Professor da FGV propõe mudanças no concurso público

Jornal GGN – O professor de Direito da FGV Rio, Fernando Fontainha, acaba de lançar um livro criticando o modelo de concursos públicos no Brasil. Para ele, o processo seletivo para funcionários públicos não foi feito para escolher os melhores candidatos. Ao invés disso, eles criam uma indústria milionária de cursos preparatórios e um sistema de arrecadação que desvirtua os processos. Ele propõe abolir as provas de múltipla escolha e acabar com as taxas de inscrição.

Enviado por Giovane Borges

“Concurso público é uma máquina de injustiça social”

Por Taís Laporta

Do iG São Paulo

Autor de estudo que critica os métodos de seleção de funcionários públicos no País, professor da FGV propõe o fim das provas de múltipla escolha e das taxas de inscrição

Os concursos públicos no Brasil não foram feitos para escolher os melhores candidatos. Essa é a opinião do professor de Direito da FGV Rio, Fernando Fontainha, crítico voraz do sistema que filtra os ocupantes de cargos públicos no País.

Para o acadêmico, a ideologia concurseira que se firmou ajuda a alimentar uma “indústria milionária de cursos preparatórios e um sistema de arrecadação que desvirtuou os processos seletivos”.

Boa parte destas críticas está no livro recém-lançado “Processos Seletivos para a Contratação de Servidores Públicos: Brasil, o País dos Concursos”, fruto de uma pesquisa do Centro de Justiça e Sociedade da FGV Direito Rio em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF). Na obra, Fontainha propõe criar um marco regulatório para mudar radicalmente os critérios de seleção de funcionários públicos no Brasil.

O professor propõe, entre outras ideias, abolir as provas de múltipla escolha e acabar com as taxas de inscrição. No estudo, aparecem exemplos de provas em 20 órgãos federais, entre eles Banco Central, INSS, Polícia Federal e Receita. Para selecionar os candidatos com as competências mais adequadas, Fontainha sugere que a experiência profissional prévia seja requisito básico para inscrever-se no concurso.

iG – Por que, na sua opinião, os concursos públicos não são capazes de selecionar os melhores candidatos?

Fernando Fontainha – Os concursos no Brasil são autocentrados, voltados para si mesmos. Neles, impera a ideologia concurseira, que acontece em enorme prejuízo do serviço público brasileiro, sem dúvida alguma. Eles servem para selecionar os que mais se prepararam para as provas, e não os mais competentes. Isso reflete na qualidade dos serviços públicos no Brasil.

Como você sugere mudar esse sistema?

Existem duas maneiras de se averiguar os candidatos mais competentes: de forma profissional ou acadêmica. Criamos propostas provocativas de um novo marco regulatório, com 10 itens que passam pelo fim das provas de múltipla escolha e pela necessidade de expor as habilidades e competências exigidas pelas carreiras já no edital.

Você propõe acabar com as provas de múltipla escolha. Por quê?

Com certeza, esse tipo de prova não avalia bem o candidato, é uma prova cheia de macetes. Ela averigua capacidades completamente desligadas das competências acadêmicas. Não são provas de múltipla escolha que os alunos estão acostumados a fazer na faculdade e não elas não vão definir o que farão na carreira. As questões de múltipla escolha não avaliam nem competências acadêmicas, nem profissionais. Esse é o problema. Todo mundo sabe como se treina para essas provas em cursinhos. Você pega os truques e técnicas para escapar das pegadinhas.

Deveria haver uma prova prática para substituir o método atual?

Nós sugerimos que sim. Ou prova prática ou requisitos de experiência prévia. O médico do Ministério da Saúde faz apenas uma prova de múltipla escolha para ser admitido. A única exigência é de que ele seja bacharel em medicina. Isso é no mínimo questionável. Mas não quero parecer elitista.

O cargo de técnico do INSS, que pede ensino médio, e que em 2012 recebeu quase um milhão de candidatos, é alguém que fica atrás do balcão atendendo pessoas. Ele é avaliado por uma prova de múltipla escolha, com questões de direito previdenciário, português, informática. Mas a competência fundamental pra prestar um bom atendimento público não é avaliada, apesar de ser fundamental.

A ideia seria selecionar apenas pessoas com alguma experiência prévia?

Seria uma solução muito simples pra diminuir essa quantidade alucinante de inscritos e, com certeza, aumenta as chances de contratar pessoas que vão prestar um bom serviço. Exige que, para se inscrever, a pessoa comprove que tem cinco anos de experiência com atendimento ao público. Isso não é elitista, pelo contrário. Você exige que a pessoa demonstre que durante cinco anos ela foi caixa de supermercado ou balconista de farmácia por exemplo. Aquele sujeito que hoje tem condições de ser liberado para se preparar para os cursinhos não vai poder concorrer ao cargo, por exemplo.

Na sua opinião, os concursos públicos favorecem pessoas de nível social mais elevado?

O concurso público hoje é uma máquina de exclusão social, e não de inclusão. Esse sistema é voltado para quem tem tempo e dinheiro para pagar um bom cursinho. Pra quem pode pagar um bom colégio, que já no ensino médio ministra disciplinas para preparar o seu filho para os concursos da administração pública. Esse é um dos reflexos perversos da ideologia concurseira. Pra fazer cursinho, você precisa ter tempo. E ter tempo é poder não trabalhar. O brasileiro que sai do ensino médio e precisa trabalhar estará concorrendo em desvantagem com alguém que pode ficar só em cursinhos. É uma máquina de injustiça social.

Por que vocês acham necessário eliminar as taxas de inscrição dos concursos?

No Brasil, se acha natural pagar para fazer um concurso público. Mas não é assim em todos os países do mundo. Temos um capítulo no livro que mostra uma comparação com a França, onde ninguém nem compreende dizer que você vai pagar uma taxa para prestar um concurso. É um verdadeiro absurdo por lá, mas aqui é normal.

Mesmo com a taxa, os concursos recebem um grande número de candidatos…

Para essa máquina poder funcionar, é preciso haver um contingente enorme de pessoas que não param de fazer provas, uma atrás da outra. A ideia de vocação, de desejo de um cargo desaparece diante da ideia de que se vai sair fazendo vários concursos por aí, até passar em algum. Isso é ser um concurseiro profissional, faz parte da sua ideologia se inscrever para todos os cargos que puder. Ele não sabe se gostaria de trabalhar com previdência ou ser policial. Mesmo que não queira fazer aquilo da vida, vai pelo salário, pela estabilidade e por outras vantagens que a vida de funcionário público oferece.

Por isso vocês propõem também que o candidato não possa prestar mais de três vezes o mesmo concurso?

Sim. Isso acontece na França. Você só vai se inscrever se achar que tem condições reais de passar. Vai acabar com essa coisa de prestar por prestar. E inverte essa relação de cliente que existe nos concursos. Quando você instaura uma taxa, está privatizando a relação. Por isso é um problema grave no Brasil. O que se discute hoje não é a qualidade do serviço público e do recrutamento, mas o rol de direitos dos concurseiros. Acho que tem que haver esses direitos, mas o foco do concurso é pensar num recrutamento que vai ampliar a qualidade da prestação do serviço público. Esse deveria ser o foco principal.

As bancas examinadoras também precisariam mudar?

Sim. Dependendo do foco, dizemos que todo serviço público precisa ter uma escola profissional. Se você recrutou o candidato, agora tem que formá-lo. A menos que seja um concurso que já recrute profissionais gabaritados no mercado. Pela nossa proposta, metade da banca tem que ser formada por acadêmicos da área. Existem até membros de banca profissionais. A gente propõe que isso acabe. O profissional vai pra a banca e publica um livro que deve ser lido pelos candidatos. O ideal é que se ele participou de uma banca, tem que ficar dois anos sem participar de novo. No caso de um concurso de vocação profissional, que a banca seja composta por profissionais não acadêmicos com pelo menos 10 ou 15 anos de experiência comprovada na área.

 

Redação

49 Comentários

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        1. Que tal justificar isso, em vez de apenas “pontificar”?

          Por que é latao? Pelo menos algumas das sugestoes me parecem bem boas, e a crítica ao sistema atual é bem verdadeira, a meu ver, Talvez eu possa até nao estar vendo os problemas que você estaria vendo, mas você simplesmente nao os mostra. 

    1. Ao contrário, Assis

      Por 2 motivos: essa “meritocracia” do tipo atual de concursos nao revela mérito nenhum; e o sistema atual é que favorece os filhos dos ricos. Talvez nem todas as sugestoes do Professor sejam boas, mas o espírito do texto é. 

  1. O jovem brasileiro tem duas

    O jovem brasileiro tem duas opções de vida, trabalhar para o tráfico ou para o governo, ambos são moralmente crimes, mas, no tráfico pelo menos se trabalha.

  2. Itamaraty

    O Itamaraty promove uma seleção anterior ao concurso para o Rio Branco na qual jovens com menos condições economicas para se prepararem recebm uma bolsa para custear os estudos. Essa inicativa deveria ser seguida por todo o serviço público!

  3. Discordo de algumas coisas,

    Discordo de algumas coisas, por exemplo do tópico onde se propõe experiência prévia. O concurso público é justamente a chance da pessoa qua não temexperiência começar num emprego. Daí exige-se expriência e elimina-se a maioria dos candidatos. Quem poderia, por exemplo, fazer prova para polícia?

    Deveria haver na prova algo que identificasse se o candidato tem afinidades com o cargo escolhido e o processo de treinamento deveria ser eliminatório também.

    1. O q tem o c* a ver com as calças?

      Ele trata apenas lateralmente da questao da competência acadêmica, e nao a nega, apenas poe alguns limites. 

  4. Senão a meritocracia, num

    Senão a meritocracia, num novo modelo o  tamanho da barba contaria ponto?

    Qual o peso na prova para candidatos que falem fluentemente o marxisês? 

    Odiar a classe média seria pré-requisito para fazer a inscrição nos concursos?

    São minhas dúvidas…

     

  5. Ele foi reprovado em algum concurso público

    É certo que ele foi reprovado em algum concurso público e, assim, é contra os que aí estão. De suas propostas, a única relevante é o fim das taxas. Para que os concursos possam ser melhorados, em primeiro lugar deveria ocorrer o fim da terceirização em sua realização. O governo federal,  e quase todos os governos estaduais e as prefeituras das grandes cidades, além dos poderes judiciários e legislativos, têm como assumir a própria realização do concurso. As empresas públicas, como Petrobrás, também têm. Mas a influência política das grandes empresas e grupos organizadores de concursos é forte e capilarizada pelos órgãos públicos diversos. Para vencer muitos dos problemas que ele aponta, basta introduzir cursos internos de formação, após a aprovação no concurso, e tê-los como condição para aprovação no estágio probatório ou como primeira etapa deste. A receita, o banco central, a polícia federal, o itamaraty já fazem isso, dentre outros. Ao contrário do posto, o concurso público, mesmo nos moldes atuais, com os distorções inerentes que gera (e que qualquer outra forma geraria, da mesma forma), é um mecanismo de democratização do serviço público brasileiro. O caráter de massa que assumiram, com concursos tendo milhões de candidatos, mostra a legitimidadade, a confiança e a credibilidade que a população tem nesta forma de encontrar trabalho. E, por que não, a credibilidade que o serviço público possui na população como meio de ascenção social. Alguns, no entanto, ainda preferem as indicações. 

  6. Concurso público , ricos e pobres.

    Não sou rico.

    O  avô  era pobre e teve pouca educação , seu filho teve uma formação um pouco melhor e vida um pouco melhor também , o neto aproveitou as melhores condições e entrou em outra classe social ,trabalhando. Ai vem alguém é diz para o bisneto é “FILHO DE RICO”.

    Não seu m… ,digo eu, é filho de gente que trabalha para os filhos viverem melhor do que eles mesmos viveram , sem ficarem reclamando. Não sou rico mas digo parabéns a quem é !

    Larga deste papo de pobre coitadinho.

  7. A esmagadora maioria de

    A esmagadora maioria de cargos públicos são carreiras que só existem no setor público, onde e como os candidatos vão adquirir experiência prévia? O professor cita apenas o exemplo de um atendente do INSS, por que ele não fala no cargo de Especialista em Gestão Público do Ministério do Planejamento ou Auditor da Receita?

    Hoje as taxas de inscrição bancam todos os custos dos concursos e ainda geram lucro para as organizadoras. Quem vai bancar os custos dos concursos se abolirem as taxas de inscrição?

    A realização de um concurso público não depende apenas de taxa de inscrição, o poder público tem de definir de onde vai sair o dinheiro para pagar esse novos servidores. Existe todo um processo para a realização de um concurso que é mais complexo do que a opnião pública imagina.

    Hoje os concursos têm um proceso objetivo de seleção dos candidatos que é as provas objetiva e discursiva. A proposta de avaliação de experiência profissional além de ser uma avaliação subjetiva, abre margem para toda sorte de apadrinhamento e preenchimento político dos cargos públicos.

    A solução não é acabar com o concurso público mas aperfeiçoá-lo.

    Não existe método de seleção que escolha sempre os melhores candidatos. Só o dia a dia vai mostrar se a pessoa adapta-se e rende dentro do ambiente de trabalho. O professor avalia a competência unicamente através dos aspectos técnicos, como se apenas isso fosse suficiente.

    A verdade, que está por detrás de todas essas críticas ao concurso público, é que o concurso público compete com as empressas privadas por mão de obra.

    A maioria das pessoas prefere o setor público pela estabilidade. Em segundo lugar fica o salário, que também é maior que o da iniciativa privada. Por isso que esses neoliberais da FGV implicam tanto com o concurso público.

    1. Perfeito!

      Mais na mosca do que isso, impossível!

      Qual o escritório de advocacia que vai pegar hoje um recém-formado e pagar um salário de 11 mil reais líquido, como paga a Advocacia-Geral da União? E ainda com a possibilidade de liberar você pra fazer uma pós-graduação no exterior? Tenho colegas que antes de completar 28 anos haviam concluído mestrado em Coimbra, graças à carreira do Serviço Público!

      Eu mesmo pude fazer uma pós-graduação específica em Processo Administrativo Disciplinar por conta do Serviço Público, é um curso que simplesmente não existe para a iniciativa privada!

      1. E será q se deve dar tal nível salarial a 1 recém formado?

        Nao estou necessariamente apoiando a exigência de experiência anterior, pelo menos nao para todos os cargos (até pela impossibilidade disso para muitos cargos), mas acho que vc está defendendo o modelo atual em causa própria. E me parece que melhor do que dar o ápice logo de início seria oferecer um bom plano de carreira com critérios objetivos para acesso aos níveis posteriores ao inicial, com necessidade aí sim do candidato (já efetivo) mostrar mérito na carreira específica que desenvolve. 

        1. Mérito???? Já foi a

          Mérito???? Já foi a Brasília?

          Deixe lhe explicar como funciona uma repartição pública em Brasília. Isto se aplica a todos os poderes.

           

          Chefe não é aquele que sabe do assunto ou que entende do trabalho em questão. Chefe, em Brasília, é a pessoa com “perfil” de chefia.

          Eu já ensinei o ‘serviço” a muito chefe. Questão de perfil, sabe como é….

          1. Haja preconceito contra o funcionalismo

            E extrapolaçao de alguma experiência própria para todos os casos. E se fosse realmente como você diz, nem adiantaria discutir o assunto, né? Seria apenas trocar de me*da. 

    2. A solução não é acabar com o

      A solução não é acabar com o concurso público mas aperfeiçoá-lo.

      Procrurei no texto onde ele pede pra acabar com o concurso publico e nao encontrei. Isso eh soh um debate, se estah tao indignad eh porque esse simples texto doeu em voce.

    3. No q toca à experiência, vc me parece ter alguma (muita?) razao

      Mas vc nao tocou nas críticas aos concursos atuais, que me parecem muito boas: conteúdos irrelevantes para a funçao, “concurseirismo”, privilégio de quem pode nao trabalhar, provas que exigem treinamento de macetes, etc. 

  8. Oooops!

    Concurso, com cota social e racial, não é instrumento de inclusão?

    No fundo autor quer é a volta da “entrevista” , fase onde o examinador aprovava quem bem entendia !

    Quando diz: “Mas não quero parecer elitista.” , já se entrega!  É mais elitista do que o processo que critica.

    Ele já questionou o processo admissional da instituição em que trabalha?

     

    1. COTA não foi assunto!
      Porque

      COTA não foi assunto!

      Porque vc coloca este assunto não abordado pelo entrevistado? Não achei honesta sua argumentação. 

      Não pode ser do jeito que ele propos COM COTAS?

       

       

      1. Poder pode

        Mas ele não propôs o modelo dele com cotas. 

        E depois, já que ele não abordou, não se pode falar? Quem é que define o que pode ou não ser dito?

        Cadê a régua da liberdade da palavra?

        1. Vc não pode dizer se ele é a

          Vc não pode dizer se ele é a favor ou contra porque ele não tocou no assunto.

          Vc poderia divagar sobre se o modelo facilita ou não a implementação de cotas e etc..

           

          Acredito que vc pense que iria dificultar. Eu não vejo o porque.

  9. Conclusões de uma visão unilateral

    O professor analisou as coisas de um ponto de vista muito particular, tirou conclusões particulares e trouxe propostas, ok. A primeira e mais perigosa é essa louvação ao sistema francês. É a eterna mania de achar que somos incapazes de criar e gerir nossos próprios sistemas e métodos e ficar importando soluções miraculosas prontas e acabadas de outras realidades muito diferentes da nossa e que buscam selecionar pessoas para atuar em serviços públicos muitos diferentes dos nossos – um comportamento similar ocorreu quando se abriu a bateria de críticas ao ENEM e surgiram “n” vozes na mídia que queriam que o Brasil adotasse um dos sistemas de seleção dos EUA (SAT/ACT).

    Primeiro, essa proposta de “avaliar competências” ao invés de conhecimento abre espaço pra avaliações subjetivas, justamente o que o concurso público busca afastar. Dizer, por exemplo, que um concurso pra médico não seleciona direito porque não exige prova prática é querer desacreditar todo o sistema anterior que formou o médico (faculdade, CRM, residência médica, etc.). Talvez o professor não tenha em mente que a isenção da Administração deve estar acima de tudo, e por isso o concurso público é padronizado e objetivo: para evitar subjetividades.

    Segundo, dizer que o concurso privilegia quem tem tempo e dinheiro pra estudar é bizarro. Claro que você encontra nos cursinhos gente que não trabalha e só estuda bancado pelos pais ou por outro parente, mas dizer que só esses são aprovados (ou são a maioria dos aprovados) é mentira ou desconhecimento. Eu trabalho há 18 anos no Serviço Público Federal, fui professor de inúmeras turmas de curso de formação de servidores públicos, e a imensa maioria era de gente que já trabalhava antes, e acumulava estudo com trabalho pra passar em um concurso público antes – assim como eu, que advogava de dia e estudava à noite pra passar no meu concurso.

    Conheço muita gente pobre, que teve no concurso público a chance de sair da pobreza (e mesmo da miséria), melhorar seus estudos, dar uma vida boa aos flhos. Querer mudar isso exigindo “experiência prévia” e análise de currículo, isso sim é elitizar os concursos públicos, nos quais os filhos da classe média/alta terão mais chances, por suas possibilidades muito maiores do que as dos filhos dos pobres. O concurso público ainda é uma situação em que a pessoa pode vencer apenas com estudo e esforço, sem depender de “ajudinha” e QI de parentes e amigos, de aparência, de intercâmbio no exterior, de MBA caro pago em faculdade particular.

    Terceiro, existem inúmeros concursos sim com provas escritas e orais e provas de títulos destinadas a avaliar competências específicas para o exercício do cargo. Praticamente todas as carreiras de estado tem concursos com provas escritas e de títulos. Só que você tem que fazer um concurso de acordo com a exigência da função de cada cargo. Não faz sentido exigir títulos e prova oral de um ocupante de cargo de nível médio que vai atuar apenas na gestão burocrática, administrativa, sem atuar em áreas de formulação de políticas públicas, de auditoria/correição, jurídico, etc…Não estou dizendo com isso que quem atua nessas áreas é melhor do que o nível médio, só estou ilustrando que tem competências legais a exercer que exigem uma avaliação específica.

    Concurso público seleciona competências, sim. Tenho visto isso nos meus dezoito anos de Serviço Público. A cada concurso entra uma garotada cada vez mais jovem, mais disposta a trabalhar, mais preparada e inovadora. O nível de excelência que tenho observado é entusiasmador. Quando entrei no Serviço Público, dos 20 aprovados nomeados junto comigo apenas um sabia falar uma língua estrangeira, e ninguém tinha pós-graduação. Hoje observo nos cursos de formação quase metade da sala fluente em uma língua estrangeira (não é raro achar um fluente em mais de um idioma estrangeiro), e um contigente que chega a 60% de pós-graduados – a imensa maioria que não é procura uma pós-graduação logo que ingressa na carreira.

    Um amigo meu que é também professor de cursos de formação costuma avaliar essa capacidade crescente dos novos concursados da seguinte forma: “o cabra quando tem que ferver, ele ferve logo na primeira quentura!”. E tenho visto com o passar dos anos cada vez mais um pessoal de ponta, fervendo cada vez mais jovem!

  10. Só um exemplo para mostrar

    Só um exemplo para mostrar como o “professor” está fora da realidade. No último concurso do INSS mais de 98 mil candidatos se inscreveram, imaginem o custo e quanto tempo demoraria para avaliar o tempo de experiência de cada candidato e selecionar os aprovados?

    O “professor” fala na indústria do concurso, mas se esquece que seria criada uma nova indústria, a do “tempo de experiência”. Pelo menos na indústria do concurso, as pessoas tem de estudar.

    Também, se esquece que a própria FGV organiza muito concurso público. Será que os problemas que ele cita se aplicam a maneira como a FGV realiza esses concursos?

    1. Primeiro, chamá-lo de

      Primeiro, chamá-lo de “professor”, com as aspas, só porque você discorda do que ele propõe, não é saudável em um debate. 

       

      Segundo, quando você menciona a quantidade de incritos em um concurso, e que seria impossível realizar prova prática em 98 mil inscritos, o professor não está impondo um modelo pronto. ele está sim iniciando um debate sobre como melhorar o processo. Está muito claro que é um ponto de partida para se discutir o modelo atual, que pra mim, assim como para o professor, é muito perverso.

      1. Não está impondo

        Mas está sugerindo um modelo pronto, sim. Basta ver o quanto ele fala em “França” na entrevista dele. É a velha mania de alguns “professores” de achar que não podemos desenvolver nossos próprios sistema e métodos e temos que comprar modelo pronto de algum outro país…

        1. O problema também está no oposto

          Caro Alan, vou discordar. Por exemplo: se você vai implantar um curso em uma universidade, de que ponto partir? Modelos prontos- e que funcionam – poderiam ser testados perfeitamente. De certa forma voceê está quase propondo reinventar a roda.

          Essa idéia que podemos -e temos, o que é mais grave- de desenvolver sempre nossos modelos, acontece como as novas tomadas.

  11. Atque a meritocracia?Ele não

    Assis,

    Ataque a meritocracia?

    Ele não ataca a meritocracia, ele diz que não há mérito. É diferente.

    E ele diz o contrário. Diz que é este sistema que beneficia os ricos. Além de dizer, mostra dados.

     

    Eu concordo com o ponto de vista dele.

    Não deveria ser cobrada taxa de inscrição. A despesa é de quem contrata. Gasta para selecionar melhor.

    E sem provas de múltipla escolha. Só isso reduziria em MUITO o número de inscritos.

  12. Acho que ele ataca

    Acho que ele ataca meritocracia com meritocracia. Quem são as pessoas com melhor experiência? Quem teve melhores oportunidades? É certo que o modelo de provas tem alguns vícios e beneficia quem pode estudar mais, pagar melhores cursos etc. Mas como disse um comentarista acima, como tornar viável um processo seletivo com milhares de pessoas se baseando em análises curriculares, entrevistas e procedimentos mais lentos. Não vejo como,

    Há uma PL que pretende regulamentar os concursos. Há excrescências na aplicação das provas como questões em que as respostas, da mesma banca, são aceitas iem alguns concursos e rejeitadas em outros. Dezenas de ações e mandados de segurança que não são aceitos, pois a jurisprudência não ataca o mérito de questões. A justiça não alcança alguns desses absurdos. O juiz simplesmente diz que não pode adentrar no mérito administrativo. Só em caso de erro grosseiro. Mas o que é erro grosseiro quando a oportunidade de alguém lhe é tirada pela decisão discricionária da banca? Legalidade cadê?

    Aqui na Bahia, o concurso do Ministério Público está parado desde abril! Com MPBA, CNMP e a banca, AOCP, batendo cabeça. No último TRT de SP choveu MS. (claro que tem muito oportunista, mas foi erro grosseiro), no Brasil todo a EBSERH teve problemas com concursos relacionados aos hospitais universitários federais. 

    Há que se discutir o concurso público, mas acho que esse cara não focou de todo certo.

     

  13. O professor Fernando está

    O professor Fernando está certíssimo.

     

    O que se criou e estabeleceu foi um sistema baseado em capciosidades. Perguntas pela negativa, diferenças tênues entre assertivas.

     

    O sujeito é testado na sua capacidade de perceber e ser capcioso. É algo profundamente auto-referente.

     

    Um jogo de macetes, que só testa a argúcia do candidato em responder àquilo. É treinado em cursinhos a reconhecer pegadinhas e coisas do gênero.

     

    Enfim, um péssimo sistema de seleção.

     

  14. Complicado o que ele

    Complicado o que ele propoe.

    Além do que dificultaria e muito a correção de provas, tirar o múltipla escolha.

    Muito melhor, ao inves de se alterar o processo de concurso público, é serem introduzidos muito mais cursos de capacitação.

  15. O professor delira. Máquina

    O professor delira. Máquina de injustiça social era antes de a constituição exigir concurso público para provimento de vaga de servidor público. Os concursos podem não ser perfeitos mas são o melhor que se conseguiu até hoje.

    1. Ele nao está propondo o fim dos concursos, mas o aprimoramento!

      E o que você diz nao vai contra o que ele diz… Ou você acha que nao é possível melhorar o sistema atual? Por quê? E por que o q ele diz seria “delírio”? Sem justificativa alguma para dizer isso… 

      Acho que mesmo nao concordando com tudo o que ele diz, a colocaçao da discussao é bem pertinente. 

    2. Não é essa Constituição que

      Não é essa Constituição que exige concurso, foi Getulio Vargas no Estado Novo quem criou o DASP-Departamento Administrativo do Serviço Publico, que foi quem criou o concurso publico no Brasil em 1940;  uma falecida tia fez o primeiro concurso do DASP, as amigas davam risada, diziam que não era para valer, ela foi aprovada e nomeada, aposentou-se como funcionarioa publica concursada, minha querida tia Alice, morreu solteirona, adorava o emprego e chorou ao se aposentar.

    3. Concordo totalmente com você,

      Concordo totalmente com você, amigo!

      não conheço, até hoje, método mais democrático de se selecionar candidatos.

      Talvez o professor não tenha conhecimento do dia-dia numa repartição pública. O serviço, de fato, poderia ser melhor prestado, porém penso que muito mais que métodos que vão colocar em cheque a lisura dos processos seletivos, dever-se-ia discutir métodos de incentivo à boa prestação do serviço. No meu ponto-de-vista, por ex, retirar a estabilidade e outras formas de ascensão.

      Sou servidora pública estatutária concursada e apoiaria a iniciativa.

  16. E os advogados

    Sem esquecer que TODOS os concursos pedem Noções de direito às pampas. Serão realmente tão necessárias ou é uma maneira de dar uma mãozinha aos advogados d eplantão?

    1. Resposta

      Amigo, 

      Seu comentário infeliz,  além de demonstrar total desconhecimento do seja a Administração Pública, revela um lamentável ignorância em relação aos aspectos jurídicos e políticos do República Federativa do Brasil. Explico.

      O Brasil, conforme está consagrado no art. 1º da Constituição Federal, é um Estado Democrático de Direito. Assim sendo, nosso país tem o Direito – conjunto ordenado de normas e princípios que regulamentam a conduta das pessoas em sociedade – como fundamento dentológico e axiológico para lograr o bem comum e manter a ordem social. Nesse sentido, aquele que pretende ingressar nos quadros funcionais do Estado (ou seja, que queira ser agente público), deve ter um mínimo de conhecimento das regras que regulamentam à sociedade, afinal, o servidor público, como o próprio nome denota, deve SERVIR à coletividade (sociedade). Agora me respoda, estimado amigo: como servir a uma sociedade sem conhecer as bases mínimas de seu ordenamento? E mais: o art. 37 da Carta Magna (Constituição, caso você não saiba) informa que a Administração Pública deverá se pautar pelo PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. Novamente, questiono: como as seleções públicas não iriam exigir conhecimentos jurídicos, se a Administração somente poderá atuar se estiver de acordo com o ordenamento jurídico? Ou será que você está propondo que pessoas que não tenham um mínimo conhecimento do que é o Direito (ciência do dever-ser) devam entrar nos quadros da administração? No mínimo, isso iria levar a um colapso, pois toda a sorte de arbitrariedades e má-condutas iriam ocorrer diuturnamente. Agora, uma pergunta retórica: infelizmente, não se exige qualquer conhecimento jurídico ou deontológico para se ingressar em cargos políticos eletivos. Porque então Vossa Senhoria acha que os maiores casos de corrupção e má condução da máquina pública são praticados com maior freuqência por pessoas despreparadas que assumem tais cargos?

      E mais: sugiro que o senhor tenha mais respeito pela profissão dos advogados, pois a Constituição Federal (Lei maior de Um Estado Democrático de Direito, caso o senhor não saiba) eleva essa tão ilustre profissla como “indispensável à administração da justiça” (art. 133). 

      Peço, portanto, que pense um pouco antes de expressar opinião tão lastimável. 

       

  17. finalmente

    finalmente, começam a estudar essa aberração: os concursos dirigidos às castas; às elites.

    afinal: quem determina o ‘perfil do aprovado’ junto a contratada para ministrar as provas?

    quem é essa pessoa de poder imenso, incompatível com uma república?

    esse assunto deve ser muito debatido.

  18. só textos herméticos são respeitados.

    é a primeira voz q se ouve,mas,antes,certamente,ficara em ambiente mais restrito,o que é prudente.Cair na boca do povo dá nisso.Devia dar um tempo pra,aos poucos,ir atingindo menos restrito público,até cair na mídia comercial ou “não comer- cial” (GGN).Aí,dá nisso:Taxa-se de “professor” com aspas,como delirante,como irrealista,e vêem ataque a meritocracia ,outra pressa.É um ponta-pé valioso,um lançamento,não pra receber louvações,nem aplausos,nem rechaços precipita- dos,vulgares.Ele deve ‘tar muito triste por estar recebendo comentários de tão seleto grupo.Se cita uma França,é uma ( 1 ! ) amostra que parece conhecer bem.Ai,se nao houvesse um,dois,poucos a irem contra a corrente. No minimo, o tédio.

  19. Fim de privilégios

    Quer criar mais uma categoria, o dos abençoados.
    O Estado é de todos, e servir ao Estado deveria ser obrigação de todos assim como já o foi o serviço millitar.
    Deveria haver uma rotatividade de 1/3 a cada 4 anos, para que não houvesse descontinuidade no conhecimento necessário.
    O resto é privilégio.

  20. A causa do excesso de pessoas
    A causa do excesso de pessoas prestando concursos não foi identificado no presente trabalho. As filas começaram a crescer desde que o mercado privado começou a não valer mais a pena. É exigido graduação pos, MBA, cursos no exterior, línguas fluentes (mais de uma;inglês somente não e mais suficiente) menos de 40 anos e características de liderança para ganhar salário de subsistência. Sendo assim, os trabalhadores migraram para quem oferece melhores oportunidades, ou seja, o Estado.Simples assim. Ninguém sai da iniciativa privada para entrar numa fila gigante em que pessoas estudam dia e noite para passar numa prova.Isto não foi de graça…Isto foi consequência lógica da situação de semi escravidão da mão de obra qualificada no Brasil.E sinceramente, já vi pessoas extremamente qualificadas fazendo trabalho degradantes no mercado….bem pior do que atender a balcão…..só para o patrão fazer picuinha a quem não é puxa-saco seu.Obrigada.

  21. Mais uma boa “intensão”

    É no mínimo curioso que alguém com a boa intenção de melhorar a qualidade na prestação do serviço público, ataque a objetividade no processo de seleção dos servidores e não a subjetividade do processo de escolha dos ocupantes de cargos comissionados, ou seja, os gerentes, gestores, acessores, diretores, secretários…  postos estes que são loteados em troca de apoio político, a tal governabilidade que hoje, na lista de prioridades dos governantes  está acima do próprio interesse público, são eles os responsáveis pela gestão e não os ocupantes dos cargos de nível operacional. Mas como o inferno está repleto de boas intenções seria mesmo ótimo para estes, que as centenas de milhares de cargos públicos que hoje são providos por um critério objetivo, em que os candidatos têm condições de por a prova o resultado das avaliações a que se submetem, se tornassem também moeda de troca, cargos públicos de provimento efetivo cujo acesso estaria submetido ao critério pessoal dos “avaliadores” – um poder que hoje, nem os Presidentes da República possuem.

     

    Eis o critério pelo qual um também professor de Administração da FGV se julga capacitado a permanecer no Senado Federal por mais 8 anos além dos 24 que já permaneceu ali – Eu sou honesto.

     

     

     

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