoio. Na base da instituição em Cananeia, que atende o litoral sul do Estado, o número de funcionários caiu de 22, em 2005, para 8, em 2013, e deverá cair ainda mais, para 5, em 2014 (três funcionários de apoio já pediram aposentadoria) e para 3, em 2015 (com mais duas aposentadorias previstas). A sede do instituto em Santos está sem serviço de limpeza desde outubro, quando venceu o último contrato, e o Museu de Pesca da instituição opera praticamente sem pessoal. Sem previsão de quando um novo contrato de limpeza será assinado, pesquisadores do instituto foram orientados por e-mail a “conservar limpo seus locais de trabalho e as demais áreas comuns, muito especialmente sanitários e copa, além de colaborarem com o recolhimento do lixo de suas unidades”.

O diretor do Centro do Pescado Marinho do IPesca, Roberto Graça Lopes, de 61 anos (há 37 na instituição, e com planos de se aposentar em 2015) sente principalmente a falta de pessoal de manutenção, responsável por manter as coisas funcionando no dia a dia – especialmente dentro de uma infraestrutura de prédios históricos, como é o caso no IPesca e no IAC, entre outros. “Quando entrei aqui a gente tinha uma marcenaria maravilhosa, encanador, eletricista. Hoje temos apenas um ou outro resquício disso”, diz. Muitos desses serviços básicos foram terceirizados pelo Estado, mas os contratos são voláteis e os serviços prestados pelas empresas quase sempre deixam a desejar, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

“O desestímulo é muito grande; a gente trabalha em condições humilhantes”, desabafa a bióloga Roseli Torres, curadora do herbário do IAC e pesquisadora do instituto desde 1989. “Hoje em dia nem limpeza decente dentro do instituto a gente tem. Quem varre o chão e tira o lixo do banheiro somos nós.”

O diretor da APTA, Orlando Castro, reconhece que há deficiências em várias áreas dos IPs ligados à Agricultura. No que diz respeito à infraestrutura, porém, ele ressalta que foram investidos mais de R$ 70 milhões nessa área pela agência desde 2008. “Ainda há muito a ser feito, mas já melhorou muito também. A casa está relativamente bem arrumada em termos de infraestrutura”, afirma Castro.

PERSPECTIVAS

Questionadas pela reportagem se havia perspectiva de abertura de concurso para seus respectivos institutos de pesquisa em 2014, as assessorias de imprensa das Secretarias da Agricultura e da Saúde não responderam. A Secretaria do Meio Ambiente informou que “existe, sim, a expectativa de concurso para o próximo ano (2014), mas isso depende da definição orçamentária para se ter ideia de quantas vagas poderão ser abertas”.

A Secretaria da Saúde ressaltou que “nos últimos quatro anos os recursos empenhados para os Institutos de Pesquisa do Estado tiveram um aumento de 23%, totalizando R$ 329,3 milhões em 2013″.

A Secretaria da Agricultura destacou que os pesquisadores receberam um reajuste salaria de 47% em 2011, “distribuídos em 3 anos, sendo 20% (nov/11), 13,5% (nov/12) e 13,5% (nov/13)”.

 

FOTO: Sede atual do Instituto Geológico, na Água Funda. Crédito: Nilton Fukuda/Estadão

Instituto Geológico é ‘despejado’ pelo próprio Estado e prepara ‘ocupação de emergência’ em novo prédio para continuar funcionando

Dentre todas as mudanças que vem ocorrendo nos institutos de pesquisa do Estado de São Paulo, a do Instituto Geológico (IG) é talvez a única com prazo e local determinados para acontecer. A instituição tem até março para desocupar sua sede na Avenida Miguel Stéfano 3.900, no bairro da Água Funda, e mudar-se para um prédio na Rua Joaquim Távora 824, na Vila Mariana, levando consigo uma bagagem acumulada de 127 anos de pesquisa e conhecimento sobre a geologia do Estado.

O problema é que o prédio na Vila Mariana não está pronto para receber o instituto. Longe disso: precisa de pelo menos dois anos de reforma para acomodar todos os pesquisadores, laboratórios e coleções geológicas e paleontológicas adequadamente. E a mudança não é voluntária: o instituto está sendo obrigado a sair da Água Funda porque o terreno que ele ocupa, adjacente ao Centro de Exposições Imigrantes, foi cedido pelo governo do Estado à iniciativa privada em agosto, para ampliação do seu parque de convenções.

O IG e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que fica no mesmo endereço, receberam prazo de 180 dias para desocupar o local.

O plano do instituto é fazer uma “ocupação emergencial” do imóvel na Joaquim Távora até que um projeto definitivo de adequação possa ser concluído, segundo o diretor do IG, Ricardo Vedovello. Algumas instalações mais simples poderão ser transferidas imediatamente, em caráter provisório, enquanto que outras, mais técnicas – como laboratórios de análises químicas e geológicas – ficarão indisponíveis até a mudança definitiva.

A coleção paleontológica do IG, com mais de seis mil amostras fósseis de plantas e animais, deverá ser transferida provisoriamente para o Parque CienTec, vinculado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, que fica também na Av. Miguel Stéfano, vizinho ao Zoológico. “É a solução que encontramos para manter o acervo aberto e funcionando, tanto para os cientistas quanto para o público”, afirma Vedovello, que há 20 anos é pesquisador do IG. Também está sendo avaliada a possibilidade de se transferir algumas atividades para o Museu Geológico que o instituto mantém no Parque da Água Branca, na zona oeste da cidade. “Isso poderia permitir a liberação de espaço no imóvel da Joaquim Távora, tornando ainda melhores as possibilidades das novas instalações do instituto na nova sede”, afirma Vedovello.

Segundo ele, uma negociação está em curso para ampliar o prazo de desocupação da sede atual. “O mais provável é que tenhamos uma extensão de dois a três meses”, disse, ressaltando que, apesar dos transtornos, o resultado final deverá ser positivo para o IG. “A despeito das particularidades desse momento, é importante considerar que as ações de adaptação e reforma definitiva da nova sede estão sendo projetadas para a obtenção de instalações mais apropriadas e modernas do que as atuais.”

RECURSOS ESCASSOS

Seja qual for seu endereço, o Geológico sofre com a mesma escassez de recursos humanos e financeiros dos outros institutos de pesquisa do Estado. Treze dos 50 cargos de pesquisador científico e cerca de metade dos 120 cargos de apoio à pesquisa do IG estão vagos, aguardando abertura de concurso público para serem preenchidos.

“O porcentual de cargos oscila em função da proximidade ou distância dos concursos públicos realizados (o último foi há 10 anos)”, afirma Vedovello. “A evasão está associada em geral às questões salariais, e decorre de ofertas maiores do mercado de trabalho – seja no setor privado, seja no setor público, em especial relacionado às universidades – e às aposentadorias. Tal fato tem sido amplificado pelo crescimento do mercado na área de geociências, associado ao advento do pré-sal, à reativação do setor mineral, obras de infraestrutura e às avaliações e programas de gestão de áreas de risco em todo o país.”

O orçamento do IG oriundo do Tesouro Estadual em 2013 foi da ordem de R$ 3 milhões; valor que Vedovello classifica como “bem restrito em relação às aspirações do instituto”. A solução, como em todos os outros institutos de pesquisa, tem sido costurar o cobertor curto com recursos obtidos das agências públicas de fomento, como Fapesp e CNPq, para o financiamento de projetos específicos, que mantêm a pesquisa funcionando. A contratação de funcionários, porém, é uma atribuição exclusiva do governo do Estado.

FOTO: A pesquisadora Maria Maranhão, curadora da coleção paleontológica do IG, que terá de ser transferida para outro prédio. Crédito: Nilton Fukuda/Estadão

 

Redação

14 Comentários

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  1. Noticia triste, mas há

    Noticia triste, mas há esperança. Aumentam-se os salários, a atratividade,  e abre-se mais concursos. O problema é o que eu sempre venho falando. Algumas para os brasileiros são sem importancia só porque eles não eestão vendo com frequencia. Quem olha para uma casa de vegetação e ve um monte de plantia  se pergunta, pra que que serve isso, quero mais educação! Putz!

    1. salarios

      Os salários só aumentaram pois o estado antecipou-se a uma ação judicial que pedia REPOSIÇÃO das perdas.  E concedeu reajustes que recomporam apenas 55% em média dos vencimentos originais.

      Há outra demanda que solicita equiparação com a Universidade, mas esta é mais controversa.

      Agora , em média os institutos estão sem concursos há pelo menos cinco anos, e quando os há não há a contratação dos selecionados. Concursos apenas não bastam, é necessário contratações.

  2. Esse abandono é tipico do

    Esse abandono é tipico do modo de se fazer governo neste pais

    Não ha compromisso com ciencia &tecnologia movido a politica de estado …

  3. Caro Nassif e demais
    Alckmin

    Caro Nassif e demais

    Alckmin acaboude fazer o maior concurso do Magistério, com 59000 vagas, sendo que os primeiros 20000 já estã sendo chamados. Porém, esses porens arrebentam, com carga reduzida, de 9 aulas, com salário mensal de pouco mais de R$ 600,00, e com a perspecitiva de chamar mais 39000.

    De onde tirar mais 39000 novas vagas? O ano que vem 2015, muitos desses professores novos, irão querer ampliar suas jornadas. 

    Sobrarão professores, faltarão aulas, já para os novos ingressantes, como acomodar os outros 39000?!

    Só se ele reduzir ainda mais as jornadas, para superreduzidas, com pelos menos 3 ou  4 aulas e salários de R$ 300,00.

    Alckmin sabe disso?! Se não sabe, quem não contou? Se sabe, ele está mentindo, de novo.

    Por isso não me espanta, a desmontagem dos IPs.

    Faz parte do governo.

    Saudações

     

  4. Pesquisa é algo sério, mas no Brasil quase nada é sério.

    Modo PSDB de fazer gerenciamento. É só lembrar do tempo do FHC no comando federal e a penúria das Universidades Federais e órgãos como Embrapa na citada época. Atualmente o processo está um pouco melhor, quando deveria ser muito melhor. É só ver países desenvolvidos para ver o que eles investem em pesquisa e em educação superior.

  5. Choque de “Jestão”

    Passei uma semana de férias em Sergipe onde eles exibem com orgulho o seu banco estadual. Existe muitas agências e caixas eletrônicos espalhados pelo estado e vários estabelecimentos comerciais ostentam adesivos destacando a aceitação dos cartões do banco.

    Sergipe o menor estado da federação exibe um banco estadual. São Paulo já teve dois grandes bancos – Banespa e Nossa Caixa, mas uma praga de gafanhotos consumiu ambos.

    Bancos que dão din-din se foram imagine orgãos de pesquisa ou culturais – Museu da Imigração e da Tecnologia (fechados), do Ipiranga (fechado – estava caindo), Butantan (semiaberto após incêndio), Zoológico (caro e sem novidades), etc.

    Barreto.

  6. Lamentável

    São Paulo tem realmente potencial para ser a locomotiva do país, não só no “tro-lo-ló”, como dizia triste figura.

    Entretanto, parece que o pessoal que governa o Estado e seus apoiadores estão mais preocupados em caçar petistas do que com qualquer outra coisa.

    Abs.

  7. Consequência do estado mínimo.
    Fui servidor concursado por 7 anos na Embrapa. Vive exatamente a fase mais dura pra pesquisa no Brasil, os desgraçados anos do governo do psdb, do fernando henrique cardoso, que defendia as mentiras do estado mínimo. Nesses governos, como tá acontecendo em são paulo, o psdb destrói toda infraestrutura dos instituições de pesquisa existentes, pagando salários miserável aos pesquisadores e quadros administrativo. Não investem em pesquisa, e ainda terceirizam os serviços praticando o sucateamento dos órgãos públicos, levando a perder pesquisas de décadas. Isso aconteceu no governos federal, com fhc, e ocorre nos estados de sp, minas, paraná e goiás, como foi no rio grande do sul com a yeda crucis. Psdb, partido maldito, destruidor das instituições públicas e entreguista do patrimônio público para as multinacionais estrangeiras. Desgraçados.

      1. Só quem viveu e viu é que sabe …

        Fui professor de uma universidade estadual do Paraná à época do governador Jaime Lerner, do psdb, festejado no Brasil inteiro como a vanguarda de tudo (??). Resumo da ópera: 40 doutores da minha instituição fizeram concurso e foram embora pras unviersidades federais. Só isso. Sinto-me valorizado na carreira federal, que tem melhorado ano a ano. 

  8. “O problema é o PSDB?”, questionaria o Ingênuo do Voltaire.

    Não queríamos que fosse assim tão simples, mas a realidade nos mostra o problema: PSDB.

  9. A situação é muito, mas muito

    A situação é muito, mas muito pior do que a reportagem do Estado mostra. O Pasteur, que fica na Av. Paulista, foi fechado para reforma. Será que reabrirá ? Não parece. O Geologico, como diz a materia, esta sendo despejado e o terreno sera entregue para construção de hoteis privados. Mario Covas, logo no inicio de seu primeiro Governo, tentou vender o predio do Instituto Biologico, na Vila Mariana. O Butantan já tem o dobro de funcionarios contratados pela sua Fundação PRIVADA do que funcionarios estatutarios. E essa Fundação privada, que é alimentada principalmente por verbas FEDERAIS do Ministerio da Saude, FINEP e BNDES, não abre suas contas. Não dá satisfação à sociedade.

    As tentativas de eliminação dos institutos de pesquisas vem de longe, mas, recentemente, o processo se acelerou.  Para piorar, a Resolução abaixo foi publicada na semana passada no DOE. O que esses grupos pretendem, em um final de governo  ? Os itens III e IV são particularmente preocupantes.

    Diario Oficial do Estado de São Paulo – 22.01.2014

    Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
    GABINETE DO SECRETÁRIO
    Resolução SDECTI-1, de 15-01-2014
    Institui Comissões Especializadas para assessoramento do Conselho de Instituições de Pesquisa do
    Estado de São Paulo – Consip
    O Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, com fundamento na alínea “b” do inciso
    II do artigo 52 do Decreto 59.773, de 19-11-2013, e à vista das disposições dos artigos 14 a 19 do Regimento Interno do
    Conselho de Instituições de Pesquisa do Estado de São Paulo – CONSIP, resolve:
    Art. 1º. Ficam criadas, junto ao Conselho das Instituições
    de Pesquisa do Estado de São Paulo – CONSIP, 04 (quatro) Comissões Especializadas para, de acordo com as disposições do Regimento Interno do referido Conselho, estudar e apresentar propostas para:
    I – reformulação do Decreto 30.519, de 02-10-1989: Comissão 1;
    II – revisão dos instrumentos de convênio: Comissão 2;
    III –revisão da carreira de Pesquisador: Comissão 3;
    IV – reformulação jurídica dos institutos: Comissão 4.
    Art. 2º. As Comissões previstas no artigo 1º desta Resolução serão presididas pelo Subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e terão a seguinte composição:

    I – Comissão 1:
    a) Marcos Cintra, representando a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação:
    b) Orlando Melo de Castro, representando a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA;
    c) Luis Fernando Ceribelli Madi, representando o Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL;
    d) Rubens Rezek, representando a Secretaria do Meio Ambiente;
    e) Luiz Mauro Barbosa, representando o Instituto de Botânica;
    f) Paula Opromolla, representando a Secretaria da Saúde;
    II – Comissão 2:
    a) Marcos Cintra, representando a Secretaria de Desenvolvimento,
    Ciência, Tecnologia e Inovação:
    b) Antonio Batista Filho, representando o Instituto Biológico;
    c) Celso Donizetti Talamoni, representando o Instituto Geográfico e Cartográfico;
    d) Marcos Virmord, representando o Instituto Lauro Souza Lima;
    e) Jorge Kalil, representando o Instituto Butantan;
    f) Fernando José Landgraf, representando o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT;
    g) Luis Fernando Ceribelli Madi, representando o Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL;
    III – Comissão 3:
    a) Marcos Cintra, representando a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação:
    b) Orlando Melo de Castro, representando a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA;
    c) Orlando Garcia Ribeiro Filho, representando a Comissão Permanente de Regime de Tempo Integral – CRPTI;
    d) Heitor Hehl Caiafa Filho, representando o Instituto Adolfo Lutz – IAL;
    e) Luiz Mauro Barbosa, representando o Instituto de Botânica;
    f) Miguel Luiz Menezes Freitas, representando o Instituto Florestal – IF;
    g) Jorge Kalil, representando o Instituto Butantan;
    h) Luiza Sternan Heimann, representando o Instituto da Saúde;
    i) Ricardo Vedovello, representando o Instituto Geológico;
    j) Luciano Hardt, representando o Instituto Pasteur;
    k) Renata Helena Branco Arantes, representando o Instituto de Zootecnia – IZ;
    l) Sergio S. Muller, representando a Secretaria da Saúde;
    m) Rubens Rezek, representando a Secretaria do Meio Ambiente;
    IV – Comissão 4:
    a) Marcos Cintra, representando a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação;
    b) Orlando Melo de Castro, representando a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA;
    c) César Silva, representando o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza;
    d) Sérgio Augusto Moraes Carbonell, representando o Instituto Agronômico – IAC;
    e) Antônio Batista Filho, representando o Instituto Biológico;
    f) Marli Dias Mascarenhas Oliveira, representando o Instituto de Economia Agrícola – IEA;
    g) Jorge Kalil, representando o Instituto Butantan;
    h) Edson Kubo, representando o Instituto de Pesca – IP;
    i) Fernando José Landgraf, representando o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT;
    j) Luis Fernando Ceribelli Madi, representando o Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL;
    k) Sérgio S. Müller, representando a Secretaria da Saúde;
    l) Rubens Rezek, representando a Secretaria do Meio Ambiente;
    m) José Tadeu Jorge, representando a Universidade Estadual e Campinas – UNICAMP;
    n) Júlio César Nurigan, representando a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
    o) José Goldemberg;
    p) Maria Paula Dallari;
    q) Horácio Aragonés Forjaz;
    r) Désirée Moares Zouain.
    Art. 3º. As Comissões instituídas por esta Resolução terão
    caráter temporário e deverão apresentar relatório de seus trabalhos
    nos seguintes prazos:
    I – Comissão 1: 30 dias;
    II – Comissão 2: 60 dias;
    III – Comissão 3: 60 dias;
    IV – Comissão 4: 90 dias.
    Art. 4º. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
    publicação.

  10. Café naturalmente sem cafeína

    Foi no IAC que descobriram uma variedade de café que é naturalmente descafeinado. A pesquisa foi destaque na revista Nature, na época.

     

    http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/junho2004/ju257pag12.html

    Imprensa mundial registrou o feito de
    pesquisadores da Unicamp e do Instituto Agronômico de Campinas

    A descoberta do café sem cafeína

    LUIZ SUGIMOTO

     

    Deu na Nature: artigo assinado por pesquisadores brasileiros anunciaPaulo Mazzafera, Luís Carlos Fazuoli e Bernadete Silvarolla na Fazenda Santa Elisa, em Campinas: analisando pé por pé de um lote de 3.000 plantas de Coffea arabica originárias da Etiópia (Foto: Antoninho Perri) descoberta de pés de café naturalmente descafeinados. É um achado que teria grande repercussão mesmo sem o reconhecimento de uma das mais conceituadas publicações científicas do mundo. Desde a tarde da última quarta-feira, quando a revista suspendeu o embargo da notícia, o professor Paulo Mazzafera, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, e os pesquisadores Maria Bernadete Silvarolla e Luís Carlos Fazuoli, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), vêm atendendo a solicitações sucessivas da mídia e de cientistas de outros países. “Trata-se de uma variedade do Coffea arabica – que responde por 70% da comercialização mundial –, mas que possui 20 vezes menos cafeína. Se o café que tomamos no dia-a-dia traz de 1% a 1,2% de cafeína, as análises em laboratório dessa espécie apontaram somente 0,07%, praticamente zero. Trata-se de uma descoberta que vai colocar o café brasileiro novamente em evidência”, afirma Paulo Mazzafera. 

    De fato, enquanto os cientistas concediam concorrida entrevista coletiva no local onde estão plantados os pés descafeinados, a Fazenda Santa Elisa em Campinas, as informações gerais sobre a descoberta eram antecipadas pelo Portal da Unicamp na Internet, onde o retorno é rapidíssimo. Logo, um leitor perguntava como poderia obter sementes e qual seria o preço da saca. Trata-se, na verdade, de apenas três plantas de uma mesma família, cujos clones ainda demandarão anos de pesquisa – talvez cinco ou seis, talvez quinze – até concorrer num mercado que já movimenta cerca de US$ 7 bilhões (R$ 21 bilhões) por ano, segundo estimativa não reconhecida oficialmente. O produto disponível nas prateleiras é descafeinizado em processo industrial, utilizando-se um solvente que lava os grãos e dissolve perto de 99% da cafeína presente. Ocorre que a lavagem compromete também o sabor. “O Brasil pode oferecer agora um café natural sem cafeína, com todas as outras características preservadas”, ressalta Mazzafera.

    Paralelamente, há uma corrida na área de genética para colher café descafeinado no pé. Os pesquisadores da Unicamp e do IAC encontraram as três plantas em meados do ano passado, justamente quando a mesma Nature noticiava a produção, por cientistas japoneses, de cafeeiros geneticamente modificados reduzindo em 70% o teor de cafeína em comparação com as variedades mais difundidas. No entanto, além da resistência por parte da população aos produtos transgênicos, o pesquisador da Unicamp alerta para outro problema importante não enfatizado pelos japoneses: “Eles modificaram um Coffea canephora, considerado uma ‘bebida neutra’, sem gosto. Somente agora estão aplicando a técnica para a espécie arábica de alta qualidade e os resultados vão demorar”, observa o professor do IB.
     

    O palheiro – As plantas na Santa Elisa foram batizadas de AC1, AC2 e AC3, uma homenagem ao geneticista de café Alcides Carvalho, falecido em 1993, que criou praticamente todas as variedades comerciais de arábica hoje cultivadas no Brasil, fazendo por merecer o título de pai da cafeicultura nacional. Elas estavam em covas diferentes de um lote de 3.000 pés de Coffea arabica originárias da Etiópia, que Carvalho preservou para observações genéticas, sem fins comerciais imediatos. Por mera economia de espaço, plantou três mudas em cada cova, o que tornou ainda mais difícil o trabalho de localização e identificação. “Foi como encontrar agulha em palheiro”, recorda Luís Carlos Fazuoli, diretor do Centro de Café do IAC e especialista no melhoramento de espécies em campo.

    Fazuoli participou do plantio e acompanhamento do lote, que na verdade foi formado a partir de 200 plantas-matrizes (progênies) provenientes da Costa Rica, onde é mantido um banco internacional de germoplasmas. Ali foram guardadas e preparadas as sementes colhidas na Etiópia por pesquisadores de países produtores de café, durante expedição patrocinada pela FAO em 1964. Estão em território etíope os cafeeiros silvestres que deram origem a todas as variedades de Coffea arabica desenvolvidas para comercialização no mundo. “As progêniess chegaram a Jundiaí em 1973, onde permaneceram em quarentena até serem plantadas em Campinas dois anos depois”, recorda Luís Fazuoli. 

    Variedade possui 20 vezes menos cafeína

    Pé por pé – O diretor do Centro de Café afirma que a equipe demorou a se conscientizar do impacto que causaria a notícia. “Muitos pesquisadores, principalmente franceses e japoneses, estão perseguindo essa planta há anos. Na loteria, deu Brasil”, brinca o pesquisador, para em seguida enfatizar que não se tratou de sorte. Ele mesmo testemunhou o empenho da geneticista Bernadete Silvarolla, que em 1999 começou a coletar e analisar amostras de cada uma das 3.000 plantas do lote, num trabalho exaustivo. Ela encontrou algumas com metade do teor de cafeína, descartando-as porque a meta era encontrar um café sem a substância. 

    Paulo Mazzafera, um engenheiro agrônomo que foi iniciado nas pesquisas com café por Alcides Carvalho, especializando-se em fisiologia vegetal, conta que buscava por um cafeeiro menos cafeinado havia 17 anos. “No começo fazíamos cruzamentos entre espécies, um processo demorado e que não apresentou resultados. Depois, analisamos quase todas as plantas que fazem parte do banco de germoplasmas do Agronômico, até que recentemente passamos a avaliar o material da Etiópia”, explica. 
     

    Novos projetos – Bernadete Silvarolla aponta os caminhos a seguir com a descoberta. Um deles é simplesmente retirar sementes, produzir mudas e iniciar seu plantio nos moldes comerciais, com fertilizantes, proteção contra doenças e pragas e demais cuidados agronômicos, verifi-cando seu potencial produtivo. Os pesquisadores estimam que a produtividade desta variedade silvestre seja de 30% em relação aos arábicas do mercado. Se o índice chegar a 60% por meio do plantio adequado, o café deverá interessar aos produtores. Existe ainda a questão do preço, que precisa ser competitivo diante do produto descafeinado industrialmente e do geneticamente modificado que está para vir. “Temos condições de verificar se a cultura é viável ou não em pouco tempo; caso valha a pena, podemos colher os primeiros grãos em seis anos ou menos”, afirma.

    O segundo caminho, que será efetivamente seguido, é o processo de melhoramento tradicional, com a transferência desta característica das AC para variedades comerciais altamente produtivas de Coffea arabica, como a Mundo Novo e a Catuaí. “Vamos tentar aglutinar outras características importantes para o produtor. Nas pesquisas devem entrar também a Bourbon, a Tupi e a Obatã, somando umas cinco variedades”, adianta Bernadete. Através desses cruzamentos, é possível chegar a uma planta produtiva e descafeinada em 15 anos. “O fato de trabalharmos dentro da mesma espécie (arábica) vai encurtar o tempo pela metade, já que não precisaremos eliminar muitas características ruins que surgem no cruzamento entre espécies diferentes”, diz Mazzafera. 
     

    Recursos – Bernadete Silvarolla enfatiza que a descoberta de cafeeiros descafeinados só foi possível graças à preservação do banco de germoplasmas (coleção de material vegetal vivo) no Instituto Agronômico de Campinas. “Embora sua importância não seja tão aparente, inclusive para a mídia, esse banco é a matéria-prima dos pesquisadores para o melhoramento de toda espécie vegetal, um material genético cuja preservação é fundamental”, pondera. A ênfase da pesquisadora se deveu à discussão sobre o impacto da descoberta de um café naturalmente descafeinado frente o produto industrializado e os geneticamente modificados. 

    Luís Carlos Fazuoli afirma que o IAC não trabalha com transgênicos, ressalvando, porém, que não vê nenhuma situação de confronto. “Sou adepto do processo de melhoramento tradicional, mas acho que as duas linhas de pesquisa podem ser feitas concomitantemente. Temos o projeto do genoma do café, que vai nos trazer muitas informações relevantes. Existem mais de 80 espécies de café para serem estudadas”, informa. Ele sugere que a seqüência das pesquisas com as AC, que incluirão toda a avaliação bioquímica e molecular e ainda dependem de captação de recursos, poderia motivar um projeto temático para estudo de outros componentes importantes do lote da Etiópia. “Esperamos o reconhecimento da importância do produto que encontramos e um atendimento especial em termos de incentivo à pesquisa”, finaliza. 

     

     

    Produto mercadológico

    Diante do esforço concentrado contra a cafeína, pode-se mensurar o impacto da entrada de um café naturalmente descafeinado no mercado. Pessoalmente, o professor Paulo Mazzafera, da Unicamp, acha que a cafeína, desde que não seja consumida em excesso, não traz problema algum à saúde. “Para uma pessoa ‘morrer’ por consumo de cafeína, precisaria ingerir 10 gramas da substância de uma só vez, quando uma garrafa de refrigerante ‘cola’ contém meros 40 miligramas. Além disso, temos cafeína no remédio contra gripe, no chá, no chocolate. Não há nada na literatura que comprove a ocorrência de doenças por causa dela”, ilustra o pesquisador. 

    Perguntado se não estaria depondo contra a importância da descoberta das plantas descafeinadas, Mazzafera admite que o produto será essencialmente mercadológico. “O café descafeinado responde por 10% do consumo mundial. Nos Estados Unidos a faixa é de 20% e, no Brasil, estima-se que seja de 1%. O índice varia muito de país para país”, informa. A rigor, segundo o professor, o público para o produto descafeinado seria composto por pessoas com maior sensibilidade à cafeína, que talvez não consigam dormir se tomarem uma xícara de café no final da tarde, e as grávidas, que sofrem restrições diante de possíveis efeitos no transporte de cálcio pela membrana. “Acontece que muitos evitam o café descafeinado temendo algum resíduo industrial, da mesma forma que muitos vêem riscos no café geneticamente modificado. A nossa opção, por ser natural, vai mexer muito com o mercado”, prevê o pesquisador da Unicamp.

     

     

  11. PSDB: a padaria que trocou o padeiro pelo gerente

    “A estação sobrevive economicamente da venda de embriões e alevinos e não sofre tanto com problemas financeiros, mas vive uma penúria de recursos humanos”

    A gestão de recursos humanos tucana é um caos. O PSDB detesta e culpa os servidores por todos os problemas do estado. São Paulo não tem planos de carreira nem política de RH – ainda que a folha de pagamento seja a maior despesa do estado.

    Seu plano era demitir todo mundo aposentado ou esperar que morressem logo. A justiça – por incrível que pareça – vetou esse plano ao decidir que a aposentadoria não rompe o contrato de trabalho.

    A única forma de renovação do quadro que sobrou é a morte. Basta presenciar uma reunião com funcionários do estado para verificar o índice de senilidade. Em alguns casos os acidentes de trabalho banais  – como cair da escada – já estão entre os principais riscos.

    Em breve será preciso distribuir andadores, capacetes e cintos de segurança aos funcionários para evitar o aumento do passivo trabalhista, que já é disparado o maior do Brasil. Quiçá, do mundo!

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