O Plano Cohen e a prisão dos manifestantes no RJ

Enviado por Assis Ribeiro

Do Sul 21

Mais um Plano Cohen

por Alberto Kopittke

Em setembro de 1937, veio a público um documento que continha um plano de tomada do poder pelas forças comunistas no Brasil, pretensamente elaborado pela Internacional Comunista, o qual ficou conhecido como Plano Cohen.

O plano foi utilizado pela cúpula militar do Governo Vargas como a prova cabal de que o Brasil estava na iminência de uma insurreição comunista e serviu de estopim para que o Congresso decretasse o Estado de Guerra. No mês seguinte, usando dos poderes que esse instrumento lhe atribuía, Vargas afastou o seu maior opositor, o governador gaúcho Flores da Cunha e no dia 10 de novembro, implantou a ditadura do Estado Novo, prendendo mais de 10 mil opositores nas semanas seguintes.

Como se sabe, esse filme se repetiu em 1964 para o Golpe Civil-Militar e em 1968 para a implantação do AI 5 e a total supressão das liberdades no país.

No ano passado, em razão do aumento dos casos de vandalismo durante as manifestações de rua, diversos Deputados, Senadores, lideranças militares e veículos de comunicação, exigiriam (e quase conseguiram) a aprovação da Lei Antiterrorismo no Brasil.

Segundo alguns “especialistas”, o país se encontrava numa situação de grave risco e, tendo em vista a realização da Copa do Mundo, era preciso criar uma legislação de exceção, que possibilitasse meios de investigação mais fortes e céleres, além da detenção preventiva de suspeitos ​ (vale a pena a leitura da matéria: Parlamentares querem lei antiterrorismo antes da Copa do Mundo ​). ​

Como se sabe, a Copa transcorreu com total sucesso, com muita alegria nas ruas e absolutamente nenhuma ameaça a Segurança Nacional. No entanto, até o momento não se sabe de nenhuma declaração dos defensores da Lei Antiterrorismo assumindo o equívoco de suas avaliações.

Pelo o que se viu até o momento, o episodio da prisão de duas dezenas de militantes políticos no Rio de Janeiro é mais um episódio da longa ficha corrida de práticas autoritárias do Estado Brasileiro.

O inquérito, a denúncia do Ministério Público e a decisão do Poder Judiciário, feitos em tempo recorde, construíram uma peça de ficção que em muito lembra o Plano Cohen. ​ Não há elementos probatórios ou nexos que demonstrem vínculo entre as pessoas e os atos delituosos, chegando ao ridículo de utilizar a gíria “bombar”, absolutamente comum na linguagem dos jovens brasileiros, captada numa gravação, como a prova definitiva de que estava em curso a preparação de ataques a bomba.

Ao invés de identificar um autor de determinado ato de vandalismo e buscar sua responsabilização dentro de um devido processo legal, o que seria o esperado no Estado de Direito, o processo se preocupou em criar a figura da organização criminosa e realizar grandes operações espetaculosas para a prisão dos seus perigosos autores, tudo ao gosto da mídia.

Caso a legislação antiterrorismo tivesse sido aprovada ano passado, possivelmente centenas de militantes políticos já estariam presos em total isolamento e seriam designados em volumosos inquéritos como “perigosos terroristas”.

Mesmo depois de tantas décadas de ações autoritárias, ainda impressiona como “formadores de opinião”, veículos de comunicação e diversas lideranças políticas aplaudam mais uma demonstração de vandalismo do Poder Público contra os direitos e garantias fundamentais.

Aliás, pequenos Plano Cohen são prática cotidiana no Brasil, sempre prontos para justificar ações enérgicas de combate ao crime, que invariavelmente levam a morte ou a prisão de milhares de “perigosos traficantes”, todos com o perfil social e racial que se sabe.

Em tempo: oito anos depois, o General Goes Monteiro tornou pública a farsa do Relatório Cohen e assumiu que o documento havia sido forjado pelo chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização nazista que a época possuía mais de um milhão de filiados no Brasil.

Redação

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O que me impressiona mais é

    O que me impressiona mais é ver que um artigo desse estava com “duas estrelinhas” quando o li agora.

    Quem pod enão gostar de um artigo desses? Serão herdeiros dos Integralistas que criaram o Relatório Cohen?

    Serão seguidores de George W. Bush, que forjam terroristas e armas de destruição em massa para justificar políticas de ataque de acordo comseus interesses?

    O que assusta é que creio que essas pessoas são eleitoras da Dilma, o que mostra que de fato, se houve segundo turno, teremos dois candidatos conservadores.

    1. Acho que o governo da

      Acho que o governo da presidente Dilma comete varios erros.

      Os aponto aqui frequentemente.

      Mesmo assim  ela é, não um milhão, mas um trilhão de vezes melhor (ou menos ruim, se preferir) para o pais de que um Aecinho, saido do que ha de mais atrasado e conservador na politica.

      Ja voce acha que tanto faz para o  Brasil o governo estar nas mãos dela ou do Aecinho.

      Desculpe-me o conselho, mas va se informar, aprender antes de falar tanta besteira sobre algo que não entende.

      Ou talvez , caso não seja um analfabeto politico, posso estar respondendo a um direitista mascarado, disfarçado.

      Ou talvez a um daqueles “esquerdistas” dos tempos das cavernas, que votavam na direita, “porque quanto pior, melhor”.

    2. Vai te catar, Leo V. Nao vem com esse antipetismo primário

      Você “crê” que “essas pessoas”sao eleitoras da Dilma e daí deduz que a Dilma é uma candidata conservadora? É muita cara de pau, e zero em lógica. 

      E os eleitores da Dilma que aqui se batem contra o arbítrio? Entao a Dilma é conservadora às segundas, quartas e sextas, progressista às terças, quintas e sábados e neutra aos domingos? 

      Inclusive sua má fé prejudica a causa que você defende. 

  2. Me poupe

    Nunca vi tanta bobagem junta num só artigo. Invocar o Plano Cohen como se estivessemos a caminho de um golpe. Se golpe houver, vai ser patroicinado paleos arruaceiros de junho de 2013, que buscavam exatamente isso. Eu só sei que os onibus não se incendiaram sozinhos, a Alerj não foi depredada e invadida por forças sobrenaturais, as vitrines das lojas e dos bancos  náo se quebraram sozinhas, os caixas eletronicos não foram despedaçados sozinhos, o cinegrafista da Band não se jogou na frente de um rojão … Por ai vai uma longa lista de atrocidades infantis, cometidos por garotos pagos por setores verdadeiramente golpistas. Não me venham com essa historia de Plano Cohen … O autor do artigo quer que a policia identifique os baderneiros. Como? Se estavam todos mascarados e protegidos pela turba? Não me chame aquilo de manifestação. Nem invoque “direitos” para baderneiros pagos  fazerem baderna. Se ha falhas no inquerito, que se defendam na Justiça. Se defendam com os instrumentos e garantias cabiveis. Mas o Estado tem que agir. Não pode ficar vendo  a “banda passar cantando coisas de amor”…

  3. mais um bom

    mais um bom post.

    parabéns.

    na verdade a mídia consorciada a um sistema financeiro que a patrocina e  pretende despolitizar o mundo, prefere o autoritarismo que já a beneficiava em detrimento do aprimoramento democrático, que tende a beneficiar a maioria da poopulação…. 

  4. Por que só as farsas podem se

    Por que só as farsas podem se repetir? Se repetem também as tentativas de criar equivalências históricas para dar ares de excelso, de sublime e glorioso para o que não passa de reles. Uma esperta tentativa de desviar o foco através do uso de táticas diversionistas. 

    Se não houve badernas violentas durante a Copa não foi por concessão dos “neoguerrilheiros”, mas porque o movimento perdeu todo o respaldo que angariara em virtude exatamente dos excessos. 

    Nenhuma democracia do mundo merece esse nome se não cria mecanismos para a sua defesa. Por que não canalizar toda essa energia de ânimo apenas midiático para uma prática política dentro das normas desse tão odiado sistema? Onde está escrito ou proclamado que se vestir de mascarado e sair por aí depredando o alheio e ferindo pessoas é moralmente aceitável só porque é preciso erigir uma Nova Ordem, mesmo sem saber exatamente o que se quer? 

     

  5. E pensar que o autor do

    E pensar que o autor do artigo é político filiado ao PT, conhecedor e pesquisador na área de segurança pública.

    Foi assessor de Tarso Genro quando mininistro, coordenador da 1º Conferência Nacional de Segurança – CONSEG, que entrou pra história por ser a primeira vez que os cidadãos foram convidados a participar da construção de políticas para o setor com base no paradigma de segurança cidadã.

    Foi Secretário de Segurança Pública de Canoas quando conseguiu a redução de 50% dos homicídios.

    Em 2011, no Governo Dilma, foi secretário Nacional Adjunto de Segurança Pública, onde coordenou a elaboração do Plano Nacional de Fronteiras.

  6. Algumas palavras sobre as

    Algumas palavras sobre as gravações telefônicas já veiculadas, em que está claro que material (caneta, livros, etc) estava sendo _produzido_ para ser _usado_ nas manifestações? Que bonitinho falar de irregularidade e abuso da polícia e ignorar os crimes dos manifestantes…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador