Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lourdes Nassif

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  1. Um apelo de peso para o presidente da Indonésia

    A Indonésia é um país MUITO particular. Definitivamente não é para iniciantes. 

    Ainda nos anos 90 o Sepultura tocou por lá e houve  grande comoção nacional com os hiperlotados shows em estádios.  O país parou. O Heavy Metal, em particular as correntes mais extremas do estlo, se firmaram por lá. Não é de se estranhar que o atual presidente seja fruto dessa época. E é por isso que Mark “Barney” Greenway, vocalista da banda NAPALM DEATH, ídolo do presidente Joko Widodo, também tenta livrar 2 australianos da pena de morte naquele país.

     

    Vocalista do Napalm Death pede clemência para australianos condenados na Indonésia

    Dilma pediu, Mark Ruttle (primeiro ministro da Holanda) pediu e até o Papa Francisco teria pedido por clemência para os condenados à morte por tráfico de drogas na Indonésia. Joko Widodo, presidente da Indonésia, que tem entre suas promessas de campanha endurecer o trato com os traficantes negou todos os pedidos e avisou, vai negar todos os outros que aparecerem.

    Indonésia: presidente headbanger negou clemência a brasileiro

    Imagem

    Se mantiver sua palavra, é o que acontecerá com o pedido feito por Mark “Barney” Greenway, vocalista da banda NAPALM DEATH, em nome dos australianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran. Os dois são réus confessos de tráfico de drogas e também estão no corredor da morte, assim como estava o brasileiro Marco Archer. Widodo é conhecido por ser um headbanger  e ter o NAPALM DEATH na sua lista de bandas preferidas, mas, dificilmente o pedido pessoal de Greenway poderá salvar a vida dos australianos.

    Leia abaixo a apelação de Greenway a Widodo:

    Caro Sr. Widodo,

    Estou apelando diretamente a você para que, por favor, poupe a vida de Andrew Chan e Myuran Sukumaran, os dois cidadãos australianos que estão atualmente esperando a sentença de morte na Indonésia por tráfico de heroína. Como um seguidor da nossa banda NAPALM DEATH, deve entender o fato de que nossas letras e a nossa ética procuram desafiar o ciclo contínuo de violência no mundo, quer se trate de um estado ou de um indivíduo. Se estas coisas não forem desafiadas e, finalmente, modificadas, eu acredito que nós nunca avançaremos como humanidade.

    Eu entendo que  esteja se portando como um líder determinado a mudar as coisas para melhor, e então eu acredito que a concessão de clemência seria um grande passo à frente nesta busca de aperfeiçoamento. Compreendo que a heroína pode ser prejudicial em muitos níveis, mas eu acredito que este é um problema muito mais profundo que não pode ser alterado ou mudado pela simples tomada da vida das pessoas.

    Novamente, eu peço respeitosamente que você faça uma diferença real e derrube essas sentenças.

    Na esperança e em paz.

    Fonte: Napalm Death: Barney pede clemência para australianos condenados na Indonésia http://whiplash.net/materias/news_807/217312-napalmdeath.html#ixzz3PhYLmQCO

  2. Será o fim dos “revoltados” do Facebook ?

    Será o fim da barbárie diária no Facebook?

    A ferramenta parece ser interessante, mas vamos ver na prática como vai funcionar..

    Zuckerberg parece ter enfim compreendido que esse tipo de comportamento detonou em muito a imagem do facebook. Definitivamente não foi a ética que o motivou e sim os lucros que diminuiram.

    Facebook cria mecanismo para denunciar notícia falsa

     

    Olhar Digital nShare16

     

    O Facebook adicionou hoje uma nova funcionalidade ao Feed de Notícias: agora o usuário tem a opção de denunciar notícias falsas ou boatos – como mortes de artistas famosos, por exemplo, que volta e meia se espalham pela rede social.

    O novo sistema implantado pretende reduzir drasticamente o compartilhamento de links, fotos, vídeos e atualizações de status que contenham informações fraudulentas ou enganosas. 

    Reprodução

    Quando um determinado número de pessoas sinaliza a notícia como falsa, ela será menos visualizada através de um algoritmo específico e, dependendo do caso, virá com um aviso sobre a possibilidade de ser algo não verdadeiro ou boato.

    Segundo a rede social, a nova funcionalidade não deve afetar a vida cotidiana dos usuários. Os produtores de conteúdo falso, porém, estão com os dias contados.

  3.  
    Zé Simão
    E a Sabesp cumpriu

     

    Zé Simão

    E a Sabesp cumpriu o que prometeu: água e esgoto em todas as casas. Juntos! Na mesma torneira! Rarará! A Sabesp tá mandando Nescau: água marrom!

    E diz que, na próxima enchente, o Naddad vai liberar as ciclofaixas para pedalinhos. Rarará!

    Em São Paulo, o amor é lindo! Olha essa faixa: “Lucimar, Lucimar, minha gata no cio, saudades dos peidos sob os lençóis”. Explosão de afeto. Rarará!

  4. Recomendo TV Brasil as 17:30

    Recomendo TV Brasil as 17:30  canal 004 da net

     Apresentado por Rolando Boldrin

    Pra quem gosta de música puramente brasileira,como eu, vai curtir muito.

  5. O fim da Revista New Republic

    por Luís da Costa Pinto – via Facebook

    De como terminam as revistas que pareciam jamais fadadas deixarem de circular. Daniela Velho conta muito bem a história do fim da New Republic, nos EUA, e não duvidem: ainda este ano haverá por aqui narrativas semelhantes. Infelizmente. Isso diz muito sobre jornalistas que custam a compreender o que acontece na sociedade e sobretudo de empresários e executivos arrogantes que não sabem o significado do papel da imprensa. Vale a viagem.


       

    O diletante e os dinossauros

    A combinação que tirou das ruas a lendária The New Republic

    por Daniela Pinheiro – Revista Piauí – Janeiro 2015

     

    Lançada em 1914, a revista norte-americana The New Republic tem como símbolo um barco estilizado navegando em águas turbulentas. A imagem, com base em um poema de Walt Whitman, alude à ideia de que uma jornada pode ser mais interessante do que o próprio destino. Assim, uma publicação pode ter um espírito tão desbravador, genuíno e utópico como uma fragata cortando mares turvos rumo ao desconhecido. Essa era a missão da revista, segundo Herbert Croly, um de seus fundadores, que convenceu um casal de milionários a patrocinar a empreitada editorial.

    Por décadas, a TNR, como é conhecida, foi a voz da elite intelectual branca, judia, progressista e liberal na América. Suas resenhas literárias eram primorosas; os perfis de políticos, definitivos; as análises conjunturais, indispensáveis. Era a leitura de presidentes (John F. Kennedy foi fotografado no Air Force One com um exemplar), ministros, secretários e formadores de opinião. Foi nas páginas da revista que ganhadores de Pulitzers e estrelas da profissão começaram suas carreiras – caso de David Remnick, diretor de redação da New Yorker. Para os jornalistas, aTNR não era só um local de trabalho. Era uma causa, um estilo, um ponto de vista, um crachá que os identificava com “tradição”, “legado”, “apuro”. Até o mês passado.

    Em um fim de tarde de dezembro, dois assuntos monopolizavam algumas das mesas apinhadas de engravatados do Off the Record, um bar de paredes e estofados de cor vermelho-sangue no porão de um dos hotéis mais caros de Washington. A poucos passos da Casa Branca, é ali que jornalistas, lobistas, políticos e afins encerram a jornada de trabalho. O primeiro assunto era o relatório que revelou técnicas de tortura usadas pelo governo nas investigações contra o terrorismo; o segundo, a debacle da New Republic, que pela primeira vez em 100 anos deixava de circular devido à renúncia coletiva de seus editores e repórteres. À minha direita, um sujeito de barba e bigode parecia ter trabalhado na TNR em algum momento de sua carreira. O outro, ao que a conversa indicava, era um repórter amigo. Ambos diziam coisas como “esses cretinos da internet”.

    O sentimento era compartilhado pela categoria. O site The Awl contabilizou mais de quarenta artigos publicados sobre o episódio, nos mais importantes veículos de imprensa do planeta. Ocupando o papel de cretino da internet desta particular hecatombe, estava o milionário Chris Hughes, um jovem de 31 anos que fizera fortuna como um dos sócios fundadores do Facebook – ele e Mark Zuckerberg se conheceram como companheiros de quarto em Harvard. Hughes também ganhara fama ao coordenar a bem-sucedida estratégia digital da primeira campanha de Barack Obama à Presidência.

    Formado em história e literatura, leitor de Proust no original, gay, Hughes é socialmente progressista e tem notória ojeriza ao jeito de ser superficial e egocêntrico dos garotos prodígios do Vale do Silício. Desde 2012, ele é o dono da TNR. Ultimamente, entre os coleguinhas de profissão, carrega a pecha de ter destruído a alma da revista. Ninguém ligado a Hughes quis se pronunciar para esta reportagem.

     

    Nos últimos anos nos Estados Unidos, bilionários da era digital passaram a investir pesado em jornalismo – cujos veículos clássicos, como jornais e revistas, perderam anunciantes e leitores para a internet, inclusive no Brasil. Bem-aventurados e virgens no assunto, eles costumam acreditar que o que dá certo no mundo da tecnologia pode funcionar num negócio cujo motor fundamental é gente de carne e osso.

    O dono da Amazon, Jeff Bezos, comprou o Washington Post; Pierre Omidyar, dono do eBay, fundou o First Look Media, que tem como editor de um dos projetos Glenn Greenwald – responsável por publicar os papéis de Edward Snowden; e Jonah Peretti, cofundador do Huffington Post, inventou o BuzzFeed – um site especializado em listas do tipo “As dez coisas que você precisa saber sobre Taylor Swift” ou “Cinco sinais de que você está envelhecendo”, que se tornou um fenômeno digital. No caso de Omidyar, parte de seu projeto azedou antes mesmo de ser lançado. Repercutiu muito mal a demissão do editor Matt Taibbi, que alegou “choque cultural” entre o velho e o novo jornalismo.

    A expressão virou lugar-comum na novíssima era da imprensa. Até aqui, o Post parece ser o exemplo mais bem-sucedido porque mantém firme o propósito da grande reportagem. Uma das razões é que o patronato de Bezos se resumiu a investir dinheiro, deixando o jornalismo por conta de seu brilhante editor, Marty Baron.

    Na Columbia Journalism Review, a jornalista Ann Friedman – demitida da good, depois que jovens do mercado financeiro compraram a revista – observou que a diferença entre os velhos mecenas do jornalismo e os novos, vindos do mundo digital, é que os segundos se “enchem do assunto muito fácil”. Por isso, frequentemente são chamados de diletantes, e seus jornais e revistas, de seus “brinquedinhos”. “No momento em que grandes editores precisam de tempo e espaço para encontrar a fórmula entre a grande reportagem e o lucro do clique da internet, os donos apressadinhos são um grande problema”, escreveu.

     

    Entre 1974 e 2011, a New Republic esteve nas mãos de Marty Peretz, um professor de Harvard casado com uma herdeira da Singer, o que o fez milionário. Efusivo, temperamental e tido como brilhante, Peretz – que além de dono era também editor-chefe – deu relevância à revista, mas a carimbou com polêmicas. A maior delas foi a publicação de uma reportagem sobre a suposta inferioridade de Quociente de Inteligência na população negra. Além disso, teve que lidar com acusações contra seus repórteres que iam de plágio a matérias publicadas com fontes inventadas.

    Sob sua gestão, a TNR sempre foi deficitária, o que nunca lhe pareceu um problema. Certa vez, quando um jornalista lhe perguntou se algum dia pensou que a TNR pudesse dar lucro, ele foi firme: “Jamais.” Atribuía-se ao mecenato o sucesso da revista. A falta de foco no interesse do mercado, especulavam, dava liberdade e independência aos jornalistas. Peretz usava a revista para dar voz a causas que lhe eram caras – como Israel – e para desfrutar do status de ser dono de uma publicação respeitada (o que sempre rende assunto em jantares de lugares marcados).

    A relação com seus jornalistas era de respeito intelectual e, com muitos, de arraigada amizade. Polêmico, ferrenho defensor da intervenção americana alhures, com notório desprezo por muçulmanos, era respeitado pela nova e velha guardas. Nos últimos anos de sua gestão – morando em Jerusalém –, ele mal aparecia na sede da revista. Quando o fazia, andava de meias entre as baias caprichando no jeito blasé. A circulação estacionara nos 35 mil exemplares, os anunciantes minguavam e, quando o prejuízo se tornou insustentável – coisa de 3 milhões de dólares ao ano –, ele resolveu colocar a publicação à venda por um valor nunca revelado. A essa altura, a TNR já havia deixado de ser semanal e se tornara quinzenal, além de ter perdido algumas de suas estrelas, como o ensaísta político Hendrik Hertzberg e os repórteres Ryan Lizza e David Grann. A redação viu o negócio com bons olhos.

    Antes da chegada de Hughes, o chamado salário-ambiente era o grande motor dos jornalistas da casa. A maioria dos repórteres ganhava pouco – havia até os que trabalhassem de graça, pelo simples fato de estar “entre os bons”. Viagens, só para um furo de reportagem confirmado com dez fontes. Verbas para almoços, só se fosse com o presidente da República. Os exemplos são um tanto exagerados, mas bem poderiam ser verdadeiros. Um fato: certo dia, um dos bebedouros foi retirado para economizar energia e o reportariado posou para uma foto fazendo biquinho de tristeza. Eram solidários na desgraça.

    Os colegas de trabalho almoçavam juntos num café na esquina e as festas de fim de ano aconteciam na sala da casa de um dos editores, com cada convidado levando seu farnel de seis latinhas de cerveja. “Era um clima de família unida, misturado a um ambiente intelectual estimulante”, resumiu um dos editores demissionários, que está procurando emprego.

    A precariedade da estrutura era compensada pela aura mítica dos anos de glória. As reuniões de pauta, às quintas-feiras, eram como aulas magnas sobre o destino do mundo. Horas de preleção sobre o Cáucaso, os rumos da política norte-americana, a Cisjordânia, a obra de Susan Sontag, os dilemas de David Foster Wallace. Era um prazer ouvir o carismático editor de cultura e crítico literário Leon Wieseltier, 32 anos de casa, com seus cabelos brancos esvoaçantes, como um maestro da Filarmônica de Berlim, discorrendo sobre o Universo. “Estávamos num ambiente privilegiado, distantes do padrão baixo que grassava por aí no jornalismo”, disse-me a editora Judith Shulevitz, uma das que pediu o boné em dezembro.

     

    Quando anunciou a compra da TNR, Chris Hughes disse que queria dar continuidade ao legado intelectual da publicação, da qual era assinante desde a adolescência. Deixou claro que estava preparado para os prejuízos vindouros e tempestades. No Washington Post, Hughes foi chamado pelo colunista Dana Milbank de “Walter Lippmann do século XXI”, numa referência ao lendário editor da revista. (Depois da demissão em massa, Milbank escreveu: “A TNR morreu graças a seu dono, Chris Hughes.”) Na época da compra, Andrew Sullivan, ex-editor da TNR, disse no New York Times que o jovem enfim salvara a revista.

    Assim que assumiu, Hughes anunciou que escreveria metade dos editoriais e supervisionaria os demais. Ninguém chiou. Rapidamente a força do dinheiro se fez visível. Ele montou um departamento de arte e contratou um diretor criativo que havia trabalhado na Newsweek com a célebre editora Tina Brown. E chamou dois executivos para cuidar das finanças e das operações, além de ter aberto uma sucursal em Nova York, onde ele próprio mantinha seu escritório. A redação detonada e antiga foi substituída por dois andares de salões arejados, com amplos janelões com vista para a National Portrait Gallery, um dos prestigiosos museus de Washington. O número de repórteres dobrou. As viagens internacionais foram retomadas, assim como as verbas para jantares, táxis e livros.

    Sem qualquer cerimônia, Hughes demitiu o editor Richard Just, que o havia apresentado a Marty Peretz e ajudara na negociação da compra da revista. Ninguém reclamou na redação. Para o lugar de Just, recontratou Franklin Foer, que havia trabalhado por quinze anos na TNR e saíra em 2010. Observadores atentos perceberam o sinal: se ele convocara o ex-editor é porque queria que a nau seguisse como dantes, o que era ótimo.

    Nos cinco anos em que dirigiu a revista, Foer emplacou matérias importantes de política e cultura. Em seu aniversário, em julho, Hughes comandou um brinde dizendo que ele e Foer seriam “parceiros intelectuais por décadas”. Culto, boa-praça e risonho, Foer, de 40 anos, vem de uma família de escritores. Ele estava exausto da polêmica quando nos encontramos em uma casa de chá em Washington. “Nunca imaginei que essa história fosse tomar essa proporção”, comentou.

     

    Aprimeira capa sob a batuta de Hughes trazia a chamada: “Ataque dos bebês chorões: por que os mandachuvas dos hedge funds se viraram contra Obama.” Hughes tirou o sarcasmo da manchete. Os editores não esbravejaram. Em outra ocasião, o departamento de arte escureceu os dentes da duquesa de Cambridge, Kate Middleton, sob o título “Há algo de podre na Inglaterra”, tratando da crise econômica do país. Hughes protestou: “Isso não é classy”, teria dito, segundo um de seus ex-repórteres. Até então, suas intervenções se restringiam a copidescar a ironia.

    Em janeiro de 2013, a New Republic foi relançada com nova diagramação e papel de melhor qualidade. A capa estampava uma entrevista exclusiva com o presidente Barack Obama. Para comemorar a nova fase, Hughes patrocinou duas festas e toda a equipe de Washington voou para Nova York – e vice-versa. “A gente se sentia de novo como numa empresa de verdade. Éramos como uma Condé Nast”, disse uma editora que não quis ter seu nome publicado, referindo-se ao grupo que controla, entre outras, Vogue, Vanity Fair e The New Yorker. Naquela edição, Hughes escreveu no editorial que a TNR não era mais só uma revista, mas “uma empresa de mídia”. Na época, ninguém falou nada.

    Nos meses seguintes, a New Republic parecia ter recuperado a relevância e a fama de jornalismo engajado e de profundidade. Foi publicada a matéria mais lida da história da revista: “Não mande seu filho para a Ivy League – como as maiores universidades americanas estão transformando os jovens em zumbis”, escrita por William Deresiewicz. À equipe, Chris Hughes disparava e-mails elogiosos.

    Até então, repórteres especiais e editores escreviam, em média, quatro grandes reportagens por ano. As estrelas da casa, como Leon Wieseltier, publicavam o que queriam, da forma e do tamanho que bem entendessem. Mandavam em suas editorias como num feudo próprio. A parte digital da revista estava restrita a alguns colaboradores, que escreviam sobre temas diversos, sempre analíticos ou em forma de longas reportagens. O barco deslizava sobre águas calmas e cristalinas.

     

    Na virada para 2014, Hughes anunciou em uma reunião que, a partir dali, o site daTNR deveria passar dos 2 milhões de visitas únicas por mês para 6 milhões até o final do ano. Quando um dos editores lhe perguntou quantas pessoas ele imaginava contratar para cumprir a tarefa, ele não respondeu. Nessa mesma época, parte da equipe passou a reivindicar ajustes salariais congelados há tempos, mas a resposta do diretor financeiro era sempre “não”. A equipe foi pega de surpresa quando o espaço da redação foi reduzido à metade no final de março. Hughes sublocou um dos andares, pelos quais havia firmado contrato de uso de dez anos.

    Sem que qualquer repórter ou editor se manifestasse, a revista começou a investir em “publicidade nativa”, quando surge uma matéria jornalística proposta e patrocinada por um anunciante – o que pode confundir o leitor, mas se tornou fonte de renda de vários veículos de comunicação. Também passou a veicular no site pesquisas promocionais financiadas por bancos, como o Credit Suisse. Uma delas, “O futuro do trabalho”, fazia ao leitor perguntas inimagináveis para o público de outrora: “O que é ser mulher num ambiente predominantemente masculino?”

    Para cumprir a meta de aumentar o tráfego online, o site era fermentado com conteúdo extra e reportagens assinadas por colaboradores. Em julho, as visitas únicas haviam mais do que dobrado – saltaram para 4,5 milhões por mês –, segundo me informou a ex-editora digital, Hillary Kelly, que também renunciou ao cargo em dezembro. As assinaturas continuavam estacionadas.

    Ainda que renegasse o estilo Vale do Silício, a nova administração nomeada por Hughes lançou ideias que são comuns em empresas industriais e financeiras, mas estranhas ao jornalismo de raiz. O diretor de operações inventou eleger o “funcionário do mês”, concurso que só teve uma edição. Depois foi proposto que os jornalistas formassem um “clube do livro”. “Era uma coisa meio Oprah Winfrey! Meu Deus, para quê? Jornalista lê o tempo todo! Aquela gente não tinha ideia do que era lidar com uma redação!”, disse a ex-editora Julia Ioffe, numa tarde em uma cafeteria de Washington.

    Pequenos tropeços e ruídos do choque cultural eram ignorados, como parte de um período de ajuste. Até que um dia, Chris Hughes mandou Leon Wieseltier cortar um artigo, que considerou muito longo. E o mundo começou a cair. “Houve um bochicho no escritório porque era a primeira vez que aquilo acontecia”, comentou Ioffe. Um neófito no métier, um diletante do ramo, editando Wieseltier? Soou mal entre os jornalistas.

    No meio do ano, o marido de Hughes, Sean Eldridge – um bonitão que abandonou a faculdade de direito em Harvard –, resolveu se lançar candidato a uma vaga ao Congresso. Em uma tarde recente, o analista político Michael Barone, coautor do celebrado Almanaque da Política Americana e comentarista da Fox News, falou sobre a empreitada em seu escritório no centro de Washington. “Não se pode dizer que tenha sido de propósito, mas havia um plano do casal: um tubarão na mídia e o outro na política”, disse, ajeitando os óculos de aro de tartaruga. “É um casal muito ambicioso”, completou.

    Assim que começou a campanha, Hughes se afastou da revista. Além da casa que já tinha no estado de Nova York, ele comprou uma segunda – onde a dupla nunca viveu – apenas para Eldridge ter domicílio eleitoral, uma vez que o distrito onde moravam já tinha um candidato, gay ele também, na frente das pesquisas. Depois de gastar 5 milhões de dólares do próprio bolso na campanha, Hughes viu o marido tomar uma surra nas urnas, perdendo por uma diferença de mais de trinta pontos.

    Quando retomou o trabalho, o dono da revista estava diferente, relataram cinco ex-jornalistas daTNR com quem conversei nos Estados Unidos. Parecia distante e irritadiço. “Era como dr. Jekyll e mr. Hyde”, disse Julia Ioffe. Do nada, baixou uma norma proibindo os repórteres de se referirem à revista como “TNR”: deveriam falar e escrever o nome por extenso para “fixar a marca”. Nos corredores, comentava-se que o ano fecharia com 5 milhões de dólares no vermelho.

    “É normal o sujeito se cansar de rasgar dinheiro, mas, num negócio como uma revista, prejuízo não é uma novidade”, disse o analista Barone. “E, vamos combinar que ele é muito rico, mas não tem a capacidade de torrar como Bezos ou Omidyar”, afirmou, mencionando os fundadores da Amazon e do eBay. Somadas as despesas da campanha do marido, Hughes contabilizava gastos pesados na revista, sem a perspectiva de novas fontes de receita.

     

    No começo de outubro, sem que Foer ou outro editor soubesse, Chris Hughes inventou o cargo de ceo da revista e contratou para o lugar um ex-editor do Yahoo. Aos 30 anos, Guy Vidra é cria do mundo digital e tecnológico. De cara, foi considerado um corpo estranho no grupo. Pela primeira vez, ouviam-se intramuros palavras como gestão, inovação, estratégia, conceito, produto, compartilhamento, cadeia de valores, modelo de negócio, competitivo, otimização, produtividade, integração.

    No segundo encontro com a equipe, Vidra mostrou a que viera. Disse ser preciso repensar aTNR como uma “empresa digital integrada verticalmente” e que ia “mudar tudo”. Usando PowerPoint, também sugeriu que os jornalistas produzissem um conteúdo mais snackable, mais “tira-gosto”, a ser consumido rapidamente. Depois, conclamou os presentes a se reunirem com um grupo de engenheiros – a ser contratado – para juntos bolarem dispositivos para o site da revista. No centro de seu discurso, estava a procura por cliques, o que pode ser conseguido com as famigeradas listas dos dez mais ou coisa do gênero. Cada item, um clique. Cada clique, um ponto a mais na audiência. Ele sugeriu ao veterano e respeitadíssimo editor Michael Kinsley que elencasse as dez razões pelas quais o sistema de saúde não é de livre mercado. Kinsley se negou.

    Em determinado momento, cogitou-se oferecer ações da empresa aos repórteres. “Mas foi quando Vidra disse que ia break shit que a coisa passou dos limites”, lembrou a então editora Julia Ioffe. “Eu olhei para a cara do Frank e ele estava atônito”, disse. A partir dali, estava instituída uma novíssima luta de classes. Era o outsider contra os tradicionais; os acomodados contra os modernos; o diletante contra os dinossauros. “O que ele quis dizer com isso? Que tudo o que fizemos antes era shit e ele tinha que romper com tudo o que foi feito? Foi muito desrespeitoso”, comentou a ex-editora Judith Shulevitz.

    Ao mesmo tempo, Hughes passou a palpitar em tudo, inclusive em ideias de pautas. Para provar o que dizia, uma ex-editora me mandou uma troca de e-mails entre a cúpula da revista e um repórter. Segundo a mensagem, quando o presidente da Apple, Tim Cook, saiu do armário, o repórter Alex MacGillis quis fazer uma matéria sobre como comportamentos e costumes pareciam arrefecer os pecados da desigualdade na nova era do liberalismo. MacGillis sugeriu escrever que o anúncio da homossexualidade de Cook ganhava mais destaque do que o fato de ele ter lucrado horrores graças a políticas discutíveis de favorecimento a grandes corporações.

    Seis minutos depois do e-mail com a sugestão do repórter, Hughes bombardeou a ideia. “A Apple atua dentro da lei. E a lei é foda. De qualquer maneira, você não deve subestimar a coragem de Cook”, escreveu. Meia hora depois, MacGillis enviou a réplica: “Entendido, mas ninguém sabe mesmo se a Apple anda dentro da lei.” E anexou uma reportagem do New York Times sobre o assunto. Passaram-se vinte minutos, e Hughes respondeu: “Estou confuso. Alguém, inclusive nessa matéria do NYT, falou o que a Apple fez de ilegal?”

    Seguiram-se outros três longos e-mails, nos quais Hughes defendeu a Apple, as tais “políticas discutíveis” e, sobretudo, a coragem de Cook. Definitivamente, estavam em trincheiras opostas.

     

    Aequipe preparava a edição comemorativa dos 100 anos da revista. Em paralelo, Chris Hughes organizava os detalhes do baile de gala que ofereceu para 400 convidados famosos. Por um cachê de 50 mil dólares, Bill Clinton fez um discurso; o músico Wynton Marsalis tocou para os convidados; quem fez o brinde foi Ruth Ginsburg, juíza da Suprema Corte. Os jornalistas da revista foram acomodados nas últimas fileiras do auditório. Hughes se encarregou pessoalmente da distribuição de lugares.

    No evento, Hughes e Vidra discursaram, ressaltando o sucesso da revista na internet, o aumento no tráfego online e as perspectivas para o futuro. Os repórteres se horrorizaram quando Vidra errou o sobrenome de Franklin Foer, tratando-o de “Foyer”. Quando chegou a sua vez, Leon Wieseltier expressou em tom belicoso o mal-estar que se instalara entre os jornalistas. “Não somos só incubadores e aceleradores”, disse, fazendo troça da linguagem usada por Vidra nas reuniões. “Somos também guardiães e administradores.” Na edição impressa, Wieseltier atacou de novo. Concluía um texto dizendo que “ditadores empregam intelectuais, mas ao final eles temem os intelectuais porque temem que eles revelem suas fraquezas e mentiras. Então, por fim, preferem destruí-los”.

    Em Nova York e Washington, começou a circular entre jornalistas que Nick Thompson, editor digital da New Yorker, iria para o lugar de Foer. Uma editora contou ter mandado um e-mail a Hughes perguntando se Foer seria demitido. “Ele respondeu que não, enfático. E eu de propósito repliquei dizendo ‘Ainda bem, porque senão todos os editores sairiam junto’”, disse.

    O boato tomava corpo, ainda que parte dos repórteres duvidasse da história. O tráfego na internet pulara para 5,4 milhões de visitas únicas ao mês – praticamente a meta imposta por Hughes. Um colega de Foer que trabalhava na Bloomberg, porém, telefonou de Nova York e disse ter confirmado que ele seria substituído. Contou que Gabriel Snyder – profissional com reputação de competente, ex-repórter da revista Wire e do site Gawker, especializado em fofocas de celebridades – estava convidando jornalistas para trabalhar na New Republic. Quando o editor foi tomar satisfação com Hughes, ouviu do patrão que era isso mesmo.

    Franklin Foer anunciou à equipe que estava se demitindo. Mandou uma mensagem para seus subordinados dizendo que os planos dele e de Hughes para a revista “eram incompatíveis”. Aos mais próximos, comentou que Snyder no comando “era como um esquete do Saturday Night Live”. Imediatamente, Leon Wieseltier aderiu. A redação parou. Num discurso emocionado, no qual citou o barco de Walt Whitman, a missão do jornalismo, a arte da escrita, repórteres e editores o aplaudiram. Alguns choraram.

    Numa reunião convocada às pressas, Vidra informou que, dali em diante, a revista passaria a ter dez números anuais, em vez de vinte, e que a sede seria transferida para Nova York. E anunciou Gabriel Snyder como novo editor. “Quando ouvimos ‘Gawker’, percebemos claramente, pela primeira vez, o que Chris Hughes queria fazer de sua revista. E aí, estávamos fora”, disse Julia Ioffe. Naquela noite e madrugada adentro, os e-mails e os sms dos profissionais da casa chisparam os ares. Os jornalistas escreveram, em conjunto, uma versão da carta de demissão coletiva, que foi postada no Facebook na manhã seguinte – e a ninguém deve ter escapado a ironia de a velha guarda ter julgado mais eficiente (além de mais em conta) publicar seu J’Accuse! não numa veneranda publicação física, mas no site que originou a fortuna do traidor. Dois terços da redação saíram, incluindo quinze editores e mais de trinta colaboradores.

    “A versão que divulgaram é que somos contrários à internet. Isso é absurdo. Não somos dinossauros. Somos contrários à maneira abjeta como tudo isso foi feito”, disse Judith Shulevitz. Segundo a ex-editora, os novos investidores se equivocam enormemente quando imaginam que conseguirão fazer do jornalismo eletrônico uma fonte generosa de dinheiro. Além disso, disse, existe a inversão perversa da ordem das prioridades: o jornalismo passar a entregar o que julga que o leitor vai querer consumir e não o que seria importante que o leitor saiba. “É nivelar por baixo. Saí porque todo mundo que eu respeito foi embora. Essa revista acabou.”

     

    Dias depois da revoada dos jornalistas, Vidra e Hughes (falando pelo Skype de Nova York) comandaram uma reunião com o que sobrou da equipe – menos de dez pessoas. Segundo Ryan Lizza, repórter da New Yorker e ex-colaborador da TNR, Hughes tinha os olhos lacrimejantes. Interlocutores disseram que ele estava arrasado. Aos funcionários, repetiu que não pretendia transformar a revista num site de listas e que, como sempre, prezaria a tradição. De seu lado, Vidra admitiu ter sido inábil na relação com o grupo.

    Em um longo artigo no Washington Post, Hughes veio a público dar sua versão. Negou que se comporte como um garoto mimado do Vale do Silício e queira impor a cultura da internet numa revista tradicional. “Eu quero proteger o futuro da publicação criando um negócio sustentável para que nosso jornalismo, seus valores e sua voz – o que nos diferencia – possam sobreviver”, escreveu. Ele se disse frustrado por ter sido interpretado como alguém que queria transformar a revista num compêndio de listas. “Se fosse isso, eu já teria feito há muito tempo.”

    Ao britânico The Guardian, Hughes citou como suas referências as inovações digitais no New York Times, o jornalismo explicativo da Vox.com e as longas matérias de fôlego que começaram a ser publicadas pelo BuzzFeed. “São iniciativas que levam um espectro variado de informações aos leitores por meio de canais muito diferentes”, disse.

     

    “Ali era um feudo intocável, cheio de arautos da intelligentsia, pós-poesia, pós isso e aquilo. Jornalistas resistem muito a sair da zona de conforto”, disse Max Fisher, editor de conteúdo da Vox.com, que começou sua carreira como estagiário da New Republic. Aos 30 anos, no comando de um dos veículos mais visíveis entre os que se propõem a renovar o jornalismo americano, ele tinha uma visão particular do episódio. “Aí vem o carinha do Facebook e, de uma hora para outra, fala que você tem que fazer nove posts num blog por dia, tem que escrever textos mais curtos, soa como um desrespeito”, declarou no amplo escritório que ocupa um andar de um prédio moderno do Centro de Washington.

    Na avaliação de Fisher, a resistência dos profissionais mais antigos ao mundo digital é puro medo de perder prestígio. “Todo mundo em jornal sempre trabalhou com outros produtos: do layout ao horóscopo, do anúncio às palavras cruzadas – coisas que vendiam jornal. Mas, quando você propõe fazer a versão online de tudo isso, o pessoal surta porque acha que vai ter que fazer algo inferior”, comentou Fisher.

    Quando Hughes citou a Vox.com como exemplo de iniciativas de sucesso que conjugam internet e boa apuração, o colunista Joe Nocera, do New York Times, escreveu em tom sarcástico que, ao pesquisar sobre a Vox, deu de cara com uma matéria sobre “pum”. “Adoramos a propaganda gratuita que Nocera fez da gente. E o divertido foi poder publicar um artigo sobre pum no dia em que Washington inteira só falava da TNR. Não nos levamos tão a sério assim”, comentou Fisher, mencionando que recentemente a empresa recebera uma injeção de 46 milhões de dólares de mais um investidor, a poderosa General Atlantic.

    Jay Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York, defende que os jornalistas devem abrir suas mentes ao conceito de que suas reportagens são “produtos”. Segundo ele, o repórter costuma achar que “produto” é algo menor do que texto brilhante e grandes histórias. “Mas quando o pessoal que veio do mundo tecnológico usa ‘produto’, eles se referem a algo com que o leitor possa interagir”, argumentou. Para Rosen, que comanda o site Pressthink, quem critica a Vox ou o BuzzFeed está errado. “São eles que estão conseguindo colocar o ‘produto’ nos dois conceitos: tanto para repórteres quanto para os investidores vindos do mundo digital.”

     

    Acinco dias do fechamento da edição de dezembro, Vidra e Hughes foram informados de que não havia material suficiente para editar a revista. Não só os repórteres haviam se demitido como todos haviam proibido que seus artigos fossem publicados. Os diretores decidiram suspender a circulação e arcar com os prejuízos. Uma nova edição só irá para as bancas a partir de 2 de fevereiro.

    Muitos dos demissionários já estão empregados ou têm contratos assinados para escrever livros, o que vai lhes ocupar o tempo e trazer dinheiro. Quem ficou no barco foram os mais novos, os estagiários e os que ganhavam pouco. Infelizmente, numa estrutura caótica. Em meados de dezembro, eles foram informados de que poderiam receber um bônus de 2 mil dólares, caso seguissem no emprego.

    Os interessados pelo episódio podem acompanhar a saga dos demissionários pelo Twitter, Facebook, Instagram e blogs, onde a maioria postou comentários ácidos, textos raivosos, detalhes de conversas internas, discussões em público com outros colegas de profissão. Está tudo online, disponível em apenas um clique. 

     

     

  6. Sempre ele…

    Secretário de Segurança do Paraná ostenta arma na cintura em programa de TV

     

    Secretário de Segurança Pública do Paraná, deputado Fernando Francischini (SD), que recebeu verba de indústria de armas em campanha eleitoral, deu entrevista à TV Tribuna com um saliente revólver na cintura 

    por Helena Sthephanowitz

     

    francischini

     

    Secretário responde questões ao vivo em programa da TV Tribuna portanto arma de fogo

    No estilo do velho oeste, o secretário de Segurança Pública do Paraná, deputado Fernando Francischini (SD), deu entrevista à TV Tribuna com um saliente revólver na cintura, dando péssimo exemplo jogando contra campanhas de desarmamento para reduzir crimes violentos e letais nas ruas.

    Nem o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) chegou a este ponto. Seu filho, Eduardo Bolsonaro, também deputado, foi armado a uma manifestação com pessoas que pediam a ditadura militar, mas o revólver estava em baixo da camisa, pelo menos.

    Nesta semana mesmo, um policial de Santa Catarina alcoolizado discutiu com um surfista desarmado e o matou com dois tiros. Um tragédia decorrente de abuso e irresponsabilidade no porte de arma.

    Apesar de policiais poderem andar armados em várias situações – e Francischini é delegado licenciado da Polícia Federal –, nada justifica a ostentação do revólver em um estúdio de TV cercado de toda a segurança e exibido para o grande público, inclusive para crianças, às 13h. A não ser o populismo barato de querer aparecer como um “xerifão”, além do “merchandising” para a indústria de armas que já financiou sua campanha eleitoral.

    Francischini recebeu da Taurus, grupo fabricante de armas, R$ 50 mil para sua campanha em 2010. Durante seu mandato de deputado era apontado como um dos membros da chamada “bancada da bala”.

    Com a reeleição de Beto Richa (PSDB/PR), o governador tucano nomeou Francischini secretário de Segurança Pública. Se os problemas com a criminalidade já eram graves antes, depois da nomeação do secretário, as dores de cabeça aumentaram, inclusive com um escândalo político e sexual envolvendo a secretaria.

    Mal foi eleito, um membro do seu partido, o Solidariedade, Josimar Távora, foi preso no dia 12 de dezembro passado na cidade de Medianeira, por uma policial civil. O motivo foi assédio sexual. Uma gravação feita por ela mostra Josimar propondo uma ida ao motel em troca de ele intervir junto à Secretaria de Segurança para ela não ser transferida.

    Como prova de sua influência, na gravação Josimar mostra diálogos como o deputado estadual Felipe Francischini, filho do secretário, de quem foi um dos coordenadores de campanha na região de Foz do Iguaçu.

    Josimar fala que “recuperou” 300 mil da campanha, aparentemente enviados para vereadores e secretários municipais que não cumpriram a meta de votação combinada em suas cidades. Falta explicar se e como este dinheiro foi declarado à Justiça Eleitoral e se retornou ao fundo partidário como determina a lei. Afinal, se eram despesas de campanha, ganhando ou perdendo o dinheiro estaria gasto e não faz sentido “recuperar”.

    Na gravação, a policial simula acabar concordando com um encontro sexual, mas quando os dois se encontraram em um posto de gasolina, ela deu voz de prisão e Josimar ainda tentou tomar a arma dela, mas acabou preso.

    As gravações são reveladoras e estão também publicadas em vídeo no Youtube:

    Josimar Távora: Até quando o Francischini for secretário, mesmo se ele não fosse, durante os quatro anos do Beto, você vai estar sobre minha proteção…

    Josimar: Viu, só 20 minutos o que eu tenho que fazer, eu faço. Tá?

    Policial civil: ‘Tá’, eu vou.  […] Vinte minutos de sexo vai valer a minha portaria?

    Josimar: Vinte minutos! Vamos aqui pertinho.

    Policial: É que agora eu não posso mesmo. Você sabe que eu iria…

    Josimar: Vinte minutinhos… Nem vinte minutos? […] Entendeu? A gente está aqui, já está resolvido…

    Josimar: Qual é a pessoa mais próxima que organizou tudo nessa campanha? Fui eu. Se a doutora Tani (delegada) tivesse feito o que ela tinha prometido para nós, eu nem ia conversar com você, eu ia conversar direto com ela. Entendeu? Eu queria falar tudo para você, só que eu não vou falar tudo para você, resolver o seu problema e depois – aquilo que você falou – você não olha mais para minha cara. Só que você sabe que eu sei de tudo, entendeu? Toda a situação, tudo o que ocorreu, não sei a metade, eu sei tudo. Só para você ter uma ideia do naipe da conversa dos ‘cara’. Só para você ter uma ideia eu vou mostrar aqui umas gravações. Só para você ter uma ideia dos naipes das conversas. Nós recuperamos 300 mil da campanha, muitos ‘passou’ a perna em nós, entendeu? (mostrando imagens para ela) Essa aqui é minha loja. Esse aqui é vereador de Céu Azul, Brizolla. Esse cara é secretário de Santa Helena. Aqui ‘ó’. Para todo mundo sou representante, sou eu quem mando em tudo. Só para você ter uma ideia.

    Deputado eleito Francischini Filho (em uma gravação): Aí Josimar, tudo bom? Já passou em alguns municípios daí, já ligou para alguns daqueles que traíram a gente para pegar de volta a ‘estrutura’? Quero ver os caras sambando agora.

    Policial: Quem que é esse?

    Josimar: Esse é o deputado, é o filho do Francischini.

    Policial: E esse aqui?

    Josimar: Aqui uma foto dele aqui ‘ó’.

    Deputado eleito Francischini Filho (na gravação): Aí Jocimar, tudo bom? Já passou em alguns Municípios daí, já ligou para alguns daqueles que traíram a gente para pegar de volta a estrutura? Quero ver os caras sambando agora.

    Josimar: Só vim dar o recado, depois se não devolver o dinheiro é com ele, daí.

    Deputado eleito Francischini Filho (na gravação): Pode vir, Jocimar, só de manhã eu tenho compromisso na Assembleia, mas à tarde está um pouco mais liberado e especialmente à noite também. Só me liga antes daí.

    Josimar: ‘Tá’ vendo? Só pra você entender as conversas.

    Deputado eleito Francischini Filho (na gravação): Cara, o que teve de gente aqui. As minhas postagens no Facebook antes da eleição dava 100 curtir, 150 curtir… Vai acabar a eleição, qualquer coisa que eu posto dá 800 curtir, mil curtir… (Risada) Povo não tem ‘simancol’ mesmo. Falei para vocês… os prefeitos todos… não iam mandar ninguém embora que me ajudou, agora eles estão tudo precisando… agora é a deles que começa. Agora os foguetes apontado para os do prefeitos aí, né gente (risada).

    Josimar: Agora, vou falar de um cara que a Tani indicou.

    Indicado Tani (em gravação): Ô, Jocimar, você vai rodar um roteiro aí e já depois vou soltar vocês para ver uns ‘fiasqueiros’ lá de Matelândia, ‘tá’ uma vergonha. Assis Chateubriand também, Cafelândia… outra lá é Palotina também tinha que ‘tá’ com a gente… Teve um monte de município aí, que a gente vai rever. O Brizolla arrebentou, esse foi muito bom. Em Medianeira, a piazada foi bem também. Foz foi muito bom, cidade que é difícil fazer voto. Então, bola para frente agora. Passar a semana aí e vamos marcar o roteiro.

    Josimar: Viu…

    Policial: Ai, ‘tá’…

    Josimar: Só para você ter uma ideia como está lá a coisa, então eu não posso falar pra você. Vou falar depois que eu sei que eu tenho intimidade com você, que eu sei que…

    Policial: Tá, mas falando de mim… Eu quero saber de mim. Quem que quer me prejudicar? Por quê?

    Josimar: Eu não posso falar…

    Policial: Como que eu vou me defender? Como que eu vou saber que você está me defendendo? Mas como que eu vou saber?!

    Josimar: Você viu o jeito da conversa lá. É só na segunda-feira, eu vou falar com o Felipe (Francischini), essa aqui eu não quero que mexe’. Pronto… Entendeu? Não tem ninguém que vai mexer com você. Nem o delegado-geral, ninguém.

    Policial: Mas você quer sair e… é uma vez só?

    Josimar: Não, vou sair uma vez com você, mas depois, se der, vamos sair mais vezes, entendeu? Eu vou ter que conversar com você… de repente você precisa de mim em outra situação, né? De repente você precisa… um cara está te incomodando, entendeu? E é rápido o meu negócio. É só uma ‘meia horinha’ só.

    Josimar: Único jeito… tá?

    Como se vê o secretário Francischini tem muito mais a fazer com a caneta para afastar influências políticas na secretaria que levam a propostas indecentes do que ostentar revólver em programas de TV.

     

  7. Prefeita de Paris vai

    Prefeita de Paris vai processar a Fox

    Por Altamiro Borges

    A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, decidiu processar a rede de televisão estadunidense Fox News, controlada pelo magnata Rupert Murdoch, por difamação e prejuízos à imagem da capital francesa. Durante a cobertura do atentado à sede do jornal satírico “Charlie Hebdo”, que causou 12 mortes, a emissora fez vários comentários sensacionalista, difundindo a ideia de que a cidade virou um palco de confrontos e violências. Um dos jornalistas da Fox News, Nolan Peterson, chegou a comparar Paris às piores zonas de guerra do planeta e exibiu um mapa de regiões da cidade que seriam “vetadas aos mulçumanos”. Outros comentaristas da tevê também reforçaram o clima de pânico e histeria.

     Em entrevista à repórter Christiane Amanpour, da rede CNN, rival da Fox, a prefeita argumentou que os comentários foram mentirosos e abalaram a imagem da cidade – com reflexos negativos inclusive no turismo. “A prefeita não quer atacar a linha editorial da Fox, mas sim a divulgação de informações falsas que prejudicam Paris”, declarou uma fonte da prefeitura ao site “Huffington Post”. Diante da forte reação da prefeitura, a Fox News até tentou justificar o seu jornalismo sensacionalista e criminoso. O vice-presidente executivo de notícias da emissora, Michael Clemente, divulgou nota em que afirma que “nós temos empatia com os cidadãos da França, já que passam por um processo de recuperação e voltam à vida cotidiana”. Arrogante, porém, ele criticou a prefeita e a decisão de abrir um processo. “Achamos os comentários da prefeita em relação a um processo judicial equivocados”. Além de prejudicar a imagem de Paris, as “reporcagens” da Fox também reforçaram a onda racista e fascista contra os muçulmanos na Europa. Segundo o Observatório da Imprensa, em matéria postada nesta terça-feira (20), a emissora foi obrigada a se desculpar mais de uma vez por suas gafes. “Foram exibidos quatro pedidos de desculpas depois que o ‘analista em terrorismo’ Steven Emerson afirmou que muitas cidades europeias têm ‘zonas proibidas’, onde pessoas que não são muçulmanas não ousam chegar perto…. Já o jornalista e ex-piloto da Força Aérea dos EUA Nolan Peterson disse que certas áreas de Paris o lembravam do Iraque e do Afeganistão”.  ***** 

  8. E José Dirceu, ao que parece,

    E José Dirceu, ao que parece, prosseguirá na sua via crucis ad eterno. A Globo não gosta dele, e está cada dia mais raivosa por vê-lo trabalhando, livre pra receber visitas em sua casa. Quer porque quer que o homem,  já tão envelhecido, visivelmente abatido por essa perseguição implacável, morra ou se mate; e desapareça de uma vez por todas. Nos últimos dias voltou-se a apresentar as imagens do ex-parlamentar, uma seguida da outra, até chegarem àquela em que ele está realmente muito magro e abatido. A matéria versa sobre mais denúncias contra Dirceu, desta feita em relação à Operação Lava a Jato, ligando a empresa dele e do irmão dele com diversas empreiteiras. São quantias recebidas em anos posteriores à cassação dele. Mas, de forma subliminar, parece estar no contexto uma ligação da dita operação com aquela Ação Penal já julgada, que ensejou na condenação do mais perseguido pela imprensa. Quando essas matérias vão ao ar durante a semana, em geral terminam com o Fantástico do domingo para dar mais ênfase à mentira, enquanto oferece mais subsídios aos alucinados. 

  9. A pena de morte não põe fim à ousadia do ser humano

    “É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez”, dizia o cantor Lobão (muito apreciado por este blogue, por sinal). Eis aí a máxima de quem se arrisca como transportador, nos moldes do executado Marco Archer. Isso é o que tentam fazer aqueles que levam a vida de “mulas” pelas plagas da Ilha de Bali. Festas, vida regada a muito sexo, drogas e algum esporte radical para desintoxicar, tudo isso em um cenário paradisíaco. Seria mesmo desperdício arriscar a vida pelas glórias prometidas pelos paraísos artificiais?

    Em uma entrevista concedida em 2005, ainda com a sua condenação quente, Marco Archer chegava a se vangloriar de nunca ter trabalhado formalmente na vida, tendo tido por único labor, até ali, a lida como mula do narcotráfico. Isso a despeito do fato de ter conhecido todos os lugares do mundo que lhe despertaram interesse, recantos onde levou a vida que desejava, com os luxos que melhor lhe apeteceram. Risco? Havia. Mas achava-se, até ali, que era mínimo – e, sobretudo, que não incluía o perigo de morrer com o corpo crivado de balas.

    Foi uma escolha mais ou menos consciente. Àquela altura, 2005, Marco Archer já sentia pesar sobre si a condenação à morte por tráfico de drogas. Mas, pensava ele, em algum momento a pena viria a ser comutada, ser-lhe-ia concedida a clemência, enfim, algo ou alguém tiraria seu corpo da mira dos fuzis. A Indonésia, até então, não executava seus condenados ocidentais por tráfico de drogas. Houve, recentemente, uma alteração nessa diretriz. A partir daí, ao que parece, a antiga alegria do hoje falecido Marco Archer e do que agora espera, Rodrigo Gularte, converteram-se em melancolia.

    Dizem os mais açodados que a Indonésia, agora sim, ver-se-á livre dos traficantes de tóxicos. Ledo engano. A disposição de muitos e muitos por uma vida de luxuosa diversão, conquistada à base de muita adrenalina, continua à toda. Muitos outros arriscarão o pescoço levando drogas para o país, a despeito da execução recente dos ocidentais. “Vale o risco”, alguns pensarão. Sempre haverá quem prefira a máxima de Lobão com que iniciei essa breve divagação. E, sobretudo, teremos sempre, no topo da cadeia, quem se aproveite da coragem de figuras que desperdiçam – será mesmo desperdício? – a sua “eterna juventude” com esse tipo de atividade, para lhes oferecer um dinheiro que compra o céu em troca do risco da morte. Em uma sociedade em que a vida honesta impõe tantos riscos, cobrados com os números da violência urbana de nosso país, que mata os jovens como países em guerra, receio que não será difícil encontrar quem se disponha a correr o perigo enfrentado pelos condenados da Indonésia.

    Marco Archer, dizem, ao longo de sua empreitada como mula teria amealhado a soma de três milhões de dólares. Comparo com trabalhadores honestos: todo dia, p.ex., jovens corajosos perdem a vida ou a saúde em acidentes que ocorrem enquanto voam em motos sobre o asfalto de nossas grandes cidades. Em troca de um salário miserável. Coragem é o que não falta, em nosso país, para enfrentar a morte. Os exemplos são infindáveis. Estão alguns dos nossos trabalhadores jovens, os motoboys. Disposição existe. E muita. Ainda mais quando há uma boa quantia à vista! A pena de morte não põe fim à ousadia do ser humano – para o bem e para o mal.

  10. Bijagós: sociedade matriarcal?

    Bijagós: sociedade matriarcal?

     bijagos Conhecida por sua lealdade, gentileza, honestidade, respeito pelo outro e, sobretudo, pelos mais velhos, a etnia Bijagó é um grupo de referência na Guiné-Bissau – país que abriga em seu pequeno espaço geográfico (36.125km²) cerca de 30 grupos étnicos. Esta etnia dá nome ao conjunto de 80 ilhas que formam o Arquipélago dos Bijagós. Único arquipélago deltaico da costa oeste africana, classificado em 1996 pela UNESCO como Reserva da Biosfera, os Bijagós representam 70 por cento da população que ali habita e o modo de vida que eles desenvolvem em harmonia com a natureza explica o seu estado de conservação.

    por Paula Forte Do Buala

    João José Utiron, em seu trabalho intitulado Inter-relações entre linguagem, cognição e cultura: Os acordos interpessoais em bijagó, relata que a origem do termo bijagó seria na verdade uma corruptela do termo original aujôco que quer dizer indivíduo ou pessoa, em oposição aos animais irracionais. E que os prováveis suspeitos de promover essa incorrecção teriam sido os portugueses, visto que todos os outros grupos sociais guineenses denominam os Bijagós de unsongron, vocábulo que faz referência à ideia dos traços identitários do grupo: indivíduos de grande porte, robustos, gigantes, valentes.

    A sociedade Bijagó é estruturada em faixas etárias, desde tenra idade as pessoas são divididas como tal. Para cada grupo etário existe uma denominação – diferente para homens e mulheres – e cada um se caracteriza por uma indumentária, músicas e danças definidas, sem contar com o trabalho produtivo inerente a este grupo. Existe também uma relação de respeito e obediência total àqueles que lhe são superiores, ou seja, os mais velhos.

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    A origem de tudo

    …e tudo começou assim: Deus, o Criador, existiu sempre, e no início, da vida foi criada a primeira ilha – a ilha de Orango – que era o mundo. Mais tarde chegou um homem e sua mulher, de nome Akapakama. Eles tiveram quatro filhas a que deram os nomes de Orakuma, Ominka, Ogubane e Oraga. A seguir surgiram os animais e plantas.

    Cada uma das filhas de Akapakama teve por sua vez, vários filhos, os quais receberam, por parte do avô, direitos especiais. Os de Orakuma receberam a terra e a direcção das cerimónias nela realizadas, bem como o direito de fazer as estatuetas do Irã[i], tendo sido a primeira executada por Orakuma e feita à imagem do Deus. Este direito seria também dado por Orakuma às suas irmãs.

    Os de Ominka receberam o mar e passaram a ocupar-se da pesca. Os de Oraga receberam a natureza com as bolanhas e as palmeiras, o que lhes daria a riqueza. Os de Ogubane receberam o poder da chuva e do vento podendo desencadeá-los, controlando assim o suceder das épocas da seca e da seca e das chuvas. Assim, as quatro irmãs desempenhavam funções diferentes, mas que se complementavam.

    Esta é a lenda da origem do mundo segundo os Bijagós; o extracto do trabalho Guiné-bissau – Aspectos da Vida de um Povo de Eva Kipp mostra-nos a importância atribuída às mulheres naquela sociedade e pode assim explicar o facto de muitos considerarem esta sociedade como sendo um matriarcado.

    O termo matriarcado deriva, respectivamente, do latim e do grego, onde mater faz referência à mãe earchein (arca) a governar, reinar. Assim sendo, a sociedade dita matriarca é o tipo de sociedade onde o poder é exercido pelas mulheres, em especial pelas mães; o facto de dar à luz confere à mulher o estatuto mais elevado da hierarquia familiar.

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    Poucas sociedades no planeta são matriarcais. Um exemplo vem do noroeste da Índia, de um povo chamado Khasi. Nesta sociedade o sobrenome que identifica uma família vem da mãe (matrilinearidade) e é somente através das mulheres que o clã se perpetua. Assim sendo, as mulheres são as únicas herdeiras. Sua superioridade em relação aos homens é tal que, no caso de uma família não ter condições para oferecer a todos os seus filhos a oportunidade de ir à escola, a preferência é dada às meninas, ficando os meninos analfabetos.

    O sócio-antropólogo Raul Fernandes acredita que a sociedade Bijagó não é matriarcal. Segundo ele, o sistema patriarcal exerce-se diferentemente em várias partes do mundo e, no caso dos Bijagós, há algumas particularidades na forma como o patriarcado acontece; que está estritamente ligado ao grau de estruturação que as mulheres Bijagós têm e que se deve, em grande medida, à forma como elas se organizam, ou como a sociedade organizou o seu processo de socialização.

    “As mulheres mantiveram entre si certas formas de transmissão do saber e de organização da sociedade muito ligadas à idade mas também às formas de cerimónias e ao religioso. E isso dá uma certa coesão ao grupo das mulheres que conseguem ganhar uma autonomia cerimonial e religiosa, e faz com que elas possam estar presentes nas suas relações com as entidades e outras formas de poder masculino numa situação de poder discutir direitos face-a-face.”bi

    Nos Bijagós, o religioso é exercido tanto por homens como por mulheres e estas não precisam da intervenção dos homens para poder entrar em contacto com o sobre-natural. Não é como certas religiões em que a mulher não pode entrar na igreja ou então estão  completamente cobertas ou são colocadas em papéis secundários.

    Na sociedade Bijagó, a mulher tem poder para decidir como é que se faz a cerimónia, quais os rituais, para que fins, em que momento e é seguida por um grupo de mulheres que, durante um certo tempo, não se dedicam ao trabalho produtivo ao qual estão tradicionalmente destinadas mas a si próprias. Entre si discutem o que acharem conveniente, dentro de determinadas regras sociais que são postas aos Bijagós, mas só entre si; e isso por vezes pode levar meses. O tempo, só elas é que decidem.

    Assim, é importante citarmos o rito de iniciação feminina chamado de cerimónia de Dufuntu [ii](Orbok, em bijagó). As jovens entre os 17 e os 25 anos recebem a reincarnação da alma de uma pessoa que já faleceu e esta transformação simbólica das mulheres em homens é mencionada, pelo sócio-antropólogo, como uma forma de apropriação do poder dos homens e da sua utilização para um maior equilíbrio entre os poderes masculino e feminino. Ainda durante esta cerimónia, as jovens recebem ensinamentos para a vida futura que lhes são transmitidos pelas mulheres grandes da tabanca [iii]; não se pratica excisão.

    Segundo Raul Fernandes, as pessoas confundem o matriarcado e a matrilinearidade; que são duas coisas distintas. O que acontece na sociedade Bijagó é que as filhas, mesmo depois de casadas, permanecem próximas das mães porque quem atribui estatuto de família é a mãe pela linha uterina (matrilinearidade). Esta ligação é mais forte entre a mãe e a filha visto que, diferentemente do que acontece na patrilinearidade – onde as mulheres a partir do momento em que se casam saem do seu círculo familiar original e passam a ser membros da família do marido, sujeitas às regras da casa do marido –, a filha não se distancia muito da sua mãe.

    Se a lealdade, gentileza, honestidade e o respeito pelo outro, tão próprios do povo Bijagó, tem a ver com a forma como esse povo se organiza, dando uma posição de destaque às mulheres, o que talvez não seja possível de provar mas é um factor incontestável. Quem conhece os Bijagós não deixa de se apaixonar, pelo povo e pelo lugar em que ele se estabeleceu. Visitá-los é comprar passaporte para lá voltar. Não há como não se orgulhar do povo e, principalmente, das mulheres Bijagós.

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    fotografias de Marta Lança

    http://www.geledes.org.br/bijagos-sociedade-matriarcal/?utm_source=Atualiza%C3%A7%C3%B5es+Portal+Geled%C3%A9s&utm_medium=email&utm_campaign=646add9671-RSS-NEWS-Portal-Geledes&utm_term=0_449908e143-646add9671-353098113#axzz3Pk3Iqv2X
     

  11. Caro Nassif,
    Há mais de 05

    Caro Nassif,

    Há mais de 05 anos acompanho todos os blogues progressistas, incluindo este, sempre com o mesmo email – [email protected] -, porém já estou excluída de PHA e do Tijolaço sem entender a razão. Ao enviar um comentário aparece esta informação “Digite um email válido”. Se tento recadastrar-me usando outros dois endereços distintos, não adianta. Só falta eu ser barrada aqui também. 

    Poderia o senhor me dar uma luz?

    Obrigada

    Nadiê

  12. Resgatar história da escravidão colabora na luta contra racismo

    Obra “Boutique de Cordonnier” (1835), do pintor francês J.B. Debret, mostra sapateiro punindo escravo negro

    Resgatar história da escravidão negra colabora na luta contra racismo

    Por Suzana Moreira Marques

    Do Opera Mundi

    Ottobah Cugoano foi um escravo. Nascido em Gana, por volta de 1757, foi capturado por comerciantes de escravos e transportado para o Caribe por volta de 1770. Cugoano, ao contrário de muitos outros escravos dessa época, teve sorte. Ao chegar à Inglaterra foi libertado e trabalhou como um homem livre em Londres, cidade onde se juntou a um grupo de abolicionistas africanos nos anos 80 do século 18. Faziam parte do movimento contra a escravidão que começava a ganhar apoio público e a fazer pressão junto do parlamento britânico nessa época. Em 1807, o Reino Unido era o primeiro país a abolir o comércio de escravos. O Brasil seria o último país a abolir totalmente a escravidão, em 1888.

    Cugoano e alguns poucos africanos daquela época tiveram a possibilidade de partilhar a sua narrativa e o seu lado da História, mas ao longo do tempo, mesmo depois da abolição do comércio de escravos e da escravidão, faltou sempre fazer a história do ponto de vista dos africanos e daqueles que tinham sido escravos.

    Leia também: Inspirado em Tintim, quadrinho satiriza racismo na África do Sul pós-apartheid

    A escravidão é – e talvez seja sempre – um problema contemporâneo. Não se trata apenas de observar que continuam a existir no mundo modelos de exploração semelhantes ao da escravatura e que o tráfico de seres humanos continua a existir.

    Este tipo de escravidão moderna já não é exclusivo dos africanos, como lembra Vladmiro Fortuna, diretor do Museu Nacional da Escravatura, em Angola, mas é um fato, diz, que ainda é real “a discriminação dos descendentes das vítimas da escravatura [do comércio Atlântico] nos países onde o fenômeno foi muito intenso.”

    Isabel Castro Henriques, historiadora ligada ao projeto da UNESCO “Rota do Escravo”, em Portugal, diz que a palavra “escravo” ficou associada a “negro” e que os longos séculos de escravatura transatlântica, de domínio europeu e americano, estão na base do racismo que continuou muito depois da abolição, que fortaleceu-se durante os regimes coloniais europeus na África e que continua a subsistir hoje.

    Para vários pesquisadores e historiadores, em Portugal e Angola, é importante passar a mensagem para a sociedade civil e para o poder político de que preservar e ensinar a memória da escravatura não é fazer um mero exercício de história, mas é uma ação efetiva na luta contra o racismo.

    “Uma boa divulgação da história da escravatura – e da sua violência e crueldade – poderá despertar a atenção de determinados setores da sociedade para fenômenos contemporâneos de racismo e de xenofobia, de forma a promover a coesão social e as relações interraciais”, resume Vladmiro Fortuna.

    Museu de Escravatura de Angola, em Luanda

    Recentemente, dos Estados Unidos ao Brasil, intensificou-se o debate sobre a forma como devemos conservar a memória da escravatura e cresceram também os apelos – e os argumentos a favor e contra – para que sejam feitas reparações, inclusive financeiras.

    No Brasil, a Ordem dos Advogados anunciou em novembro de 2014 a formação de uma Comissão da Verdade da Escravidão Negra. A Comunidade do Caribe (Caricom), que tinha estabelecido em 2013 uma Comissão para Reparações, decidiu recentemente fazer um pedido de indenizações a vários países europeus, entre eles Portugal. Mas se este parece ser um tema que tem ganhado força no início do século 21, quando o equilíbrio do poder no mundo se alterou e o mundo ocidental já não tem a hegemonia dos outros séculos, a verdade é que não é uma ideia nova – é pelo menos tão antiga quanto a própria ideia da abolição, até mesmo a ideia de compensação financeira.

    Em 1783, em Massachusetts, no leste dos Estados Unidos, uma mulher livre que tinha sido raptada em criança, no Gana, e escravizada durante 50 anos fez um pedido às autoridades do estado para receber o que seria hoje considerado uma indenização. Pedia que fosse poupada, ela e a filha doente, “da miséria mais extrema”. Descrevendo os anos de opressão, dizia ao juiz que se tratava de “uma devolução justa” receber parte da “imensa riqueza” que ela própria, enquanto escrava, tinha ajudado a “acumular” e “aumentar”. Belinda Royall (Royall era o nome da família que fora sua “proprietária”) conseguiu que fosse estabelecida uma pensão retirada do patrimônio da família para quem tinha sido escrava. Ela foi, é claro, uma exceção e as indenizações pagas foram-no, em grande maioria, aos proprietários dos negócios que dependiam dos escravos. De certa forma, foi preciso pagar para conseguir impor a abolição da escravatura.

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    A lógica do pedido de reparações aos países protagonistas do tráfico de escravos e da escravatura de africanos em larga escala não é muito diferente da história de Belinda Royall e do mesmo raciocínio: se os países lucraram durante tanto tempo com este comércio, por que não devolverem parte desse lucro aos que contribuíram, sem qualquer reconhecimento, para que essa riqueza existisse?

    As reparações financeiras colocam vários problemas, a começar pela dificuldade em calcular quantias concretas. “Podemos até ter uma ideia do número de pessoas envolvidas no tráfico de escravos, mas como calcular um valor para a violência e a crueldade?”, pergunta Vladmiro Fortuna. “A minha opinião tem sido sempre esta: não é dinheiro que pode pagar o crime que foi a escravidão.”

    O diretor do Museu Nacional da Escravatura de Angola reforça a ideia de que são necessárias, sim, reparações éticas, morais, históricas e científicas: “É preciso criar condições para a preservação da memória e colocar a história da escravatura no seu verdadeiro lugar – e com isso ajudar a diminuir os focos de discriminação das pessoas de descendência africana em países onde ela foi muito intensa. É esta a melhor forma de reparar esse erro do passado.”

    Também Isabel Castro Henriques acha que as reparações financeiras podem desviar as atenções daquilo que é realmente importante: “O problema do preconceito é um problema profundo e o que é preciso é que as pessoas mudem a maneira de pensar”.

    Museu do Negro do Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no centro da cidade

    A pesquisadora e professora, especialista em História da África, lembra que existe o perigo de se achar que “o assunto fica resolvido” pelo dinheiro. Admite que em certos tipos de situação, compensações financeiras podem ajudar, mas que não é o caso de séculos de tráfico de escravos e de escravatura que moldaram relações entre povos e continentes.

    “No caso de Portugal, é preciso desconstruir um imaginário que foi construído ao longo dos séculos”, diz Isabel Castro Henriques. “As pessoas em Portugal muitas vezes são racistas sem sequer se darem conta.”

    Em Portugal, antes sequer de pensar em reparações, seria preciso dar importância à história da escravidão, reconhecer o seu impacto ainda hoje, debatê-lo de forma séria publicamente. Mas isso ainda não está acontecendo.

    Os projetos para um museu da escravatura em Lagos, no sul de Portugal, têm avançado a passos lentos. E Henriques lamenta que a tentativa de preservar um cemitério de escravos também em Lagos não tenha sido bem sucedida. No lugar onde tinham sido encontrados 155 esqueletos de escravos africanos e onde se poderia ter feito algo para honrar a memória destes homens, mulheres e crianças, foi construído um estacionamento – os esqueletos foram retirados para serem estudados. É apenas um exemplo, para a pesquisadora, de como em Portugal ainda não é vista como uma prioridade a preservação da memória da escravatura.

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    Benjamin de Paula é um pesqusador brasileiro que chegou a Portugal em setembro de 2014 para trabalhar no Centro de Estudos Sociais de Coimbra. Ele se surpreendeu com o estado do debate sobre este tema em Portugal, isto é, quase inexistente.

    Benjamin de Paula acompanhou no Brasil o crescimento dos movimentos sociais negros e as ideias de reparações que não são diretamente financeiras, mas que tentam corrigir o acesso às oportunidades da população brasileira negra. Para o pesquisador, já é possível hoje analisar as mudanças que ocorreram no Brasil, com a introdução, há pouco mais de dez anos, de políticas de ação afirmativa que, por exemplo, impuseram cotas de estudantes negros nas universidades brasileiras para superar a enorme disparidade que existia entre a porcentagem de negros na população brasileira e a existência de estudantes negros nas universidades.

    “Casos como o meu, que sou negro, numa universidade brasileira, eram quase exóticos. No entanto, no Brasil, 50% da população é negra.” Hoje, diz, há médicos, engenheiros e professores universitários negros, graças também à lei de cotas. Mas, para Benjamin de Paula, a medida mais importante que o governo brasileiro tomou foi a obrigatoriedade de ensinar a história afro-brasileira em todas as escolas.

    Na história nunca há um só ponto de vista, e passou a fazer parte da educação de todas as crianças e jovens brasileiros olharem a sua história também a partir dos escravizados, dos discriminados, dos que nunca tiveram direito à história.

    Da mesma maneira que a teoria do luso-tropicalismo – que via o Brasil como o país onde as raças se misturavam com harmonia – impediu um olhar honesto sobre a realidade do racismo na sociedade brasileira, Benjamin de Paula observa como ideias semelhantes se mantêm em Portugal, mascarando o racismo no país. Também os portugueses criaram o seu “mito”, herdado ainda do tempo da ditadura, de povo não-racista, que faz com que seja mais difícil um verdadeiro debate quer sobre o passado quer sobre o presente e sobre a forma como Portugal se relaciona com os países africanos de língua portuguesa.

    Detalhe de exposição em dezembro de 2014 no Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo

    “Se não há um debate sobre o passado, não podemos rever o presente nem podemos ter desenvolvimento no futuro. As reparações passam primeiro por uma revisão histórica.” Portugal, diz, não ganha nada em querer fixar-se numa História de vencedores. “Portugal não ganha nada com continuar a olhar dessa forma [como “vencedor”] para a escravidão, a não ser vergonha eterna.” 

    Segundo Vladmiro Fortuna, em Angola o debate existe a um nível institucional – e as instituições angolanas vão sendo confrontadas com a maneira como a discussão vai evoluindo internacionalmente – mas ainda não chegou à sociedade angolana. “A memória da escravatura em Angola ainda não é suficiente conhecida”, diz, “mas creio que é uma questão de tempo até a sociedade estar mais atenta a estes temas.”

    O diretor do Museu Nacional da Escravatura lembra que há muito trabalho por fazer para se conhecer a fundo a história da escravatura em Angola – para além da história do tráfico de escravos, há muito por explorar no que toca à escravidão dentro do país, nas antigas fazendas coloniais, por exemplo, entre muitos outros espaços que ainda não foram suficientemente estudados. Vladmiro Fortuna diz que o acervo do Museu Nacional da Escravatura é extraído na sua maioria da região de Luanda, onde o museu está localizado, e que falta fazer trabalho arqueológico no resto do país.

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    Agora, lembra, no resto do mundo tem crescido a investigação sobre a escravatura e em muitos estudos internacionais Angola é referida. “No siteTrans-Atlantic Slave Trade Database, os números mais recentes apresentados colocam Angola como umas das regiões que mais exportou escravizados. Esta confirmação dá-nos mais responsabilidades no processo da valorização e preservação da memória da escravatura.”

    “É um assunto que deve envolver todos os povos do mundo no sentido de preservar a história para a educação das novas gerações, porque é esta a melhor forma de honrar as vítimas”, diz Vladmiro Fortuna.

    Este parece ser o grande consenso: que a verdadeira reparação começará quando nas escolas a história da escravidão seja contada a partir de vários pontos de vista e seja tratada como um tema fundamental. Talvez quando os nomes e as histórias de pessoas como Cugoano ou Belinda Royall passarem a fazer parte do nosso imaginário.

    Matéria original publicada no site Rede Angola.

  13. Justiça

    Justiça brasileira decreta: O crime compensa!

    Depois de praticamente libertar o doleiro Alberto Youssef,  através da delação premiada, a justiça determina uma ajuda financeira para o doleiro. Youssef  poderá ganhar até R$ 10 milhões.  E os pais mandando que os filhos estudem para assim fugirem do crime e vencerem na vida! Já estou vendo criança dizendo para os pais:  _ Mamãe e papai, quando eu crescer quero ser doleiro!. Para aqueles que acham que todo o nosso problema são os políticos, a justiça vem correndo por fora e já tomou a ponta, como numa corrida de cavalo. E como diria o narrador: Não perde mais!

    Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2015;

     

  14. Ativista curdo pede solidariedade e apoio para o processo revolu

    24/jan/2015, 9p4min

    http://www.sul21.com.br/jornal/ativista-curdo-pede-solidariedade-e-apoio-para-o-processo-revolucionario-de-rojava/

    Ativista curdo pede solidariedade e apoio para o processo revolucionário de Rojava



       Por Roberta Fofonka/Sul21

    Giran Ozcan esteve em Porto Alegre para falar sobre a causa curda com organizações de esquerda | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Samir Oliveira

    Os curdos são a mais numerosa etnia do mundo sem Estado: são mais de 26 milhões de pessoas que vivem em regiões da Turquia, da Síria, do Iraque e do Irã. Desde 2012, com a intensificação da guerra civil na Síria, os curdos da região têm se organizado para defender seus territórios das forças do governo de Bashar al-Assad e dos terroristas do Estado Islâmico (também conhecido como ISIS).

    Em 2013, os curdos da Síria anunciaram a organização de três regiões administrativas no norte do país, chamadas de “cantões”: Afrin, Jazira e Kobani. Separados geograficamente em meio a um território conflagrada pela guerra, os cantões formam a região de Rojava – palavra que, em curdo, significa “oeste”.

 Rojava possui uma população de cerca de 3 milhões de pessoas, espalhadas por doze cidades. Enquanto se organizam para lutar contra o Estado Islâmico e unificar os cantões, os curdos estão criando uma própria forma de organização social, política e econômica na região, baseada no confederalismo democrático, com premissas anti-Estado e anticapitalistas inspiradas no programa político do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – organização criada na década de 1970 e considerada “terrorista” pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela Turquia, país onde seu principal líder, Abdullah Öcalan, encontra-se em prisão perpétua desde a década de 1990.

    Nesta entrevista ao Sul21, o ativista curdo Giran Ozcan fala sobre o processo revolucionário em Rojava e dá mais detalhes sobre a situação na região. Giran edita o site Kurdish Question e esteve em Porto Alegre nesta semana para falar sobre o assunto com organizações de esquerda.

    Na entrevista, ele fala ainda sobre o funcionamento das forças de combate de Rojava, que estão divididas basicamente em das brigadas: as Unidades de Proteção do Povo (YPG) e as Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ) – esta última, composta e comandada por mulheres curdas.

    “O desafio é tornar Rojava, os cantões e o povo curdo reconhecidos pela comunidade internacional”

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “ISIS e os curdos estão lutando há quase três anos na Síria” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Como está a situação agora em Rojava?
    Giran Ozcan – A luta na Síria começou há quatro anos e há quase três anos os curdos anunciaram que vão se autogovernar em três cantões. Depois deste anúncio, o Estado Islâmico (ISIS) começou a atacar os curdos. Embora isto só esteja sendo divulgado pela mídia desde Kobani região de Rojava na Síria, que está cercada pelo Estado Islâmico], ISIS e os curdos estão lutando há quase três anos na Síria. Atualmente, depois de capturar armamento pesado dos exércitos iraquiano e sírio, eles novamente atacaram os curdos, há cerca de quatro meses, em Kobani. Enquanto os exércitos da Síria e do Iraque estão fugindo do Estado Islâmico em várias regiões, os curdos estão resistindo, lutando e fazendo eles recuarem. É isso que vem ocorrendo em Rojava nos últimos meses. Hoje, mesmo após o ISIS atacar Kobani com todas as suas forças, a cidade não caiu. Os curdos estão mostrando ao mundo que são capazes de se autogovernar e de se defender. Estão oferecendo uma alternativa à região. A luta ainda está ocorrendo em Kobani, o ISIS ainda não foi completamente derrotado, mas já foi expulso da cidade. Nos outros dois cantões o autogoverno continua sendo implementado e desenvolvido. O desafio é tornar Rojava, os cantões e o povo curdo reconhecidos pela comunidade internacional.

    Sul21 – Quem está controlando Kobani hoje?
    Ozcan – Hoje Kobani é controlada pelos combatentes curdos do YPG. Cerca de 98% da cidade está sob controle do YPG. Há dois dias, eles conquistaram a colina de Minstenur. Atualmente, o ISIS está apenas na periferia da cidade.

    Sul21 – O Estado Islâmico é a principal ameaça para Rojava e a causa curda atualmente?
    Ozcan – ISIS é ameaça que está batendo diretamente na porta. Mas Rojava está enfrentando um embargo de todos os lados, porque é um sistema alternativo aos imperialistas e às forças regionais. Por isso, o povo em Rojava está tentando se autossustentar, porque não recebendo ajuda de ninguém. Economicamente, estão tentando criar um novo sistema. Então existem duas ameaças: obviamente o Estado Islâmico e o embargo internacional.

    “Os cantões são governados pelo povo através das assembleias populares”

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “Os curdos querem que o regime sírio reconheça sua autonomia” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Como foi possível que o Estado Islâmico crescesse tanto na região?
    Ozcan – O ISIS está lá há pelo menos seis anos. Antes de o ISIS crescer, o governo central do Iraque se aproximava do Irã e se distanciava dos Estados Unidos. Barzani (presidente do Governo Regional Curdo no Iraque) falava em declarar independência e o regime de Assad (presidente da Síria) estava fortalecido. Todos se encaminhavam contra o Ocidente na região. De repente, do nada, o Estado Islâmico começa a ganhar tanta força que o governo iraquiano precisou se aproximar dos Estados Unidos novamente. Barzani parou de falar em independência e a guerra se intensificou na Síria. Se analisarmos objetivamente, quem se beneficiou do crescimento do Estado Islâmico foram os Estados Unidos. Não podemos provar que os Estados Unidos fortaleceram o ISIS, mas o empoderamento deles definitivamente beneficiou os planos dos Estados Unidos para a região.

    Sul21 – Como é a relação entre a luta que ocorre entre os curdos e o Estado Islâmico e o regime de Assad, que governa a Síria?
    Ozcan – Os curdos querem que o regime sírio reconheça sua autonomia. Eles querem que o regime respeite a vontade do povo. Até então, Assad nunca havia concedido cidadania aos curdos. Centenas de milhares de curdos não podiam ir à escola, comprar terras ou ter empregos formais. Atualmente a situação está equilibrada: os curdos querem seus direitos reconhecidos e não vão atacar o regime sírio, mas não vão hesitar em defender o que já foi conquistado.

    Sul21 – O governo sírio não está combatendo o Estado Islâmico também?
    Ozcan – Está, em certas regiões. Mas os principais opositores do ISIS são os curdos. Embora eles digam a todos que estão lutando contra o governo e tentando estabelecer um Estado islâmico, os principais antagonistas que eles enfrentam são os curdos.

    “As mulheres participam da vida política e possuem seu próprio exército, que está lutando contra o Estado Islâmico”

    Sul21 – E os revolucionários sírios que lutam contra o regime não estão do lado de vocês, combatendo também o Estado Islâmico?
    Ozcan – Não podemos mais falar em apenas uma FSA (Exército Livre da Síria), porque se trata de uma coalizão muito ampla — o ISIS inclusive fazia parte do grupo anteriormente. É uma plataforma da luta contra Assad, mas é uma coalizão revolucionária? Isso está aberto ao debate. Há muitos extremistas islâmicos na FSA, mas também há revolucionários. Eles não se identificam mais como FSA, porque a coalizão ficou tão ampla que não pode mais ser chamada de coalizão. Em Kobani há grupos da FSA lutando junto com os curdos, mas em outros cantões há grupos da FSA lutando contra nós.

    Foto: Reprodução

    Região de Rojava, que faz fronteira com a Turquia e o Iraque, e está dividida administrativamente em três cantões sob controle do povo curdo| Foto: Reprodução

    Sul21 – Quais são as forças políticas que comandam Rojava?
    Ozcan – O PYD é um partido político curdo que já existia junto ao sistema sírio e está se aliando à ideologia do PKK e de Öcalan. Essa é a organização com mais apoio popular em Rojava. Mas as pessoas têm seu próprio sistema, suas assembleias populares, onde o partido político não está presente. O chamado Movimento Democrático do Povo realiza as assembleias locais e comanda os cantões, que não são governados pelo PYD. Os cantões são governados pelo povo através das assembleias populares. Há uma co-presidência para cada cantão, composta por um homem e uma mulher. Rojava é um grande processo revolucionário porque, na cultura daquela região, a mulher não possuía participação política. A ideologia do PKK foi gradualmente mudando isso. Agora, as mulheres participam da vida política e possuem seu próprio exército, que está lutando contra o Estado Islâmico. Trata-se de uma das maiores revoluções sociais da região.

    Sul21 – Como os governos dos cantões são escolhidos?
    Ozcan – Através de eleições. As primeiras ocorreram há seis meses. Não é um sistema representativo, é uma democracia direta. A qualquer momento o povo pode retirar do poder quem eles elegeram. O Poder Executivo é mais um coordenador do processo, porque existem assembleias populares em cada comunidade. As decisões locais são tomadas pelas pessoas que moram nas comunidades. Em cada comunidade existem três assembleias: a local, a de jovens e a de mulheres. É um outro modelo, não haverá eleições a cada quatro anos. Sempre e quando o povo precisar, o governo permanecerá ou será mudado.

    “Não existe nenhum outro lugar no Oriente Médio onde cristãos e muçulmanos estejam governando juntos”

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “Não existe um representante de Rojava” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Não existe um governo central dos três cantões?
    Ozcan – Atualmente, cada cantão é separado. Não existe coordenação entre eles. Quando falamos sobre Rojava, estamos falando sobre os três cantões, mas não existe um representante de Rojava. Isso se deve a problemas práticos, já que os três cantões estão fisicamente distantes e separados, e também porque o projeto político ainda está sendo discutido. Ainda está aberto ao debate a forma como essa coordenação central será construída.

    Sul21 – Como os três cantões se comunicam e realizam trocas entre si?
    Ozcan – A região inteira é uma zona de guerra, então há limitações práticas para isso. Estão sendo criadas academias econômicas para se discutir o tipo de economia que será criada quando os cantões se unificarem. Uma das nossas funções na América Latina é entender melhor as experiências econômicas da região, com cooperativas e economias comunitárias criadas ao longo da história de processos revolucionários no continente.

    Sul21 – Quando falamos sobre Rojava, sobre quantas pessoas e cidades estamos falando?
    Ozcan – Estamos falando sobre algo entre 2,5 milhões e 3 milhões de pessoas e cerca de 12 cidades. Não são cidades muito grandes, porque as administrações dos cantões são diferentes do mapa político da Síria. Por exemplo, de acordo com a Síria, a cidade de Kobani pertence a Aleppo, mas para os curdos, é uma cidade livre. A maior cidade é Qamislo.

    “O sucesso de um projeto anticapitalista, especialmente no Oriente Médio, é uma grande ameaça ao sistema”

    Sul21 – Qamislo é a capital de Rojava?
    Ozcan – A ideologia do confederalismo democrático não prevê a existência de uma capital. Eles não precisam de uma capital, que é um instrumento de um Estado – e eles querem evitar isso.

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “Os cristãos podem governar a si próprios se eles quiserem, está garantido na Constituição de Rojava” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Como está sendo a implantação do confederalismo democrático em Rojava?
    Ozcan – É tudo muito novo, então não posso dizer que não estejam ocorrendo problemas. Mas pela primeira vez estamos implantando o confederalismo democrático como um sistema prático. O povo está muito animado, porque estamos resolvendo os problemas da causa curda, mas também estão resolvendo o problema da exploração, do governo, do socialismo e da vida social. É uma revolução em muitas dimensões e aspectos. Muitos olhos pairam sobre Rojava agora, porque não existe nenhum outro lugar no Oriente Médio onde cristãos e muçulmanos estejam governando juntos. Os cristãos podem governar a si próprios se eles quiserem, esse direito está garantido na Constituição de Rojava. Os cristãos têm seu próprio mecanismo de auto-defesa. É um sistema secular, por isso está atraindo tanta atenção.

    Sul21 – Como o processo revolucionário está resolvendo as necessidades imediatas do povo, principalmente no que diz respeito a saúde e educação?
    Ozcan – As assembleias populares estão criando academias. É um sistema muito novo, então tudo está tendo que ser autogestionado. As pessoas precisam fazer tudo e construir seu próprio sistema de forma coletiva. Escolas primárias, secundárias e até mesmo universidades estão sendo criadas pelo povo. O problema principal em relação a Rojava é que, por ser uma alternativa ao sistema, o sistema não a apoia. É por isso que tudo precisa ser feito de dentro para fora.

    Sul21 – É um modelo anticapitalista também.
    Ozcan – A economia está sendo organizada através de cooperativas. Em Rojava, o princípio básico é: “o que pertence ao povo sempre pertencerá ao povo e será compartilhado pelo povo”. Há muita oliva e petróleo na região, por isso que muitas companhias internacionais querem saber qual é a política econômica do PKK. O PKK diz que nenhuma companhia pode se aproximar da região com a ambição de lucrar, porque o partido é contra monopólios e privatizações. Os recursos da região serão compartilhados pelo povo. Se obtivermos sucesso, será um modelo para o mundo inteiro. O sucesso de um projeto anticapitalista, especialmente no Oriente Médio, é uma grande ameaça ao sistema.

    “Devido à censura da mídia, ninguém sabia que o PKK tem mulheres combatendo e liderando suas fileiras há mais de 35 anos”

    Sul21 – E o que acontece com a iniciativa privada que existe na região, com os comércios e empresas das cidades?
    Ozcan – Por causa do preconceito de Assad contra o povo curdo, não havia muito comércio e capital privado sendo investido na região. Agora isso é uma coisa boa, porque, caso contrário, ocorreria uma oposição interna na região ao processo revolucionário. Isso não está ocorrendo porque o povo de Rojava mora em vilas, são trabalhadores, não é uma região dividia em classes. Essa era a natureza da região, mesmo antes da revolução, então a transição não está sendo difícil.

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “O povo de Rojava conhece muito bem a ideologia do PKK” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Para uma revolução ser bem sucedida, o povo precisa apoiá-la. A região de Rojava não possuía uma classe média ou uma burguesia capazes de opor resistência?
    Ozcan – Para o confederalismo democrático, as academias são muito importantes. O povo precisa estar a par do que está acontecendo, do tipo de revolução que está ocorrendo e das ameaças do sistema. O PKK foi criado em 1978. Depois que Öcalan teve que deixar a Turquia, ele foi para Rojava, em 1979. Ele viveu no Curdistão sírio por 20 anos, então o povo curdo da Síria conhece muito bem suas ideias. Milhares de jovens de Rojava se juntarão ao PKK nos anos 1980 e 1990. Milhares morreram na luta contra a Turquia. O povo de Rojava conhece muito bem a ideologia do PKK.

    Sul21 – Como é a relação entre Rojava e o Governo Regional Curdo do Iraque?
    Ozcan – Não muito boa, porque Barzani e o Governo Regional Curdo são um satélite completamente dependente do Ocidente. Rojava é uma revolução contra o sistema e Barzani é parte do sistema. Ao fim e ao cabo, talvez a maior revolução de Rojava seja contra Barzani, porque ele é a parte do sistema que mais se aproxima de Rojava, é o principal representante do sistema na região. Muita gente compreendeu que a Turquia estava conduzindo um embargo contra Rojava, mas ninguém entendeu porque Barzani estava reforçando esse embargo contra o povo curdo. Ele queria sufocar a revolução também, por isso que reforçou o embargo nas fronteiras que o Governo Regional Curdo possui com Rojava.

    “A resistência em Kobani contra o Estado Islâmico foi liderada por uma mulher”

    Sul21 – Isso pode estar enfraquecendo a popularidade de Barzani junto aos curdos?
    Ozcan – Definitivamente, porque o Ocidente quer que Barzani seja uma alternativa a Öcalan e ao PKK. Após atacarem Kobani, o Estado Islâmico atacou Sinjar, onde os curdos Yazidi vivem. Eles não são muçulmanos, são curdos que pertencem a uma religião muito típica e antiga. Quando eles foram atacados, as forças de Barzani, os Peshmergas, fugiram, deixando os Yazidi sozinhos e desarmados. Por isso cerca de 3 mil mulheres Yazidi foram capturadas pelo ISIS e estão sendo vendidas como escravas sexuais. É por isso que o povo curdo está muito crítico em relação a Barzani. Se o PKK não tivesse descido das montanhas e defendido os Yazidis em Sinjar, teria havido um massacre massivo. Em todas as cidades governadas por Barzani que estão sob sítio do ISIS, quem está combatendo não são os Peshmergas, mas a guerrilha do PKK. O mundo inteiro está vendo as guerrilhas assumirem a luta e os Peshmergas recuarem, isso está abalando muito a popularidade de Barzani.

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “O governo não pode mais banir o PKK de participar”| Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – É possível haver uma mudança política no comando do Governo Regional do Curdistão e um aliado do PKK assumir o poder?
    Giran – O partido-irmão do PKK no Governo Regional do Curdistão foi banido das eleições. Nas últimas eleições, Barzani fez 38% dos votos. Agora existe o movimento Gorran, que é uma nova força política de oposição e está com 29% das intenções de voto. Então há espaço para mudança no Governo Regional do Curdistão.

    Sul21 – O que isso iria significar para Rojava?
    Giran – Significaria que pelo menos uma certa parte do Curdistão estaria livre. Embora o Governo Regional do Curdistão possua uma autonomia “de facto” desde a década de 1990, ninguém enxerga a região como uma parte livre do Curdistão, porque ela está completamente dependente do Ocidente. Os curdos estão dizendo agora que Rojava é o primeiro território livre do Curdistão. A próxima eleição no Governo Regional do Curdistão será somente em três anos, mas acredito que muita coisa vá mudar até lá. No momento os curdos estão numa posição defensiva, lutando contra o Estado Islâmico, então não estão falando muito sobre mudanças políticas. Mas as guerrilhas do PKK estão nas cidades do Governo Regional do Curdistão. Antes, para ir lá, eles teriam que lutar com os Peshmergas, e ninguém quer ver os curdos lutando uns contra os outros. Agora o povo está vendo as guerrilhas todos os dias. As coisas irão mudar nas próximas eleições, o governo já não pode mais banir o PKK de participar no processo.

    “A luta não está sendo conduzida dentro de uma lógica militarista, mas, sim, de autodefesa”

    Sul21 – Como se deu o surgimento das brigadas comandadas e compostas por mulheres em Rojava?
    Giran – O movimento de libertação das mulheres está contemplado na ideologia do PKK. Devido à censura da mídia, ninguém sabia que o PKK tem mulheres combatendo e liderando suas fileiras há mais de 35 anos. Desde a criação do PKK, no primeiro congresso do partido, as mulheres estavam presentes. Nos anos 1980, nas primeiras guerrilhas do PKK, havia brigadas femininas. Öcalan sempre dizia que nenhuma sociedade pode ser livre enquanto as mulheres não forem livres. Para ele, o nível de liberdade de uma sociedade pode ser medido pelo nível de liberdade das mulheres. Por isso que a revolução em Rojava é uma revolução de mulheres. Embora as YPJ tenham sido criadas há apenas três anos, elas vêm de uma história de 35 anos. A principal comandante de Kobani era uma mulher, Narin Afrin. A resistência em Kobani contra o Estado Islâmico foi liderada por uma mulher. As pessoas costumam dizer que o Oriente Médio é uma região muito conservadora, mas, no centro do Oriente Médio, mulheres estão na linha de frente da vanguarda por libertação. E a maioria delas são muçulmanas, que é a religião predominante entre os curdos.

    Por Roberta Fofonka/Sul21

    “Antes de Kobani a mídia ocidental não falava sobre Rojava” | Por Roberta Fofonka/Sul21

    Sul21 – Isso contraria o estereótipo que se costuma ter no Ocidente quanto às mulheres muçulmanas, como se a opressão de gênero e o islamismo fossem duas coisas intrinsecamente ligadas.
    Giran – Há muitas leituras diferentes do Islã, a do ISIS é apenas uma delas e tem suas raízes no wahhabismo. Através do PKK, o povo curdo passou a ter um entendimento completamente diferente a respeito das mulheres. Não é uma característica curda, mas uma característica do socialismo defendido pelo PKK, que foi rompendo com as opressões em relação às mulheres naquela região.

    Sul21 – O militarismo costuma ser um fenômeno bastante machista. Como as mulheres estão desconstruindo isso em Rojava?
    Giran – Nos anos 1980, acredito que qualquer mulher militante do PKK teria muitos relatos para fazer a respeito das dificuldades em enfrentar o machismo em uma organização predominantemente masculina. Öcalan escreveu um livro sobre a necessidade de se romper com o machismo, porque viu que mesmo na sua organização isso era um problema. Atualmente, em grande medida isso já foi superado. A luta não está sendo conduzida dentro de uma lógica militarista, mas, sim, de autodefesa. E as mulheres são uma parte desta autodefesa.

    “O governo turco deixa suas fronteiras abertas para o Estado Islâmico e fecha as portas para a solidariedade revolucionária em relação a Rojava”

    Sul21 – Como está a solidariedade internacional em relação a Rojava?
    Giran – Há dois períodos: antes e depois da conquista de Kobani. Antes de Kobani a mídia ocidental não falava sobre Rojava, porque a resistência foi inacreditável. O Estado Islâmico tomou Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, em 24 horas. Mas não conseguiram conquistar Kobani, uma cidade com 200 mil habitantes e não mais do que 5 mil combatentes. Depois disso, houve um despertar internacional em relação ao que ocorre em Rojava, as pessoas estão debatendo o sistema político que está sendo criado lá. Esperamos que as pessoas se solidarizem e acompanhem esse experimento socialista e revolucionário que está ocorrendo em Rojava. Ainda é um experimento. Somente com a ajuda e a solidariedade das pessoas ao redor do mundo, especialmente na América Latina, esse experimento poderá ser bem sucedido.

    

Sul21 – O que esse processo revolucionário significa para a esquerda, de uma forma geral?
    Giran – Embora o capitalismo esteja afundando em uma grande crise, a esquerda ainda não foi capaz de mostrar um modelo concreto ao mundo. Agora temos um experimento em Rojava ao qual podemos nos espelhar e dizer ao mundo: “É assim que queremos que as pessoas vivam”. Cabe a nós, pessoas de esquerda e revolucionárias, mostrar ao mundo que o modelo desenvolvido em Rojava pode ser bem sucedido e que o socialismo pode ser tão bom na prática quanto é na teoria. Acredito que a esquerda não irá perder essa oportunidade.

    Sul21 – Como Rojava está se abrindo para o mundo neste momento? Organizações e pessoas estrangeiras podem ir para lá?
    Giran – O governo turco deixa suas fronteiras abertas para o Estado Islâmico e fecha as portas para a solidariedade revolucionária em relação a Rojava. Muitos europeus já se juntaram ao YPG, vários latino-americanos também já se juntaram a Rojava. Há maneiras de garantir contatos, o PYD tem escritórios na Europa. Rojava espera pela visita das pessoas, porque tem algo a mostrar ao mundo.

    “A mídia ocidental não demonstra a realidade da revolução, não fala sobre seu caráter anticapitalista”

    Sul21 – Qual o papel das potências ocidentais em relação ao que ocorre em Rojava?
    Giran – O Ocidente está dizendo que aceitará Rojava se for igual ao Governo Regional do Curdistão. Se Rojava for mais aberta ao Ocidente e às grandes corporações, receberá apoio das potências ocidentais. É por isso que o povo não está esperando que esse apoio venha.

    Sul21 – Como tu vês a cobertura da mídia sobre Rojava?
    Giran – Há diferentes abordagens. É claro que a revolução quer ser conhecida e vista pelo mundo, mas ela quer ser mostrada pelo que realmente é. A gente vê fotos de mulheres combatendo em Rojava, mas não sabemos por que elas estão lutando. Não vemos na mídia tradicional a informação de que o PKK é uma organização socialista, de que a economia em Rojava é baseada em cooperativas.

  15. Assino a ficha de filiação, quando criarem o partido da educação

    EM VÍDEO PARA CRIAR A REDE, MARINA BATE CONTRA DILMA

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    A ex-senadora Marina Silva e candidata derrotada à Presidência da República pelo PSB nas últimas eleições, engrossou o coro da oposição que ainda não aceita a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Marina aproveitou um vídeo em que pede para que as pessoas assinem as fichas de criação do Rede Sustentabilidade para criticar a presidente Dilma, após afirmar quie o páis passa por uma “crise política, econômica, social e civilizatória, “o risco que ameaça até mesmo aquilo o que já conquistamos é o atraso na política. É a velha prática de se dizer uma coisa para ganhar a eleição e fazer outra depois que ganha”

     

    24 DE JANEIRO DE 2015 ÀS 16:15

     

    247 A ex-senadora Marina Silva e candidata derrotada à Presidência da República pelo PSB nas últimas eleições, engrossou o coro da oposição que ainda não aceita a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Marina aproveitou um vídeo em que pede para que as pessoas assinem as fichas de criação do Rede Sustentabilidade para criticar a presidente Dilma. Dizendo, em mais de uma ocasião que o país passa por uma profunda crise, ela afirma que “o risco que ameaça até mesmo aquilo o que já conquistamos é o atraso na política. É a velha prática de se dizer uma coisa para ganhar a eleição e fazer outra depois que ganha”.

    No vídeo, que dura 1 minuto e 54 segundos, a ex-senadora dedica 1 minuto e quinze do tempo para criticar o governo da presidente Dilma. Logo no início, ela aparece afirmando que, durante a campanha eleitoral do ano passado, apresentou um plano de governo desenvolvido juntamente com milhares de pessoas e onde dizia “claramente” o que seria feito caso ganhasse as eleições.

    Logo em seguida, Marina emenda que o país está “vivendo uma profunda crise. Crise política, crise econômica e crise social, diria até mesmo uma crise civilizatória, com problemas ambientais gravíssimos (…) com repercussões bastante prejudiciais no nosso país, no abastecimento de água e na geração de energia”, afirma.

    Antes de pedir que o eleitorado assine a ficha de filiação da Rede, Marina diz que as mudanças dependem da “sociedade que não quer mais ser mera espectadora, mas ter o papel de protagonista”.

    Confira aqui o vídeo postado pela ex-senadora Marina Silva. 

     

     

  16. Morre a atriz e realizadora teatral Maria Della Costa

     

    Gentile Maria Marchioro Della Costa Polloni (Flores da Cunha, 1º de janeiro de 1926 — Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2015)

    Figura de grande importância para o teatro brasileiro, ela tinha 89 anos

    Morre a atriz e realizadora teatral Maria Della Costa

    Da Veja

    A atriz Maria Della Costa, um nos nomes mais importantes do teatro brasileiro, morreu neste sábado no Rio de Janeiro, aos 89 anos. Ela sofria de um edema pulmonar e passou mal em casa. Levada ao Hospital Samaritano, em Botafogo, não resistiu. Era considerada uma modernizadora do teatro no Brasil, sobretudo por ter encenado grandes dramaturgos pela primeira vez no país.   

    Desde a juventude, a beleza foi uma de sua marcas. Modelo fotográfica, trabalhou para casas de moda e o Cassino Copacabana, no Rio, antes de migrar para o teatro a convite de Bibi Ferreira, que a contratou para uma montagem de A Moreninha. Chamada Gentile Maria Marchioro em sua certidão de nascimento, Maria Della Costa iniciou em 1944 sua carreira de atriz, que incluiu montagens de textos de Jean-Paul Sartre, Maximo Gorki, William Shakespeare, Arthur Miller, Tennessee Williams, Nelson Rodrigues e Bertold Brecht – muitos, como o americano Miller, até então eram inéditos no país. 

    Com Sandro Polloni, seu segundo marido, ela fundou em 1948, no Rio, o Teatro Popular de Arte. Mais tarde, ele daria origem à Companhia Maria Della Costa em São Paulo, que se tornou uma referência de artes cênicas no Brasil. Foi no teatro que também carregava seu nome que o país conheceu um dos maiores encenadores do teatro nacional, o italiano Gianni Ratto.

    Seu papel como grande realizadora teatral incluiu a descoberta de grandes talentos, tanto intérpretes – como Fernanda Montenegro, Ney Latorraca e Sérgio Britto – quanto diretores – caso de Flavio Rangel. Apesar de uma vida indissociável ao teatro, Maria Della Costa também teve papéis marcantes na TV, nas novelas Beto Rockfeller e Estúpido Cupido.

    Nos seus últimos anos, ela se mudou para Paraty (RJ), cidade da qual se tornou divulgadora e onde foi proprietária, até 2011, do Hotel Coxixo. Viúva, Maria Della Costa não teve filhos.

     

     

     

  17. Água e luz

    Enquanto São Paulo está sem água, no Nordeste as águas vão rolar

    Muitos falam que a mídia brasileira precisa de uma lei para regulá-la. E precisa mesmo! Onze famílias controlam a mídia brasileira. O estado de São Paulo, governado pelo PSDB, está secando e a mídia tenta passar a idéia de que a falta de água é um problema nacional.  Segundo agência americana, 2014 foi o ano mais quente do planeta desde 1880. O problema é que os governos paulistas nada fizeram para impedir a anunciada falta de água.

     

    Os paulistas já estão bebendo água de esgoto tratado, da reserva morta, usando água da piscina para lavar louça e cozinhar, e a mídia diz que o problema é no Rio, onde o povo fluminense estaria enfrentando até jacaré para pegar água.

    A falta de luz por algumas horas, ocasionada pelo calor que acarretou num pico de consumo atingindo alguns estados, foi denominada de apagão. Já é a oitava vez desde 2009 que a mídia já anunciou racionamento de energia, coisa que nunca existiu no governo do PT.

     

    A propósito, no governo de FHC tivemos apagão com racionamento de luz.  Fica aqui a sugestão para os paulistas, diante do fracasso dos sucessivos governos tucanos que os levou a esse caos: podem ir para o Nordeste, fazendo o caminho inverso das décadas passadas, quando o nordestino ia para São Paulo em busca de oportunidades.

    O Nordeste é a região que mais cresce no país e se o governo tucano, por incompetência, deixou faltar água em São Paulo, o governo do PT está realizando a transposição do rio São Francisco, acabando com o problema da seca na região, além disso, em seus governos instalou 600 mil cisternas na região mais seca.

    Quanto ao preconceito em São Paulo contra o nordestino, durante as eleições, não se pode esquentar a cabeça com isso, pois é coisa de uma elite raivosa, aliás, essa turma nem gosta de tomar banho, usa perfume francês, e, no limite, vai se mudar para Miami.

    Podem ir para o Nordeste, pois como diz a marchinha carnavalesca, lá “ ….as águas vão rolar..”.   

     

    Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros.

     

    Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2015;

     

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