Política de preços da Petrobras tem de ser bem coordenada, diz especialista

Jornal GGN – Há duas semanas, a Petrobras anunciou uma nova política de preços praticadas nas refinarias do país, afirmando que irá seguir uma paridade com os valores praticados no mercado internacional e que fará reuniões mensais para definir os preços.

Com esta nova diretriz, o Grupo Executivo de Mercados e Preços indicou a redução do diesel em 2,7% e da gasolina em 3,2% nas refinarias. Entretanto, a diminuição dos preços não chegou para o consumidor final, sendo que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontou aumento dos combustíveis nos postos em seu levantamento semanal.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa os trabalhadores da Petrobras, criticou a medida, afirmando que ela foi uma “jogada ensaiada” entre a direção da estatal e a mídia. Para a FUP, a Petrobras volta a praticar uma política de paridade internacional ao mesmo tempo em que os preços do barril começam a subir. Além disso, a empresa não estabelece mecanismos de proteção ao consumidor.

“Com essa política, nos anos 90 o combustível teve reajuste de cerca de 350%. Se acontecerem turbulências ou mesmo uma guerra, e o preço disparar, eles vão aumentar na mesma proporção no mercado interno”, criticou José Maria Rangel, coordenador da FUP.

Helder Queiroz Pinto Júnior, professor da UFRJ e integrante Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da universidade, explica que, entre 2010 a 2014, os preços praticados no mercado interno estavam abaixo do mercado internacional. A estatal comprava uma parte no exterior para assegurar o abastecimento, e então praticava preços menores no país, gerando prejuízo para a empresa.

A partir de 2014, com a queda da valor do petróleo do mercado internacional, os preços permanecem inalterados dentro do Brasil, para que a Petrobras pudesse, de alguma maneira, se recuperar.

Para o professor da UFRJ, esta política de preços precisa de credibilidade e transparência, e também necessita ser bem coordenada. “Ela pode não ter a interferência do governo, mas ela tem que ser coordenada com o Ministério da Fazenda, o Banco Central, porque, se o preço [no mercado internacional] subir, pode acontecer que a Petrobras também tenha subir o preço da gasolina”, afirma, apontando para a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) que será realizada em novembro.

 

 

Nesta reunião, a Opep irá definir a quantidade da redução da produção, com o objetivo de aumentar o preço do barril do petróleo, que caíram mais de 50% desde meados de 2014. “O que vale neste momento para o bem da inflação pode valer, em algum outro momento, para produzir um impacto negativo em termos inflacionários”, explica Helder.

Helder ressalta, no entanto, que não acredita que o Banco Central e o Ministério da Fazenda tenham que atuar na elaboração dos preços dos combustíveis. “A política de preços  tem que ter credibilidade e transparência e serve com referência para consumidores, empresas e governo”, de modo que tanto o governo quanto o mercado não tenham surpresas. 

Ele também afirma que a busca por uma paridade internacional e as reuniões mensais para definição de preços vai no sentido da empresa sinalizar a busca por parceiros na refino e na distribuição. “Para os parceiros aportarem recursos financeiros, eles precisam ter uma confiança de que o preço irá se comportar dessa ou daquela maneira”, ressalta.

Venda de ativos

Ultimamente, a Petrobras também tem tocado seu plano de venda de ativos, que pretende levantar mais de US$ 34 bilhões até 2018. Os desinvestimentos serão em áreas como a exploração e produção no Brasil e no exterior – com a possível venda parcial ou integral de campos de óleo e gás -, no setor de abastecimento e também na área de gás e energia.

A venda de ativos tem sido criticada por diversos especialitas, como Ildo Sauer, professor do Instituto de Energia Ambiente da USP e ex-diretor de Gás e Energia da estatal. Para ele, a estatal “está embarcando na venda de ativos vergonhosamente”, afirmando que há outras maneiras além de seguir a lógica financeira do senso comum.

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a venda de ativos é “um equívoco”. “A maior parte das empresas estatais de petróleo têm integração vertical, isto é, abrangem da pesquisa à extração e produção até refino e venda”, afirma.

Já a FUP chama a atenção para a intenção de vender o controle acionário da BR Distribuidora, que teve receita de R$ 118 milhões em 2015 e possui a maior rede de postos de combustíveis do país.

Helder Queiroz também se preocupa com a saída da BR Distribuidora, que “gera um caixa muito alto”. Para ele, há um risco de um desarranjo nas condições de suprimento e na parte logistica do abastecimento.

“Com todas as distorções que nós sabemos que existem, a Petrobras, durante todos estes anos, sempre assegurou o abastecimento de combustíveis no Brasil”, aponta o professor da UFRJ. “Essas condições de logística tem que ser bem ponderadas, para que você não tenha uma ruptura no abastecimento”, pondera. 

Atualizado às 13h39 do dia 26/10 para acréscimo de informações

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador