Os fatos e as falácias do legado da Copa

Da Carta Maior

Legado da Copa: fatos e falácias (parte 1)
 
Em relação às arenas da Copa, até o momento, nenhuma obra foi definitivamente classificada como superfaturada, em relatório do TCU aprovado pelo Congresso.
 
por José Augusto Valente (*)
 
Em relação ao chamado “Legado da Copa”, o que a grande imprensa tem veiculado sobre o assunto apresentam mais falácias do que fatos comprováveis. É o que tentaremos demonstrar em alguns artigos sobre o tema.

Falácia 1 – Obras dos estádios foram superfaturadas

Para início de conversa, não são estádios de futebol e sim arenas multiuso, e isso faz toda a diferença. Essas arenas foram projetadas para receber não apenas partidas de futebol, mas uma série de outros eventos, como shows, espetáculos, conferências e reuniões. Esse múltiplo uso tem um nível de exigência muito maior do que o de simples estádio. Essas arenas, por serem obras originais, com graus de dificuldade únicos, com rigorosos requisitos de segurança, conforto e sustentabilidade, quase sempre necessitam de ajustes e consequentes aditivos. 
Sem essa flexibilidade, dificilmente haveria empresas de construção de porte interessadas no contrato. Especialmente, nos casos das PPPs e concessões, que representam a modalidade de contratação de boa parte das arenas, no qual a TIR (taxa interna de retorno) é definida pelas condições de mercado e não por decreto. Além disso, pelo fato de todas as arenas serem originais – não existirem iguais no mundo – não há como estabelecer comparações de custo com outros empreendimentos similares.

Assim também, obras de urbanização no entorno das arenas, como os jardins de Burle Marx em Brasília, incluem um forte componente de custo, que impede a comparação com outros estádios no mundo.

Quanto ao termo “superfaturamento”, ele é utilizado, a todo momento, como se fosse óbvio o seu significado. Será que é mesmo?

O que o TCU considera “superfaturamento”? Buscando essa palavra, no site do órgão, não aparece qualquer resultado. Idem, no Regimento Interno. A única menção a esse termo foi encontrada em uma retenção cautelar, em um caso no qual o pagamento de valores de mão-de-obra foram inferiores àqueles declarados nos demonstrativos de formação de preços. O custo do contratado era, na prática, bem inferior ao custo mencionado na sua proposta.

Então, o que é necessário ocorrer para se afirmar que houve “superfaturamento de obra pública”? Na minha opinião, é necessária a ocorrência das seguintes três condições, isolada ou simultaneamente, sendo a primeira imprescindível, caso contrário não se aplica falar em “superfaturamento de obra pública”:

a) a obra é financiada total ou parcialmente com dinheiro público;

b) o valor pago pelo contratante está acima do valor proposto ou aditivado; e

c) os valores unitários dos itens da obra estão muito acima dos valores de mercado, em situações similares.

Como disse no início deste texto, o fato da arenas serem obras únicas impede a comparação com outras obras, já que não existem situações similares. O item (c) fica, portanto, eliminado, para fundamentar “superfaturamento”.

Quanto ao item (a), três arenas são totalmente privadas (São Paulo/Corinthians, Porto Alegre/Internacional e Curitiba/Atlético). Não cabe, portanto, falar em superfaturamento nestas obras. Cabe, no máximo, questionar a aprovação do financiamento pelo BNDES.

Quatro arenas foram construídas e serão gerenciadas, em regime de PPP, com os governos de estado, como as de Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Recife e duas, em regime de concessão, como a de Natal e Rio de Janeiro. Nestes casos, o item (a) está contemplado, cabendo então analisar se os custos finais estimados, e considerados para o financiamento do BNDES, são adequados ou não.

A arena de Brasília terá gestão do Governo do Distrito Federal cabendo, portanto, análise de eventual superfaturamento. Duas outras arenas serão definidas após a Copa, como as de Manaus e Cuiabá, com possibilidade de concessão. Por envolver recurso público, cabe aqui também analisar a possibilidade de superfaturamento.

Os problemas identificados pelo TCU incluem sobrepreço, falhas na elaboração dos projetos, suspeita de irregularidades nos contratos e salto no custo das obras. Num primeiro momento, o TCU detecta eventuais indícios de irregularidades e solicita informações aos gestores públicos para esclarecimento. Normalmente, nesse momento, a imprensa já afirma que há superfaturamento e não simples “indícios a serem esclarecidos”. Na grande maioria dos casos, após os esclarecimentos, o TCU se considera satisfeito e a obra prossegue. Não conheço um caso em que a imprensa tenha noticiado a não procedência de suspeita de irregularidades, previamente anunciada com estardalhaço.

Em relação às arenas da Copa 2014, até o momento, nenhuma obra foi definitivamente classificada como superfaturada, em relatório do TCU aprovado pelo Congresso Nacional, o que torna falaciosa qualquer afirmação de que houve superfaturamento!

(*) José Augusto Valente – especialista em logística e infraestrutura

Redação

18 Comentários

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  1. “Em relação às arenas da

    “Em relação às arenas da Copa, até o momento, nenhuma obra foi definitivamente classificada como superfaturada, em relatório do TCU aprovado pelo Congresso.”

    Este talvez seja apenas MAIS UM dos motivos da “tristeza” de nossa economia…

    As Empreiteiras estão descontentes com DIlma!

    E o sistema financeiro, está feliz com queda de juros?

    Empresários fazem dinheiro onde nada existe!

    O tal espirito animal está esperando as eleições!

    Querem almoço grátis no próximo governo…

  2. Nao tao simples

    Tambem acho que ha poucos dados confiaveis para se falar em super-faturamento.

    Entretanto, dizer que nao existem obras semelhantes e por isso o tema ja estaria afastado e’ incorreto. Primeiro, porque existem sim obras semelhantes, nao precisa ser exatamente igual. Segundo, porque o super-faturamento nao ocorre no preco total e sim nos detalhes de cada parte da construcao e essas tem inumeras formas de comparacao.

    O autor esta correto em dizer que aumentos de orcamento em obras deste tipo pode ser normais. De fato, e’ muito comum, inclusive em construcoes privadas. So que “poder” nao e’ o mesmo que “ser”. Ha que investigar sim se todos os aumentos foram apropriadamente justificados e necessarios.

    Infelizmente, quem anda defendendo o governo e’ tao superficial quanto quem o ataca. Ao inves de ficar na superficie, uma avaliacao concreta e detalhada deveria ser publicada, o que aumentaria a transparencia, facilitaria a identificacao de problemas e serviria como base para futuros projetos deste porte. Se o governo se acostumasse a prestar contas de forma detalhada, ia ficar muito dificil para um proximo governo de outro partido voltar a esconder dados.

    E nao se iludam.  A direita vai voltar a governar o pais. Espero que nao seja tao logo, mas um dia eles vao conseguir ganhar uma eleicao presidencial. Serao as praticas democraticas, de participacao, de transparencia criadas (ou nao) pelo governo do PT que vao (ou nao) impedir que o proximo governo de direita seja tao desastroso quanto os anteriores foram. Por isso tambem: transparencia JA!

     

  3. Tentando entender os grandes números da Copa

    Segundo dados do Portal da Transparência da Copa – http://goo.gl/mr9Sb a conta é a seguinte (em R$):

    :: 8,3 bi – financiamentos de bancos oficiais (“pegô-pagô”)
    :: 5,8 bi – investimento direto da União, SOMENTE em infraestrutura (não em estádios)
    :: 7,1 bi – investimentos diretos de Estados e Municípios (em infra e estádios)
    :: 4,4 bi – investimentos privados
    :: 25,6 bi, no total

    Portanto:

    1. O governo do PT não pôs um único centavo a fundo perdido em estádios.

    2. Os 16 bi em impostos que a Fifa irá pagar superam o investimento direto público (5,8 + 7,1 bi), com “lucro”, sem considerar o provável aumento na arrecadação por conta da atividade turística na Copa.

    3. Infraestrutura, e não estádios, é o principal legado da Copa ao povo brasileiro. Parece-me uma contrapartida justa, honesta e ética.

      1. Tem razão, colega…

        Infelizmente, não adianta muito os esclarecimentos, com dados, gráficos e documentos.

        Para a impressa brasileira NÃO INTERESSA a verdade dos fatos: vão continuar afirmando categoricatemente que houve superfaturamento nos estádios da Copa…

        1. Não podemos negar o bom

          Não podemos negar o bom serviço feito pela grande mídia, ao plantar manchetes diárias afirmando que o custo de tal estádio aumentou X%.

          Na verdade, eu nunca vi dizerem que houve superfaturamento nem corrupção, mas as notícias plantadas levam a este raciocício. E, convenhamos, quem não tem afinidade com os governos de esquerda tendem a raciocinar feito bovinos. A estratégia da grande mídia é a mesma quando quer destruir reputações, ao fazer ilações sobre pessoas e seus negócios. Por exemplo, “José Dirceu prestou consultoria à empresa que tem contrato com o Governo”.

          Sacou?

          É claramente maquiavélico e prato cheio pra quem não gosta do PT, pois permite sair atirando com conclusões que na verdade não foram ditas, mas insinuadas.

      2. Pois é, Assis.
        Assisti ontem

        Pois é, Assis.

        Assisti ontem ao filme sobre a Hannah Arendt. Ela foi duramente criticada por sionistas e intelectuais judeus pelo que NÃO escreveu a respeito do julgamento do nazista Adolf Eichmann.

        Lembrei-me do Pig e seus sicários, sempre criticando o que NÃO foi dito e o que NÃO existe, a não ser no mundo virtual de seus preconceitos.

        :: Houve superfaturamento de obras?
        :: Escolas e hospitais deixaram de ser construídos por causa da Copa?
        :: Que prejuízo a Copa trouxe ao país?

        Se me mostrarem fatos ou números, até concordo em discutir.

  4. Mané Garrincha
    Estou aliviado. Por Deus que achava o Mané Garrincha ( o segundo maior do Brasil após as obras) fosse um despropósito.

  5. A história se repetindo!!!

     

     

    O Governo do PT sofre do mesmo que sofreu o governo FHC quando da época das privatizações. Na ocasião os petistas conseguiram colar o mantra: “A VALE FOI VENDIDA COM DINHEIRO PÚBLICO”

  6. Estranho que alguns

    Estranho que alguns cometaristas de esporte forçam a possibilidade

    de super-faturamente quase que em tempo integral ( Vitor Birner etc…)

    mas não indicam onde e de que forma…omitem que nem Aécio ou Campos

    andam levantando  essas hipóteses ( pelo menos as claras)que  lhes garantiria

    votos certos. Fariam parte do esquema?

  7. Imaginem na copa!
    Imaginem

    Imaginem na copa!

    Imaginem sendo Serra o presidente?

    Teriamos ai sim a copa das copas, sem super-faturamento,

    sem mídia negativa e principalmente : nada de manifestações!

    O Brasil perfeito!

    #queremoscopa!

     

    Serra 3014!

     

     

  8. Cartolagem

    Para início de conversa, não são estádios de futebol e sim arenas multiuso, e isso faz toda a diferença. Essas arenas foram projetadas para receber não apenas partidas de futebol, mas uma série de outros eventos, como shows, espetáculos, conferências e reuniões.

    Como legado da copa que tanto elogiam sera que os clubes de futebol após ganharem toda esta infra-estrutura estarão aptos a exercerem  uma gestão profissional como os clubes da Europa? E assim não precisaremos mais exportar os  jogadores como vem acontecendo.

    Ou vai continuar tudo no mesmo com os cartolas enchendo os próprios bolsos e o futebol nacional servindo apenas para seus interesses particulares?

    Se houve ou não superfaturamento, diante da situação atual do futebol brasileiro, não tem  la muita importância, o que conta é  equacionar a questão do que farão com todo este legado que tanto se elogia,  os clubes se tornarão empresas  ou vai continuar tudo como dantes?

     

  9. Canalhas profissionais e profissão, canalha!

    Já assisti a muitas copas. Alemanha, França, Espanha, Itália, Estados Unidos. Nunca ouvi na transmissão algum locutor comentar no meio do jogo que o “orçamento original” do estádio era de X e a execução custou “X + y”. Um desses idiotas da TV a cabo fez esse tipo de comentário. É o mesmo que comentar que o jogador “W” perdeu o gol porque sua mulher foi flagrada com um amante. Gente sem noção. Podem até torcer pelo PSDB, mas não podem distorcer fatos. Alguns, são canalhas em tempo integral, mas os canalhas eventuais, também é muito feio quando cometem ou comentam canalhices.

  10. Falou que sabe.

    O especialista Jose Augusto Valente, esclarece em poucas linhas e com coerência supra-partidária, às inúmeras tentativas do PIG, e de alguns partidos oposicionistas desesperados, sobre o hipotético superfaturamento na construção e/ou adaptação de algumas arenas que estão sediando os jogos desta Copa da Fifa.

    Claro que se não fosse uma exigência indiscutível da Fifa, bem que poderíamos ter adaptado(tipo jeitinho brasileiro)alguns bons estádios brasileiros, porem não estaríamos lendo hoje, na imprensa internacional, tantos elogios aos nossos estádios, em todos os sentidos.

    Tambem poderíamos ter deixado de construir os estádios de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília, que não têm times locais, capazes de manter estas arenas somente com jogos, porem há projetos nestas cidades, que farão uso destas arenas, para outros fins, que certamente poderão paga-los e mantê-los.

    Todos os demais equipamentos de infra-estrutura que eram necessários, para adequar nossas cidades-sedes, para um evento desta magnitude, foram feitos estritamente dentro dos orçamentos aprovados pelos Poderes Legislativos e ratificados pelos Tribunais de Contas dos Municípios E stados e União. E importante: Contra todas as profecias apocalípticas dos “urubús” estas obras foram entregues bem feitas, e no prazo. 

    O resto é “chôro” e ´para chôro, o melhor lugar, é na cama, que é quente a acolhedora.

     

  11. Não!!!!!!

    Não vai ter copa da confederações 2013, vou pôr máscara, eu quebro tudo, eu sou feroz, eu mordo. Hein?

    Não vai ter Copa 2014

    se tiver copa, não vai ter Dilma

    Se Tiver Dilma, não toma posse

    Se toma posse, não tem Olimpiada

    Se tem olimpiada, eu vou pra Miami, seus petistas chatos!!

    1. Lembram-se da 1ª campanha presidencial, do Lula ?

      Ouví em dezenas de oportunidades e convesas:

      O Lula não ganha;

      Se ganhar, não “leva”(toma posse);

      Se assumir, quebra o país;

      Se resistirmos a 4 anos de governo petista, os militares retomarão o poder;

      Reeleição do Lula, jamais. A sociedade o expurgará;

      Fazer o sucessor, inimaginável.

      E o que ocorreu ?

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