Os desafios para a economia, segundo Nakano

Recuperando-se de um AVC, consequência de um erro médico clamoroso da equipe do cardiologista Roberto Kalil, no Sírio Libanês, o economista Yoshiaki Nakano não perdeu a lucidez na análise da economia.

A análise econômica atual perde-se em uma miríade de fatores, que acabam deslocando o economista dos temas centrais.  Privilegia-se o detalhe em detrimento do essencial.

Nakano tem a capacidade rara, dentre os economistas, de identificar os temas centrais.

Para ele, a recuperação da economia depende de duas mudanças estruturais, de dois instrumentos típicos para desafios de reativação da economia: câmbio e juros.

Mesmo que mantenha a parte fiscal controlada, diz Nakano, não há a menor condição de ajuste fiscal, com a economia caindo 4%.

E aí tornam-se prioritárias duas medidas:

1. Tirar a definição da política cambial das mãos do Banco Central.

2. Acabar com a Selic e devolver ao Tesouro a definição das taxas de juros de longo prazo.

A questão cambial

Com o câmbio a R$ 3,80 houve a recuperação de muitos setores, jogando nas exportações o excesso de capacidade ociosa. Trata-se de uma reação imediata, mas que não se converterá em investimento (isto é, em ampliação da capacidade instalada) sem garantia de que haverá estabilidade cambial com câmbio competitivo.

O câmbio padece de um erro histórico. Antes da criação do BC, era operacionalizado pelo Banco do Brasil. Quando o BC foi criado, transferiu-se tudo para ela. Por lei, ficou responsável não apenas pela operacionalização, mas pela própria definição da política cambial.

A definição da política cambial deveria ser do Executivo, como é em todos os países do mundo, Alemanha, Japão.  Nos EUA é o Tesouro que manda e o FED de Nova York que implementa.

O caminho seria tirar o câmbio das mãos do BC e colocar em outro órgão com credibilidade suficiente junto ao setor industrial, para garantir taxa mais estável que garanta a competitividade.

A questão monetária

Na parte monetária, a prioridade seria acabar com Selic. Não há nenhuma novidade, apenas fazer o que o restante do mundo já faz. Hoje em dia a Selic remunera o overnight e influência a taxa de juros de longo prazo. O BC acaba colocando a taxa de curto prazo tão elevada que tira do Tesouro a capacidade de definir a taxa de juros longa, aquela que influencia os investimentos.

Com o BC operando o money market, definindo a remuneração da sobra de caixas dos bancos. Jamais vai existir mercado de longo prazo, se persistir esse modelo, diz Nakano.

Na ponta mais longa, os juros deveriam refletir a taxa de retorno do investimento produtivo. Estudos recentes de Carlos Antônio Rocca, do Centro de Estudos de Mercado de Capitais, no entanto, revelaram que o custo médio de capital para empresas não financeiras é três vezes maior que o retorno.

Se mudar a política monetária, imediatamente o Tesouro terá condições de deslocar para baixio toda a curva de juros.

Luis Nassif

18 Comentários

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    1. Não é o primeiro, quem é de

      Não é o primeiro, quem é de fora confunde expertise médica com “”marketing médico”” , especialidade que no Sirio é a principal, especialmente quando trata de personagens da area politica no DEPARTAMENTO DE ATENDIMENTO A POLITICOS FAMOSOS , nisso são campeões de eficiencia propagandistica e medicos-celebridades são considerados mesmo dentro do Sirio como mediocres em medicina e papas em marketing.

  1. Bancos públicos

    Pegue-se qualquer país do mundo desses aí que foram citados, quem tem um Banco do Brasil, Caixa Federal, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste, e BNDES? Ninguém. E o que os bancos públicos fazem no Brasil, exceto o BNDES? Vendem (*) títulos de capitalização, seguridade e previdência. 

    (*) eufemismo para achaque, extorsão. 

  2. O problema, acho, é encontrar

    O problema, acho, é encontrar alguém com credibilidade, competência e capacidade nesse meio. Se na principal e mais forte federação encontra-se um empresário sem empresa, imagine  o que não se há de encontrar nas outras federações!

  3. Lembre-se que o nosso varejo

    Lembre-se que o nosso varejo é oligopolista e com grande poder de fogo,isto é, muito capital e que tira grande parte de seu lucro do mercado financeiro. Se baixar muito a taxa selic, eles promovem um aumento geral de preços e ‘obrigam’ o governo aumentar a taxa selic. Já vimos esse filme até mesmo no governo Dilma quando a selic estava quase negativa e os preços/inflação começaram a disparar e a selic foi atrás.

  4. A sugestão do câmbio é voltar

    A sugestão do câmbio é voltar então ao câmbrio controlado, tão criticado no FHC1? Passo. Não temos envergadura pra ficar brigando contra o câmbio, já tentamos antes e era um sofrimento. Nossa produtividade é baixa por diversos fatores, não apenas pelo câmbio. Pode botar a R$ 5,00 que nossas exportações não irão “bombar”. Como não “bombaram” aos R$ 3,80 citados (embora o Nassif tenha visto grandes melhoras nas exportações, ao contrário de qualquer dado agregado, mas enfim…).

    Na parte dos juros, não sei se foi o português confuso, mas a coisa é ainda pior. Mistura conceitos como custo  médio de capital, taxa de juros de longo prazo, retorno sobre o investimento e retorno puro e simples sem deixar claro o que é o que e qual o horizonte de tempo do tal estudo citado. Um pouco mais de rigor na hora de escrever textos pretensamente “técnicos” seria desejável.

    1. Os empresários do seu país

      Os empresários do seu país vendem um produto de qualidade claramente inferior, e esperam erradamente que o câmbio possa ser usado como “muleta milagrosa” que vá resolver o problema sem que eles precisem mexer um dedo. Eles não entenderam ainda que não é possível competir dessa forma com a China (que pode vender um produto ainda mais barato e com qualidade igual) e muito menos é possível competir com os países que vendem produtos de qualidade superior.

      E não é só isso, os empresários brsileiros também tratam o seu próprio mercado interno como idiotas ao quererem vender o produto inferior deles pelo preço do similar oferecido no mercado externo, isso em plena era da Internet aonde é fácil comparar preços globalmente e encomendar produtos de qualquer lugar do planeta. Isso é receita certa para falirem.

  5. Frase atribuída a Einstein e

    Frase atribuída a Einstein e que representa bem a política econômica atual:

    “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”

  6. Criar moeda para financiar o

    Criar moeda para financiar o estado sempre vai dar na situação que estamos.

    O que Nakano e os petistas  sugerem é a politica economica venezuelana, interferência estatal completa.

     

  7. A propósito Mota Araújo, já

    A propósito Mota Araújo, já que o assunto é macroeconomia, sobre a questão de a estabilidade monetária não ser condição necessária para o crescimento econômico.. É mesmo? sobre os períodos de milagre econômico quando houve inflação.. que crescimento é esse que levou o país à bancarrota ao fim desses períodos? Analise com um pouco mais de atenção a história econômico desses períodos e como eles terminaram (dou uma dica: descontrole inflacionário, desigualdade social, crescimento negativo do PIB nos anos subsequentes). Espero ter ajudado.

    1. Para os industriais medios de

      Para os industriais medios de SP, ABC, Osasco e interior de São Paulo foram anos de ouro, meus operarios todos construiram suas casas, muito melhores que os da Minha Casa Minha Vida, em mutirão, os filhos desses operarios quase todos se formaram em universidades e deram um saldo social e economico, fui a formutura de muitos deles, a economia era instavel mas a vida não era, hoje é infinitamente pior, as classes sociais estão estratificadas e o setor financeiro tem uma proeminencia que nunca sonhara antes, a grande maioria de meus então clientes, fabricantes de maquinas operatrizes, de injetoras, de maquinas para madeira, de ceramica, de beneficiamento de cereais, de teares, FECHARAM, não existem mais, das 600 tecelagens do Brasil em 1970, restam 90, que progresso houve?

      1. Entenda caro Mota Araujo,

        Entenda caro Mota Araujo, como vc mesmo escreve, “hoje é infinitamene pior”, e essa não é uma afirmação absurda.

        Este crescimento dos anos 70 estuturado em pés de barro, ou o voo de galinha, assim esse bem estar tinha prazo de validade, o pós milagre dos anos 70 foi quase tão ruim quanto à situação atual.

        Por isso é fundamental sim a estabilidade monetária para o crescimento de longo prazo. O descontrole inflacionário é só o sintoma de descalabro fiscal, transferência de renda de pobres para ricos, no longo prazo sempre acaba em crise. Por isso é totalmente falso associar moeda à prosperidade.
         

      2. O Brasil nunca teve planejamento de longo prazo

        E por isso apenas temos vôos de galinha e não crescimento sustentável. Não fizemos as reformas nos tempos de bonança e agora querem resolver a crise com mais imediatismo. Nada de novo sob o sol.

  8. Taxa de câmbio não é tudo Yoshiaki!

    Eu acho que seria bom o câmbio entre 2,80~3,20, mas para isso:

    -Abole-se de vez tarifas de importação, ou limita-se a no máximo 10%( A URSS, em pleno comunismo, cobrava 30%). Muitos grandes, médios e pequenos produtores nacionais(portando, geradores de empregos) também são grandes importadores, fora o povo que é obrigado a pagar horrores por culpa única e exclusiva do governo e suas políticas protecionistas lá da época da ditadura.

    -Deixa-se opcional ao trabalhador a escolha pelo FGTS, sindicalização, contribuição confederativa, horas trabalhadas, enfim, todo o peso que o empregado paga e o impede de remunerar melhor.

    -Aplica-se ao câmbio um sistema de currency board ao invés do câmbio flutuante.

    O trabalhador brasileiro é menos produtivo muito por causa do nosso mercado extremamente fechado ao comércio exterior, onde deixa-se de comprar equipamentos especializados e se faz tudo de qualquer maneira.

    Temos tudo para ser potência se nosso gordo Estado não atrapalhar e ser um estado nem máximo nem mínimo, mas só necessário, como é na austrália.

    Abraços.

     

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