PM comprometeu provas de chacina na Grande São Paulo

Jornal GGN – O Governo do Estado de São Paulo criou uma força-tarefa para investigara chacina que deixou 19 mortos na região de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Mas a corregedoria da Polícia Militar resolveu agir por conta própria e atropelou as investigações da Polícia Civil, que por atribuição é a verdadeira responsável.

A Folha de S. Paulo entrevistou a principal porta-voz da Polícia Civil paulista, Marilda Pansonato Pinheiro, que revelou o racha na investigação e afirmou que as provas do crime foram comprometidas pela ação atrapalhada da PM.

Para delegada, ‘atropelo’ da PM afetou prova de chacina na Grande SP

Por Rogério Pagnan e Lucas Ferraz

Principal porta-voz dos delegados da Polícia Civil paulista, Marilda Pansonato Pinheiro, 60, expõe o racha na investigação da chacina que deixou 19 mortos na Grande São Paulo e afirma que as provas do crime foram comprometidas após um “atropelo” da Polícia Militar.

Reportagem da Folha nesta semana mostrou o mal-estar gerado pelas ações da Corregedoria da PM ao agir à revelia da força-tarefa criada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) para investigar os assassinatos em série.

As mortes, nas cidades de Osasco e Barueri, ocorreram no último dia 13 num intervalo de menos de três horas.

O estopim para o racha ocorreu no último final de semana, quando o Tribunal Militar atendeu os pedidos da PM para a realização de mandados de busca e apreensão contra 18 policiais e um segurança suspeitos dos crimes.

Marilda Pinheiro, da associação de delegados, com o secretário Alexandre de Moraes

Essa iniciativa da PM irritou membros da força-tarefa, formada também por Polícia Civil e Ministério Público.

“Houve uma quebra daquilo que foi acordado. Investigação é técnica, demanda ações minuciosas. Ela não é feita no atropelo. Essa afoiteza da PM certamente comprometeu o trabalho que havia sido feito e interrompeu uma linha de investigação”, afirmou a delegada à Folha.

Ela preside a ADPESP (Associação dos Delegados de Polícia de SP), a maior da América Latina, que representa no Estado mais de 4.000 filiados.

Nos últimos dias, o racha na apuração da chacina também chegou ao Poder Judiciário, que se dividiu em relação à competência da investigação -se ela ficaria a cargo da Justiça comum ou da militar.

Ao analisar o pedido de prisão preventiva do único PM detido até o momento por suposta participação na chacina, o Ministério Público se manifestou pelo envio dos autos à Justiça comum “por se tratar de crimes dolosos contra a vida de civis”. Mas um juiz do Tribunal Militar foi contra o envio, mantendo a análise do caso na jurisdição militar.

A animosidade revelou ainda a fragilidade das provas até aqui. A maioria dos PMs alvos dos mandados foi colocada sob suspeita por fatos anteriores à chacina.

Um exemplo da confusa investigação ocorreu na quarta (26): a juíza Elia Kinosita, da 1ª Vara do Júri de Osasco, negou pedido de prisão formulado pela Polícia Civil para o soldado da Rota Fabrício Eleutério. Entretanto o mesmo pleito, feito pela PM e referente ao mesmo policial, acabou acatado pela Justiça Militar.

Os objetos apreendidos nas casas de 18 PMs e de um segurança particular ainda estão em análise -como armas, tocas, pendrives e até documentos de foragidos da Justiça.

“A investigação pré-processual é de competência de nosso tribunal”, afirmou à Folha Paulo Adib Casseb, presidente do Tribunal de Justiça Militar. “São focos diferentes, nós prezamos pelo respeito à ordem e à disciplina. A Justiça comum, pela liberdade.”

Em nota, o governo paulista informou que “não há qualquer disputa, mas uma cooperação mútua para prender criminosos”.

Folha – Os delegados estão revoltados com a PM na investigação da chacina?
Marilda Pansonato Pinheiro –
É mais indignação do que revolta. Havia uma força-tarefa, cada um tinha sua atribuição, uma cooperação. E, inesperadamente, inexplicavelmente, houve um desvio no que havia sido acordado e a PM acabou se precipitando e levando ao conhecimento dos suspeitos que havia uma investigação contra eles. Obviamente, veio por terra toda a investigação. Tudo foi invalidado.

Houve quebra de confiança?
Deve haver comprometimento de quem está compondo a força-tarefa, que é uma troca. Não sei o que levou a PM a esse tipo de atitude. Esperamos uma resposta, vamos cobrar.
O que a gente sente é uma quebra de confiança. Havia uma investigação sigilosa, deveria ter sido mantida a confiança, a lealdade, um trabalho conjunto.
Se a PM não confia na Polícia Civil, ela precisa dizer que não confia. Se não confia, que não faça parte da força-tarefa e leve seus argumentos para o secretário.

A crise agravou a rivalidade entre as polícias?
Não é questão de rivalidade, é um prejuízo para toda a sociedade. Esse tipo de comportamento gerou um mal-estar e tem que ser equacionado o mais rápido possível. O que não pode é acontecer essa invasão, esse atropelo.

Ainda existe uma força-tarefa?
Essa é uma questão que só o secretário vai poder dizer. Eu não sei. Fica muito difícil de trabalhar diante de uma situação dessas. Só que existe um fato maior [a solução do crime], precisam ser superadas essas divergências.

Houve um rompimento com o secretário?
De modo algum. A associação não pode silenciar diante da gravidade da situação. Se ela não se manifestou antes de forma tão veemente é porque nunca tivemos uma situação tão grave.
O doutor Alexandre de Moraes está se manifestando como um representante do governo do Estado de São Paulo. Então, respeitamos profundamente a sua posição. Somos legalistas e respeitamos o cargo do secretário da Segurança. Nós, da Polícia Civil, como a PM, somos subordinados ao secretário. Então, o cargo do secretário da Segurança Pública merece todo o nosso respeito.

Teme que os culpados pela chacina não sejam punidos?
Eu temo que, ainda que se chegue [aos culpados], será muito frágil o conjunto probatório. Será que o conjunto probatório, daqui para a frente, será suficiente para chegar à autoria? Será que vamos conseguir chegar à Justiça? Ninguém quer vingança. A gente quer Justiça.
Há um temor de que não se consiga dar a resposta que a sociedade está buscando e levar à Justiça o que realmente aconteceu.

 

Redação

5 Comentários

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  1. “A Folha de S. Paulo

    “A Folha de S. Paulo entrevistou a principal porta-voz da Polícia Civil paulista, Marilda Pansonato Pinheiro, que revelou o racha na investigação e afirmou que as provas do crime foram comprometidas pela ação atrapalhada da PM.”

     

     

    Ação atrapalhada, como assim, ação atrapalhada?

    Para mim foi uma ação milimetricamente planejada, não só pela PM, mas inclusive com participação da secretaria de segurança, com pleno conhecimento do Governador.

    As investigações cumpre o único objetivo propagandisco de da “uma satisfação” a sociedade.

     

    Não tem nada ver a com apuração e punição rigorosa da violencia perpetrada contra a população carente.

    Os governos dos estados, sejam tucanos, petistas ou de que partido for, estão nas mãos dessas coporações que traçam a seu bel prazer a forma mais “confortável para eles” de enfrentar a violencia.

    A diferença de São Paulo é que aqui ou o Geraldo fica não mão do PCC ou do CPM (Comando da Polícia Militar), o que não deve acontecer em outros estados.

    Aliás, para ser justos com nosso país e ampliarmos a discussão sobre a ameaça fardada ou civil que vem se transformando em milícias, basta ver o que acontece nos EUA, quando policiais brancos matam negros ou na inglaterra quando a Scotland Yard mata “suposto” terrorista. 

  2. Não que seja garantido… mas

    Não que seja garantido… mas é mais fácil a Justiça mandar uns policiais para a cadeia, outros para passar um tempo em serviços da administração, todos eles mantendo seus vencimentos e aposentadorias, do que repor a confiança do cidadão na Polícia como um todo.

    Mesmo com condenações, o recado da PM para a população está dado: “Se a gente quiser, a gente te mata. O poder, as armas de fogo, são nossos. Vai encarar?”

    O que precisa é que o povo responda, “sim, vamos encarar mas com outra arma: as leis.”

    ***

    Essa delegada, pelo que fez até agora e ao dizer-se legalista, funciona como a manutenção do Jânio de Freitas na Folha: apenas para disfarçar.

  3.  
    O diabo disso tudo é que

     

    O diabo disso tudo é que somos nós que financiamos com vultosos recursos essa falida infraestrutura de (in)segurança. Pagando generosos ganhos para uma cúpula de comando, e, baixo salários para as tropas encarregados do trabalho sujo. O diagnóstico é de conhecimento geral, difícil é ter culhão, pra desmontar a poderosa arapuca que engorda por trás desse aparatoso, caro, desumano e letal esquema corrupto.  

    Armados, fardados e adestrados como um bando de celerados, esses despreparados partem para a guerra, digo, são distribuídos  para atuar. Nos bairros ricos, atuam em defesa dos residentes. Nos bairros da periferia onde vivem os “nordestinos”,  trabalhadores, desempregados, pretos, pobres. Via de regra, estes são tratados como suspeitos até prova em contrário. Tanto, que não raro, não há tempo do cabra provar sua inocência e…mais um alto de resistência é lavrado…

    Na verdade, nada disso ocorre por geração espontânea. Apenas as autoridades da Segurança Pública(?), sua excelência, o senhor picolé de xuxu, o insosso governador do Estado de São Paulo não sabiam de nada. Nem imaginavam que mais uma vez, após o assassinato de um PM, aconteceria mais um massacre. Apenas a povo brasileiro tinha tinha certeza quanto à zona geográfica onde se daria a chacina. (inclusive as populações dos demais Estados brasileiros, sofrem do mesmo descalabro de São Paulo.) ( O que chama a atenção em SP, é que os desafortunados paulistas estão sob a batuta do partido que só tem honestos e competentes políticos há tanto tempo, e ainda estão atolados nessa merda: sem água, sem justiça, e com uma puliça criminosa desse qalibre).

    Assim como de outras vezes, sabemos todos que as investigações não vão dar em absolutamente nada que preste. No máximo, arrumarão um boi de piranha para dar satisfação aos organismos Internacionais que se mostram bestificados com o tamanho e o estágio de primitivismo no qual mourejam nossas autoridades  governamentais, judiciárias e policiais.

    Notem que poucas dúvidas há, de que os sicários sejam colegas e convivam em harmonia com os mesmos sorridentes PMs, que ainda há pouco eram convidados para fazer selfs com felizes, digo, ferozes coxinhas paulistanos.

    Orlando

     

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