Uma análise das negatividades nas redes sociais

Do Youpix

Por que essa negatividade toda nas redes sociais?

Como anda a sua timeline, cheia das bad vibes? Tem amigo dizendo que só resta se mudar pro exterior, que o Brasil acabou, não tem mais jeito não — o Brasil!, o País Que Tinha Finalmente Chegado ao Futuro —, que está tudo desmoronando, e pra completar ninguém mais aguenta esse calor do inferno? Pois é.

E o problema não é exatamente com o seu círculo social.

“A internet, principalmente através das redes sociais, se tornou um verdadeiro repositório de emoções. Todos os dias pessoas de todas regiões, classes e idades expressam-se livre e espontaneamente, criando um verdadeiro termômetro de suas vidas, no momento em que as coisas estão efetivamente acontecendo”, afirmaRicardo Cappra, Cientista de Dados que lidera o Centro de Inteligência e Informação do grupo Flag e nos ajudou a fazer uma pesquisa pra medir o sentimento geral dos brasileiros nas redes sociais.

O resultado? Estamos 20% mais negativos!

A análise de mais mil posts no Facebook e no Twitter mostra que a negatividade do brasileiro — tristeza, pessimismo e reclamações (não relacionadas a produtos ou marcas) — só cresce. Entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, o primeiro mês do ano foi o que fomos mais negativos. Esse sentimento não é típico: em janeiro de 2013 estávamos mais felizes que em novembro e dezembro de 2012.

Comparando diretamente janeiro de 2014 com de 2013, o brasileiro está 20% mais negativo.

O que causou isso e qual a relação desses sentimentos com os protestos do ano passado e com a Copa do Mundo e as eleições que ainda nos esperamos esse ano?

“Isso que estamos assistindo hoje — amizades desfeitas pelo Facebook, a latrina dos comentários, bate-bocas no Twitter — é consequência do fato de que as pessoas estão finalmente tendo a chance de falar o que pensam“, afirma o jornalista Alexandre Matias. “Em muitos casos, gente que nunca teve opinião sobre nada transforma seu perfil em púlpito e passa a bradar bobagens sobre assuntos que nunca tinha ouvido falar.”

Brasileiros são movidos pela insatisfação?

Para Matias, vivemos uma adolescência digital junto com a adolescência cívica do ser brasileiro. “Além da constatação que, ao contrário do que acreditava quem cresceu achando que o Zé Carioca, o Chacrinha e a Carmen Miranda eram o retrato do Brasil, o brasileiro médio é agressivo, violento, impulsivo e reprimido — adjetivos que podem ser perigosos quando praticados coletivamente.”

O tal aumento de negatividade foi nítido para Rosana Hermann, gerente de criação e inovação no R7. “Primeiro pensei que fosse só comigo”, conta. “Em seguida conversei com amigos que notaram a mesma coisa, no Twitter, no Facebook, em todo lugar.” Rosana afirma que estamos movidos pela insatisfação. “Sabemos tudo o que não queremos, só não sabemos o que queremos de fato.”

O fato der não sabermos exatamente o que queremos pode ser um dos motivos que levou ao esvaziamento das manifestações — e, consequentemente, a esse clima de pessimismo.

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Negatividade: das redes sociais pro mundo real

Mauricio Santoro, assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, conta que em um primeiro momento viu um aumento expressivo nos comentários sobre política na timeline. “Não eram, necessariamente, observações negativas, em muitos casos havia o entusiasmo de participar de um grande movimento e ao menos certa dose de esperança e expectativa”, diz. “A guinada para comentários mais agressivos e sombrios veio mais tarde, sobretudo com o esvaziamento e a frustração das manifestações, a partir do fim do ano.”

Em uma coluna no Brasil Post, Santoro escreveu sobre como “a indignação contra os governos que dominou as manifestações de 2013 transformou-se em ódio generalizado de vários grupos sociais contra outros, expresso em agressões verbais e violência física”. A negatividade das redes está presente no mundo real também, desde o grupo que invadiu a asa do avião por causa de um atraso até os justiceiros do Rio de Janeiro.

“Cada ato desse tipo tem seu contexto próprio e causas particulares, mas vejo em todos a expressão de um profundo descrédito da população nas instituições e a vontade de quebrar regras que são vistas como ineficazes, agir por conta própria, para dar vazão a sentimentos de raiva, frustração ou tentar remediar uma situação de insegurança”, afirma Santoro.

Para Pablo Ortellado, professor e pesquisador da USP e voz ativa nos protestos do ano passado, “o que temos visto são dois processos simultâneos”. “De um lado, o crescimento do discurso de ódio da extrema direita, com ataques abertos a gays, críticas aos pobres que não sabem o seu lugar etc.; de outro, vemos o crescimento do protesto de rua”, afirma. “Essa combinação é explosiva.”

E qual vai ser o resultado?

“Se essa negatividade estiver concentrada no campo da política, ela deve explodir na Copa do Mundo”, afirma Ortellado. “O levantamento de vocês reforça os dados divulgados recentemente em pesquisa da CNT que mostra que 20 milhões de brasileiros tem intenção de protestar contra a Copa.” (A aprovação da Copa, inclusive, segundo pesquisa do Datafolha publicada na segunda (24), é a menor em 5 anos: caiu de 79% para 52%.)

Autor do blog Pensar Enlouquece, Pense Nisso, Alexandre Inagaki acredita que vamos ver “muitas manifestações potencialmente explosivas neste ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais”. “E eu só espero que todos estejam com os instintos em forma, a fim de conseguirem manter a serenidade necessária para não se deixarem levar pelas bad vibes que ameaçam tomar conta do espírito coletivo brasileiro”, afirma.

Mas relaxa, tem lugar para otimismo no meio de tudo isso. Um deles por exemplo é Wagner Martins, oMrManson.

“Vamos sofrer um pouco até aprender a lidar com o debate em rede. Faltam ferramentas na web para ajudar a validar os fatos (ou factóides) que estão sendo compartilhados”, afirma Martins. “Mas sou otimista. Acho que no longo prazo, tudo se ajusta (essa é a definição de longo prazo, inclusive). Apesar dos flames, na rede e na rua, teremos Copa e eleições. Não tranquilas, mas com um nível tolerável de estresse.”

Redação

12 Comentários

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  1. Legal

    O pior da negatividade das redes sociais é a inutilidade de alguns estudos: “Estamos 20% mais negativos”. “100% das pessoas mortas não estão mais vivas (no mesmo corpo, pelo menos).

    Um estudo que começa em novembro de 2013 e termina em janeiro de 2014 com poucos dados, sem uma comparação com cenários históricos no mínimo parecidos não pode ser séria. Além de tudo, quer prever o futuro dizendo que a insatisfação poderá (veja bem, como foi usada essa palavra, se acontecer o cara é um gênio, se não acontecer ele disse que era só uma possibilidade) explodir na copa.

     

    Bem que esse cara podia prever quando a temperatura vai diminuir no Rio de Janeiro. A conta de luz já foi pro espaço.

  2. So vou ficar em uma unica

    So vou ficar em uma unica palavra:  “reprimidos”.  (O resto nao eh do meu interesse comentar.)

    TODA vez que voce precisa de acao do estado ele falha.  Ja foi muito, infinitamente pior do que agora, mas continua falhando estruturalmente, como eu ja disse hoje em outro post.

    Nao, nao eh so falha individual nao.  O estado brasileiro esta arquitetado e engatilhado pra falhar multidoes ao mesmo tempo.

    Meu exemplo outro dia foi a Anatel.  (nao vou rever aquele comentario nem nenhum dos outros, nao tenho paciencia).  Poderia igualmente ter sido uma montanha de outras falhas -as policias, por exemplo, ou o judiciario, ou comissao de DH, ou “inqueritos” sobre os crimes da ditadura.

    Eh uma falha atraz da outra, o tempo todo.

    Os “reprimidos” tem toda razao de se sentirem “reprimidos”.  Sao mesmo!  Tudo isso esta vazando pra internet ao vivo.  Quem nao quer reclamar de ser injusticado, de estar encurralado, de pagar o que nao deve?

    Ja nao eh aceitavel viver em uma panela de pressao.  Ela vai explodir de novo como explodiu em junho.  E como vai explodir tambem nos Estados Unidos algum dia.

    Eu teria que ver o teor das reclamacoes pra especificar mais, mas ao centro de todas elas eu nao duvido em nada que estejam as falhas DO ESTADO.

    Isso, por sinal, NAO eh uma reclamacao sobre o governo brasileiro, Dilma, ou PT.

    O ESTADO requer reengenharia.  Antes fosse somente no Brasil…  nao eh, e ainda vai ficar muito pior antes de melhorar.

    1. Pensando bem, vou continuar

      Pensando bem, vou continuar com uma pergunta seria:

      QUANTOS dos assuntos-bomba do blog nos ultimos 3 anos terminaram bem?  QUANTOS deles voces viram terminar aceitavelmente alem do assassinato da juiza e da morte de Santiago?

      Voces sabem?

      Eh, eu sei.

      Quase nenhum.

      O ESTADO FALHOU EM PRATICAMENTE TODOS ELES.

  3. Manchete : Governo deixa aposentados de Tanga

    Amigo, recuperaram a tanga para mostrar que os pensionistas estão na mais absoluta míséria.

    Querer que o povo fique otimista com  a pobreza passando necessidades é ser extremamente ingênuo.

  4. A primeira coisa que se

    A primeira coisa que se deveria perguntar, antes de ficar tirando conclusoes e construindo ‘análises’, é se esses dados são amostragem de alguma coisa. Análise de “mais de mil posts do facebook e do twiiter”? Uau, vai ver facebook e twiter sao feitos mesmo para isso, despejo. Análise por ‘análise’, essa tambem vale.

    1. “A primeira coisa que se

      “A primeira coisa que se deveria perguntar, antes de ficar tirando conclusoes e construindo ‘análises’, é se esses dados são amostragem de alguma coisa”:

      Nao, nao eh essa a primeira coisa.  Primeiro porque nao se especificou que eram -digamos- posts familiares, onde as “reclamacoes” tendem a ser nao-existentes.  Entao ja sabemos que os dados nao estao certos.

      A primeira coisa eh saber se O ITEM esta correto de acordo com sua experiencia nao-familiar nas redes sociais.  Eu tendo a acreditar que esta, e pior, que o item nem precisava dos dados nem da pesquisa pra ser escrito com o mesmissimo teor qualitativo.

      A crescente insatisfacao contra “tudo isso que esta ai” eh visivel.  Ela tem que ter voz mais firme, e eh itens como esse que a trazem aa tona.  Isso evidentemente nao quer dizer que o mundo esta acabando, mas que as vozes que nao eram ouvidas antes agora tem forum, e que um John Connor tem que “aparecer” cedo!  Se for petista, melhor ainda.

      Sugiro que ele tire a Anatel do mapa, pra comeco de conversa.

    2. “vai ver facebook e twiter

      “vai ver facebook e twiter sao feitos mesmo para isso, despejo. Análise por ‘análise’, essa tambem vale”:

      Definitivamente!  O que voce nao fez foi desenvolver o assunto.

      Primeiro voce fala a conclusao, depois mostra como chegou a ela.  Vai em frente porque assunto nao vai faltar.

  5. Os bancos que se cuidem

    Já que o negócio é espalhar suposições, tudo indica que os bancos – representantes teóricos da elite (1%) – devido serem alvos da classe C (99%) contra as injustiças sociais – assumiram o caráter mais político ao passar para o BACEN o aumento minimo de seus rendimentos na taxa SELIC de 0,25.

    Consequencia ou não de âmbito, os quebra-quebra de bancos pelo black bloc (a quem dizem que não sabem o que quer) demonstraram atitudes concebidas com objetivos revolucionários, por isso, desenvolvidas para uma nova política, a de classe dominante. 

    A representação da economia precisa de ser realizada (após o fundamento do seu poder) pela mudança política.

  6. De que lado estão os negativistas?

    “Se essa negatividade estiver concentrada no campo da política, ela deve explodir na Copa do Mundo”, afirma Ortellado.

    E se a afirmação for essa Ortellado: “Se essa negatividade estiver concentrada no campo da economia, ela deve explodir na Copa do Mundo”

    O direito da economia deixaria de explorar a nossa impotência? 

    Porque a economia funciona tentando fazer a prova da ignorância com enganos que tornam o potencial do Estado impossível.

    Esse negativismo é o mesmo que dizer devemos esperar que o barco pode ir para o abismo a cada circunstância, e não teremos alternativas na política.

    A verdade não obedece a falsidade; e Ortellado vc não conseguirá nos encerrar na incerteza.

  7. Segundo minha pesquisa, 100%

    Segundo minha pesquisa, 100% dos coxinhas do Faceburro reclama de barriga cheia. Os pobres da vida real estão melhorando de vida, mas estão ainda longe das mordomias dos coxinhas. Apesar disso não ficam enchendo o saco dos outros com ram-rame complexo de vira-lata  

  8. Uma análise das negatividades nas redes sociais

    Estão nos inoculando, através das redes sociais, o virus do pessimismo.  Os gestores da informação, sistematicamente bombardeiam -nos com factoides ou exacerbam fatos negativos; quando positivos são entremeados de de adversativas.  Querem nos reconduzir à vassalagem colonial pela recaida no complexo de vira-latas.  Impedem de todas as formas que tenhamos a percepssão do quanto avançamos em qualidade de vida.  O golpismo alimenta-se do descrédito nas pessoas e no mundo ao redor delas.  Este foi o sentimento do povo alemão e italiano do pós primeira guerra mundial, que gestou o nazismo e o fascismo.

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