Jornais em crise: solução nos EUA é separar impresso do digital

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A nova conformação de mídia tem um nome: jornais em crise. Este artigo publicado no site Observatório de Imprensa, de autoria de Matthew Garrahan, traz um panorama das publicações impressas dos EUA e da nova geração de leitores. Com a nova conformação, grupos vão desvincunlando as empresas para evitar que a baixa procura por jornais impressos acabem por detonar os lucros de outras mídias. E fala dos grandes grupos, não somente os pequenos e médios.

Garrahan aponta como fonte de lucros basicamente o corte de custos, que envolvem redução de pessoal, acúmulo de funções de profissionais e até mesmo cortes na paginação das publicações. Para ele, a salvação repousa no interesse de grandes investidores, que podem sustentar os jornais sem se concentrar tanto na questão do lucro. Mas isto depende, basicamente, de uma boa dose de altruísmo, na linha de que “o jornalismo precisa sobreviver por ser de interesse público”.

Leia o artigo.

do Observatório da Imprensa

Empresas separam impressos de digitais para evitar prejuízos

Tradução: Fernanda Lizardo, edição de Leticia Nunes. Com informações de Matthew Garrahan [“Rush to print is no cause for celebration”, Financial Times, 8/8/2014] e do Australian Financial Review [“US newpapers: pure opportunity”, 6/8/2014]

É fato que a queda na publicidade e na circulação atingiu praticamente todas as publicações impressas dos EUA e que a nova geração de leitores não está acostumada – ou disposta – a pagar para receber notícias na internet. Em busca de soluções para salvar o mercado, muitas empresas de mídia estão aderindo à separação de seus negócios, desagregando seus canais televisivos e digitais das publicações impressas.

Um dos pioneiros nesse tipo de jogada foi o Belo, grupo com sede em Dallas, que em 2007 anunciou os primeiros planos de segmentação de seus jornais e suas 20 estações de televisão. O Journal Communications, que publica títulos regionais como o Milwaukee Journal Sentinel, também anunciou planos de fundir seus jornais aos do grupo EW Scripps, bem como mesclar as respectivas emissoras de TV de cada empresa – a EW controla canais como Food Network e ABC Action News.

O Tribune Publishing, dono do Los Angeles Times e do Chicago Tribune, também separou seus negócios da Tribune’s TV. O Gannett, que publica o USA Today, foi outro a anunciar um projeto de divisão, desmembrando seu braço editorial do segmento de transmissão e das operações digitais.

Nem mesmo os gigantes fugiram da fórmula: em 2012, a News Corp aderiu e, no ano seguinte, a Time Warner chegou a cogitar planos de separar seus ativos de impressão.

Lucro por corte de custos

Tal tendência é uma tentativa de evitar que a TV, ainda altamente lucrativa, não seja contaminada pela baixa nos impressos, mantendo assim a atração dos investidores, que teriam opção de segmentar a aplicação de seus ativos.

Em análise no Financial Times, o editor Matthew Garrahan vê esta tendência como algo negativo para os amantes das mídias impressas, pois as publicações que caminham de maneira independente passam a contar com menos capital para crescimento num ambiente já insalubre (e muitas vezes os impressos já confrontam quantidades consideráveis de dívidas, como é o caso das publicações da Time Inc e do grupo Tribune).

Garrahan diz que a geração de lucros tem dependido basicamente dos cortes de custos – os quais envolvem desde redução de pessoal, acúmulo de funções de profissionais e até cortes na paginação das publicações. O editor aponta, no entanto, que este tipo de medida tem limites. “O crescimento da receita é essencial e, sem ele, em algum momento os jornais vão ficar sem custos para cortar”, afirma. Embora todos os setores tenham experimentado novos modelos de negócios (como paywalls, mesclagem com elementos digitais e similares), ninguém encontrou ainda a fórmula que vai salvar os jornais.

Dependência de altruísmo

Segundo Garrahan, a salvação pode estar nos empresários endinheirados. John Henry, dono do time de beisebol Boston Red Sox e do time de futebol Liverpool, adquiriu o Boston Globe. Um consórcio liderado por Austin Beutner, ex-sócio da multinacional Blackstone, e que conta com o apoio de nomes de peso como o bilionário do ramo imobiliário Eli Broad, manifestou interesse pelo Los Angeles Times. Jeff Bezos, fundador da Amazon, adquiriu o Washington Post em 2013.

Estes investidores têm condições de sustentar os jornais sem se concentrar tanto na questão do lucro, já que seus ativos vêm de outros segmentos. No entanto, tais iniciativas dependem de uma boa dose de altruísmo. O próprio Bezos declarou que seu investimento no Washington Post foi baseado na crença de que o jornalismo precisa sobreviver por ser de interesse público.

Na ausência de um modelo de negócios ideal, resta saber até quando haverá empresários dispostos a fazer tal “caridade”.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Estão batendo cabeças

    Até outro dia estavam transformando o negócio impresso e digital em um único e salvador da lavoura, agora já viram o tamanho do abismo. O digital não salva, e novas “ideias” surgem no desespero. Essa história de altruísmo só vai escancarar que a grande mídia será salva pelas elites necessitadas do controle da informação. Contrariados, terão que meter a mão no bolso. Do contrário, correrão o risco de cairmos numa democracia, com liberdade de expressão. Perigo enorme, para eles. 

  2. Nassif
    Acho que faz um 10

    Nassif

    Acho que faz um 10 anos que estamos falando aqui sobre o fim da mídia impressa, incrível como ela ainda sobrevive, ainda mais no mercado ianque, onde o mundo digital é gigantesco perto do nosso. Entendo que já deveriam ter acabado, visto que as edições são vergonhosas.

    Por aqui, os caras hoje tentam colocar no final da Semana;  Estadão com Veja, Folha com Veja, mas volta tudo na Segunda Feira; cada vez menor o consumo…

  3. jornalismo sério, é caro!
    Esquecem que jornalismo sério, não é barato…
    Outro ponto importante nos EUA, é que não há mais concorrência de jornais importantes nas grandes cidades, salvo, NY e Chicago. Uma empresa sem concorrência não se renova, esqueceram do produto principal. Não se pode comparar o que ocorre nos EUA com o resto do mundo, os próprios donos dos jornais destruíram os seus produtos.

  4. e aqui a grande mídia

    e aqui a grande mídia impressa agoniza com tiragens cada vez menores.

    paradoxalmente, parece que os próprios donos dos veículos estão ajudando na sua extinção ou quase.

    paradoxal porque é difícil entender o motivo do desprezo que têm pela maioria dos leitores que  esses grande meios costumam criminalizar em suas falsas notícias.

    assim, além da concorrencia com a internet, da qual não conseguirão se livrar, obviamente,  sofrem de um mal inerente á sociedade brasileira,

    historicamente, copiam tudo de fora e desprezam o próprio país.

    ironicamente , sobrevivem cortando gastos – sempre sobra para o otrabalhador –  e, consequentemente, copiando matérias da matriz estadunidense, hegemonica no mundo.

    jornal sem jornalistas, com alguns colunistas paus mandados.

    até quando?

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