O nó do PT, por André Singer

O nó do PT

Por André Singer

O quinto congresso do Partido dos Trabalhadores, que se encerra hoje, interessa não apenas aos militantes da estrela, mas ao Brasil inteiro. Mesmo o mais exacerbado antipetista, desde que democrata, deveria reconhecer o papel desempenhado pelo PT na construção institucional do país. A existência de agremiações competitivas e capazes de governar é indispensável para o funcionamento da democracia. A sigla fundada há 35 anos mostrou ter os dois atributos.

Os desafios postos para os congressistas possuem a dimensão do tamanho alcançado pela organização. Os representantes das bases precisam desatar o nó formado pela confluência de três fatores superpostos. O pano de fundo é o cavalo de pau econômico decidido pela presidente Dilma Rousseff logo depois da reeleição, sem consultar o partido. Inspirada em 2003, Dilma não percebeu que, depois de 12 anos de lulismo, uma política ortodoxa não poderia mais ser atribuída à “herança maldita” do PSDB. Todo o amargo preço do ajuste antipopular vai cair no colo do próprio PT.

O partido, por sua vez, não quis ver que a crise vinha emitindo sinais desde junho de 2013. As manifestações foram o apito da panela de pressão, e o fogo que a aquecia era a dificuldade em sustentar o crescimento. Quando Dilma foi eleita pela primeira vez, sabia-se que as reformas lentas do lulismo dependiam de 4% a 5% de elevação anual do PIB. Com 1% em 2012 (pela antiga metodologia), e sem horizonte de melhora, estava armado o impasse.

O PT foi pego de surpresa pela dissonância entre o discurso de Dilma até 26 de outubro passado e as ações efetivas adotadas a partir do dia 27. Ao impacto das tesouradas, somou-se o desenrolar do grave escândalo de corrupção na Petrobras, o qual envolve diversos partidos, mas tem o PT no centro. Sem que a ferida do mensalão tivesse tempo sequer de começar a cicatrizar, aparece outro caso que abala a moral do antigo “partido da ética”.

Para completar, assumiu a presidência da Câmara dos Deputados um político conservador, frio e disposto a tudo para criar dificuldade aos petistas. A aprovação, de modo duvidoso após uma primeira derrota, do projeto que constitucionaliza a doação de empresas a partidos, oficializa o controle do poder econômico sobre as siglas. Como fica um partido fundado para expressar os interesses da classe trabalhadora em um sistema dominado por empresas?

Será bom para a esquerda brasileira, e para a República, se os delegados reunidos na Bahia encontrarem caminhos para requalificar a relação com o governo, para tornar a máquina partidária independente das empresas e da corrupção e para enfrentar a onda conservadora que assola o seu principal aliado (PMDB). Há muito em jogo no congresso soteropolitano. 

Redação

11 Comentários

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  1. Prezado  prof Singer
    Sou

    Prezado  prof Singer

    Sou leitor de seus textos. 

    Considero uma segunda  opinião  importante para conferir minhas próprias. 

    Sua  simpatia pelo PT  sempre delimitou meu lado.

    Discordo de sua argumentação. 

    O  PT   não  está preparado para governar.

    Tem em seu DNA   ódio de classes  . Só  isso  já   contrapõe  sua sugestão  de que o PT   tem as qualidades para governar .

    A luta política exige de seus contendores uma dialética específica.  Essa é  a grande arma do PT.

    A oposição  tem pruridos de ética  e moral  que a luta política não  permite.

    Esse é  a razão  da competitividade do PT.

    De resto falta muito.

    Não  concordo com sua alusão  ao posicionamento  de Dilma  no final do 2° turno. 

    Nesse momento …. caiu a ficha. …

    Todas as medidas econômicas seguiram o manual do PT.  Mas o resultado não. 

    A rigor houve uma decisão. …ou se segue pela via revolucionária. ..ou   ?????

    Não  houve condições  par seguir  numa direção. …foi mandatário  seguir com  Levy.

    Ou seja, não me venha  com chorumelas. …..

     

     

    1. Nem os que conhecem a política estão livres de serem logrados

       

      Lineu (sábado, 13/06/2015 às 16:07),

      Quem mais sabe que “[a] luta política exige de seus contendores uma dialética específica” é a oposição. Para estar consciente de que a oposição tem essa percepção basta ler o artigo “Acusar o inimigo de imoral é arma política, instrumento para anular o ser político do adversário” de José Arthur Giannotti, grande intelectual do PSDB, publicado na Folha de S. Paulo de quinta-feira, 17/05/2001, e que pode ser visto no seguinte endereço:

      http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/artigogiannottigerapolemica.html

      O grande problema é que esta oposição na origem era uma oposição constituída de intelectuais que tem verdadeiro menosprezo pelo eleitor. Esta oposição desde que foi criada considera que o eleitor é um grande amontoado de pessoas ingênuas e idealistas e que o eleitor analisa a política na dimensão da sua ingenuidade e de seu idealismo. Assim tudo que essa oposição que despreza o eleitor faz é incutir no eleitor que ela “tem pruridos de ética e moral”.

      O convencimento, no entanto, não é um processo fácil e assim políticos com essa percepção da política e com o desprezo pelo eleitor permanecem na luta o tempo todo batendo na mesma tecla que os move desde a criação do partido. Diziam quando criaram o partido que vieram para trazer a ética para a política e que vieram para combater o fisiologismo. Os ingênuos e idealistas são presas fáceis de políticos assim que assumem a hipocrisia como norma de conduta e não se envergonham de utilizarem a hipocrisia para convencerem eleitores que eles menosprezam.

      E essa prática do convencimento pela hipocrisia enquanto não é desmentida produz mais efeito do que aquele convencimento expresso pelos que acreditam que a política é conduzida por preceitos éticos e morais e que o fisiologismo, prática inerente a democracia representativa no processo de composição de interesses conflitantes, seja algo nefasto que deva ser extirpado da democracia. A hipocrisia é tão eficaz para o convencimento do eleitor, a menos quando ela é desmentida, que mesmo o eleitor que sabe que “[a] luta política exige de seus contendores uma dialética específica” se deixa convencer.

      E assim caminha a humanidade sendo composta de cada vez menos realistas, um número imenso de ingênuos e uns tantos outros principalmente acadêmicos, bastantes idealistas e sendo dominada por políticos de três categorias: os que sabem, como disse Aldo Fornazieri sobre a compreensão de Maquiavel sobre a política, que “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã” e agem e comportam como tal, os que agem e comportam como hipócritas e os que não sabem que “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã” por serem ingênuos ou idealistas.

      Lembro aqui que o entendimento da política segundo Maquiavel vem sendo apresentado pelo cientista político Aldo Fornazieri há um bom tempo, até porque a tese de mestrado dele versa sobre o filósofo italiano, e a frase “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã” foi retirada do post “A evangelização da política e a contra-reforma, por Aldo Fornazieri” de segunda-feira, 08/06/2015 às 10:47, publicado aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/a-evangelizacao-da-politica-e-a-contra-reforma-por-aldo-fornazieri

      O interessante é que Aldo Fornazieri, um cientista político de elevado conhecimento que sabe que “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã” alega que “o político virtuoso não deve hesitar em contrariar a moral cristã para beneficiar o bem comum do povo e os interesses do Estado”, como se fosse possível ao mais reles político uma vez conhecido o bem comum ficar contra o bem comum.

      Um entendimento assim é fruto do idealismo que se acomete a políticos, eleitores e acadêmicos de todos matizes. Não é por outra que o acadêmico Aldo Fornazieri no mesmo texto em que havia afirmado que é virtuosismo não “hesitar em contrariar a moral cristã para beneficiar o bem comum do povo e os interesses do Estado” idealizando uma política em que o bem comum quando conhecido pudesse ser descumprido por um político, também faz afirmação genérica sobre políticos acusando-os, sem mencionar nomes, de estarem “envolvidos em denúncias de fisiologismo e de corrupção”, como se fisiologismo e corrupção fossem espécies do mesmo gênero, isto é, fossem ilicitudes tipificadas.

      Corrupção é tipificada. Fisiologismo se refere a algum ilícito é tipificado, mas nesse caso há um nome mais apropriado a essa tipificação. Se se refere à prática da barganha, do conchavo, do ajuste, do toma-lá-dá-cá, é prática necessária e imprescindível ao processo democrático e que é utilizado precipuamente na proteção dos interesses minoritários o que faz a democracia representativa superior à democracia direta. O idealismo do acadêmico Aldo Fornazieri não o permite ver essa qualidade do fisiologismo. Como Aldo Fornazieri idealiza a política e crê que o bem comum do povo e os interesses do Estado são previamente conhecido ele não admite a utilidade do fisiologismo. Realmente o fisiologismo não poderia ser utilizado em um processo democrático em que o bem comum do povo e os interesses do Estado são previamente conhecidos, pois quando isso ocorre não há como compor interesses conflitantes. O único bem comum do povo e interesse do Estado previamente conhecido é a lei. E seja um reles político ou seja um político virtuoso quem que a desobedece, sobre ele recai indistintamente a cominação legal prevista.

      E esse idealismo é geral. No post “FHC combate o fisiologismo que praticou” de quarta-feira, 16/11/2011 às 09:59, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele, ele faz as duas seguintes afirmações:

      “O fisiologismo é uma praga do modelo político brasileiro”.

      E depois mais a frente ele diz:

      “Como garantir a governabilidade sem sistemas de cooptação política?”

      O endereço do post “FHC combate o fisiologismo que praticou” é:

      https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/fhc-combate-o-fisiologismo-que-praticou

      E aceitando as duas frases de Luis Nassif se sabe que se o fisiologismo é necessário para garantir a governabilidade, ele não pode ser considerado uma ilicitude, pois o cumprimento da lei é obrigatório no processo democrático e Luis Nassif não poderia se antagonizar com esse cumprimento. Se ele é lícito e é imprescindível ao processo de composição de interesses conflitantes na democracia representativa, ele não pode ser uma pecha, a menos que este processo democrático de composição de interesses seja idealizado em que o bem comum do povo e interesse do Estado sejam previamente conhecido.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 13/06/2015

  2. PT who ?

    O caminho que o PT vai tomar eu não sei ( nem eles ), mas a Dilma já fez suas opções : mercado e rede globo.

    Ela jogou a toalha e sabe que só livra sua biografia ( que é a única coisa que lhe interessa ) abraçada com esses aí, nunca com o PT.

    1. Que é isso companheiro?

      Dilma Roussef nunca foi e nunca será uma vassala do capitalismo. Ao contrário, o sistema é que subjuga a democracia, não importa qual seja o  perfil ideológico dos seus governantes.A presidente sonhou e menosprezou  a marolinha que teve início em 2008.Ao contrário do que ela pensava o mar nunca serenou.

  3. Não vejo como Dilma poderia

    Não vejo como Dilma poderia escapar da ortodoxia na Economia sem tornar-se a inimiga pública número 1 na avaliação da imprensa oligopolizada que temos hoje. Também não vejo como o governo poderia desmanchar o oligopólio da imprensa sem ser do modo Chávez. Imprensa e Congresso conservadores, essa é a cara do Brasil de hoje. Às vezes acho o PT muito generoso em concordar em permanecer na política, não sei se o Brasil merece alguma evolução, se quer mesmo abandonar a posição de eterna colônia.

  4. O PT chefia um cartel privado de empreiteiras?

    Outro que sugere que o PT chefia um cartel privado de empreiteiras. Pois só assim para o PT ser o centro do escândalo da Petrobras.

     

  5. o nó do PT foi uma

    o nó do PT foi uma conspiração caprichosa dos deuses da Política:

    governo Dilma mais Lula mais PT não poderem jogar a Grande Culpa – pela crise de governo e do país na rota da estagflação e recessão econômica – nos governos anteriores ou na oposição no poder…

    se fosse possível jogar a prosaica des/culpa “o diabo são os outros”, aliás, como é de praxe na política e no poder, sem se cair no caso clínico de internação terminal no hospício para Dilma, Lula, PT… tudo resolvido, tudo bem, tudo nos conformes, sem drama, sem neuras, sem nó do PT… a vida continua… e nós do governo Dilma II e do PT faremos o possível e o impossível no limite da irresponsabilidade para consertar a enrrascada que o(s) governo(s) anterior(es) aprontara(m) com o país e seu povo sofrido e blá-blá-blá blaya (cadê o blaya? sumiu…).

  6. Bom artigo, na linha da

    Bom artigo, na linha da entrevista publicada de Lincoln Secco, uma crítica pela esquerda, tentando contribuir para a superação das nossas mazelas crônicas. Na atual conjuntura, o nó não é apenas do PT, mas das forças progressistas e da esquerda de um modo geral.

  7. Começa a cair a ficha’

    Demorou mas está começando a cair a ficha do povo brasileiro. Dilma virou a casaca, agora ela está mais para neo liberal do que para o povo mesmo. e não me venham com esta história de que ela subiu os juros para salvar seu mandato.

    “Ou Dilma salva seu mandato, ou salva o Brasil.”

  8. Talvez a entrevista do pai foi útil ao filho mas há que melhorar

     

    André Singer,

    Recentemente aqui no blog de Luis Nassif junto ao post “Paul Singer acredita que PT pode perder sua base social” de quarta-feira, 10/06/2015 às 11:14, consistindo da transcrição da entrevista de seu pai Paul Singer para a Eleonora de Lucena intitulada “PT pode perder sua base social, alerta Paul Singer” e publicada na Folha de S. Paulo, eu enviei um comentário quarta-feira, 10/06/2015 às 13:09, em que eu dizia em trecho do meu comentário o seguinte:

    “Talvez o André Singer devesse escutar mais o pai dele”.

    A idéia era que você pudesse apreender um pouco com a sabedoria de seu pai que evoluía cada vez mais com simplicidade e ceptitude.

    O endereço do post “Paul Singer acredita que PT pode perder sua base social” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/paul-singer-acredita-que-pt-pode-perder-sua-base-social

    Provavelmente você não chegou a ler o meu conselho, mas certamente leu a entrevista de seu pai e parece-me que o seu texto está mais sábio no entendimento da nossa realidade quando comparado com o que eu cheguei a ler mais recentemente de você. O último post seu que eu cheguei a criticar foi “Explicar, como?, por André Singer” de domingo, 05/04/2015 às 12:32, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/explicar-como-de-andre-singer

    Lá eu fiz minhas críticas em comentário que eu enviei segunda-feira, 06/04/2015 às 00:00, para junto do comentário de Wong enviado domingo, 05/04/2015 às 16:47. Aqui como eu disse, pareceu-me que você aproximou-se mais do equilíbrio depois da entrevista do seu pai.

    Ainda assim eu tenho crítica aos dois parágrafos seus que transcrevo a seguir:

    “Os desafios postos para os congressistas possuem a dimensão do tamanho alcançado pela organização. Os representantes das bases precisam desatar o nó formado pela confluência de três fatores superpostos. O pano de fundo é o cavalo de pau econômico decidido pela presidente Dilma Rousseff logo depois da reeleição, sem consultar o partido. Inspirada em 2003, Dilma não percebeu que, depois de 12 anos de lulismo, uma política ortodoxa não poderia mais ser atribuída à “herança maldita” do PSDB. Todo o amargo preço do ajuste antipopular vai cair no colo do próprio PT.

    O partido, por sua vez, não quis ver que a crise vinha emitindo sinais desde junho de 2013. As manifestações foram o apito da panela de pressão, e o fogo que a aquecia era a dificuldade em sustentar o crescimento. Quando Dilma foi eleita pela primeira vez, sabia-se que as reformas lentas do lulismo dependiam de 4% a 5% de elevação anual do PIB. Com 1% em 2012 (pela antiga metodologia), e sem horizonte de melhora, estava armado o impasse”.

    Primeiro, o fato de não se ter o PSDB para jogar a culpa não é motivo para não se ter justificativa para uma política econômica. Ou a política econômica é errada ou ela é certa, como eu avalio que a política econômica posta em prática no início do segundo governo da presidenta Dilma Roussef seja, e, dependendo da situação, ainda se tem a vantagem política de se poder culpar o governo anterior pelas dificuldades que se está enfrentando.

    E segundo, as manifestações de 2013 foram mais fruto do julgamento da Ação Penal 470 no STF do que problemas econômicos. Os investimentos vinham crescendo em passos fortes desde o quarto trimestre de 2012 e a economia como um todo cresceu bastante no segundo trimestre de 2013. É verdade que as manifestações tiveram um pouco de rescaldo do baixo crescimento econômico, pois me parece que houve 2 trimestres em 2011 e 2 em 2012 em que o crescimento em relação ao trimestre imediatamente anterior fora de 0,1%. Além disso, a escolha acertada do governo de se trabalhar com a inflação mais próxima do teto da faixa da meta de inflação ainda que fosse uma medida correta sob o aspecto econômico foi ruim do ponto de vista político ainda mais quando se vem de um julgamento sobre corrupção pois a população tende associar inflação com governantes corruptos.

    De todo modo, a economia começara a se recuperar no quarto trimestre de 2012 e fora ainda melhor nos dois primeiros trimestres de 2013. Os dados referentes ao terceiro trimestre logo depois das manifestações de junho de 2013 é que foram uma lástima principalmente com a queda abrupta dos investimentos. Queda sem explicação econômica a menos que se ponha a culpa como eu ponho na paralisia que as manifestações de junho de 2013 causou à nação.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 13/06/2015

  9. O pior cego

    Acredito que enquanto a presidenta Dilma não assumir seus erros, o impasse e a crise política continuarão. A traição do segundo governo de FHC e o recente estelionato eleitoral de Dilma jamais serão esquecidos pelo povo brasileiro.

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