Mercados emergentes devem ir para o ouro, por Kenneth Rogoff

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Transferência pode ser benéfica para sistema econômico global, diz economista

Jornal GGN – Os bancos centrais dos mercados emergentes possuem um volume excessivo em dólares e pouco ouro? Tal questionamento parece ser um pouco inoportuno, dada à desaceleração da economia global em que os mercados emergentes mostram-se aliviados por possuírem alguma reserva, mas existe um bom argumento a ser feito para que o acúmulo de ouro pelos emergentes ajude o sistema financeiro internacional a funcionar de forma mais suave e benéfica.

“Não estou junto daqueles – geralmente norte-americanos da extrema-direita – que são a favor de um retorno ao padrão-ouro, em que os países fixam o valor da sua moeda em termos de ouro (…) Estou apenas propondo que os mercados emergentes transfiram uma parte significativa dos trilhões de dólares em reservas em moeda estrangeira que possuem (a China, sozinha, possui US$ 3,3 trilhões em reservas oficiais) em ouro”, explica o economista Kenneth Rogoff, professor da universidade de Harvard, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Mesmo mudando, por exemplo, até 10% das suas reservas em ouro não iria trazê-los de qualquer lugar perto dos muitos países ricos que possuem 60-70% de suas (reconhecidamente menores) reservas oficiais em ouro”.

Por algum tempo, os países ricos têm argumentado que a desmonetização do ouro é “do interesse coletivo de todos” – em outros termos, tais países dizem que possuem um volume considerável de ouro, mas que é um vestígio do padrão registrado no período pré-Segunda Guerra Mundial, quando os bancos centrais precisavam de um grande volume estocado.

Em 1999 os bancos europeus, não vendo razão para manter a exploração do ouro, estabeleceu um pacto para começar a reduzir os estoques de forma ordenada. As vendas efetuadas na época faziam sentido para a maioria dos países participantes – o verdadeiro apoio para a dívida era o alcance fiscal de seus governos, seus elevados níveis de desenvolvimento institucional e sua relativa estabilidade política. O pacto de 1999 foi revisto periodicamente, embora desde a edição mais recente, em 2014, a maioria dos países ricos tomaram uma longa pausa, ainda deixando-os com reservas extremamente elevados de ouro.

Os mercados emergentes continuaram compradores de ouro, mas em ritmo mais lento em relação ao seu apetite por títulos do Tesouro americano e outras dívidas dos países ricos. Em março de 2016, a China realizou pouco mais de 2% de suas reservas em ouro, e a quota para a Índia foi de 5%. “A Rússia é realmente o único grande mercado emergente para aumentar suas compras de ouro significativamente, em grande parte devido às sanções ocidentais, com participações que chegam a quase 15% das reservas”, diz Rogoff.

Segundo o economista, os mercados emergentes mantém reservas porque eles “não tem o luxo” de ser capaz de impulsionar seu trajeto para fora de uma crise financeira ou de uma crise da dívida do governo. “Simplificando, eles vivem em um mundo onde uma grande fração da dívida internacional – e uma parcela ainda maior do comércio global – ainda é denominada em moeda forte. Então, eles mantêm reservas de divisas como uma proteção contra a catástrofe fiscal e financeira. Em princípio, seria um mundo muito melhor se os mercados emergentes pudessem de alguma forma reunir os seus recursos, talvez através de uma facilidade do FMI (Fundo Monetário Internacional), mas a confiança necessária para fazer tal trabalho simplesmente ainda não está lá”.

Por que o sistema funciona melhor com uma fatia maior das reservas de ouro? Para Rogoff, o problema com o status quo é que os mercados emergentes como um grupo estão competindo por títulos dos países ricos, o que tem ajudado a reduzir as taxas de juros que recebem. Com os valores próximos a zero, os preços dos títulos dos países ricos não podem cair muito mais do que eles já têm, enquanto a oferta de dívida avançada do país é limitada pela capacidade de impostos e tolerância ao risco.

“O ouro, apesar de estar com uma oferta quase fixa, não tem esse problema, porque não há limite sobre o seu preço. Além disso, há um caso a ser feito que o ouro é um ativo de risco extremamente baixo, e com retornos médios reais comparável a muito de dívida de curto prazo. E porque o ouro é um ativo de alta liquidez – um critério fundamental para um ativo de reserva – os bancos centrais podem dar ao luxo de deixar o passado de volatilidade de curto prazo para retornos médios com prazos mais longos”. Embora o ouro não remunere juros e tenha custos de armazenamento, Rogoff diz que esses custos poderiam ser controlados de maneira relativamente eficiente se deixados em offshore, caso necessário (muitos países mantém ouro no Federal Reserve de Nova York) e, ao longo do tempo, o preço pode subir.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

12 Comentários

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    1. O USA não têm nada a ver com isto

      São três centros independentes de países, a City, Washington DC e o Vaticano.

      A Suiça cede terrenos para este pessoal sem pátria, o BIS é um deles, não sabemos quem são, nem de onde vêm ou para onde vão e eles não querem ser identificados.

      Seu braço operacional aqui no Brasil é a Goldman Sachs. Moro, manda a Federal lá.

  1. Do ponto de vista de material

    o tal ouro talvez seja o material mais inútil que existe sobre a face da terra. Não serve para praticamente nada, a não ser alguns casos muito específicos de contatos em equipamentos eletrônicos.

    E justamente pelo fato de a sua cotação ser mantida elevada, sempre se procura por um substituto mais barato para exercer uma função parecida. Por exemplo, jóias em ouro que podem ser substituídas perfeitamente por materiais mais simples. 

    Pior, para guardar ouro, é necessário uma segurança muito mais dispendiosa do que para materiais substitutos mais simples. 

    Se diz até que, se um marciano aparecer por aqui e estudar o ouro, vai achar estranho que ele é extraído das profundezas da terra, depois fundido em barras, num processo bastante caro e depois retorna à terra para ser guardado. 

    Quem lucra um pouco com ouro são seus comerciantes. Além disso, ainda existem alguns ourofanáticos no mundo como esse Kenneth Rogoff, apenas e tão somente mais um teórico, com pouca prática, dos que ainda tentam manter elevado o preço do ouro, com uns textos como esse.

    Para quê?

    1. Caro S.r : pegue uma barra de

      Caro S.r : pegue uma barra de 50 gr de ouro e ponha ela no filtro de água e vá bebendo um ou dois copos por dia dessa água e ao fim de um mês diga que o ouro não serve para nada

  2. Águas nunca dantes navegadas – O Japão se vinga

    The Curious Case of the Yen in the Night-Time

        inSharepostedMay 03, 2016 09:24 (GMT)By Darren SindenCategory:GuestThe Curious Case of the Yen in the Night-TimeGet Forex buy/sell signals directly to your email and by SMS. 
    To learn more click hereOne of the most important events of 2016 to date was the introduction of negative interest rates by the Bank of Japan – the first major or G7 central bank to do so. Prior to the BOJ move negative interest rates had been an economic curiosity in Scandinavia or at best an act of defiance on the part of the Swiss National bank, as its sort to weaken the Franc and defend its export led economy. The BOJ actions changed that completely and the landscape of international capital markets would receive a further shake up when the European Central Bank also moved interest rates below zero, a few days later. We now have the very odd situation whereby the central banks in two the world’s largest economies are charging depositors for the privilege of banking their cash and are on the brink of paying those same depositors to take the central bank’s money away with them. If that sounds to you like the plot of a film, set in dystopian future, then you are in good company. These are strange times indeed.

     

    A law unto itself

     

    Japan’s economy has always been something of a law unto itself, despite strenuous efforts to iron out some of these idiosyncrasies, in the reconstruction that followed the end of WWII. Old habits proved to be highly resilient however.

     

    The Bubble economy of the 1980s and early 1990s and the corporate scandals and governance failures, associated with the bursting of that same bubble, demonstrated that resilience only too well. A combination of greed, state interference and above all a need to maintain face, left a legacy from which Japan is still trying to recover more than 20 years later.

     

    Lab rats

     

    In some senses Japan has been a laboratory for monetary policy experiments for the last 20 years. As successive governments tried to prevent the economy from stagnating. At each juncture the government and the monetary authorities have been prepared to countenance more extreme action. Negative interest rates, are in that context, just another roll of the dice. However from where we sit it could very much be one of their last plays.

     

    Rewriting the theory

     

    Economic textbooks often contain a section on the Liquidity Preference Theory of Money as developed and advanced by the famous economist and investor John Maynard Keynes. This sounds complicated but is in fact a fairly straightforward rationale, which says that money will flow towards those investments (or in this instance currencies) that offer higher interest rates and out of those investment or currencies that offer an inferior return. Though not without criticism, when this theory is coupled with the inverse relationship between bond prices and interest rates and unfettered foreign exchange, it creates an economic model that most people would readily recognize and which many of us would assume operates in the modern world.  In essence a currency which offers a higher current interest rate, has a growing economy and the prospect of higher interest rates in the future should appreciate in value, compared to the currency of a stagnating economy, with low, or in this instance negative interest rates and the prospect of further easing in the future.

     

    However that theory has been turned on its head this year. The Yen has in fact strengthened against the US dollar in 2016 (these were the two currencies we described above) despite ongoing Quantitative Easing or QE in Japan, a perilous debt to gdp ratio and demographics which are frankly frightening.  For example the decline in Japan’s working age population.

     

    The chart below shows the working age population in Japan

     

     

     

     

     

    The working age population in Japan, Source: Bloomberg/ @Schuldensuehner

    The working age population in Japan, Source: Bloomberg/ @Schuldensuehner

     

    Not only does Japan have to contend with a shrinking and ageing population. It also needs to address a downturn in productivity which peaked in early 2007. As we can see below. It also noticeable that the most recent dip in productivity has been accompanied by a strengthening Yen which of course makes Japanese exports dearer to foreign buyers. That relationship may help to explain the most recent dips in productivity but the longer term trend is harder to quantify.

     

    Japan Productivity vs the Dollar Yen exchange rate (source: Trading Economics)

    Japan Productivity vs the Dollar Yen exchange rate (source: Trading Economics)

     

    Low ebb

     

    Thursdays (31-03-16) Tankan survey data showed business sentiment in Japan is at its lowest ebb since the central bank embarked on its QE program in April 2013. That is no surprise when we consider charts such as the one below.  Which plots Japan’s Government Debt to GDP ratio and against the growth in GDP in Japan.

     

    Japan Debt to GDP vs GDP Growth (source: Trading Economics)

    Japan Debt to GDP vs GDP Growth (source: Trading Economics)

     

    What we can clearly see above is that the debt to GDP ratio continues climb as GDP growth falls away. Japan is borrowing more and producing less, making the prospect of repaying its debts that much harder.

     

    Hard to explain

     

    At the start of the year it was easy enough to explain Yen strength as function of changes in hedge fund positioning and a flight to a liquid currency, in a period of volatile markets and risk aversion. Indeed we can see that relationship clearly mapped out below in a chart that plots the trade weighted Yen basket or Yen index, against the CBOE Volatility index or VIX, as it is commonly known. In early February both the VIX (a measure of fear among investors) and the Yen Index appreciated, in what was clearly a risk off period. However risk is very much back on the table now. As signified by the sharp drop in the VIX, which suffered its 5th largest ever percentage fall in Q1 2016. Yet at the same time the Yen index remains elevated.

     

     

     

    Yen Index versus the CBOE VIX (Source: Investors Intelligence)

    Yen Index versus the CBOE VIX (Source: Investors Intelligence)

     

    Q1 also encompassed the move to negative interest rates in Japan, the markets buying into the idea that inflation is returning to the US economy and that therefore further US interest rate rises could be justified or warranted in 2016.

     

    By the same token however the Federal Reserve has performed its own about face in seeking to distance itself from the rising rates mantra, that it espoused prior to its March FOMC meeting.

     

    Markets make prices

     

    Nonetheless its markets that make prices and therefore for the reasons we have outlined above, we would have expected the Yen to weaken and US dollar to strengthen.

     

    However the exact opposite has been the case. It’s not obvious what catalyst if any, including an early rate rise in the US, would change this counter intuitive price action or trend.

     

    We are unsure exactly what’s going on here and so it would seem is the BOJ, judging by this recent soundbite from Governor Kuroda.

     

     “The BOJ’s board does not have official definition for deflation or escape from deflation”

     

    Japan is one step away from breaking the last monetary policy taboo that is monetization. I.E. printing cash to pay down debt, effectively debasing the currency. Some, including myself, would be tempted to argue that given the fact that the BOJ is now biggest holder and principal buyer of Japanese government bonds this is effectively happening already, on an unofficial basis and yet even this is not enough to derail the Yen.

     

    From a personal standpoint I believe that Japan is in danger of slipping into an economic black hole and as with these astronomical dead zones, once it slips over the event horizon there will be no way back. The combination of falling gdp, negative interest rates, mountainous debt levels and an appreciating currency are driving the economy ever closer to oblivion. In fact physicists theorise that an observer outside of black hole would not necessarily know that a body had entered that black hole. Because they would see the bodies image imprinted on the event horizon forever. Makes you think doesn’t it.

     

    This is a guest post written by Darren Sinden, an analyst at Admiral Markets

     

  3. Ouro

    No Acordo de Bretton Woods, ao final da Segunda Guerra, estabeleceu-se que o dolar manteria uma paridade com o ouro e, assim, serviria como moeda do comércio internacional.  No início da década de 70, os Estados Unidos desfizeram a vinculação, e até substituiram todo o meio circulante, pois as cédulas traziam impresso o compromisso de sua troca por ouro.  Desde essa época, o dolar vem perdendo em média 6% ano, o que significa dizer que perdeu 97,5% de seu valor (na década de 60,um hotel muito razoável em NY custava 10 dólares a diária; o Mustang da Ford, lançado na época, custava menos de 1.500 dólares). Claro que os americanos sentiram o efeito dessa inflação, mas e o resto do mundo? O Brasil mantem agora reservas da ordem de 370 bilhões de dólares.  Perdendo 6% ao ano, estaríamos contribuindo com uns 22 bilhões de  dólares para  o que, mesmo? Parece que só essa desvalorização custa mais que o Bolsa família, o programa Minha Casa, Minha Vida etc. Creio que o interesse dos BRICS em ter um banco próprio tem algo a ver com esse problema.

    1. O mistério da força de uma moeda e do seu dinheiro

      A realidade é que muito poucos no planeta entendem realmente o que faz uma moeda ser forte ou fraca e muito menos gente ainda sabe qual é o papel do dinheiro nessa moeda.

      Manter os que não entendem de dinheiro e de moeda na ignorância facilita o controle sobre ela e evita a interferência de pessoas com interesses divergentes aos que a manipulam.

      O Bitcoin e seu algorítmo facilitador o blockchain estão fazendo uma revolução neste campo e o FED e o BIS estão lutando para obter o monopólio de sua utilização, por isto esta discussão hoje no planeta de quem é o criador do Bitcoin ou a identidade de Satoshy Nakamoto. Como se percebe o mistério só aumenta e a confusão em nada é dissipada.

      No Brasil, infelizmente, os currículos de economia e direito não abordam o assunto dinheiro e a moeda é dada como “ex tunc”, com uma literatura de ficção e mesmo embromação por cima para garantir que o coitado que perde tempo com isto não irá descobrir e apreender nada, mas valorizará sua ignorância como um Sábio.

      Santa ignorância que os tenham rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs….

    2. Há sim uma perda de valor mas

      Há sim uma perda de valor mas não de 6% ao ano, a inflação americanana é muito menor que isso e na decada de 60 um hotel em NY não custava 10 dolares, nem se fosse muquifo no Harlem.

      1. Valores

        André, em agosto de 71, quando Nixon rompeu o compromisso assumido em Bretton Woods, a onça troy valia exatos 35 dólares. Hoje fechou em 1.281 dólares, e lembre que vem baixando bem nos últimos tempos. Ou seja, o dolar vale agora menos de 3% do que valia antes. Quanto ao hotel, faça as contas com os mesmos parâmetros: seria agora um hotel com diária entre 300 e 400 dólares.

  4. O ouro hoje é abslolutamente

    O ouro hoje é abslolutamente inviavel como padrão monetario, todo o estoque de ouro do planeta não lastreia 0,1% da moeda em circulação, a quantidade fisica é muito pequena para lastrear moeda atualmente.

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