O pré-sal e a balança comercial de 2017, por Leo Guerra

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

O pré-sal e a balança comercial de 2017

por Leonardo Guerra *

A recente divulgação do saldo comercial de 2017 mostrou que há uma unânime interpretação para o recorde positivo de US$ 47 bilhões: a recessão econômica brasileira. Nas principais análises, foi a retração econômica que reduziu, drasticamente, as importações e este é o principal motivo do resultado alcançado.

Certamente a redução da atividade impactou, mas existem outros motivos, tanto do lado das importações, quando do lado das exportações, que não estão devidamente enfatizados como causa deste resultado, entre eles, o inédito saldo comercial positivo da conta petróleo, de US$ 410 milhões.

Com relação aos efeitos da recessão sobre o resultado comercial, temos que lembrar que há um contexto mundial de retração econômica, o que, do ponto de vista do comércio mundial, resulta em menor demanda (e menor preço) das commodities, especialmente as do agronegócio.

Assim, se de um lado as importações se reduzem por causa do contexto interno de retração de atividade, de outro, as exportações (primárias) tendem a ter valor menor em função do contexto externo. A recessão brasileira como causa primária do resultado brasileiro de 2017, per si, não é explicação plena para o fenômeno e esta interpretação simplória pouco nos ajuda a entender o que nos reserva para 2017.

O contexto de retração mundial e nacional tende a reduzir a corrente de comércio e, portanto, a ter efeito nulo no saldo brasileiro. Para um jogo de soma zero, o resultado comercial extraordinário teve outros elementos que não estão devidamente considerados em nossas análises e o recorde de produção no pré-sal é o principal deles.

O novo patamar cambial dos últimos anos também contribuiu para uma melhora do resultado. O câmbio, associado a outras estratégias de desenvolvimento industrial, permitiu uma melhor competitividade: houve uma redução do déficit de manufaturados em US$ 28,2 bilhões, e as importações da Ásia caíram 23%, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) para 2016.

Num contexto de quebra de 20% do mercado interno, as exportações de “automóveis” registraram expansão de 38,2 % no valor exportado. Na conta petróleo, o efeito recessão brasileiro explica parcialmente o resultado comercial de 2016. As importações do Oriente Médio caíram 33,1% de 2015 para o ano passado, sendo que as importações de combustíveis e lubrificantes diminuíram 43,1%.

Em 2015, dos US$ 171,5 bilhões do total de importações, 13% eram de “petróleo e derivados” (US$ 22,2 bi). Em 2016, esta proporção caiu para 9,5% (US$ 13,1 bi de petróleo e derivados para uma importação total de US$ 137,5 bi). Mais uma vez, este resultado também não pode ser atribuído única e exclusivamente à conjuntura econômica do país.

Vejamos o que diz a Agência Nacional de Petróleo (ANP) sobre a produção no pré-sal: em agosto, os 65 poços localizados na nova fronteira de exploração produziram acima de 1 milhão de barris por dia de óleo equivalente (boe).

O resultado inédito de superávit na conta petróleo, portanto, teve como causa a crescente produção do pré-sal, que reduziu as importações de petróleo e derivados em US$ 9,2 bilhões entre 2015 e 2016 e, ainda, permitiu uma exportação de outros US$ 13,5 bilhões destes produtos.

O saldo negativo desta conta em 2015, de US$ 5,7 bilhões, transformou-se no saldo positivo de US$ 410 milhões em 2016. Se a tendência futura for de superávit na conta petróleo, e acreditamos que será, o quadro de grandes déficits (e das fragilidades subjacentes a ele) tende a ficar no passado.

Este é um aspecto de fundamental importância para as perspectivas da economia brasileira em 2017. Os dados da balança comercial de janeiro (superávit de US$ 2,7, o maior dos 11 últimos anos) apontam que o setor externo terá um desempenho no sentido contrário do setor interno, atenuando, de alguma forma a grave crise que passamos.

Infelizmente, o quadro geral de estagnação não nos permite uma melhor compreensão dos resultados das estratégias de desenvolvimento econômico implementadas nos últimos anos, se houve ou não aumento da competitividade externa do país, mas com certeza, podemos concluir que o pré-sal trouxe um fato novo para este contexto, e hoje as fragilidades das contas externas estão significativamente menores.

Leonardo Guerra, 50 anos, é economista (UFMG) e doutor em geografia (PUCMinas). Pesquisador da área de economia regional e de comércio exterior e foi chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Do globo

    “O campo que mais produziu no país de Lula, no pré-sal na Bacia de Santos. Em janeiro, o campo de Lula produziu uma média de 729,5 milhões de barris por dia de petróleo e 31,6 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural. Lula tem dez poços produzindo, cada um, uma média de 30 mil barris por dia. A produção de petróleo de Lula é a maior já atingida por um campo no país.” (sic)

    http://oglobo.globo.com/economia/petroleo-e-energia/producao-de-petroleo-no-pre-sal-ja-chega-quase-50-do-total-nacional-21001495#ixzz4aCa4Q0nd
     O que andarão fumando naquela redação?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador