Quem está certo sobre a reforma financeira nos EUA? Por Jeffrey Frankel

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em meio às eleições, país discute o que fazer para evitar um novo 2008

Jornal GGN – Oito anos depois de passar por uma crise que quase derrubou o sistema financeiro internacional, os Estados Unidos encontram-se envolvidos em uma confusão sobre quais as reformas seriam necessárias para impedir que algo semelhante volte a acontecer. E como os norte-americanos estão se preparando para escolher um novo presidente, seria fundamental compreender as políticas que minimizem o risco de crises futuras, e que os políticos são mais propensos a adotá-las.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, Jeffrey Frankel, professor da universidade Harvard e integrante do Conselho Econômico do presidente Bill Clinton, afirma que existe uma irritação dos cidadãos em torno do setor financeiro e isso se reflete na atual campanha presidencial – em especial devido ao apoio à proposta de esquerda adotada pelo senador Bernie Sanders, que briga pela indicação democrata.

“O centro da proposta de Sanders está em segmentar os grandes bancos de Wall Street em partes menores, garantindo que nenhum banco seja tão grande a ponto de seu fracasso colocar o resto do sistema financeiro em perigo. O apelo é compreensível, mas conseguir isso exigiria uma marreta enorme”, diz Frankel. “Mas mesmo que Sanders consiga quebrar os bancos, não resolveria o problema. Afinal, os Estados Unidos experimentaram uma corrida às instituições depositárias na década de 30, quando seu sistema financeiro ainda era composto por milhares de pequenos bancos. No entanto, o Canadá, com um sistema financeiro dominado por apenas cinco grandes bancos, atravessou a crise financeira global de 2008/2009 mais facilmente do que quase qualquer outro país”.

Embora atacar bancos seja “emocionalmente satisfatório”, Frankel disse que isso não vai evitar crises financeiras. “Na verdade, os maiores problemas do setor financeiro são outros: os fundos de hedge, bancos de investimento e outras instituições financeiras não-bancárias que enfrentam menos regulamentações e restrições (como os padrões de capital e alavancagem) do que os bancos comerciais”.

A ex-secretária de Estado Hillary Clinton – adversária de Sanders pela indicação democrata – reconhece a necessidade de se priorizar a regulação dos não-bancos, e ela propôs medidas específicas para execução, como colocar uma pequena taxa de segmentação a certos tipos de negociação de alta frequência propensa a abusos. Clinton também pretende fechar uma brecha que atualmente permite que os gerentes de hedge funds pagar taxas de impostos menores sobre seus rendimentos do que outras pessoas, e ela propõe a imposição de uma “taxa de risco” a grandes instituições financeiras que avançaria conforme as instituições crescem.

“A taxa de risco proposta por Clinton se assemelha a algo avançado pela administração do presidente Barack Obama em 2010, para desencorajar a atividade arriscada pelos maiores bancos, enquanto ajuda a recuperar algumas receitas de resgates. Mas esse plano foi frustrado por três senadores republicanos que iriam apoiar uma legislação crítica à reforma financeira – a Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act – apenas se a taxa for descartada”.

Embora a legislação Dodd-Frank tenha sido favorável em alguns pontos – como o aumento da transparência para derivativos, o aumento dos requisitos de capital para instituições financeiras e a imposição de regulamentos adicionais sobre instituições “sistemicamente importantes” -, Frankel diz que ela está longe de ser completa e, pior ainda, muitos representantes do Congresso passaram os últimos seis anos reduzindo seu arcabouço, por meio de medidas como a restrição dos orçamentos das agências reguladoras. “Aqueles que trabalharam para minar a legislação reguladora da reforma financeira – a maioria republicanos – parecem ter pago o preço político por isso, enquanto aqueles que trabalharam incansavelmente para implementar as reformas são julgados de acordo com critérios superficiais pelos mesmos políticos que deveriam apoiá-los”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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