Nome para Planejamento expõe instabilidade do governo Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Michel Temer exonerou o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR). Publicada na edição desta terça-feira (24) do Diário Oficial da União, a baixa ocorre após o vazamento da conversa do senador licenciado com o ex-presidente Transpetro, Sérgio Machado, sugerindo “grande pacto nacional” para paralisar a Operação Lava Jato. Com a saída, governo de interino estuda substituto para a pasta.
 
Apesar de nomes aventados, Temer sinalizou que prefere aguardar a repercussão do grampo de Jucá e a imprensa diminuir a cobertura sobre o tema, antes de escolher o novo ministro do Planejamento.
 
Após a ampla divulgação nacional e internacional do caso, caracterizado como a primeira crise do governo interino de Michel Temer, o peemedebista negou que tenha tentado obstruir as investigações da Lava Jato e disse que iria se licenciar do cargo até o Ministério Público Federal (MPF) se manifestar sobre as denúncias.
 
Em resposta oficial, Temer agradeceu pelo “trabalho competente e a dedicação do ministro Jucá”, em pouco mais de uma semana, desde que foi nomeado no dia 12 de maio. E apesar de exonerado oficialmente, o interino deixou claro que o senador investigado na Lava Jato “continuará, neste período, auxiliando o governo federal no Congresso de forma decisiva, com sua imensa capacidade política”.
 
Entre as possibilidades já pensadas pelo interino, o atual secretário de Parcerias Moreira Franco, nome de apoio do ministro de Relações Exteriores, José Serra, foi sondado para o Planejamento. O peemedebista, contudo, apresentou que não teria interesse no cargo, permanecendo nas políticas de concessões de infraestrutura, ao lado de Serra.
 
Outra possibilidade foi a de levar Moreira Franco para a Casa Civil, e o atual ministro-chefe, Eliseu Padilha, se deslocar para o Planejamento. Mas além de Moreira não querer deixar o seu posto atual, Padilha tampouco quer abandonar a Casa Civil. 
 
Um dos braços do governo Temer, Serra foi também um dos nomes discutidos, entre os bastidores, para o posto. O tucano tomou conhecimento da suposição ao ser questionado, mas também não negou a cadeira: “Não estou sabendo. Não vou dizer ‘não, não aceitaria’, porque supõe-se que isso teria sido cogitado. Não creio que isso tenha sido cogitado”, disse sem dizer, em Buenos Aires, onde está desde domingo (22), sofrendo pressões de manifestações de brasileiros e argentinos contra o governo do peemedebista.
 
Enquanto as mudanças ainda são estudadas, quem assume temporariamente a cadeira é o atual secretário-executivo do Planejamento, Dyogo Henrique de Oliveira. Assim como seu antecessor Jucá, o interino apresenta histórico de investigações, mas no âmbito da Operação Zelotes.
 
Acompanhe a saída de Romero Jucá (PMDB-RR), no Congresso, ao conceder entrevista a jornais nesta segunda (23), foi recebido com vaias e chamado de “golpista”:
 
 
Sem grampo
 
Apesar de ser alvo da Zelotes, apurando se houve no Legislativo e Executivo negociação de medidas provisórias (MPs) que beneficiaram alguns setores da economia, Dyogo não foi indiciado e já prestou esclarecimentos às autoridades.
 
Ao tentar justificar que seu caso é diferente do de Jucá, Dyogo afirmou que, para ele, não houve grampo. “Se a operação tivesse encontrada outras coisas, dinheiro na minha conta, gravação. Mas, não tem nada, sequer fui indiciado. Sei evidentemente que amanhã, com a saída do ministro Jucá, vão voltar a falar desse assunto”, disse o ministro interino, ao O Globo.
 
O nome do político na Zelotes foi envolvido em dois episódios. Em um deles, na condição de testemunha, não foi apontado como investigado, em uma ação penal que já rendeu condenação. Já no segundo episódio, foi aberto um inquérito para investigar suposta participação de alguns servidores em irregularidades na Zelotes, entre eles, Dyogo Oliveira. 
 
O ofício foi encaminhado à 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, em fevereiro deste ano, pelo delegado da Polícia Federal, Marlon Cajado. O servidor seria investigado de “vender fumaça” e praticar “tráfico de influência”. 
 
“Fez-se necessária a instauração de novo procedimento policial expediente (sic) tentar alcançar a verdade real sobre os fatos apurados, isto é, se outros servidores públicos foram de fato corrompidos e estariam associados à (sic) essa organização criminosa, ou se estaria ‘vendendo fumaça’ vitimando-os e praticando o tráfico de influência com relação aos mesmos, a saber, Erenice Alves Guerra, Dyogo Henrique se Oliveira, Nelson Machado, Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, Helder Silva Chaves, Ivan João Guimarães Ramalho, Miguel João Jorge Filho, entre outros”, disse o despacho de Cajado.
 
Em resposta, Dyogo negou irregularidades, afirmou que cuidava do setor industrial no Ministério da Fazenda e, por isso, teve reunião com representantes e seu nome foi levantado na investigação, mas disse que “nunca recebeu proposta de propina” para favorecer “quem quer que seja” e defendeu que as Medidas Provisórias do setor “tiveram tramitação normal”.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Agora tá explicado porque a

    Agora tá explicado porque a Falha parecia estar contra o governo golpista: está apenas esquentando o banco para o nosso craque: José Serra… “vai que é tuuuuuuuuuuuuuua Serra!”, já diria Galvão, o amigo-sócio de Bumlai…

     

    Sério mesmo que o Serra acha que teria a mínima chance de ganhar em 2018? Não ganhou nem pra prefeito na última tentativa… Desiste golpista!

  2. É o Serra

    O movomento da Folha, quer me parecer, não deixa muita margem para dúvidas. O Planejamento é do Serra.

    Sobre a saída do Jucá, me permito uma grosseria: despejar o Jucá foi a ação do traído (corno) para evitar novas aventuras. Jogaram o sofá fora tentando estancar o mal feito. No entanto, o teor das conversas do senador enlameia todo o grupo de assalto. É evidente que Jucá dialogava sobre a ação de todo o grupo, e no grupo incluindo membros do STF e de outras instâncias judiciais. Sobre parlamentares nem se precisa dizer. Uma análise rasa dos “eleitores” indiretos de Temer, sob a batuta do Cunha, é mais do que suficiente.

    Resta agora saber como esta exposição, a céu aberto, das entranhas do golpe pode ser devidamente aproveitada. Há que se fustigar o STF para que ele adote providências sobre os fatos (que evidentemente não são novos, mas que vieram a se tornar explícitos). Há que se exigir dos onze seres togados explicações sobre este silêncio de mais de dois meses, vez que conhecedores da trama. No mínimo sabiam dos reais motivos do afastamento da Presidente, e permitiram que tudo ocorresse condenando a sociedade a falsas conclusões. 

     

  3. “Entre as possibilidades já

    “Entre as possibilidades já pensadas pelo interino, o atual secretário de Parcerias Moreira Franco, nome de apoio do ministro de Relações Exteriores, José Serra, foi sondado para o Planejamento. O peemedebista, contudo, apresentou que não teria interesse no cargo, permanecendo nas políticas de concessões de infraestrutura, ao lado de Serra.” Era óbvio que isso foi armação do próprio Serra. Só faltou assinar em baixo com essa declaração de joão sem braço. O que achei interessante na notícia é que, ao que parece, Moreira Franco é do time de José Serra, quando imaginava que entre ambos haveriam arestas a se aparar por conta da divisão do butim da privatização.

    1. Talvez o gato angorá tenha

      Talvez o gato angorá tenha recusado porque deve imaginar que até Serra assumir o Planejamento, quem sentar cadeira será alvo de petardos serristas disparados pela Folha com munição possivelmente fornecida por alguém da PGR ou STF.

  4. O óbvio
    serra vai vender a Petrobras. Ele é o cara do planejamento desde o inicio,o Juca é um laranja desse esquema. Perceberam co.o ele caiu sem espernear? Vendaer a Petrobras requer estratégia de convencimento da opinião pública, assim como fizeram com a Embraer , que hoje é uma empresa americana.

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