Radicalização política não provém de ambos os lados, por Rogério Marcus

Por Rogério Marcus, via facebook

Estou farto de ler sobre o tal processo de radicalização “de ambos os lados”. A radicalização existe, mas não provém “de ambos os lados”.

Comparemos.

Um lado publica um texto sensato e razoável. Algumas dezenas, com sorte centenas, de compartilhamentos. O outro lado publica boatos, calúnias, mentiras óbvias. Dezenas de milhares de compartilhamentos.

Um lado distribui adesivos na eleição, para quem quiser aderi-los. O outro lado cola seus adesivos nos passantes e hostiliza quem não os quiser, chegando mesmo a agredir quem estiver usando outros adesivos.

Um lado ensina suas crianças a agredir e traumatizar crianças que estiverem com uma camisa vermelha, ainda que da Suíça. O outro lado nem mesmo concebe dizer a seus filhos que agridam crianças posando com a Polícia Militar.

Um lado agride um cadeirante por estar fazendo campanha para o outro lado. O outro lado gestou, embalou, debateu e praticou o conceito de acessibilidade nas gestões públicas.

Um lado agride um cachorro porque sua dona o enfeitou com um lenço vermelho. Houvesse correlato do outro lado, e veríamos fotos e vídeos de tucanos torturados nas redes sociais.

Um lado xinga, berra, escreve em CAIXA ALTA, personaliza o debate. O outro lado argumenta, e por isso mesmo é menos popular e acessível.

Um lado é o menino mimado, o dono da bola. Não aceita o resultado das urnas e quer a ditadura de volta. O outro lado se criou sob a ditadura, lutando contra ela.

Um lado pretende sequestrar como símbolo seu a bandeira nacional que o outro lado defende de fato ao militar causas que seu antagonista desconhece ou repudia.

Um lado tem a mídia. O outro lado também, mas sempre contra.

Um lado tem o senso comum, assimilável facilmente. O outro lado tem a análise a exigir esforço intelectual.

Um lado importou seu discurso de laboratórios estrangeiros de interferência sociopolítica. O outro lado gerou o seu a partir do debate.

Um lado tem o taxista tagarela, soldado incansável do senso comum. A dona na fila de banco e o que ela viu na televisão. A massa de manobra nadando fácil na direção que a mídia quer. O outro lado tem o estudante, o profissional, o professor cansado de enxugar o gelo da ignorância, de nadar contra a corrente da burrice, de corrigir imprecisões ou cortar a cabeça da mentira que logo a repõe com mais duas ou três.

Um lado tem o familiar inculto, agressivo, abusivo, gritalhão e sem memória. O outro lado já se retirou da mesa pra evitar o mal estar.

Um lado tem soluções brutais, simplórias e rápidas para os bodes expiatórios que a mídia grande o fez acreditar serem os problemas da sociedade. O outro lado se debruça sobre a complexidade sem apelo emocional e sem mídia do que realmente é problema.

Um lado racionaliza a defesa violenta de suas idéias porque as tomou como suas. O outro tomou as suas idéias por suas depois de usar a razão.

Um lado vê televisão, o outro lê livros.

Um lado tem fetiches com a imagética militar. O outro lado milita pela via civil.

Um lado é emoção, mas racionaliza. O outro lado é razão, embora se emocione.

Um lado dá carteirada no cinema, o outro lado vê bons filmes.

Um lado descobriu a corrupção ontem. O outro lado sempre a combateu.

Um lado é machista, o outro não.

Um lado é racista, o outro não.

Um lado é o que o ser humano sempre foi, o outro lado é trabalho interno e superação rumo a uma nova etapa civilizatória.

Pra um lado é fácil, pro outro é difícil.

Então não.

Não é um conflito só de lados, horizontal, mas de comportamentos, vertical.

Então fora com a “isenção” do discurso do “ambos os lados”. Abaixo o discurso fácil do “ambos os lados”.

Redação

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mano, na boa… eu não

    Mano, na boa… eu não poderia perder a oportunidade de sacanear os coxinhas hoje pelo Twitter.

     

    Dear @PutinRF 
    Today terrorists of @governosp @Rede45 @PMESP will try overthrow the Brazilian government. Send SU-34 jets to blast them all.

    Dear @PutinRF 
    We thank you for the 5 agents infiltrated in the Av. Paulista rally organized by terrorists of @governosp @Rede45 @PMESP.

    Dear @PutinRF 
    Stay cool. Your 5 agents will be in the safe house when the SU-34 blast @governosp @Rede45 @PMESP terrorists in Av. Paulista.

     

  2. Parece chavão, mas foram eles

    Parece chavão, mas foram eles que começaram. E se a situação está neste ponto, é porque eles a levaram a isso. Por isso repito: temos que anotar os nomes para que não fique ninguém sem punição quando a intentona fascista for contida.

  3. Entendeu, Sakamoto?

    O simpático Japa quando envereda pela política, fora da sua agenda – direitos humanos, trabalho escravo, trabalho infantil, exploração sexual, meio-ambiente, ecologia, minorias, índios -, invariavelmente dá com os burros nágua, comporta-se como um camelo no Polo Norte, ou um urso polar no Saara. Foi o caso do texto dele que circulou aqui na sexta-feira, querendo imputar aos dois lados a responsabilidade pela radicalização. Japa, fique na sua área, onde vc desempenha um belo trabalho, de conscientização dessa meninada que está chegando ao mundo agora. Fique lá. 

    1. Também discordo veementemente
      Também discordo veementemente do Sakamoto o post onde ele colocou, muito equivocadamente em minha opinião, que a radicalização política vem dos dois lados. Respeito a opinião dele, como respeito a de todo mundo, mas isso não poderia ser mais falso.
      Pelo contrário. Nós do campo popular estamos sendo atacados de formas inaceitáveis há muito tempo e estamos em não REAGIR a altura antes antes. Aceitar a agressão passivamente leva à campos de concentração, morte e extermínio como os social democratas, socialistas e comunistas perceberam, infelizmente tarde demais na Alemanha nazista (isso para não falar dos judeus e restringir apenas aos grupos atingidos apenas pela questão política).
      Sakamoto era e era muito ao dizer que há equilíbrio na radicalização. Ao fazer isso ele ajuda a fazer o jogo dos fascistas.

  4. Texto enviesado, basta vir

    Texto enviesado, basta vir ler a caixa de comentários dos dois lados em dia de expediente normal. A diferença – atual – é que a radicalização de um dos lados tende ao caos, e as lideranças antes moderadas agora estão apostando nisso.

  5. Um lado me faz ter esperança
    Um lado me faz ter esperança no país. Mas o outro lado produz pérolas de comédia como essa, que me fazem até torcer pelo pior só pra poder rir mais um pouco no dia seguinte.

  6. Sabe quem é vc?
    Vc é aquele judeu que foi ter uma conversa racional é civilizada com o oficial da SS.

    Até quando meu caro IDIOTA?
    Vai ficar chorando?
    É isso aí, o mundo É assim! Tá preparado?

  7. Assim, não adianta brigar,
    Assim, não adianta brigar, bater, etc, tem que por gente na rua. Ponto. Agora, para defender o governo, as bases vão fazer exigências.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador