PT não é responsável pela crise ética, afirma general

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Do Brasil 247

PT não é responsável pela crise ética, afirma general

Após demitir comandante militar do Sul por incitação ao golpe, o comandante do Exército Brasileiro, Eduardo Villas Bôas, diz em entrevista que há sim uma crise ética no país, mas que ela não é de agora e que a chegada do PT ao poder não tem responsabilidade nisso; “Nem mesmo a autoridade da professora na sala de aula está sendo mais reconhecida”, compara; “O Brasil é um país sofisticado, com sistema de pesos e contrapesos, ou seja, não há necessidade de a sociedade ser tutelada”; para ele, a corrupção está instalada, mas todas as instituições estão em pleno funcionamento, razão pela qual não há chance de intervenção dos militares; o general se queixa do corte do orçamento para o Exército, que deixa a corporação sem condições de fazer o trabalho de distribuição de água no Nordeste, a vigilância das fronteiras comprometida e a tecnologia dos equipamentos obsoleta

2 DE NOVEMBRO DE 2015

247 – O comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, afirma que há sim uma crise ética no país, mas que a chegada do PT ao poder não tem responsabilidade nisso. Para ele, a corrupção está instalada no Brasil, mas todas as instituições estão em pleno funcionamento, razão pela qual não há chance de intervenção dos militares.

“O Brasil é um país com instituições sólidas e amadurecidas, que estão cumprindo seus papéis. O Brasil é um país sofisticado, com sistema de pesos e contrapesos, ou seja, não há necessidade de a sociedade ser tutelada. Nosso papel é essencialmente institucional, legal e focado na manutenção da estabilidade para permitir que as instituições cumpram suas funções”, disse Villas Bôas ao Estado (aqui).

As declarações do comandante supremo do Exercito sucedem a demissão do comandante militar do Sul, general quatro estrelas Antonio Hamilton Martins Mourão, transferido para a Secretaria de Economia e Finanças em Brasília, por incitação ao golpe contra o governo Dilma Rousseff. Para Mourão, o Brasil carecia de um “despertar de uma luta patriótica”. Disse ainda que “a vantagem da mudança (da presidente da República) seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”.

Villas Boas puniu o subordinado não por falar, segundo ele militar tem sim de falar, mas por imiscuir-se em tema institucional restrito do comandante geral. Um ato de insubordinação, portanto.

Villas Boas vai além e defende com propriedade as instituições democráticas: “Trata-­se de um oficial reconhecido na Força, que tem todo o respeito do comandante. Mas esta questão não pode ser abordada de maneira simplista. Em momento conturbado, não é desejável nada que produza instabilidade ou insegurança. A nossa preocupação é de cooperar para a manutenção da estabilidade para que as instituições possam cumprir seus papéis e caminhar em direção à solução da crise em nome da sociedade. Foi isso que nos moveu, para que nenhum movimento venha gerar insegurança ou instabilidade.”

Na opinião do general, a crise ética da sociedade brasileira é um processo que não se instaura de um momento para o outro e que já vem de algum tempo. “Nem mesmo a autoridade da professora na sala de aula está sendo mais reconhecida. A questão ética se agravou, mas paralelamente as instituições têm cumprido com muito mais eficiência e visibilidade os seus papéis”, avalia.

Ele concorda que a corrupção está instalada no Brasil: “Mas eu diria que este é um estado de coisas que nós vivemos. Durante a Operação Pipa, no Nordeste, 60% dos 6.800 caminhoneiros que trabalham na distribuição de água tentaram algum tipo de fraude. Não se trata de estigmatizar o caminhoneiros. Não é isso. Os caminhoneiros fazem parte da sociedade brasileira.”

Mas compreende que esse não é um problema das Forças Armadas, mas do Supremo Tribunal Federal, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal. “Todas as instituições do Executivo, Legislativo e Judiciário estão funcionando. A gente sente que há uma incerteza. São tantos atores, as variáveis que se movimentam que é difícil dizer qual será o desfecho disso. Mas eu acredito que o desfecho vai ser institucional. Esta situação vai se solucionar sem quebra da normalidade institucional do País.”

Villas Bôas se queixa do corte do orçamento para o Exército, que deixa a corporação sem condições de fazer o trabalho de distribuição de água no Nordeste, a vigilância das fronteiras comprometida e a tecnologia dos equipamentos obsoleta. E se disse preocupado com a declaração do presidente da CUT ao convocar a população a pegar em armas e ocupar trincheiras para defender o mandato da presidente: “Este tipo de manifestação nos preocupa porque se trata de incitamento à violência. Ela não contribui para a estabilidade do País e a normalidade do funcionamento das instituições. Mas é algo que diz respeito à segurança publica diretamente. Então nos preocupa mas, de maneira nenhuma, vai provocar nossa atuação.”

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Parabéns ao Sr. Comandante Eduardo Villas Boas

    Muito bom saber que suas opiniões a respeito da atual crise são justas.

    Se houvesse uma subordinação, digamos, técnica, da Polícia Federal ao Exército Brasileiro pode ser que a crise não tivesse chegado ao ponto a que chegou. 

     

  2. Aplausos. De pé

    Há poucos dias aqui, duvidei aqui de que o Ministro da Defesa, portanto a quem os chefes militares são subordinados, tivesse peito e colhões para punir o General de Divisão José Carlos Cardoso, comandante da 6ª Brigada de Infantaria Blindada de Santa Maria (RS), que realizou, no pátio do quartel, solenidade militar em homenagem póstuma ao Cel Brilhante Ustra, tamném natural de Santa Maria (RS). Pois bem, o Ministro da Defesa exonerou o Gal. Antonio Mourão, comandante do CMS, superior do Gal. Cardoso. Vivemos tempos tão difíceis que aplaudimos até quando alguém cumpre a sua obrigação, quando há quebra da hierarquia e disciplina na instituição militar. 

    PS.: estou aguardando o Ministério da Defesa vir a público informar o que foi feito do Gal. Cardoso.

    Tijolaço:

    Troca do Comando Sul é regra que o Exército lembra e os civis esqueceram POR FERNANDO BRITO · 30/10/2015 Qualquer organização séria funda-se, entre outras regras, na hierarquia e na disciplina. Muito mais ainda quando se trata de organizações armadas e com altas responsabilidades sobre a defesa das instituições democráticas .Aqui e em qualquer parte do mundo. Ninguém imaginaria um comandante de uma grande unidade militar norte-americana dizendo que o afastamento de Barack Obama na Presidência significaria “o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Ou que se passasse isso na França, ou na Alemanha ou em qualquer país democrático e moderno. É lógico que os comandantes militares dos EUA, da França e da Alemanha têm opiniões políticas. É seu direito.Expressá-las de público, envergando seus uniformes de combate, não. Pior ainda quando o país assiste a uma horda de alucinados clamar pela ruptura da ordem institucional, portanto cartazes e até usando uniformes das forças armadas. A demissão do General  Hamilton Martins Mourão do Comando Sul, feita por seu superior, comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas ( na foto do post) não tem sua essência num ato político, mas disciplinar. Como não é como política que se deve observar os atos do militar afastado, mas como quebra de hierarquia, usurpando a função reservada ao chefe da Arma de se pronunciar sobre as questões nacionais, o que Villas Bôas faz, com parcimônia e moderação. Haverá quem queira politizá-la, à esquerda e à direita, sobretudo, transformando o oficial em vilão ou, sobretudo, em herói dos que desejam enfiar de volta o Exército brasileiro no mundo imundo da política e do controle indevido do Estado. As instituições civis brasileiras, hoje sofrendo dos males do “cada um faz o que acha certo”, talvez funcionassem melhor se todos observassem esta pequena regra: cumprir o seu dever, sem espalhafato, sem politicagem, sem servir-se de sua função para dar vazão as suas – ainda que legítimas – simpatias ou antipatias políticas pessoais. ***No entanto, em 2013 foi diferente. além do episódio de 2013, vários outros se sucederam. Torcendo muito para que o episódio da exoenração do Gal. antonio Mourão não seja (mais um) espasmo, uma exceção.:  

    A grosseria dos militares com Dilma

     

    Há um mal-estar castrense desde a exumação dos restos do ex-presidente João Goulart; além de sua restituição no cargo como fato simbólico e político.A+

    Darío Pignotti – @DarioPignotti Agência Brasil

     

    Brasília – São incorrigíveis. O general, o almirante e o brigadeiro que comandam as forças armadas do Brasil desafiaram a presidenta Dilma Rousseff e os parlamentares reunidos no Senado ao permanecerem imutáveis, sem aplaudir, como fazia o resto dos presentes, durante a cerimônia na qual lhe restituiu simbolicamente o cargo ao ex-mandatário João “Jango” Goulart, derrubado pelo golpe de Estado de 1964.

     

    Enzo Martins Peri, Julio Soares de Moura Neto e Juniti Saito, chefes do Exército, a Marina e a Aeronáutica, observaram, sem gesticular, o momento em que Rousseff abraçou João Vicente Goulart, filho do presidente destituído, depois de receber a resolução parlamentar, votada por todos os partidos, em que se decretou nula a sessão de 1964 que legitimou o aval à ditadura cívico-militar.

    (…)

     

       

  3. Ele só fez aquilo que o PT

    Ele só fez aquilo que o PT desconhece, tratar com isenção na leitura dos fatos.

    De fato o PT não é o responsavel pela crise ética, são alguns membros dele juntamente com toda a classe politica.

    Afinal não dá para dizer que um governo onde Jose Sarney e Renan Calheiro mais o partido deles o PMDB tem tamanha importancia, seja o unico responsavel pela crise ética.

     

  4. Lendo nas entrelinhas

    O trecho mais notável de toda essa fala do CE é, para quem conhece algo de antropologia das organizações militares brasileiras, a frase: “não há necessidade de a sociedade ser tutelada”.

    Ela significa várias coisas. Uma delas é que, pela primeira vez, provavelmente, a ideologia da tutela foi verbalizada na sua plena contundência categorial.

    Isso, por sua vez significa que: 1. a figura da tutela se mostra como um tropo que irremediavelmente circula pelas cabeças dos militares, e que pode ser enunciado pelo que não está explicitado (“não há necessidade de a sociedade ser tutelada, mas se houver, ela o será”); e 2. que agora essa figura pode ter se tornado uma imagem consciente, passível de ser objeto de reflexão, de ponderação e de questionamento no espaço das escolas de estado-maior.

    Que a ideologia da tutela deixe seu espaço pacífico de “naturalidade” significa uma verdadeira revolução para os fundamentos da cosmologia própria das instituições militares brasileiras.

    Se as Forças Armadas brasileiras seguirem adiante por esse caminho podemos ter um Comandante do Exército que talvez seja o equivalente do Papa Francisco para a Igreja Católica.

    Mas, claro, há que se prestar atenção minuciosa aos desdobramentos.

  5. Não percebi onde o General quer chegar

    Ele concorda que a corrupção está instalada no Brasil: “Mas eu diria que este é um estado de coisas que nós vivemos. Durante a Operação Pipa, no Nordeste, 60% dos 6.800 caminhoneiros que trabalham na distribuição de água tentaram algum tipo de fraude. Não se trata de estigmatizar o caminhoneiros. Não é isso. Os caminhoneiros fazem parte da sociedade brasileira.”

    O que o General quiz dizer é que a corrupção no Brasil é endêmica? Foi isso?

    Aí vem a minha pegunta:se as instituções de combate à corrupção estão funcionando no Brasil de maneira satisfatória, por que a corrupção no Brasil é endêmica?  Por exemplo,  por que um Eduardo Cunha ainda continua na presidência da câmara e não é afastado para responder pelas informações sobre corrupção prestadas pelo governo suiço e que permitem indiciá-lo? A justiça nesse caso não deveria intervir para dar maior estabilidade ao funcionamento das instituições? 

    E tem este trecho que se encontra no primeiro parágrafo: Eduardo Vilas Boas diz em entrevista que há sim uma crise ética no país, mas que ela não é de agora, que a chegada do PT ao poder não tem responsabilidade nisso. “Nem mesmo a autoridade do professor na sala de aula está sendo reconhecida”, compara.

    Mas aí nós temos problemas muito sérios: por exemplo, a politização do judiciário, que só apura as acusações de corrupção quando feitas contra o PT. Acusações, diga-se de passagem, geralmente feitas por uma mídia partidarizada, que sempre desempenha um papel deletério na condução do processo de apuração dos fatos.

    Não é à toa que Pulitzer dizia: com o tempo uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesmo. A corrupção é endêmica no Brasil porque, dentre outras coisas, as elites empresariais que controlam a mídia são corruptoras. É o comportamento dessa elite que contamina toda a sociedade brasileira tornando a corrução endêmica.

     

     

     

  6. “Desta hora, sim, tenho medo”

    Nassif: tomei emprestado de Drummond o título que dei a este comentário. É do poema “anoitecer”, como o momento político institucional que agora vivemos, de “trevas e presságios” (Edu Otsuka). PSDB/DEM parecem estar empenhados em envolver as forças armadas na questão política. Aliás, os republicanos desta cepa sempre clamam aos milicos quando não conseguem elevar-se ao poder pelo voto democrático. Está assim desde novembro de 1889. E deu no que deu, na meleca que envergonhou Deodoro e Floriano, sem contar Benjamim Constant. A partir de então, todas as vezes que essa facção perde as rédeas política apelam para as amizades nos quartéis. Sempre há um milico tipo coronel Solono, fuxiqueiro e terrorista para botar fogo na lona do circo Em 1964, quando começou o último círculo das quarteladas, Castelo e Costa e Silva também penaram ao aceitar os “conselhos e ardis” de civis safados e corruptos, que, novamente, atiçaram os de farda para poderem ascenderem ao poder. Novamente, deu no que deu, saíram os civis de bonzinhos, ficando a titica para a caserna. Por isto a fala do general Villas Boas não me tranquiliza. Pelo contrário. Pois sempre tem uma República do Galeão, ou os meninos da Praia Vermelha ou um Clube Militar, de plantão e atentos, ávidos para socorrer civis amigos seus.

  7. O general está bem informado,

    O general está bem informado, logo não é leitor da Veja, O Globo, Folha de São Paulo, Estadão… e de nenhum blog sujo mantido por golpistas na internet. A inteligência do Exército, por outro lado, deve estar monitorando os golpistas em razão da sua missão de preservar a paz e de evitar a fragmentação do território nacional. Não vai ter golpe e.. sim tiro de canhão nos filhos da puta que usarem chegar ao poder pela força bruta. Ha, ha, ha..

  8. PT não é responsável pela crise ética.

    Por não ser petista fico mais à vontade ainda para comentar a atitude do General-Comandante. Li o livro “O Soldado Absoluto” de Wagner Wilhan, uma biografia do Marechal Lott. Entendo que os militares de hoje não têm responsabilidade sobre os erros cometidos no passado. E há farta documentação que demonstra que o golpe dado nas instituições acabou atrasando o desenvolvimento social do País. Não se deveria esperar atitude diferente da tomada pelo General Villas Bôas diante de uma quebra da hierarquia militar por um seu (in)subordinado. Isto demonstra que o respeito à Constituição tem orientado os atuais militares que ainda sofrem fortes pressões da “turma do pijama”, saudosistas dos tempos da ditadura. Que o General Eduardo mantenha este comportamento digno respeitando a Constituição e que seu exemplo seja seguido por alguns juízes midiáticos, que não demonstram o respeito devido aos termos constitucionais, numa atitude mais realista que a do rei, assenhorando-se do título de “salvadores da Pátria” e causando sérios danos à credibilidade da Justiça brasileira. Parece-me que nossos oficiais comandantes das Forças Armadas amadureceram o suficiente para garantirem a estabilidade democrática, alcançada a alto custo pela sociedade brasileira. Viva a Constituição Cidadã!

     

  9. Enfim………………………….

    Enfim, mais uma das poucas vozes com inteligência e bom senso!!!

    O que estamos precisando é de pessoas com capacidade de fazer esta leitura e defenestrar os oportunidstas e aproveitadores, além dos entreguistas de plantão.

    Ao Gal Villas Boas, nossas sinceras congratulações por palavras tão oportunas !!!!!!!!!!!!! 

    E tem mais, sem mencionar as idiotas ideologias ! Patriotismo acima de tudo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 

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